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Assédio moral no local de trabalho: como reagem os jovens?

O assédio moral nos empregados jovens é mais comum do que muitos possam imaginar, mas o número de queixas apresentadas é muito baixo. Rita Valente e “Camila” (nome fictício) abrem-nos as portas das suas casas, mas também os seus corações, e contam-nos as diversas situações em que se viram humilhadas ou maltratadas no seu local de trabalho. Rita, atualmente uma tatuadora de 33 anos, para além de ter sofrido assédio moral em mais do que um emprego, também se viu perante situações de abuso de cariz sexual no mesmo contexto quando tinha apenas 20 anos. Já “Camila”, que ainda se encontra a trabalhar no local em questão, mostra-se mais frágil psicologicamente ao longo da nossa conversa, sabendo que o sentimento de ansiedade por ir trabalhar não vai desaparecer tão cedo.

Texto de Mariana Moniz

Ilustração de Marina Mota

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“Entende-se por assédio o comportamento indesejado, nomeadamente o baseado em fator de discriminação, praticado aquando do acesso ao emprego ou no próprio emprego, trabalho ou formação profissional, com o objetivo ou o efeito de perturbar ou constranger a pessoa, afetar a sua dignidade, ou de lhe criar um ambiente intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador” (nº2 do art. 29.º, do Código do Trabalho).


Em Portugal, a prática de assédio é expressamente proibida, sendo que a mesma é considerada, legalmente, uma contraordenação muito grave, podendo levar ao despedimento por justa causa de quem cometa tais factos. Para além disso, as consequências para a empresa e/ou autor do crime podem passar pelo pagamento de uma coima (em processo de contraordenação) ou conferir à vítima o direito de indemnização.

A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) realizou, em 2021, um estudo relativamente ao assédio no local de trabalho. No que diz respeito à denúncia, 73 % dos inquiridos disseram não ter feito queixa, apresentando como principal justificação, o facto de não terem provas (46,3 %), havendo quem afirmasse ter tido vergonha (36,1 %), receio de que a situação fosse desvalorizada (34,3 %), receio de represálias (33,3 %) ou simplesmente não acreditasse que a situação se resolvesse por essa via (31,5 %).

Rita e “Camila” não apresentaram queixa. Rita assume não confiar na justiça, devido a outras situações da sua vida, “Camila” não sabe até que ponto fazer queixa “valeria a pena”. Para ambas, a idade é realmente um caminho para o assédio, mesmo que trabalhem bem e tenham bons resultados. “Não é só um problema laboral. É um problema social”.

"Os traumas moldam-nos de maneira diferente, mas eu sempre tive sentido de justiça"

Rita Valente

Rita Valente. Créditos: Paulo Demetrio

Rita Valente é, atualmente, gerente do Cruccio Tattoo Studio, um estúdio de tatuagens no Areeiro. Tem 33 anos, uma filha, e mora em Lisboa. Quando nos abre a porta de sua casa, cumprimenta-nos com um sorriso contagiante. Rapidamente nos convida a sentar no seu sofá branco e, descalçando-se, também ela se senta e se põe confortável. As tatuagens que percorrem o seu corpo são bastante visíveis, uma vez que usa uma saia curta e uma camisola de alças.

A varanda está aberta, iluminando todo o cenário e deixando que o som dos carros que circulam lá fora se ouça. O relógio marca 11h33 da manhã e o cheiro da comida temperada para o almoço sente-se levemente. O à-vontade de Rita torna todo o ambiente ainda mais descontraído e facilita a conversa que se segue. “Eu tenho tantas histórias. Por onde é que queres que comece?”, pergunta ironicamente e soltando uma gargalhada.

A verdade é que Rita Valente já se viu perante várias situações de assédio. Não só no trabalho, mas também na sua vida pessoal. Mostra-se, claramente, uma mulher altiva e empoderada, tanto pela maneira como se apresenta, como pelas palavras que usa.

Segundo a Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego (CITE), o assédio moral caracteriza-se, nomeadamente, por: apropriar-se, sistematicamente, de ideias ou projetos de colegas ou de subordinados sem identificar o autor das mesmas; desprezar ou humilhar colegas ou trabalhadores/as; divulgar sistematicamente rumores e comentários maliciosos sobre colegas de trabalho ou subordinados; fazer sistematicamente críticas em público a colegas de trabalho; falar aos gritos, de forma a intimidar as pessoas; entre muitas outras situações. Rita passou pela maioria delas.

