“Embargo”, de António Ferreira, “A Jangada de Pedra”, de George Sluizer e “A Maior Flor do Mundo”, de Juan Pablo Etcheverry, vão ser as próximas adaptações de textos literários do escritor português exibidas neste ciclo de cinema. O documentário “José e Pilar”, de Miguel Gonçalves Mendes, vai marcar o fecho das sessões comentadas por Sérgio Dias Branco, crítico de cinema e professor auxiliar de Estudos Fílmicos na Universidade de Coimbra.
O diretor da CCC, Tiago Santos, explicou ao Gerador que as adaptações de textos literários de Saramago permitiram organizar um ciclo internacional em torno da obra do autor. As sessões comentadas vão, assim, permitir a reflexão sobre como “a obra literária tem várias possibilidades de interpretação" e sobre o facto de que “um realizador também é um intérprete daquilo que é a palavra escrita para a forma como ela é expressa de forma visual”, frisa.
Segundo o diretor da CCC, um dos objetivos do evento é “celebrar um dos expoentes da literatura portuguesa” numa “altura em que cada vez mais se questionam os hábitos de leitura [da população] e os méritos literários de vários autores”. Tiago Santos afirmou ainda que a hipótese de debater e comentar os filmes após a respetiva visualização faz desta iniciativa uma “ação distinta da programação regular” da CCC.
Não é a primeira vez que Sérgio Dias Branco colabora com a CCC, mas, através do “Ciclo Saramago”, o crítico e militante do PCP espera vir a debater a militância comunista do autor e a forma como esta influenciou o seu “olhar sensível e crítico sobre o mundo nas suas criações literárias”. O docente da UC contou ao Gerador que os filmes exibidos conseguiram preservar a dimensão humanista das obras do escritor, sem “abdicarem de ser obras fílmicas com um valor próprio”.
O fomento do conhecimento e da participação do público nas sessões faz parte dos desígnios da equipa organizadora. “Procura-se que o público tenha uma participação ativa e possa falar sobre o que viu”, frisa o diretor, e que “através do sentido de comunidade e do debate, o público possa ter uma opinião mais alargada sobre a obra de Saramago do que aquela que tinha no início do ciclo”. Sérgio Dias Branco reitera ainda que “se o ciclo de cinema levar mais pessoas a lerem os textos que inspiraram os filmes, e outros assinados por Saramago, já terá valido a pena fazê-lo”.
Estes objetivos são transversais a todos os públicos que participem no evento. A inclusão da curta-metragem de animação “A Maior Flor do Mundo”, de Juan Pablo Etcheverry, na Matiné Infantil da CCC, resultou da tentativa de fazer chegar a obra do escritor ao público infanto-juvenil e de criar hábitos fílmicos nas famílias portuguesas.
Para além da participação dos espectadores, espera-se que a iniciativa faça também lembrar a importância da democracia e da sua conquista com o 25 de Abril. Saramago surge definido no site da CCC como “um dos mais destacados intelectuais comprometidos do Portugal democrático, pós-25 de Abril de 1974”, e a celebração do centenário do seu nascimento é, segundo Sérgio Dias Branco, uma forma de comemorar a “importância da democracia cultural”. O crítico de cinema acredita que “não se consegue fazer justiça à Revolução dos Cravos sem perceber como a liberdade se manifestou no campo cultural”.
Para Branco, a principal expectativa é a de que as sessões comentadas e as conversas “enriqueçam a experiência dos filmes, aprofundem os seus significados, contribuam para a sua apreciação e ajudem o público a pensar de forma crítica sobre os filmes e a obra de Saramago”.
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