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Cabeças de Cartaz — O Podcast: “Toda a gente é um cabeça de cartaz com uma história para contar”

A música é de todos e para todos. Foi por isso que Miro criou o…

Texto de Patrícia Nogueira

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A música é de todos e para todos. Foi por isso que Miro criou o podcast Cabeças de Cartaz - o Podcast, uma rampa de lançamento para quem ainda não é ouvido. Afinal, todos temos uma história por contar.

O Cabeças de Cartaz começou na rádio em julho de 2020 mas, em dezembro, a pandemia empurrou-o para o formato podcast e levou o informático do Porto a entrevistar, não só artistas emergentes da música portuguesa, mas também grandes nomes do panorama musical português que admira, não fazendo distinção entre nenhum. O Miro leva-nos, através da sua voz radiofónica, a mergulhar numa conversa que mostra um outro lado de artistas como Joana Guerra ou Tiago Pereira, o criador do projeto a Música Portuguesa a Gostar dela Própria. É um espaço dedicado a entrevistas onde se fala sobre um pouco de tudo, inclusive sobre o sentido da vida e o facto de não se entender o porquê do ananás na pizza ainda não ser socialmente aceite.

Em entrevista ao Gerador, Miro contou-nos como surgiu o seu podcast, a paixão que coloca em cada entrevista, a sua opinião sobre conhecer o lado pessoal de um artista e ainda qual a sua opinião sobre a música em contexto pandémico.

Imagem cedida por Cabeças de Cartaz - o Podcast

Gerador (G.) Como surgiu o Cabeças de Cartaz?

Miro (M.) Surgiu na rádio. Sempre tive o bichinho da rádio e do podcast, quando era mais novo, e, quando estava a estudar, gravava as cassetes com as músicas que eu gostava e que passavam na rádio. Recentemente, tirei um curso de rádio e televisão, e conheci alguém que me convidou a participar num programa da Rádio Clube da Feira, e eu, com muita lata, perguntei ao dono se não tinha umas horas para mim. Digo, "uma lata", porque eu não tinha experiência nenhuma, apenas muita vontade. Queria partilhar músicas que não se ouvem no dia a dia nos programas de rádio. E é isso que faço. Passo playlists de duas horas dedicadas a festivais, décadas, categorias, artistas ou concertos que tenham ficado na memória. Geralmente, levava um convidado para a segunda hora, mas a pandemia aconteceu e, no final de dezembro, o programa de rádio acabou por migrar para o podcast.

(G.) Em que é que o Cabeças de Cartaz se diferencia dos outros podcasts ligados à música?

(M.) — É a relação que tento criar com as pessoas que entrevisto. Às vezes, fico mais uma hora a falar com os convidados, mesmo depois de parar de gravar. Para além disso, eu não sou jornalista, nem tenho pretensões jornalísticas, apenas tenho um prazer gigante em ouvir, conhecer e partilhar histórias. Quando me dizem que atravessaram o país a pé ou lançaram um álbum em casa, fico fascinado e dá-me vontade de partilhar ainda mais com quem quer ouvir, com o mundo.

(G.) Um cabeça de cartaz é o artista mais importante de um espéctaculo. Achas que toda a gente é um cabeça de cartaz?

(M) A meu ver, existem muitos cabeças de cartaz no nosso dia a dia que não são músicos. Claro que me interessa falar com músicos, mas, para mim, toda a gente é um cabeça de cartaz que tem uma história para contar. Por exemplo, a Ana Teresa Augusto, uma das minhas últimas convidadas, foi a primeira mulher a atravessar a Nacional 2, e ela não é famosa, mas é alguém que tem de ser ouvida.

(G.) — Uma das tuas premissas é dar voz a artistas que ainda não são conhecidos. Porquê?

(M.) Há 10 anos, tinha uma pequena produtora de eventos de bandas de garagem, no Porto. Tive a sorte de vivenciar uma fase, na cidade do Porto, em que era muito normal existirem bandas de garagem e acabei por viver muito essa altura. Ganhava apenas o dinheiro para apanhar o táxi para casa, mas tive a sorte de ouvir muitas bandas incríveis que acabaram por não ter oportunidade, porque não tinham meios para se promover. Se eu tenho  uma oportunidade de mostrar ao mundo essas bandas, eu vou fazê-lo. Quem sabe, alguém vai ouvir essa música. Gosto de me ver como um meio, uma pequena rampa.

