fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Ana Pinto Coelho

É para um amig@

“Olhe, é para um amig@” Decerto já todos usámos este estratagema quando queremos saber uma…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

“Olhe, é para um amig@”

Decerto já todos usámos este estratagema quando queremos saber uma resposta para o que nos aflige mas temos vergonha de assumir que é mesmo para nós.

“Olhe, um amig@ tem isto ou sofre daquilo e queria saber, para o descansar, o que afinal poderá ser”. Ou o mais clássico, ”tenho um amig@ que (acrescentar a maleita)”. Quem nunca, não é verdade?

Acontece que se tal exercício nunca é boa prática, pois as maleitas têm sempre origens diversas e tratamentos diferentes, continuamos mergulhados numa vergonha social que nos impede de assumir que precisamos de ajuda para esta ou aqueloutra situação.

O “é para um amig@” já se tornou até numa espécie de expressão, jocosa, que admite automaticamente que estamos a falar de nós próprios, mas ainda nem todos o entendem ou utilizam como “código”.

Na verdade, não há nada mais errado que pedir uma opinião para um terceiro, pois poderá levar a um diagnóstico errado com todas as repercussões que esse bater de asas de borboleta envolve.

Está na hora de assumir, sem receio ou vergonha, que “esse amig@” somos nós e que precisamos de ajuda. Nem que seja uma conversa de apoio e compreensão, mas de alguém que nos ouça e acarinhe e depois, se puder ou souber, nos encaminhe para a verdadeira ajuda.

O primeiro passo nem é pedi-la, mas ter coragem para deixar a vergonha de lado, assumir que se precisa de apoio e aí, sim, tentar obtê-la. Não me canso de repetir este simples processo e vou fazê-lo até ao dia em que conseguirmos falar de Saúde Mental de forma natural e construtiva.

Num repente, por causa da pandemia, a “Saúde Mental” passou a estar na ponta da língua de muitas pessoas, algumas famosas na nossa sociedade, que muitas vezes até pretendem ajudar, abrindo o seu coração e explicando o que as atormenta. Mas temos de ter cuidado com o factor replicador (ou de imitação de sintomas) que este tipo de atitude pode fazer acontecer.

As doenças são várias, muitos dos sintomas semelhantes, mas tudo depende de pessoa para pessoa, como vive e sobrevive com essa realidade, como está preparada para enfrentar uma mudança significativa de vida, qual o apoio que tem em casa, família e amigos, qual a rede de protecção social e, naturalmente, se tem acesso a tratamento e acompanhamento profissional.

Imaginem uma simples dor de cabeça. Sentimo-la e pedimos ao amigo “não tens aí qualquer comprimido para me aliviar desta dor de cabeça?”. E o amigo vai ao armário dos medicamentos e oferece o que lhe surge à frente. Uma aspirina, por exemplo.

Se esta solução pode até melhorar o mau estar, a questão é se, afinal, esta dor de cabeça não é uma cefaleia ou, pior, uma enxaqueca. O que pode parecer a mesma coisa, pois os sintomas são até parecidos, nada têm a ver como diagnóstico e muito menos o tratamento fármaco é o mesmo.

Portanto, tentem transportar esta simplificação para um problema do foro psicológico: num repente sentimo-nos mesmo muito tristes. Um amig@ pode dizer-nos, “bebe um chá que isso já passa” ou “toma um comprimido para dormir que amanhã estás outr@.”

Num repente, esta tristeza atira-nos para a cama dias a fio e pode ter complicações graves, como uma depressão. Mas o nosso primeiro pensamento será sempre o que nos foi dito e repetido “amanhã já passa”.

Sabemos que não passa.

Portanto, pensem bem quando pedem uma solução “para o amig@” pois pode vir a ser o princípio de um mau bocado.

A solução é dizer que nos sentimos menos bem e tentar obter a melhor ajuda possível.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Ana Pinto Coelho-

É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora.  Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.

Texto de Ana Pinto Coelho

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

22 Outubro 2025

O que tem a imigração de tão extraordinário?

15 Outubro 2025

Proximidade e política

7 Outubro 2025

Fronteira

24 Setembro 2025

Partir

17 Setembro 2025

Quando a polícia bate à porta

10 Setembro 2025

No Gerador ainda acreditamos no poder do coletivo

3 Setembro 2025

Viver como se fosse música

27 Agosto 2025

A lição do Dino no Couraíso

13 Agosto 2025

As mãos que me levantam

8 Agosto 2025

Cidadania como linha na areia

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

29 SETEMBRO 2025

A Idade da incerteza: ser jovem é cada vez mais lidar com instabilidade futura

Ser jovem hoje é substancialmente diferente do que era há algumas décadas. O conceito de juventude não é estanque e está ligado à própria dinâmica social e cultural envolvente. Aspetos como a demografia, a geografia, a educação e o contexto familiar influenciam a vida atual e futura. Esta última tem vindo a ser cada vez mais condicionada pela crise da habitação e precariedade laboral, agravando as desigualdades, o que preocupa os especialistas.

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0