“Andava sempre a saltitar de trabalho em trabalho, não era nada estável”, começa por contar. Já tinha trabalhado em diversos call-centers e feito “vendas porta-a-porta”, principalmente quando tinha 17 anos, altura em que foi expulsa de casa pela mãe.

Aos 20 anos, estava a trabalhar mais uma vez num call-center, no Saldanha. Vendia serviços de banda larga móvel e era bem-sucedida, destacando-se como a melhor vendedora da sua campanha. Porém, o seu supervisor, um homem com cerca de 40 anos, não tornava o ambiente de trabalho confortável. “Ele era extremamente agressivo nas suas vendas. Só conseguiu ser supervisor, porque supostamente tinha sido um bom comercial. Mas, na minha opinião, ele não era um bom vendedor, porque ganhava as pessoas pelo cansaço, ‘tás a ver? Era muito incisivo e as pessoas diziam que sim só para ele parar de ser chato. Isso passou a imagem de que ele era um bom vendedor, mas na verdade, muitas das vendas não se concretizavam porque, na hora da instalação, as pessoas desistiam”.

Para além do seu emprego no Saldanha, Rita também estava a estudar Línguas, Literaturas e Culturas na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Morava com uma amiga e estava noiva – um casamento que, mais tarde, não se viria a concretizar.

Rita revela que o seu supervisor no call-center tinha o hábito de se apoderar das chamadas dos outros colegas, dizendo que não estavam a fazer bem o seu trabalho. “Ele arrancava os headphones das pessoas para ser ele a falar e mostrar que era bom”, explica simulando o gesto agressivo. Com Rita, isso não acontecia pois ela tinha, frequentemente, bons resultados com as suas vendas.

Mas existiam outros aspetos em que o seu supervisor se tornava bastante incomodativo. “Sempre que alguma rapariga o chamava para pedir ajuda, ele começava a tocar-lhe, fosse nos braços, nas pernas... encostava-se a elas. Mas como eu nasci desbocada…”, eleva o tom de voz, “e não precisava da ajuda dele para merda nenhuma, ele não se debruçava sobre mim! Então tinha de arranjar maneira de se meter comigo de outra forma”.

A raiva e a frustração do seu supervisor tornavam-se claras sempre que Rita não cedia aos seus avanços. Porém, apenas gritava com ela à frente dos outros colegas. “Nunca gritava comigo fechado numa sala, era sempre em frente às outras pessoas, só para me humilhar”. Por outro lado, pedia com frequência para Rita ir com ele para o seu escritório. “Vê bem, eu só trabalhava quatro horas e conseguia ser chamada mais de duas vezes para a sala de reuniões”, mas o objetivo destes pedidos não tinha nada de profissional. “Perguntava-me coisas sobre a minha vida pessoal, sobre o que é que andava a ler, como estava a minha vida amorosa, o meu curso… falava dos meus desenhos. Era chato. Era nojento.”

O ritmo do discurso da tatuadora torna-se cada vez mais acelerado à medida que relembra os eventos do passado. Desde cedo que Rita percebeu que o ambiente naquele local de trabalho “era pesado” e que havia bastante assédio para com as mulheres mais novas. “O que me chocava mais era o seu descaramento. Eu via-o a fazer isto com todas, ele nem tentava esconder”.

Certo dia, com cerca de sete meses de trabalho, Rita terminou o seu turno e saiu do edifício. Pouco tempo depois, ouviu o homem que tanto a atormentava chamá-la pela janela, perguntando-lhe se queria boleia. «Não, o meu noivo vem-me buscar. Fogo, és mesmo desesperado!» A resposta da jovem de 20 anos foi o gatilho para tudo o que se sucedeu no dia seguinte. “Ele pôs-se a jeito. Quer dizer, ele está a gritar comigo, eu vou gritar também. E lá dentro ouviram a minha resposta, o espaço era pequeno!”, exalta-se, desencostando-se do sofá.

No dia a seguir, Rita estava a trabalhar há cerca de 45 minutos e já tinha seis vendas concretizadas, sendo que o objetivo era realizar uma por hora. O seu supervisor, irritado com o que acontecera no dia anterior, pediu a Rita para se dirigir à sala de reuniões, como já era habitual. “Havia pessoas que nem uma venda tinham feito! Não havia motivo nenhum para ele escolher falar comigo, mas lá tive de ir atrás dele para a sala de reuniões”. Pela primeira vez, a porta da sala foi trancada pelo homem. Rita relembra-se de pedir várias vezes para destrancar a porta, mas em vez disso, o supervisor pegou na chave e meteu-a no bolso das calças. «Eu não estou a brincar! Abre a porcaria da porta ou eu vou-me passar!», gritou a jovem. Ao ver que o mesmo não a abria, Rita começou a bater na porta com os pés e, por fim, a porta foi destrancada pelo supervisor que apenas se ria.

