De 19 de julho a 16 de setembro o Museu Calouste Gulbenkian recebe nas suas salas da Coleção Moderna, um diversificado conjunto de jóias que datam entre 1958 e 2018, entrando em diálogo com as obras já expostas.
No âmbito da iniciativa Convidados de Verão, que, há três anos, por esta altura, recebe “convidados” que oferecem novas leituras das exposições permanentes do museu, a investigadora Cristina Filipe, vê a sua proposta realizar-se na edição deste ano.
“Durante a última década realizei uma investigação sobre a joalharia contemporânea em Portugal (1963-2004) na Universidade Católica Portuguesa e, há dois anos, foi-me atribuído o Susan Beech Midlee Careear Artist Grant, entre 98 candidatos de 24 países, com o projeto para a realização de um livro que refletisse essa investigação. No âmbito livro propus realizar uma exposição representativa desta investigação. Consultei a Fundação sobre a possibilidade de acolherem o meu projeto expositivo e a resposta foi favorável.
Partindo desse contexto, a Fundação Calouste Gulbenkian convidou-me a fazer a curadoria da 3.ª edição da exposição “Convidados de Verão”, na qual deveria estabelecer relações entre jóias contemporâneas e as obras da Coleção Moderna e de René Lalique. Foi sem dúvida um enorme desafio para o qual precisei de eleger obras de joalharia contemporânea que pudessem estabelecer relações com as obras da Fundação”, explica a curadora em comunicado.
Jorge Vieira, José Aurélio, Maria José Oliveira, Vítor Pomar ou ainda Pedro Calapez, são alguns dos nomes presentes na lista de peças escolhidas por Cristina, que pretendem traduzir o “modo como a joalharia contemporânea acompanhou as transformações das artes plásticas, demarcando-se do campo das artes decorativas e aplicadas no qual esteve integrada ao longo da história da arte”, esclarece.
Quanto à leitura que as peças oferecem à exposição permanente, Cristina explica que “foram estabelecidas ligações cronológicas, simbólicas, formais e conceptuais. Algumas destas relações ultrapassam o espaço expositivo, sendo múltiplas as afinidades pré-existentes entre os artistas da Coleção e os convidados. Desde o artista escultor, pintor ou outro que também inclui jóias na sua obra, alguns de um modo mais intimista, outros de modo mais declarado, como por exemplo Maria José Oliveira, cuja primeira exposição individual intitulava-se Ourivesaria Têxtil. Foi a partir de pequenos artefactos para o corpo, que fundiam as suas experiências de cerâmica com os têxteis, que desencadeou a obra que se estendeu também ao desenho e à escultura. Até artistas cuja joalharia nunca foi mostrada, como o Jorge Vieira ou o José Aurélio que só há vinte anos é que mostrou publicamente joalharia, muito embora tenha realizado a primeira joia em 1958”.
A exposição estende-se ainda até à Sala Lalique da Coleção do Fundador, onde será possível descobrir as peças de Alexandra de Serpa Pimentel, “cuja obra evoca a obra de René Lalique”. A artista portuguesa que durante a sua estadia na Central School of Art and Design, em Londres, durante a década de 1970, “realizou estas três peças diretamente ligadas à obra de Lalique, não só pela temática, como pela forma e a escolha dos materiais. Os colares Cobra e Libélula e a pulseira Cobra em prata e esmalte, são de um rigor e uma minúcia exemplares”, justifica Cristina acerca da escolha da fundadora do curso de joalharia no Ar.Co, Alexandra de Serpa Pimentel, para a intervenção na Sala Lalique.