A responsabilidade do estado do planeta continua em grande parte a ser assacada ao cidadão comum, mas isso é apenas uma estratégia. Claro que o cidadão comum pode e deve, através das suas escolhas, determinar o que o mercado faz, mas a responsabilidade tem de recair sobre os grandes destruidores-poluidores.
No limite em que estamos, temos de atribuir, inequivocamente, a quem nos governa, mas mais importante, àqueles que, na verdade, controlam a narrativa, a responsabilidade de garantir a nossa sobrevivência neste planeta que é de todos e não apenas dos que controlam o dinheiro.
Poder usufruir de um mundo onde se bebe água limpa, onde se vê o céu azul ou se ouve o cantar dos pássaros, se sente o cheiro das flores, e onde a temperatura é aceitável para o corpo humano, isso sim é um objetivo de vida, que deve ser acessível a todos.
A Europa é, com os seus inúmeros defeitos, um pequeno paraíso de estabilidade e progresso social, mas a inércia com que tem encarado os problemas ambientais, levou-a à situação de dependência energética do abastecimento russo, à data da invasão. Como foi possível não antever que depender de regimes ditatoriais era uma má ideia?
Se tivesse agido, em tempo útil, e se tivesse ouvido as ONG e a ciência, a Europa não estaria tão dependente do abastecimento externo e talvez a selvajaria da invasão russa da Ucrânia não tivesse acontecido nestes termos.
Se não tomarmos cuidado, dentro de uma década, vamos ter o mesmo problema com outros países, no abastecimento de bens essenciais que, desleixadamente, persistimos em deslocalizar.
Comecemos por exigir aos nossos governos que nos libertem, de uma vez por todas, da dependência do petróleo e do gás.
O único caminho a seguir é apostar na transição energética justa e total, a toda a velocidade, garantindo que a energia solar, eólica e geotérmica, ocupem o lugar de primazia que merecem e que todas as inovações que surjam sejam soluções efetivas e não potenciais problemas futuros.
Em Portugal e no que à energia solar diz respeito,um dos caminhos é claramente facilitar a produção individual, para que o solar descentralizado potencie a aceleração e melhore o rendimento das famílias.
Relembremo-nos que a presente demissão de intervenção cívica da esmagadora maioria da população, deixa nas mãos de meia dúzia de teimosos, o trabalho todo de protesto.
A ciência continua a ser considerada própria dos investigadores e das universidades e a informação que chega ao público em geral não é processada, para que todos a compreendam, e às suas implicações, na vida de todos e de cada um de nós.
A divulgação da situação ambiental deveria ser mainstream, mas na maioria da comunicação social, continua a ser notícia de rodapé. Os princípios básicos e a urgência das alterações climáticas continuam a ser abafados pelo ruído do marketing corporativo.
Os crescentes protestos de rua desenvolvidos por movimentos como o scientists for extinction rebellion, acabam com os intervenientes presos e processados, como se tratassem de vulgares criminosos.
Será que basta deixar o protesto público para os mais jovens? Não devemos todos, independentemente do tempo de que dispomos ou do esforço que já fazemos, ter uma intervenção cívica permanente e trabalhar para a divulgação maciça da ciência, em temas relacionados com o Ambiente?
As decisões tomadas pelos políticos são cada vez mais influenciadas pela opinião pública e a opinião pública somos todos nós.
Convenhamos que já não é suficiente perseverar e condescender; existe uma emergência, que põe em causa a nossa sobrevivência como espécie. O planeta é, todo ele, um grande ecossistema.
Talvez seja mais do que tempo de fazer ouvir a nossa voz, quer através do protesto pacífico, mas ruidoso, demonstrando a urgência do problema, quer, cada vez mais, através do trabalho direto de intervenção cívica. Se não o fizermos, teremos o que merecemos.
Contacte uma ONG perto de si!
The ultimate tragedy is not the oppression and cruelty by the bad people but the silence over that by the good people. Martin Luther King
-Sobre Ana Serrão-
Ana Serrão é licenciada em Tradução pelo ISLA e frequenta o curso de Agronomia na ESAS. Como Associada e Voluntária da ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável, tem trabalhado em iniciativas de ligação da associação à sociedade, com foco na mudança de mentalidades, hábitos de consumo e gestão do arvoredo urbano.