Desesperada, saiu da sala de reuniões e foi de encontro ao gerente da empresa, um homem com idade para “ser seu avô e bastante sexista”. Rita tinha conhecimento de que o seu supervisor já tinha feito queixa dela ao gerente, afirmando que a jovem lhe respondia mal, contudo, o mesmo nunca a tinha abordado anteriormente.

Enquanto se dirigia para o seu lugar, Rita ouviu o gerente do call-center a chamar por ela, mas fazendo apenas sons com a boca: «Oh pssst, pssst».  “Mas como eu não sou nenhum cão…”, eleva cada mais o tom de voz, “nem sequer olhei!”. Passados uns minutos, uma das colegas de Rita abordou-a, dizendo-lhe que ela estava a ser chamada pelo superior hierárquico. A jovem, já irritada, dirigiu-se então ao seu encontro.

Rita levanta-se do seu sofá com exaltação, coloca-se à nossa frente no meio da sala, e simula a conversa e os gestos que se sucederam. “Quando cheguei ao pé dele, pergunta-me: «Não me ouviu a chamar?» E eu respondi: «A chamar? Não, não ouvi ninguém a dizer o meu nome!», imita com a voz esganiçada, «Ah, mas como é que eu vou chamar? Não sei o seu nome». “E eu, já furiosa com o que se estava a passar, cheguei-me ao pé dele, dei-lhe um aperto de mão e disse assim: «Ah não sabe o meu nome? Rita Valente, prazer! Você contrata as pessoas e nem sabe o nome delas?».

Sucedeu-se uma discussão enorme entre a funcionária e o gerente, à frente de todos os seus colegas e do supervisor que sempre a assediou. «Se estivessem preocupados com as vendas, deixavam-me estar a trabalhar! O que você tem aqui», continuou apontando para o seu supervisor, «é um homem nojento, que está constantemente a incomodar-me e ninguém faz nada!» As palavras da jovem fizeram com que fosse despedida de imediato.

Segundo o estudo da APAV, “mais de 60 % dos inquiridos consideram que o assédio sexual é difícil de ser provado, difícil de ser punido, e, talvez por consequência, pouco denunciado. Em 32,5 % dos casos a vítima disse ter sofrido represálias, nomeadamente despedimento, com 22,5 % das vítimas a referirem terem-se arrependido de ter feito queixa”.

Quando questionada sobre o porquê de ter tolerado tantas faltas de respeito por parte da entidade patronal, Rita volta a sentar-se no sofá e responde com mais calma: “eu era assediada todos os dias da minha vida, fosse na rua, nos transportes… já me tinham feito pior e aquilo, para mim, era normal. Era um limite de assédio que eu conseguia aguentar. Ficava mais irritada quando ele me interrompia o trabalho”. Admite ficar aliviada por ter tido a capacidade para enfrentar o seu supervisor e não ceder aos seus avanços diários. Assume-se como uma pessoa sem medo das consequências e até um pouco irresponsável. “Eu contei a várias pessoas com indignação! Quer dizer, vão mandar embora a melhor vendedora da empresa, só porque sim? Que ridículo! Como é que justificam mandar embora as raparigas que têm bons resultados?”.

Para além do que aconteceu neste emprego no Saldanha, Rita faz questão de nos contar mais duas histórias de situações em que se viu envolvida. Começa por relembrar a altura em que estava a trabalhar num restaurante, em Belém. Tinha cerca de 24 anos. “Eram todos antipáticos. Não consegui criar uma única ligação com um colega! E eu não sou uma pessoa fechada, sempre tive facilidade em fazer amigos, por isso estava super desconfortável naquele ambiente.”

Para além de sentir falta de ter alguém com quem desabafar, Rita descreve o chefe de sala como sendo “bastante patriarcal”. “Tudo o que fazíamos estava mal feito. Ele vinha atrás de nós e fazia exatamente da mesma maneira, falava mal com os trabalhadores à frente dos clientes e envergonhava-os. Era mordaz… era tóxico.”

A jovem estava a morar sozinha na altura, mas só aguentou dois meses no emprego. Teve dias em que chorava antes de ir trabalhar, porque não queria sair de casa e enfrentar aquele ambiente. “Como andava sempre a saltar de trabalho em trabalho, estava a tentar fazer um esforço para me aguentar. Vivia uma instabilidade exaustiva e esse sentido de obrigatoriedade fez-me ficar. Mas passado um tempo foi impossível”.

