"A Festa da Vida, uma peça de teatro que faz parte do projeto WeARTolerance, estreia ao público no próximo domingo, dia 29 de setembro, às 18h no Auditório Carlos Paredes, em Benfica.
“Tudo podia começar numa pista de dança, mas começa numa pista de corrida. Correr para ser aceite, para ser grande, quando nos sentimos pequenos. O que fazer quando estamos no meio da multidão? Quem somos? Como agimos? O que mostramos?”. Este é o mote para “A Festa da Vida”, uma peça de teatro inserida no projeto WeARTolerance, que conta com o apoio da Fundação La Caixa e com uma equipa de psicólogos e investigadores da Universidade Lusófona, e que tem como principal objetivo desenvolver um programa baseado nas artes, para reduzir o estigma em relação à saúde mental.
“A história resume-se a uma festa em que jovens vivem emoções que são próprias dos desafios e narrativas de uma festa. Medos, ansiedade, alegrias, amor, entusiasmo, desilusão, expectativa, vergonha, vários sentimentos que estão implicados quando se está numa festa, [contexto] em que temos de gerir a nossa atitude, entre conhecidos e desconhecidos, que geram ações em nós e onde nos vemos como verdadeiramente somos”, conta Sofia Ângelo, encenadora deste espetáculo.
“[A saúde mental] é um assunto hoje em dia muito falado, muito atual e [é] de grande responsabilidade colocá-lo em cena. O grande desafio foi tentar não me deixar levar no estereótipo e abordá-lo com maior respeito e sensibilidade”, diz a encenadora.
Com estreia marcada para as 18h, do próximo domingo (29), no Auditório Carlos Paredes, em Benfica, “A Festa da Vida” chama a atenção para a importância da saúde mental sem nunca o evidenciar, explica a psicóloga Ana Beato, que trabalhou também na criação da peça. “Preferimos utilizar outras linguagens mais próximas dos jovens. O espetáculo desafia o público a entrar no universo de cada jovem, sem nunca o fazer de forma óbvia e estereotipada.”
Segundo a profissional de saúde, a peça pretende transmitir uma série de mensagens profundas e multifacetadas sobre identidade, aceitação e respeito pela diferença, combinando o teatro, a dança, a música com a psicologia. “As expressões e ferramentas artísticas deram corpo ao que queríamos transmitir. No fundo, este espetáculo é um convite para olharmos para o mundo interior numa era em que a aparência e as frases feitas vigoram”, afirma.
“A metáfora da corrida e da pista de dança, usada na narrativa, representa a constante busca por aceitação e o desejo de ser valorizado e reconhecido, especialmente quando somos jovens e nos sentimos pequenos ou inseguros”, comenta Ana Beato, acrescentando que esta metáfora reflete também a luta interna que muitos enfrentam para se encaixar nas expectativas sociais. "Cada personagem, com sua história, medos e dilemas, expressa a complexidade da identidade humana.”
Como explica, o espetáculo convida a uma reflexão sobre autenticidade, sobre como nos apresentamos ao mundo e como lidamos com nossas inseguranças, chamando a atenção para a importância da vulnerabilidade. “À medida que as personagem se conhecem e partilham suas experiências, aprendem que ser aberto e vulnerável pode ser libertador e trazer conexão. Vamos percebendo também que a diferença não é sinónimo de afastamento, mas sim de uma oportunidade de entendimento e crescimento mútuo, reforça a mensagem de inclusão e diversidade.”
Sobre este projeto artístico – que sublinha a mensagem de tolerância, empatia e respeito mútuo, no combate aos estigmas diversos da sociedade – Ana Beato refere ainda que a psicologia e as artes são campos que “sempre estiveram e estarão interligados, ainda que a ponte entre ambas nem sempre seja clara e fácil.”
Integrando diversas formas de expressão artística, o projeto WeARTolerance visa também proporcionar um espaço seguro para que os jovens possam explorar as suas emoções e desenvolver competências, quer socioemocionais, quer artísticas. Para além do programa artístico, o projeto pretende ainda realizar um estudo que ajude a compreender as atitudes de crianças, adolescentes e adultos em relação a pessoas com problemas de saúde mental.
Na sociedade portuguesa, acredita aquela psicóloga, o estigma “ainda é significativo”, apesar dos avanços e do investimento social e governamental recentes. “Os preconceitos e estereótipos ainda estabelecem uma associação entre problemas mentais e fraqueza, exagero, etc. A falta de informação sobre doenças psicológicas continua a existir, especialmente em áreas mais conservadoras. O acesso desigual aos cuidados também perpetua o estigma.”
Por esses motivos, Ana Beato reforça a importância da prevenção entre os jovens, através de um maior investimento na educação em saúde mental, da criação de ambientes escolares saudáveis, do desenvolvimento de resiliência e habilidades emocionais, do combate ao bullying e de incentivo à busca de ajuda. “Investir na prevenção desde cedo promove uma cultura de aceitação e cria adultos mais resilientes e preparados para enfrentar desafios emocionais, reduzindo o impacto do estigma na sociedade. O Projeto WeARTolerance nasceu com esse propósito. Este espetáculo é um exemplo disso.”