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Entrevista a Marta Carvalho: “Para um artista ter sucesso, a fama não chega”

Com três anos, Marta Carvalho já dava concertos em casa sem lhe pedirem. A paixão…

Texto de Gabriel Ribeiro

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Com três anos, Marta Carvalho já dava concertos em casa sem lhe pedirem. A paixão pela música começou cedo e rapidamente se espalhou por outros lados. Começou no coro da igreja, onde esteve cerca de cinco anos, e, mais tarde, estudou música clássica e tocou em algumas orquestras. Com vontade de conhecer melhor a indústria musical, mudou-se do Porto, onde cresceu, para Lisboa, para ser compositora para outros artistas.

Em 2016, a compositora e intérprete deu-se a conhecer ao país com a participação no programa The Voice e desde aí que não parou. Este ano marca o início daquilo que chama uma nova etapa da sua vida, com o lançamento do single “Deslizes”.

Hoje, Marta considera-se “uma miúda supersimples e introvertida quando está com os amigos num ambiente mais intimista”. No entanto, “quando está em palco, muda tudo isso, tal como se tivesse um alter ego”. Em 2020, espera-a um novo desafio: é o palco do Festival da Canção que dá espaço para a sua letra, mas ainda sem revelar se será a intérprete do seu tema.

Gerador (G.) – Concorreste ao The Voice. Muitas vezes existe a ideia de que os concorrentes acabam por não se afirmar fora do programa. Achas que fizeste algo de diferente para aproveitar esta oportunidade e começares o teu caminho profissional?

Marta Carvalho (M. C.) – Muito sinceramente, eu acho que tudo o que fui conseguindo após o programa não teve nada a ver com o facto de ter estado naquele palco, até porque as pessoas com quem trabalhei após o The Voice nem sabiam que eu tinha lá estado. Ou seja, a malta da indústria não liga muito aos programas. Podem estar atentos a alguma voz que se destaque, como o Fernando Daniel, mas, por norma, a indústria não está muito ligada a esses concursos, porque, se calhar, dão mais atenção ao pessoal que está no ativo e a mandar coisas... O que eu sinto é que há uns anos era mais difícil para os artistas após o programa terem algum tipo de carreira, porque só existia a televisão.

Hoje em dia, um artista que até vá mais longe, e tendo o apoio que as redes sociais hoje têm, terá mais facilidade em conseguir manter-se relevante. Portanto, considero que seja um bocado mais fácil nesse sentido. No entanto, eu acho que, para um artista ter sucesso, a fama não chega. Eu acho que é importante ter uma estratégia para que, mal o programa acabe, haja material para apresentar e contactos para estabelecer redes. Pelo menos foi isso que eu fiz e que me ajudou a chegar mais longe.

G. – Lançaste há pouco tempo o teu novo single “Deslizes”. Esta música representa alguma experiência pessoal?

M. C. – Representa, sim. Esta canção é o culminar de muitos anos a experimentar muita música. Estive estes dois/três anos a escrever vários géneros, desde pop, soulr&b e até fado. Mas às vezes sentava-me e não conseguia encontrar aquilo que eu queria para mim, porque eu passava muito tempo a escrever para os outros. Então, foi uma caminhada em que fiz muito tipo de música, sempre à volta de pop e r&b. Contudo, houve uma altura em que estava tudo muito colado ao pop, e eu queria mesmo juntar os dois géneros, então foi um longo percurso.

O “Deslizes” significa imenso para mim, porque foi mesmo dos primeiros temas que eu escrevi, quando ainda nem sequer me tinha mudado para Lisboa, e por isso é que fazia sentido ser o primeiro também. Esta música fala de uma experiência pessoal minha, de uma relação conturbada que eu tive. É um single mesmo muito especial, porque representa tudo aquilo que eu sou, representa o meu alter ego de confiança e empoderamento.

Videoclipe do single "Deslizes"

G. – Tu representas a nova geração de músicos emergentes. Quais são as maiores dificuldades para aqueles que desejam entrar no mercado da música?

M. C. – Há muitas dificuldades, não só para entrar, como já estando lá. Os maiores problemas são o facto de ser um mundo muito competitivo, pequeno e centralizado em Lisboa. Encontrei também algumas dificuldades por ser uma rapariga nova, uma vez que são poucas as raparigas em estúdio. É também muito difícil encontrar produtores com quem nós nos identifiquemos, assim como encontrar uma equipa que seja boa para o artista... Por exemplo, eu já tive várias equipas de manegement e só naquela em que estou agora é que sinto que os membros respeitam a minha visão criativa. Portanto, há sempre muitas dificuldades, tanto na parte do negócio, como na parte criativa. Eu só comecei a ter noção delas quando me mudei para Lisboa... E ainda bem, senão teria ficado cheia de medo. Às vezes, o melhor é atirarmo-nos.

