Foi há exatamente 30 anos, em setembro de 1989, que João Cabrita entrava no mundo da música em Portugal. Começou numa banda filarmónica em Lisboa, mas rapidamente passou a explorar as notas musicais através de bandas que ainda hoje fazem música. Pelo meio, parou para estudar, mas nunca de tocar. Com o saxofone na mão, foi no início do milénio que começou a abrir mais o leque de colaborações. Agora, vive para fazer música, não só com o saxofone, mas com outros instrumentos, e não abandona a composição.
Para celebrar os 30 anos de carreira, o artista sobe a palco em 2020 com um novo álbum que promete ser uma festa de celebração do trajeto musical. Pelo caminho, mete-se o Festival da Canção, em que João Cabrita entra em cena como compositor e instrumentista.
Gerador (G.) – No Facebook, o João apresenta-se como um “ilustre desconhecido” que “vive nas fichas técnicas de uma considerável discografia da música portuguesa dos últimos 30 anos”. Gostava de ser mais conhecido?
João Cabrita (J. C.) – Não, não gostava. Não é esse o meu trabalho. Não sou concorrente de um reality-show. Isso acaba por ser um jogo de palavras. No meio musical, toda a gente me conhece porque já estive e trabalhei com muita gente. Mas, no fundo, o meu trabalho é mais visível para os meus colegas do que propriamente para o público em geral. Isto acontece porque a minha música é maior em estúdio do que ao vivo. Ao vivo tenho três/quatro bandas.
G. – Se o fizessem escolher entre composição e o saxofone, qual escolheria?
J. C. – Isso seria muito difícil. Se tivesse de escolher um deles, ia acabar por ficar deprimido ao fim de três meses por não ter o outro. A composição e o saxofone complementam-se muito. E mesmo o saxofone não é a única coisa que eu faço: gosto de projetos em que também possa tocar baixo, teclas, guitarra... São tudo coisas que se complementam, não são invariáveis.
G. – Está a preparar um álbum para 2020. O que é que podemos esperar?
J. C. – É um disco maioritariamente instrumental. Basicamente é feito através de um quarteto de saxofones, que é o meu instrumento de há 30 anos, de facto. Este disco é como uma festa de aniversário de 30 anos de colaborações. Ou seja, é um álbum de uma festa enorme sobre uma data de convidados que vão aparecendo e fazem muito ali, tocam aqui, cantam acolá... É uma espécie de festa em disco.
G. – Já leva 30 anos de carreira. Que balanço é que faz deste percurso?
J. C. – É um balanço muito rico, cheio de altos e mais baixos, mas mais altos até. É um percurso enorme de crescimento, não só musical. No fim, o que fica é a música e a amizade com as pessoas. Isto faz com que eu saia destes 30 anos mais crescido como humano e como músico.
G. – Olhando para trás, a música portuguesa está melhor agora do que há 30 anos?
J. C. – Isso é uma pergunta interessante. Está melhor em termos de produção, uma vez que nunca se fez tanta música como agora. No entanto, talvez seja um bocado pior em termos da parte financeira, do dinheiro. Havia, de facto, mais dinheiro para investir nos anos 90 e, agora, não há tanto. Em Portugal, vai melhorando, mas ainda estamos longe dos anos 90.
G. – Quais são as suas maiores inspirações enquanto artista?
J. C. – Isso é difícil de responder. É de tudo o que vou ouvindo, desde as coisas mais antigas, como Sérgio Godinho, Zeca Afonso, The Beatles, bandas dos anos 80... Todas as músicas têm uma verdade dentro delas, e é disso que eu ando à procura.
G. – É um dos compositores para o Festival da Canção 2020. Como é que reagiu ao convite da RTP?
J. C. – Fiquei muito entusiasmado. O Nuno Galopim veio ter comigo no final de um concerto dos Cais Sodré Funk Connection, que é a minha banda, e eu ainda estava ali no calor do momento. Lembro-me de que o abracei e gritei: “Muito obrigado, que maravilha!” Desde que o paradigma do festival mudou, estou mais entusiasmado. É melhor nestes novos moldes do que nos antigos. Acho que há uma melhor mostra daquilo que se faz em Portugal com este modelo.
G. – É certo que o João vai compor, mas já decidiu se vai interpretar?
J. C. – Só vou compor. Vou também tocar provavelmente, para dar apoio, mas vou só compor.
G. – E já pensou em alguém para a interpretação?
J. C. – Já sei quem vai interpretar, mas ainda não posso revelar. Quanto à música, já fechei a pré-produção e já estou a gravar a versão final.
G. – Como é que olha para a escolha dos restantes compositores?
J. C. – Estou muito curioso em relação a uma data deles. Por exemplo, em relação ao Hélio Morais, não conheço tanto o que ele faz sozinho. Sei que está a trabalhar num álbum a solo e, por isso, estou curioso. Depois há uns que não conheço tão bem e outros que conheço vagamente e que estou muito curioso. É um cartaz muito diversificado.