Por último, Rita Valente opta por nos revelar a situação em que se viu assediada moralmente, mas desta vez por parte de colegas. O local é, novamente, um restaurante, mas no Parque das Nações. Era a única portuguesa, sendo que todos os cozinheiros eram nepaleses ou vietnamitas, e os empregados de mesa, brasileiros. “Admito que me senti bastante excluída e ostracizada. Eles andavam sempre em grupo e deixavam-me de parte intencionalmente”, conta encolhendo os ombros e ajeitando o piercing que tem no nariz. Uma das suas colegas falava bastante de Rita aos outros funcionários e criticava o seu trabalho maliciosamente. Era uma situação recorrente e, segundo a atual tatuadora, sem nenhum motivo para acontecer. Rita acaba por não aguentar quando, certo dia, após o seu turno terminar, a funcionária em questão se despediu dela chamando-lhe um nome ofensivo em brasileiro. Mais uma vez, Rita pôs fim ao seu contrato de trabalho.

Rita Valente. Fotografia da sua cortesia

Nos dias de hoje é uma mulher independente e trabalha na área que sempre sonhou. Mostra-se lutadora pelos seus objetivos, gere o seu próprio estúdio e é uma tatuadora de renome. Considera que a falta de experiência dos jovens contribui para o assédio, “pois os jovens são mais facilmente manipulados e sentem necessidade de agradar. Na minha opinião, essa procura por validação também contribui para a manipulação e para que os chefes se sintam superiores”.

Rita solta um grande suspiro e encosta-se no sofá, cruzando as pernas. O seu olhar torna-se mais sério quando nos revela que sofreu várias violações sexuais ao longo da sua infância e adolescência. “Eu acho que acabei por normalizar o assédio porque…”, engole em seco, “eu fui violada desde pequena. A primeira vez que fui violada tinha 6 anos. Sinto que, quando as pessoas têm traumas de infância, usam isso como um mecanismo de defesa e acabam por normalizar determinadas situações. Reprimes certas coisas”. Posto isto, Rita explica que para ela as dificuldades que existem atualmente nas interações sociais são “normais”. As más situações que Rita enfrentou no passado foram mais graves do que os eventos que aconteceram nos seus empregos, e foi por isso que sempre se sentiu capaz de se defender. “Eu pensava que não era assim tão grave”.

Nunca apresentou queixa do assédio que sofreu, pois não confia na justiça portuguesa. “Quando tinha 24 anos fui a uma esquadra da polícia para fazer queixa de uma violação e das pessoas que me fizeram mal quando era criança. Eles responderam-me que o crime tinha prescrito, porque não fiz queixa até aos 23”, critica revirando os olhos, “por isso, não tenho fé absolutamente nenhuma de que alguém me pudesse ajudar caso eu fizesse queixa de um chefe que apenas me falou mal”.

Sorrindo, volta a descruzar as pernas e termina o seu discurso referindo que muitas vezes, em detrimento dos seus interesses, “acaba por falar demais”, mas ao menos sabe que se conseguiu proteger. “Sou impulsiva, às vezes um pouco irresponsável, mas não consigo mudar”, solta uma gargalhada.

Acredita que as pessoas que assediam e maltratam no trabalho, também o fazem fora dele. Mas, para Rita, nunca foi opção não se proteger. Aliás, a si e aos outros. Conta-nos que sempre deu voz a quem não a tem, interferindo em situações que podiam até não estar relacionadas com ela. “Os traumas moldam-nos de maneira diferente, mas eu sempre tive sentido de justiça”, afirma com convicção.

Cerca de 80 % dos inquiridos para o estudo da APAV consideram mais provável que uma mulher seja vítima de assédio sexual no local de trabalho e, mais de metade, considera mais provável que as vítimas sejam de grupos etários mais jovens. Rita tem a sua opinião clara e não tem medo de a transmitir: “a lei está feita para eles [para os homens], não para nós. Nem para os pobres, nem para as mulheres em especial”.

"Há dias em que me dá um aperto no coração só de saber que vou trabalhar no dia a seguir"

"Camila"

Fotografia de Amelia Wahyuningtias via Unsplash

Desde janeiro de 2022 que “Camila” se encontra a trabalhar numa loja de acessórios, em Lisboa. Tem 22 anos e vive perto do seu local de trabalho. É na sua casa que nos recebe, ao final da tarde. É um espaço pequeno, partilhado entre si e uma amiga da mesma idade.