G. – Na tua página do Facebook, referes que inicias agora uma nova fase da tua vida. O que é que esperas alcançar na tua carreira nos próximos anos?

M. C. – Eu disse isso porque agora me afirmo como intérprete. Nos últimos anos, eu entrei na indústria como compositora, um bocado nos bastidores, mas eu tenho uma coisa para dizer, uma mensagem para passar, concertos para dar, tanta coisa para fazer... Nesse sentido, o lançamento deste single representa uma nova etapa porque é mesmo a afirmação de que agora eu posso dar a cara por aquilo que estou a fazer. Eu vou sempre escrever para os outros, mas se calhar não tanto. A minha prioridade vai ser mesmo ser intérprete.

G. – Composição ou interpretação: qual escolherias?

M. C. – As duas estão muito lado a lado. Para mim, é um bocado difícil lançar temas que eu não escrevi e espero que isso nunca venha a acontecer, porque eu estou sempre muito envolvida nas minhas músicas. Eu tanto escrevo, como estou ao lado do produtor a produzir, como estou na mistura a dar feedback. Como sou perfecionista, é muito complicado escolher. No entanto, se tivesse mesmo de optar, seria a interpretação, porque eu sinto que nasci para cantar.

G. – Se tivesses de escolher um artista, nacional ou internacional, morto ou vivo, para fazer um dueto, quem escolherias?

M. C. – Bem, eu escolheria um internacional e outro nacional. Se fosse internacional, escolheria a Alicia Keys, porque me identifico muito com ela: também estudou música, é uma pessoa com bastante contexto musical, é old school r&b, e eu adoro isso. Já em Portugal, escolheria o Pedro Abrunhosa. Estou sempre a falar dele, porque ele escreve muito bem, escreve lindamente, e, para mim, é uma grande referência nacional a nível da escrita de canções e, por isso, adorava poder fazer um dueto com ele um dia.

G. – Alguma vez pensaste em adotar um nome artístico?

M. C. – Isso é muito interessante porque algumas pessoas já me falaram disso. Marta Carvalho é um nome um bocado pesado, mas eu até sou Marta de Carvalho, mas tirei o “de” para ficar menos pesado. A verdade é que poderíamos ter aí outras opções. Por exemplo, eu sou Marta Sofia e pensou-se em chamar-me Fia, visto que a minha família toda me chama por esse nome. Mas não achei que fosse impactante o suficiente, e a verdade é que o meu alter ego é muito mais a Marta: uma pessoa muito mais confiante e assertiva; e a Sofia é uma pessoa mais para a família, introvertida, meia acanhada. Então achei que não fazia assim muito sentido.

G. – Sobre o Festival da Canção, foste convidada para ser compositora e já surgiu a notícia de que tu não serias a intérprete da tua música...

M. C. – Pois, também já li sobre isso, mas não confirmo. De qualquer forma, se eu não cantar, não é porque não quero ou porque não me quero associar ao Festival da Canção. Eu cresci a ver o Festival da Canção e, por isso, se eu não interpretar é porque considero que o tema que escrevi é adequado a outro tipo de voz ou simplesmente acho que neste momento me quero afirmar na composição. Mas não posso dar nenhuma confirmação sobre nada neste momento.

G. – E sobre o registo da música com que vais competir, é algo que podes falar? Será algo como “Deslizes”?

M. C. – Isso é que eu não posso mesmo dizer. Podem esperar uma música em português, como tudo aquilo que faço, porque o que mais gosto é de escrever em português. Agora, se será uma música extremamente pop ou será mais para o lado da balada, isso não posso dizer.

G. – O que é que achas da escolha dos restantes compositores?

M. C. – É assunto muito interessante. Eu fiquei muito contente por ver caras da nova escola. Eu sempre acompanhei o programa e, a uma certa altura, sentia que escolhiam sempre os compositores da velha guarda... Não é que não tivessem capacidade, é só que gostava de ver mais música portuguesa atual representada. Então, quando recebi o convite, além de ficar super-honrada, fiquei contente por estarem a dar oportunidade à malta nova e à música que, de facto, está a passar na rádio, nas novelas e em todo o lado. Portanto, fiquei muito contente.

Entrevista por Gabriel Ribeiro
Fotografia de divulgação

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