(G.) Para além de artistas ainda pouco conhecidos, já entrevistaste nomes como David Fonseca, Tiago Nacarato, Rui Veloso, Capicua e Capitão Fausto. Há algum que te tenha surpreendido de forma particular? Podes partilhar connosco esse momento?

(M.) O Rui Veloso! O filho do rock, como se intitulou. Foi como falar com aquele "tio fixe" que temos nas nossas famílias. Achei incrível estar aqui no Zoom à espera que entrasse e, do nada, vejo a notificação — “Rui Veloso quer entrar na chamada” — e pensei, "a minha vida realmente já deu muitas voltas”. Sinto que devia ter puxado mais assuntos, porque ele é uma pessoa incrível e muito aberta, mas mesmo assim foi muito interessante e relaxada. Só fiquei nervoso na minha primeira entrevista de sempre, com o David Fonseca. Sou um grande fã dele e da sua carreira.

Fotografia cedida por Cabeças de Cartaz - o Podcast

(G.) — Achas que é importante dar a conhecer o músico para além da música que produz? Não acaba por tirar um pouco do seu misticismo?

(M.) — Acho que, pelo contrário, acrescenta. Se conheces a pessoa para além do músico, podes ter uma grande surpresa. Claro, pode acontecer o contrário e eu consigo perceber o Never meet your idols, por vezes até convém deixar a imagem no ar, mas eu gosto muito de os conhecer um pouco. Estou muito curioso por conhecer mais artistas em contextos informais.

(G.) — A pandemia trouxe-nos a música de outra forma, quase como um grito de liberdade e saudade no meio de tudo isto. No entanto, estamos a falar de uma fase que ninguém vai querer lembrar. Achas que, daqui a 30 anos, vamos lembrar-nos do que vivemos por causa das músicas que ficam, ou vai ser um período da história em que essa música produzida se vai perder?

(M.) — Acho que, daqui a 30 anos, não nos vamos lembrar da música que foi escrita em pandemia, pois foi um pedido de socorro, foi escrita num contexto. Acho que nos vamos lembrar como a música nos ajudou a sobreviver nesse tempo, isso sim. Em termos musicais, vamos ter novos estilos também. Por exemplo, quem diria que, há um ano, faríamos música através de uma câmara e não num estúdio! Acho também que, quem fez música nessas condições, é um super-herói dos tempos modernos.

(G.) — Dentro do Cabeças de Cartaz, criaste o "Conversas de Bolso". Como surgiu esta rubrica?

(M.) — Esta rubrica surgiu como um despejar do que quero dizer, sem filtros. O Cabeças de Cartaz é para conhecer o artista e chegar a uma conclusão de uma forma mais estruturada. O "Conversas de Bolso" não tem regras. No primeiro Conversas de Bolso, com a Dora, conhecemo-nos no momento, cada um com um copo de vinho, e falámos sobre muita coisa. Ou seja, é um refúgio onde as pessoas podem falar sobre vários temas. Quero que seja aquela conversa que se ouve ao final do dia para rir e desanuviar.

(G.) - Inspiraste-te em algum podcast para criar o Cabeças de Cartaz?

(M) -Tenho duas referências! O "Precisamos de falar", da Antena 3, onde abordam vários temas do mundo da música e cultura. E o podcast do Conan O’Brien, ‎"Conan O'Brien Needs A Friend", porque tem um formato que eu gostava de trazer para o meu. Mas ele entrevista celebridades de todo o mundo e eu ainda só estou por Portugal.

(G.) — Quem vai ouvir o teu podcast pode esperar um tom mais cómico?

(M.) — Gosto de juntar a comédia e a música. Os textos que escrevo para a introdução têm sempre alguma piada para as pessoas ouvirem e perceberem que não vai ser uma conversa aborrecida. Inclusive, a pergunta que faço no final de cada entrevista é um motivo de discussão saudável na Internet: “Ananás na pizza, sim ou não?”.

(G.) — Há alguma fórmula que queiras deixar a quem vai ouvir o teu podcast?

(M.) — Gostava que, quando ouvissem as conversas, entrassem numa viagem. Que ouvissem o Rui veloso a chamar azeiteiro ao Elvis Presley, que ouvissem a Capicua a falar da vida no Porto. Percebessem que, acima de tudo, é uma conversa informal onde devem deixar-se ir, e rir muito.

Ouve, aqui, o podcast.

Texto de Patrícia Nogueira
Fotografia disponível via Unsplash

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