A sua timidez é visível à medida que nos apresenta a sua casa. O chão de madeira range sempre que damos um passo e as janelas estão entreabertas, deixando a luz de final de dia entrar sorrateiramente. Do lado esquerdo estão os quartos, que vemos apenas de relance, do outro lado encontra-se a cozinha. É para lá que nos guia.

A bancada ocupa a maior parte do espaço e podemos ver pratos e copos lavados, pousados no lava-louça. Encostada à parede está uma pequena mesa de madeira e uma cadeira de cada um dos lados. “Queres beber alguma coisa?”, pergunta gentilmente. Contentamo-nos com um copo de água e, logo de seguida, sentamo-nos frente a frente. “Camila” está nervosa, mas demonstra ser uma jovem doce e com um sorriso meigo.

Começa por nos contar que estudou “Cultura e Comunicação” na Faculdade de Letras de Lisboa e que tenciona tirar um mestrado na mesma área. Por enquanto, está a trabalhar no atendimento ao público “para ganhar dinheiro e pagar despesas”. Cruzando as mãos sobre a mesa, começa a ganhar coragem para dar a sua opinião sobre este tipo de trabalhos. “As empresas têm noção que, quem vai para este tipo de emprego, está lá temporariamente. Ninguém quer fazer disto vida”.

Trabalhando numa multinacional, sente que se exige mais dos colaboradores. Existem objetivos a cumprir e, dependendo dos superiores, “pode tornar-se insuportável”. Escolheu esta loja por ser perto do seu local de residência. Os critérios de seleção não eram “nada de especial” e, menos de uma semana após a entrevista, já estava a trabalhar.

Antes de vir para esta loja, já tinha trabalhado em restauração durante o verão de 2019 e 2020. Comparando os empregos, “Camila” assume que restauração possa ser mais difícil, “mas lidar com pessoas que vão para este tipo de loja e querem ser tratados como reis e rainhas, também não é fácil. Exigem muito, por pouco”. Admite que o público também contribui para a frustração do dia-a-dia. Generalizando, “as pessoas não são simpáticas e o pior é que muitas delas também trabalham em atendimento ao público!”, ri-se sem mudar a posição corporal. “Sinto que vão descarregar as frustrações do seu trabalho em pessoas que trabalham no mesmo que elas”.

Ao começar a trabalhar nesta loja, apercebe-se de que as funcionárias não são bem tratadas pela gerente. Entretanto, em março, essa chefia muda e entra uma nova rapariga como gerente de loja - uma jovem de 28 anos. É nesta altura que “Camila” começa a sentir os primeiros sinais de assédio moral.

Reconhece que sempre teve colegas difíceis, sendo que todas são mulheres. “Neste tipo de trabalho é complicado identificares-te com as pessoas. Não consegues ser amiga de toda a gente, por muito que tentes. Há pessoas que simplesmente não sabem trabalhar em equipa e, quanto menos fizerem, melhor”, suspira ajeitando a camisa branca que veste. Para além disso, sempre teve a sensação de que, quando entra alguém novo, as funcionárias que já lá estão há mais tempo se sentem ameaçadas por essa pessoa.

Em relação à sua chefe, “Camila” descreve-a como sendo “muito desconfiada da equipa”, e revela várias ocasiões em que a mesma se desloca à loja durante as suas folgas, apenas para controlar o trabalho das funcionárias. “Houve um dia em que ela estava de folga e ligou para a loja só para confirmar o que ainda faltava fazer. Nesse mesmo telefonema, ela ameaçou-nos: «Se amanhã as coisas não estiverem todas feitas, vamos ter problemas!» No dia a seguir só reclamou do nosso trabalho. Uma pessoa sente que, por muito que faça, nunca vai ser suficiente para a chefe. Damos tudo, mas falta sempre qualquer coisa”, diz baixinho.

“Camila” encosta-se à cadeira e bebe um pouco de água. O sol já se pôs e estamos apenas iluminados pela luz que o candeeiro do teto emana. “Eu entendo a exigência, mas não entendo a perseguição”, prossegue pousando o copo novamente, “ela está sempre a querer provar que somos incompetentes”. Exemplificando, “Camila” relembra o dia em que a sua chefia chama cada uma das funcionárias ao seu escritório e lhes pergunta o motivo para quererem ficar a trabalhar na loja. “Ela tinha imensos currículos em cima da mesa e disse que havia pessoas que precisavam de trabalhar para comer. Mas isso não é toda a gente?”, pergunta retoricamente e arregalando os olhos, “foi uma chantagem emocional completa. No meu caso não resultou, porque eu fui honesta e disse-lhe que estava lá porque precisava de pagar contas”.

