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Entrevista a Vitor Domingos: “Com o MUPA, pretendemos criar mais um ponto de passagem na rota dos festivais do nosso país”

Por força da imagética da planície que tão bem caracteriza o relevo e horizonte do…

Texto de Ricardo Gonçalves

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Por força da imagética da planície que tão bem caracteriza o relevo e horizonte do Baixo Alentejo, nasce agora o MUPA – Música na Planície, que pretende posicionar a cidade de Beja na rota dos festivais de música portugueses.

Assim, nos dias 10 e 11 de maio, todos os caminhos vão dar ao novo festival que procura integrar um amplo universo musical no coração histórico da cidade alentejana. Com um cartaz eclético, no MUPA cruzam-se gerações, géneros musicais e artistas que procuram transgredir barreiras e costumes, onde haverá espaço para concertos, workshops e exibição de documentários que respiram a memória coletiva presente nos vários espaços da cidade.

Em entrevista ao Gerador, Vitor Domingos, diretor artístico do festival, falou da necessidade de se criarem mais projetos como o MUPA na região do Alentejo, mas também da dificuldade que existe no estabelecimento de parcerias e na falta de apoios. Não obstante, a organização do evento espera obter um impacto positivo na região e ajudar a promover os artistas alentejanos no panorama musical português.

A primeira edição do MUPA – Música na Planície conta com as atuações de nomes como Lena d’Água + Tahina Rahary, Allen Halloween, Bloom (JP Simões + Miguel Nicolau), Norberto Lobo, Mynda Guevara, Pedrinho ou 10000 Russos. Os ingressos para o festival encontram-se disponíveis pelo preço de 13€, sendo que a organização assegura ainda um serviço de campismo gratuito

Gerador (G.) – Como surge a ideia de criar um festival como o MUPA – Música na Planície?
Vitor Domingos (V.D.) – Eu organizo eventos em Beja desde 2010, quando o meu pai me desafiou a organizar com ele o Santa Maria SummerFest (SMSF), um festival principalmente dedicado ao punk e ao metal que durou 8 edições. Pelo caminho, organizei ainda uma série de eventos com a associação que tenho, a CulturMais, e também com outro coletivo que formei com amigos – a Trugia. Após um ano sem organizar festivais em que estive a viver em Lisboa (2018), voltei a Beja com algumas ideias, entre as quais a de organizar um novo festival. A ideia amadureceu e daí surgiu o MUPA.

G. – O que distingue um festival como o MUPA?
V.D. – No MUPA, pretendemos aliar a música ao património e memória coletiva do Centro Histórico da Cidade de Beja, utilizando como cenário alguns dos locais mais importantes desse mesmo. Ecletismo é essencial para o MUPA, notando-se nos vários géneros musicais que propomos apresentar. Queremos aliar músicos e bandas do panorama atual a artistas que marcaram gerações e apresentar tanto um ambiente de concerto como um ambiente clubbing. No entanto, creio que o facto de tudo isto se passar no Baixo Alentejo não só distingue o MUPA como também promove a região de forma inovadora.

G. – Como é que olhas para o panorama dos festivais de música em Portugal e de que forma é que a criação de um festival em Beja pode funcionar como uma alternativa aos festivais mais convencionais?
V.D. – A minha ideia nunca foi criar competição. Quando olho para o panorama dos festivais de música em Portugal, sinto-me grato de termos tanta diversidade nesta nossa pequena área geográfica. Com o MUPA, pretendemos criar mais um ponto de passagem na rota dos festivais do nosso país, e dar uma oportunidade ao público para explorar a nossa cidade.

"Espero que o MUPA seja também um incentivo para que surjam mais músicos na cidade e na região"

G. – Faltam festivais e eventos deste tipo na região do Alentejo? Qual o impacto que esperam ter com a criação do MUPA?
V.D. – Temos alguns eventos no Alentejo, e acredito que só não há mais devido à falta de apoios na região. O impacto dos eventos nesta região é sempre gratificante – como existem poucas iniciativas que são diferentes, quando estas acontecem são normalmente bem recebidas. Com o SMSF, conseguimos fomentar o gosto pelos sons mais pesados e, logo após as suas primeiras edições, já víamos miúdos na rua com t-shirts de bandas. Este é o principal impacto que espero alcançar com o MUPA – espero que o ecletismo do festival incentive o público, principalmente o mais jovem, a escutar mais música e com mais variedade. Há um mundo inteiro no cartaz a descobrir – funaná, punk, hip-hop, techno, dub/reggae e muito mais.

G. – Sentem essa marginalização, tendo em conta a localização da maioria dos festivais em Portugal?
V.D. – No princípio, com o SMSF, sim. Atualmente, as coisas continuam difíceis – não há grandes patrocinadores, por exemplo. Porém, com o passar dos anos e com o trabalho apresentado, tornou-se mais fácil comunicar com a câmara municipal, o que ajuda bastante, pois são nossos parceiros institucionais.

G. – Um pouco à imagem de outros festivais, MUPA prima pelo ecletismo do seu cartaz. Achas que essa tendência de haver eventos cada vez mais multidisciplinares é uma evidência? Trata-se de um reflexo daquilo que os novos públicos procuram?
V.D. – É claramente uma evidência. Creio que, na atualidade, quem gosta de música ativamente e se fecha a alguns géneros musicais tem tudo a perder, porque temos trabalhos interessantes a sair em todas as frentes.

G. – Como é que foi pensada a programação desta primeira edição?
V.D. – Cafés, conversas, concertos, vivências, amigos. Vou beber a tudo para fazer as escolhas. Mais especificamente, comecei por marcar alguns dos nomes principais: Allen Halloween, Bloom (JP Simões & Miguel Nicolau) e Lena d’Água & Tahina Rahary. A partir daí, o cartaz foi-se materializando, sempre tendo em conta a diversidade dos géneros musicais e a junção de artistas de diferentes gerações.

G. – Do cartaz deste ano, o que é que gostarias de destacar?
V.D. – Destaco a experiência no seu todo – o ecletismo, os concertos em locais históricos, os diferentes tipos de ambientes que se avizinham, onde tanto se poderá testemunhar as eletrónicas de Nazar e Caroline Lethô como a música que marcou gerações de Lena d’Água e Allen Halloween, por exemplo; ver o Norberto Lobo numa igreja, “rockar” com os Systemik Violence e Putas Bêbadas, celebrar o dub/reggae/roots com os Simply Rockers SoundSystem... tudo isto, o resto do cartaz, toda a programação paralela (um workshop, uma exposição, dois documentários e duas talks) e o facto de ser em Beja, que, na minha opinião, é uma cidade maravilhosa, fazem parte do que se destaca no MUPA.

G. – Achas que um festival como o MUPA pode ajudar na divulgação de novos artistas, nomeadamente provenientes do Alentejo?
V.D. – Tenho a certeza que sim. Este ano, temos o João Melgueira e ainda um artista surpresa da cidade. Descobrimos também um produtor de techno que vive cá e estará presente na próxima edição. Espero que o MUPA seja também um incentivo para que surjam mais músicos na cidade e na região, e que possamos continuar a apresentá-los.

G. – Qual o vosso objetivo para os próximos anos?
V.D. – Trazer mais artistas e mais variedade, utilizando mais espaços no centro histórico, e, quiçá, ter um dia em que algo se passasse mesmo na planície, no meio do campo.

Cartaz final do MUPA - Música na Planície

Entrevista de Ricardo Ramos Gonçalves
Fotografias de Gonçalo Paulos

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