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Campanha “Vamos fazer o (im)possível acontecer” quer mais mulheres imigrantes nas europeias

A campanha, liderada em Portugal por Farhana Akter, baseia-se na educação política, empoderamento e autonomia feminina, com o objetivo de formar um Parlamento Europeu mais inclusivo e atento às necessidades destes grupos minoritários. As ações voltam-se para as eleições de junho de 2024 e são promovidas pelo projecto Vote With Her.

Texto de Amina Bawa

Fotografia da cortesia de Farhana Akter

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O Parlamento Europeu é a única instituição da União Europeia (UE) diretamente eleita pelos cidadãos, desempenhando um papel crucial na formulação de políticas, legislação e fiscalização das atividades do bloco. No dia 9 de junho, Portugal elege 21 eurodeputados, dos 700 membros que representarão cerca de 450 milhões de pessoas. No entanto, o equilíbrio de género entre eurodeputados na sessão constitutiva de 2019 era de 59% de homens e 41% de mulheres, levando em consideração a definição binária.

Atentas a estes números e às questões relacionadas à vida dos imigrantes que vivem nos países da UE, nasce o projeto "Vote With Her", que propõe uma campanha de incentivo à participação política de mulheres migrantes ou mulheres de origem imigrante, com vistas à  inclusão deste grupo no processo eleitoral e para estimular essa representação na política. A iniciativa foi criada pela European Network of Migrant Women (ENoMW), plataforma feminista, secular e apartidária, como se define, em parceria com a femLENS, organização sem fins lucrativos que promove a fotografia documental como ferramenta de empoderamento para mulheres de diversas origens e associada a diversas organizações internacionais e locais em países da União Europeia. Segundo as organizadoras, o objetivo é aumentar a participação política de mulheres de origens imigrantes no contexto das eleições para o Parlamento Europeu de 2024, no países que fazem parte do bloco e a ativista Farhana Akter é a porta-voz do projeto em Portugal.

Fotografia da cortesia de Farhana Akter

Segundo a agente de mudança, o objetivo do “Vamos fazer o (im)possível acontecer: empoderar mulheres imigrantes” “é empoderar essas mulheres através da educação política, do incentivo ao voto e do engajamento cívico, com ênfase na importância do envolvimento feminino na democracia e na tomada de decisões políticas.”, defende Farhana Akter.

O “Vote With Her” também afirma criar consciência entre as mulheres imigrantes sobre seus direitos políticos, facilitando o acesso à informação sobre processos eleitorais, registros de voto e outras questões relacionadas à participação cívica. Geralmente, iniciativas como estas  têm como foco conectar mulheres com recursos e redes que podem ajudá-las a se tornarem mais ativas politicamente, tanto em nível local quanto europeu. Pretende ainda superar barreiras culturais, de idioma e de género para promover uma maior participação das mulheres em contextos políticos e sociais.

Trabalhar com as mulheres imigrante em Portugal

De maio a novembro de 2023, mais de 50 mulheres de diferentes origens, em 14 estados da União Europeia, participaram de um programa que ofereceu treinamento online e presencial, cobrindo uma ampla gama de temas, desde a estrutura institucional da UE e processos legislativos até campanhas políticas e advocacy. Elas também foram apresentadas ao PHOTOVOICE, uma ferramenta que permite a indivíduos e comunidades contarem suas histórias e transmitir mensagens políticas por meio da fotografia. Dos 22 projetos selecionados para receberem apoio da Vote With Her após a formação, o de Farhana Akter, mediadora intercultural, foi o único em Portugal. Ela afirma que busca comunicar a sua visão e preocupações a um público mais vasto e encorajar a participação desse público nas eleições Europeias de 2024. Para isso, foi lançada a campanha “Vamos fazer o (im)possível acontecer: empoderar mulheres imigrantes”.

Assim como muitas das mulheres com quem trabalha, Farhana Akter, que era professora de química em Bangladesh, decidiu buscar por novas oportunidades na Europa, quando deu início à uma pós-graduação na Islândia, na qual aprendeu um pouco sobre política internacional e interações públicas. Durante o curso, um dos professores despertou a sua admiração: “era membro do Parlamento na Islândia e de alta posição. Eu fiquei realmente impressionada com suas palestras motivacionais, mas não pude aprofundar no tema, pois não tive tempo suficiente para isso. Então, eu pensei: vamos ver o que esse curso me traz, somando a minha profissão.”, comenta Akter.