Conta-nos que a pior situação que testemunhou foi quando a sua chefe mandou uma das suas colegas para o armazém, pois “ela não estava apresentável para estar à frente dos clientes”. “Camila” explica que, segundo o manual de fardas da loja, todas as trabalhadoras têm de estar fardadas e maquilhadas, seguindo uma paleta de cores. A adicionar-se a essas regras está, inclusivamente, a cor da roupa interior que devem usar e o facto de não poderem pintar as unhas com cores fortes para não “ofuscarem nada do que estão a vender”. No dia referido por “Camila”, a colega em questão não estava maquilhada, então foi mandada para o armazém.

“Lembro-me de uma outra situação em que uma colega tinha chegado quinze minutos atrasada e a nossa chefe tratou-a muito mal, dizendo-lhe: «Se estiveste no lodo quinze minutos, bem podes ficar o resto da tarde que não fazes aqui falta». E mandou-a embora”, suspira. “Eu percebo, não devemos chegar atrasadas. Mas existem maneiras e maneiras de falar. Ela só sabe ser rude, nem “por favor” sabe pedir”.

No que diz respeito a si própria, “Camila” assume que tem dias em que não quer regressar da sua hora de almoço. “Acho que o pior foi quando me chamou de lenta. Eu andava a correr de um lado para o outro, mas ela pediu-me para fazer as coisas ainda mais rápido”. A desilusão no olhar da jovem é bastante nítida e, apesar de falar abertamente connosco, sente-se a dificuldade com que relembra os eventos do seu trabalho.

Salienta que as funcionárias da loja recebem, diariamente e à frente dos clientes, respostas brutas por parte da chefia. “Cheguei a ter uma colega que não aguentou nem duas semanas. A minha chefe tinha implicado com ela sobre o seu trabalho e a rapariga saiu da loja a chorar e a culpar-se pelo que aconteceu”.

“Camila” nunca fez queixa nem falou com supervisores, pois “não sabe até que ponto isso ia resultar, sendo que a sua chefe tem uma relação de proximidade para com a entidade patronal”. Recorda-se de uma colega que chegou a pedir transferência de loja por não aguentar mais e disseram-lhe que não. «Se quisesse que metesse a carta».

Falámos com a advogada Luísa Trigo Carvalho que já defendeu mais do que uma vítima de assédio moral no local de trabalho. A mesma explica-nos que “a prova é a parte mais complicada e difícil de todo o processo nestes casos atendendo a que, na grande maioria, os atos de assédio são praticados pela entidade patronal, chefe, ou alguém com um cargo superior ao da vítima. Se estes atos de assédio forem praticados por um elemento com um grau de superioridade relativamente à vítima no local de trabalho, as testemunhas são os colegas de trabalho que dependem economicamente daquele”. Desta forma, os colegas da vítima, recusam-se, muitas vezes, a ser testemunhas ou, “não podendo recusar-se por terem sido indicadas pela vítima referem “não saber de nada”, com receio das repercussões que tais declarações possam causar na subsistência do seu trabalho”.

“Camila” já pensou em despedir-se mais do que uma vez. Diz-nos que só não o faz porque a loja tem falta de pessoas e a jovem sente necessidade de as ajudar. Contudo, são muitos os dias em que não se quer levantar da cama para ir trabalhar. “Se vou fazer mal, para quê ir?”, questiona abanando com a cabeça. “Há dias em que me dá um aperto no coração só de saber que vou trabalhar no dia a seguir. Há colegas que já tiveram mesmo ataques de pânico e eu estou constantemente ansiosa”.

Para além de exercer imensas funções dentro da loja, desde atendimento de caixa a receber mercadoria, a jovem tem de fechar a loja sozinha quase todos os dias, sendo que é obrigatório aspirar e lavar o espaço, para além de o arrumar. Certo dia, foi confrontada pela sua chefe que a acusou de não ter limpo a loja, pois existia lixo no chão. “Camila” ganhou coragem e enfrentou-a, negando todas as acusações: «Se não acredita em mim, vá ver as câmaras». Cinicamente, a supervisora respondeu: «Então para a próxima tens de fazer melhor». “Lá está, se ela estiver bem-disposta, está tudo bem. Se não estiver bem-disposta, há problemas em todo o lado!”, reage elevando o tom de voz pela primeira vez na nossa conversa.

