De 1 de janeiro a 31 de março de 2022 estão abertas as candidaturas para a 2ª edição do Prémio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina, do Esta noite grita-se / Companhia Cepa Torta, em parceria com a editora Douda Correria. Este prémio pretende promover, reconhecer e divulgar a dramaturgia de autoria feminina em língua portuguesa. O concurso está aberto a todas as pessoas singulares, maiores de idade, que se identifiquem com o género feminino, sejam cisgénero ou transgénero, e que queiram propor uma obra dramatúrgica inédita e nunca representada.
No site da organização podemos ainda ler sobre a origem deste prémio: "de acordo com o International Centre for Women Playwrights, ONG que se dedica ao estímulo do trabalho das mulheres dramaturgas, 70 % das peças produzidas anualmente no mundo são de autoria masculina. Na edição de obras o número ainda desce mais — em Portugal estimamos que menos de 15 % dos textos editados são de mulheres. Este panorama em nada favorece a diversidade e a riqueza da produção artística, impedindo a inovação trazida pelo olhar feminino de criadoras que, sem um estímulo adequado, continuam a estar arredadas dos circuitos necessários para a divulgação das suas obras. Na direção artística do Esta noite grita-se temos tido dificuldades em fazer um equilíbrio do género autoral porque as opções de escolha são muito reduzidas no que toca a dramaturgas. Somente através do estímulo à criação será possível mudar esta realidade e garantir que mais mulheres artistas arriscam e publicam os seus trabalhos".
A 2ª edição traz a novidade de que, terminado o concurso, serão selecionadas três obras que vão ser submetidas a um processo de mentoria, de junho a setembro de 2022, com um período de discussão e eventual aprimoramento, com o acompanhamento de um dos elementos do júri — Patrícia Portela, Joana Craveiro e Francisco Frazão. A obra vencedora será premiada com o valor de 750 € e será incluída na programação do festim Esta noite grita-se, que se realiza de outubro a dezembro deste ano, assim como editada em livro.
Lara Mesquita foi a vencedora da 1ª edição do Prémio Nova Dramaturgia de Autoria Feminina, com a obra Sempre que acordo. Sobre esta obra a autora escreve: "SEMPRE QUE ACORDO é um texto dramático pensado para existir num formato de conferência-performance, onde duas mulheres negras inventariam o trauma do racismo português. Perante a consciencialização dessa 'condição especial' de existir e depois da investigação dos seus efeitos na construção da identidade dessas mulheres, tem-se uma partilha íntima de biografias, com recurso a provocações intelectuais direccionadas ao leitor. SEMPRE QUE ACORDO foi escrito depois do estudo da memória destas duas mulheres e serve como meio de denúncia de informação 'privilegiada'."
Contando a primeira edição com um júri constituído por Cláudia Lucas Chéu, Miguel Castro Caldas e Rui Pina Coelho, a autora vencedora foi considerada "audaz na forma como aborda 'o elefante na sala' da falta de representatividade de negros na produção profissional no teatro português. Esta obra dialoga transversalmente com a ausência de um discurso racializado no teatro português. Fá-lo de forma frontal, do ponto de vista de uma primeira pessoa, dando conta do racismo estrutural, evidente na experiência da autora como artista."
Sabe mais sobre o prémio, aqui, e consulta o regulamento, aqui.