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Opinião de Pedro Pires

Pedro Pires é escritor-criativo há 28 anos. Fundador da Poets & Painters, publicou em 2022, o livro “Os pés não têm céu” e, em 2024, o livro “Cosmogonia da Identidade”.

A revolta do texto

Nas Gargantas Soltas de hoje, Pedro Pires fala-nos sobre o papel permanente do texto.

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In the room

There is joy in the room

There is love in the room

Come in the room

Let the sound wash over you

In the room

Soundness – Irreversible Entanglements

No B.leza, pela mão da ZDB, foram os Irreversible Entanglements a palco, na semana em que tive 12 pessoas comigo em workshop de escrita das 18 às 21H. 3 horas, depois de um dia de trabalho, a escrever. Foi duro, mas creio que no fim todos sentiram que pode existir um prazer na criação e na leitura do texto.  

Um prazer que parece regressar às nossas vidas quando talvez já ninguém o esperasse. 

À entrada do tempo intangível, quando tudo se parecia alegremente dirigir para uma lucrativa imaterialidade, regressa um hábito trabalhoso e solitário – o derradeiro inimigo da permanente impermanência. Escrever ajuda a criar mecanismos avançados ao nível cognitivo, do pensamento critico, da memória, e aumenta a capacidade neurológica no geral.  E se for à mão, coisa que infelizmente não consigo, ainda melhor. 

É irónico e divertido que todo o poder da AI esteja dependente do facto de alguém escrever alguma coisa. O prompting é uma espécie de justiça poética - um pedaço de texto, digitado com dedos, dá origem a imagens que a imaginação ainda não tinha visto antes. 

E a textos, muitos textos, tantos textos, como nunca antes foram produzidos.

Há um certo conforto, para quem escreve, em todo este caos. Mesmo com toda a arte 

e imaginação do mundo, é cómica a aleatoriedade (para já) e eficácia dos motores de AI, 

a produzir imagens que por ausência de lógica associativa, provavelmente não teríamos produzido antes.

Ainda assim, tudo é escrito. Sim, os comandos de voz poderão vir a substituir a escrita, mas se por um lado eles estão ainda na fase de apenas nos fazerem rir, por outro é certo e sabido que ditar não é o mesmo que escrever. Não permanece, não gera a mesma memória.

Eu não consigo escrever sem que os dedos transportem palavras. E por vezes, sinto mesmo que eles são autónomos.

Prompting, Chat GPT, Tik tok book influencers a levarem milhões de adolescentes de volta aos livros – em Portugal e em todo o mundo ocidental o mercado mantém uma tendência de crescimento há vários anos -  os Podcasts (são oralidade complexa, o primeiro texto), 

o texting e o posting, e o regresso em força da Spoken Word e da poesia dita ao vivo.

Quando tudo parecia indicar que o texto iria ser substituído por imagem, dá-se uma revolta tranquila, escrita através do prazer de regressar ao texto. Ao prazer e ao fascínio do texto. 

E à procura de uma cura.

Há um vídeo de Roland Barthes, no You Tube, em que ele em 13 minutos, fumando constantemente, explica o seu livro “O prazer do texto”. 

Diz que o “novo é uma espécie de marcha dialética absolutamente necessária na nossa história atual” – “nos devont allez chaque fois plus loins,plus avant e ailleurs” porque “somos uma sociedade móvel”. O que nos salva no fim, é que o texto veicula sempre um sentido, na medida em que foi escrito, em que é linguagem.  E isso é muito mais difícil de desestruturar do que uma imagem. Sei que tomo de algumas liberdades nesta análise, e faço-o porque tenho prazer nisso. Vejam aqui, vocês.

A poesia, e particularmente a Spoken Word, tem um particular poder em nos ancorar. 

Como qualquer outra liturgia, é o exercício da alienação objetiva que nos mantém na terra. 

O ladair sobre a palavra e o som que ela emite a partir da forma que assumiu quando foi escrita, eleva-nos ao prazer, ao erotismo falado por Barthes, mas num processo de deslocamento pessoal que ele talvez não compreenderia entre a entrega ao prazer e uma certa alienação da satisfação. Neste caso, há um grande prazer nesta experiência limite.

A poesia poderá encerrar os 2 aspetos, de alguma forma, especialmente quando dita, quando sentida da voz de outro e quando a música nos quebra qualquer tentativa de gerar sentido para lá da sensação.

Na tradição dos Last Poets, os Irreversible entanglements, Moor Mother, Kate Tempest, Amir Sulaiman, ELUCID, Rider Shafique, Adrian Younge ou o fenómeno Rupi Kaur entre muitos outros estão a criar audiências renovadas para a Spoken Word. 

Em Lisboa, nota-se uma crescente procura pela poesia dita, eventos como a Poesia na Bota, Ginjinha Poética, Novo Mundo Slam, Poesia vadia, Poesia para todos, Festival Poesia de Lisboa, Fala Povo Fala, Festival Absinto, são apenas alguns exemplos de uma nova dinâmica de procura de materiais imaterialidades.

Não consigo deixar de ser positivo. Encontramos sempre novas formas de protegermos a nossa humanidade, nas velhas formas que a escreveram. Continuo a entender que enquanto vamos saltitando na aresta do precipício, pensamos em coisas que nos levam de volta ao texto e ao que o transporta. 

Ao prazer enquanto arma de protesto. 

Links relevantes para acompanhar a leitura:

https://www.nytimes.com/2024/01/25/learning/what-students-are-saying-about-learning-to-write-in-the-age-of-ai.html
https://applesandsnakes.org/2020/05/26/spoken-word-is-dead-long-live-poetry
https://www.japantimes.co.jp/news/2024/07/13/world/ai-writing-stories
https://psyche.co/ideas/why-spoken-word-poetry-is-so-much-more-than-a-poetry-reading
https://www.straitstimes.com/life/arts/instagram-poet-rupi-kaur-returns-to-spoken-word-origins-in-singapore-show
https://www.bbc.com/future/article/20240612-the-people-making-ai-sound-more-human

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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