Tal como Rita Valente, acredita que este género de assédio acontece mais com pessoas jovens, pois estes empregadores também têm tendência para contratar pessoas mais novas. Na sua opinião, são pessoas que os chefes acreditam que conseguem controlar melhor e manipular. “Acho que veem na idade um caminho para serem brutos, para responderem mal, mas eu não sei menos nem trabalho pior só por ser mais nova”.

Para a advogada Luísa Carvalho, os jovens são realmente um alvo mais comum para o assédio, devido à sua falta de conhecimento dos seus direitos e devido à sua dependência económica no trabalho.

“Camila” sente-se diariamente sobrecarregada. Por vezes, chega a trabalhar mais de dez horas e nunca tem ajuda para fechar a loja. Já chegou a terminar o seu turno às 22h00 da noite, “só para deixar as coisas bem-feitas”, sendo que a loja fecha às 20h00. “Quem faz fecho é sempre criticado, porque alguma coisa não está ao gosto da chefe. Agora a moda é tirar fotografias ao que não ficou bem-feito, para depois mostrar à pessoa quando ela chega”, revela levando as mãos à cabeça. Para além disso, as respostas de “Camila”, ao longo do seu dia de trabalho, passaram a ser automáticas. Sente-se robotizada e acaba por assumir a culpa, mesmo não concordando com os ataques da sua chefe. “O que é que tu vais dizer? Não vale a pena”.

O som dos vizinhos a entrarem dentro do prédio interrompe a nossa conversa por meros segundos. De seguida, “Camila” volta à sua posição inicial, pousando as mãos sobre a mesa e entrelaçando-as. Não se recorda de um momento em que a sua chefe tenha sido genuinamente simpática. “Acho que ela não tem noção de que é assim. Não tem empatia por ninguém. Às vezes até temos receio de lhe pedir alguma coisa”. Admite que, se conseguisse, responderia mais à supervisora, mas sente que não vale o esforço. “Não vou estar a descer ao nível dela, percebes?”.

Cerrando os lábios, assume que o assédio que sofre a pressiona para fazer um trabalho melhor, mas que não entende a razão para a tratarem mal. “Não chego atrasada, não peço nada. Não percebo porque sou tratada assim. Dou por mim a contar os minutos para me ir embora”. Acredita também que a facilidade com que os jovens são substituídos nestes locais de trabalho contribui para o assédio moral. “Eles não precisam de nós. Mas, para mim, não há a opção de não trabalhar…”, murmura desentrelaçando os dedos por momentos.

Segundo “Camila”, os jovens, hoje em dia, começam a trabalhar muito tarde e não têm noção das dificuldades. “Há pessoas com vinte e poucos anos que nunca trabalharam e os empregadores querem pessoas com experiência. O problema é que não estão dispostos a dar essa formação”. Para os jovens mudarem, as empresas também devem mudar. “Tem de ser um trabalho mútuo. As empresas têm de deixar de assediar só porque sim, e os jovens têm de parar de se deixar assediar, pois será sempre mais fácil moldar uma pessoa mais nova”, esclarece.

Por enquanto, não tem qualquer esperança de que a sua chefe mude de comportamento. “Ela só muda quando se vir sozinha”, afirma fixando o olhar no nosso, “acho que nem a minha chefe consegue lidar com o próprio ambiente que ela criou. Escolheu ser rude e falar mal com as pessoas”. Contudo, “Camila” escolhe não trazer o trabalho para casa e procura “deixar os problemas na loja”. Evita o conflito e prefere resolver os problemas consigo própria. Se algum dia tiver mesmo de sair, quer sair com a certeza de que não errou. “Provavelmente vou arrepender-me, mas ao menos saio de consciência tranquila”.

“Ter poder é uma coisa maravilhosa e é uma coisa boa! Desde que saibamos usá-lo e não o usemos para diminuir os outros”

Daniel Cotrim

Daniel Cotrim. Fotografia da sua cortesia

Psicólogo clínico e responsável pelas questões de Género e Violência Doméstica na APAV, Daniel Cotrim aceitou falar connosco, via telefone, para nos explicar o porquê do assédio moral nos empregados jovens ser tão frequente e de que maneira isto pode deixar de ser uma realidade. A verdade é que, no que diz respeito à APAV, o número de pedidos de apoio é muito baixo, nem chegando aos 1 % do número de denúncias.

“As pessoas não sabem reconhecer o assédio moral”, começa por esclarecer, “sentem mau estar, mau tratamento claro por parte da hierarquia, mas também dos colegas... aliás, a ideia de que o assédio moral é uma coisa hierárquica é um mito”. Contudo, o profissional da APAV acredita que existem vantagens em se ser jovem, visto que muitos acabam por perceber que “mais vale ir embora”.