Em 2020, após a conclusão do curso na Islândia e a convite de amigos que viviam em Portugal, Farhana chega à capital portuguesa. Estimulada pelos temas estudados, dá início a formação de mediadora intercultural comunitária na Fundação Aga Khan. “Foi nesse ponto que comecei a minha nova carreira, na verdade, profissionalizei o que já vinha fazendo.”, afirma.

Como mediadora intercultural, Akter teve a oportunidade de participar de muitos workshops, treinamentos e voluntariados, como na Associação Renovar a Mouraria, uma organização sem fins lucrativos dedicada à revitalização do bairro da Mouraria, em Lisboa, através de projetos comunitários, educativos e culturais. Passou então, a ser conhecida como a “irmã benagli” que além de falar diversos idiomas, apoiava, principalmente, as mulheres asiáticas e africanas.

Fotografia da cortesia de Farhana Akter

As boas relações criadas com os movimentos sociais e associações de apoios aos imigrantes e os contatos que fez durantes as formações em Lisboa, culminaram na sua eleição como presidente da Cooperativa Bandim, plataforma multimarca composta por pessoas de mais de 30 origens diferentes, unidas pelo interesse de criar produtos nas indústrias criativas. “Não sou só eu, somos nove pessoas no conselho. Antes de mim ou de nós, era apenas um projeto promovido pela Fundação Aga Khan, que estava tentando reunir algumas mulheres migrantes e fazer algo para elas. Agora é uma cooperativa, um grupo autônomo que toma suas próprias decisões e tenta resolver seus problemas juntos e trazer mais parceiros.”, exalta a presidente.

Com o desenvolvimento de seus trabalhos com as comunidades imigrantes, Farhana decidiu ir além dos projetos em Lisboa e atualmente busca enfatizar a importância de reconhecer as pessoas e seus talentos, instigando a sociedade a ver os imigrantes de forma positiva para estimular o empoderamento através do conhecimento e da informação. “E esse projeto [“Vamos fazer o (im)possível acontecer: empoderar mulheres imigrantes”] realmente quer alcançar essa comunidade e dar a elas algumas ferramentas e encorajá-las para seu empoderamento, o empoderamento feminino por meio da educação política.”, defende a representante portuguesa.

Campanha “Vamos fazer o (im)possível acontecer: empoderar mulheres imigrantes”

Lançada no último dia 12 de abril, no Beco do Rosendo, em Lisboa, a campanha destaca as histórias de diversas mulheres imigrantes de diferentes nacionalidades e contextos. O foco é a cultura como uma ferramenta para reconhecer o potencial das pessoas, com o objetivo de incentivar uma visão mais positiva sobre os migrantes e contribuir para seu empoderamento.

O trabalho de Farhana Akter não é solitário. A equipe conta com Sara Alemão, destacada pela femLENS. “De fato, só conheci a Farhana em agosto [de 2023] e desde então temos vindo a trabalhar em fases de projeto distintas, sendo que até dezembro tivemos a fase da preparação da campanha com textos e com as imagens feitas pela Farhana”, explica Sara.

Fotografia da cortesia de Farhana Akter

Nesta fase do projeto e até às eleições entre os dias 6 e 9 de junho, estão sendo fixados posters em vitrines de lojas e estabelecimentos como na Cooperativa Bandim, na Lisbon International Culture Association (LICA), no Centro Comercial da Mouraria, n’O Estúdio, em Benfica e na Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA), em Anjos onde acontecerá um evento público, no dia dia 10 de maio que tem as inscrições abertas através do link.

A campanha teve ainda outras respostas positivas. “Depois temos cartões-postais dados como presente, que dão abertura para um diálogo. Além disso, nós solicitamos ao Metropolitano de Lisboa e aceitaram a proposta de colar cartazes em algumas das estações.”, celebra Farhana Akter.

A ativista ainda faz questão de reforçar que “Embora seja uma rede europeia de mulheres migrantes e o foco esteja no empoderamento feminino, todas essas informações são igualmente importantes para todos os imigrantes, homem, mulher, ambos ou todos.”, pontua a mediadora.

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