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Opinião de Ana Serrão

A virgindade é uma característica sobrevalorizada

Desengane-se o leitor. Falo da diferença de valor dado a um produto feito de material…

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Desengane-se o leitor. Falo da diferença de valor dado a um produto feito de material virgem (origem direta) ou de material reciclado (reutilizado).

Um material virgem é, por exemplo, o papel feito a partir de madeira nova cortada. Um material reciclado, como o cartão, é produzido a partir de materiais já anteriormente utilizados.

A palavra virgem sempre teve associado o conceito de valor e a palavra reutilização, nunca foi claramente uma palavra “sexy”.

Afinal quem quer algo usado se pode ter novo? Para quê desperdiçar tempo a reutilizar um material quando se pode adquirir um material virgem barato?

Aqui reside a grande ilusão.

Um móvel de contraplacado comprado por tuta e meia numa grande superfície não vale o mesmo que um móvel antigo recuperado, feito com madeira de qualidade.

A idade concede uma patine à madeira que não se consegue reproduzir num móvel moderno. É precisamente uma das razões porque as peças de antiquário em madeira são tão caras. Porque os materiais de qualidade ganham características maravilhosas com a idade.

A divulgação de tendências como o upcycling - valorização de objetos usados, com novas funções ou novos usos, criação de novos objetos a partir de materiais usados – têm contribuído para dar maior atratividade à palavra reutilizar. Oxalá cada vez mais gente descubra que vale a pena despender tempo, com alguma criatividade, a devolver uma peça maltratada à sua magnificência original ou a um esplendor que nunca teve.

Há alguns anos que me dedico a dar nova vida a peças que vou acumulando. A casa foi-se enchendo de pequenos objetos e móveis que têm utilidade, mas mais que tudo têm uma história que não se encontra em nenhum objeto comprado novo.

De um estrado antigo fiz canteiros elevados, de uma cafeteira rota um vaso, de um carrinho de mão enferrujado uma horta de aromáticas, de um baú abandonado uma mesa de sala, de um lençol desbotado, sacos para a fruta. O conceito de reutilização é, na verdade, muito mais abrangente do que parece à primeira vista. Quase tudo se pode reaproveitar.

Pode não parecer muito, mas cada material que reutilizamos é um material que não compramos, e quando não compramos, apesar do impacto de cada reutilização individual ser diminuto, a soma das nossas ações individuais conjuntas gera ressonância no mercado e, como tal, nas grandes empresas, que são quem mais dano causa no ambiente.

Por que a matéria virgem continua a ser mais barata do que a matéria usada?

Por que se deitam fora móveis, sejam eles cadeiras, mesas ou armários que apenas precisam de pequenas reparações?

A migração das pessoas do campo para a cidade, onde todos os tipos de serviços estão disponíveis, fizeram com que a maioria de nós perdesse a polivalência e a apetência para fazer coisas com as mãos, para desenvolver atividades tipicamente artesanais.

Talvez seja tempo de largar de vez em quando os teclados e voltar a usar as mãos para arranjar, reparar, refazer, a bem de um planeta exaurido.

-Sobre Ana Serrão-

Ana Serrão é licenciada em Tradução pelo ISLA e frequenta o curso de Agronomia na ESAS. Como Associada e Voluntária da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, tem trabalhado em iniciativas de ligação da associação à sociedade, com foco na mudança de mentalidades, hábitos de consumo e gestão do arvoredo urbano.

Texto de Ana Serrão | Zero – Associação Sistema Terrestre Sustentável
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