Durante a nossa conversa percebemos que existem duas fases que os jovens empregados atravessam: “a fase da zanga e a fase da nova oportunidade”, sendo a última “o grande problema das vítimas”, seja em que tipo de violência for. “Elas acham que a culpa é delas e, portanto, são elas que têm de mudar”. Daniel relata ainda que os jovens que moram com os pais têm mais facilidade em deixar os seus empregos. “São situações profundamente angustiantes e que causam muita ansiedade nas pessoas”, reforça o psicólogo.

O psicólogo clínico considera que as pessoas até aos 35 anos já não têm a ideia do que é o “trabalho para sempre”, pois querem progredir e sentem mais facilidade em se “desvincularem”. Assim, existem jovens que realmente têm a capacidade para saírem de um emprego que não lhes traz benefícios. De qualquer forma, para impedir o assédio moral, Daniel explica que é fundamental que “nas universidades se fale sobre isto e que haja formação sobre estas matérias. Um chefe gritar com alguém não é normal. Os meus pares fazerem bullying comigo não é normal”. Daniel entende que existe uma normalização de uma cultura de desvalorização, de denegrir e de exercer um poder negativo dentro das organizações.

Questionámos também ao psicólogo de que forma as vítimas devem agir quando se encontram nestas situações, mas também quais as consequências psicológicas para as mesmas. Relativamente às estratégias que devem ser adotadas, Daniel Cotrim menciona que a vítima deve sempre registar o que aconteceu “numa espécie de diário”; não deve apagar e-mails ou mensagens ofensivas e degradantes; deve tentar saber se alguém testemunhou a sua situação; e ainda falar com colegas que se encontram no emprego há mais tempo para saber se é algo que já era recorrente.

Já no que diz respeito às repercussões psicológicas, o profissional refere: “existe um aumento grande da ansiedade. Muitos não querem ir trabalhar, sentem-se ansiosos no trabalho, não investem no que estão a fazer. Sentem que não vale a pena, no sentido em que se não fazem bem de qualquer maneira, mais vale não fazerem de todo. Por outro lado, outros esforçam-se demasiado, ficando mais horas ou entrando mais cedo, o que leva à exaustão emocional, o chamado burnout”; surge também um sentimento de desvalorização, baixa autoestima, pouca realização profissional; afeta a vida pessoal e social da vítima, que deixa de ter capacidade para estar com outras pessoas; e, nos casos mais graves, existe tentativa de suicídio.

Desde 2017 que as empresas são obrigadas a ter no seu código de conduta uma alínea que fala sobre o assédio moral e sexual. A grande maioria alterou o código por ser legalmente obrigatório, mas em termos práticos “não se fez nada. Não fazem notas de formação, não denunciam, não se apercebem”. Para Daniel Cotrim, o assédio não tem que ver com o tipo de emprego, mas sim com a entidade patronal, para além de que a ameaça recorrente de que existem mais jovens à procura de emprego, faz com que os empregados não se despeçam e se sujeitem aos maus-tratos.

“As entidades patronais têm noção do que estão a fazer, mas escolhem fazer outra leitura das situações, que é: Isto acontece porque as pessoas não são boas e não se empenham”, clarifica. Para além disso, as pessoas que sofrem assédio não se sentem seguras ao fazer queixa pois, na maioria das vezes, o processo tem de passar pela chefia, que é quem normalmente o pratica. “Nesta altura do campeonato, é preciso perceber o que é que as organizações estão a fazer para mudar esta cultura e que tipo de mecanismos de denúncia estão a ser praticados. Não basta mudar o código”. 

No que diz respeito à APAV, Daniel Cotrim explica que a associação está disponível para prestar apoio às pessoas. Numa primeira fase, avalia as situações para tentar fazer a ponte com a entidade patronal. Seguidamente, prepara as pessoas, dando-lhes estratégias de prevenção, proteção e segurança. Após a denúncia estar feita, presta apoio psicológico e dá apoio jurídico, encaminhando-as para os tribunais.

Daniel salienta que o número de jovens que sofre assédio moral aumentou, mas não aumentou o número de denúncias. “É preciso formar as pessoas dentro da empresa, é preciso dar formação sobre os direitos humanos e incluir o assédio moral como matéria”, reforça. Segundo o psicólogo, é tudo uma questão de poder. “Ter poder é uma coisa maravilhosa e é uma coisa boa! Desde que saibamos usá-lo e não o usemos para diminuir os outros. O assédio é um comportamento repetitivo e nós já identificámos o problema. Só falta começar a agir e criar medidas.”

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