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Opinião de Marta Guerreiro

Falando em Pride: A não-monogamia tem lugar na comunidade LGBTQ+?

Nas Gargantas Soltas de hoje, Marta Guerreiro explora o mês do Pride questionando o papel da comunidade LGBTQ+ na não-monogamia e onde é que se encaixa (se é que se encaixa) a não-monogamia na comunidade.

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A comunidade LGBTQ+ sempre foi um barco bonito onde cabem imensas pessoas – e embora as tempestades alterem os mares de cada sigla de forma diferente, continuamos a nos tratar enquanto comunidade. Neste mês do Pride, questionei-me se a minha “orientação relacional” tinha lugar na comunidade LGBTQ+. Enquanto algumas pessoas argumentam que a não-monogamia não está relacionada aos princípios fundamentais da comunidade LGBTQ+, outras afirmam que ela partilha terreno comum com a luta contra a opressão social.

Orientação Sexual e Fluidez

Central para o entender a divisão dos temas e a razão para não se encontrar um consenso é a ideia defendida de que orientações sexuais e identidades não se alteram. Muitas pessoas acreditam que ser LGBTQ+ é algo com que as pessoas nascem – we are born this way, baby e, portanto, a não-monogamia, que diz respeito às estruturas de relacionamento, não deveria fazer parte da comunidade.

Várias pessoas passam por alterações que dizem respeito a sentimentos/atrações, descobrindo que os seus sentimentos/desejos em relação a alguém ou a várias pessoas podem mudar. Essa fluidez desafia a noção de que a “orientação relacional” (mono vs não-mono) é fixa e imutável. 

No entanto, é essencial reconhecer que também se defende a ideia (escrevo isto apontando para mim própria) de que a orientação sexual/identidade pode ser fluida e que tem muito mais de pressão social do que necessariamente nasci assim. Podendo mesmo ser algo que não é estagnado e vai alterando.

Assim, o argumento contra a inclusão da não-monogamia baseada na imutabilidade da orientação sexual e identidade passa a fazer menos sentido.

Percepções Sociais e Violência

Um argumento contra a inclusão da não-monogamia na comunidade LGBTQ+ é que as pessoas não-monogâmicas não enfrentam o mesmo nível de violência e discriminação que as pessoas LGBTQ+. Embora seja verdade que a violência sofrida por pessoas NM (não-mono) pode ser diferente daquela enfrentada pela comunidade LGBTQ+, isso não nega a necessidade de apoio e palco.

Por exemplo, pessoas bissexuais em relacionamentos com pessoas cisgéneros do sexo oposto podem ser socialmente lidas como heterossexuais e podem não enfrentar o tipo de violência que aqui discutimos. Claro que nesse cenário estão a passar pela famosa invisibilidade bissexual, que não deixa de ser uma forma de violência social - o mesmo acontence com a invisibilidade de parceires em relações plurais. A falta de visibilidade e compreensão em torno da não-monogamia exacerba os desafios enfrentados por todas as pessoas não-monogâmicas, incluindo a perda de conexões familiares por falta de “aprovação” e dificuldades com instituições sociais como escolas e serviços sociais quando sabem que uma criança tem mais do que dois pais/mães/cuidadores – curioso este conceito, até parece que casais divorciados não se podem voltar a casar e as crianças passam a ter uma extensão de cuidadores maior, não é?

Apoio Jurídico e Social

Outro aspecto a considerar é a falta de apoio legal e social para pessoas e sobretudo famílias não-monogâmicas. Ao contrário das relações monogamicas, as uniões não-monogâmicas muitas vezes não são reconhecidas ou protegidas por leis governamentais (e não, poliamor não é poligamia) relativas a apoios parentais, cuidados e apoios na saúde bem como outros serviços essenciais como proteção de vítimas. A ausência de acções legais deixa as famílias não-monogâmicas vulneráveis ​​e expostas a discriminação e muitas vezes a consequencias legais como a possibilidade de lhes serem retiradas as crianças.

Há quem defenda, portanto, que faria mais sentido incluir a não-monogamia no quadro mais amplo de Minorias Sexuais e de Género (GSM/GSD) em vez de incluir este grupo na comunidade LGBTQ+. Ainda assim acho importante a reflexão de que a presença LGBTQ+ poderia estender a sua luta contra sistemas que oprimem diversas formas de amor e liberdade sexual – como é o caso da não-monogamia. Esta abordagem refletiria o compromisso da comunidade em proteger e apoiar as pessoas que se afastam das normas sociais e tradicionais, independentemente de estarem diretamente relacionadas a questões de orientação sexual ou identidade.

A não-monogamia ser incluída na comunidade LGBTQ+ é um debate sempre complexo. Embora a violência e a discriminação sofridas por pessoas não-monogâmicas possam ser diferentes daquelas enfrentadas pela comunidade LGBTQ+, isso não diminui a necessidade de apoio, visibilidade e proteção legal.

Desculpem, este artigo não vai trazer nenhuma resposta ou conclusão, espero é que abra as portas a que o assunto seja discutido. A linha entre inclusão e exclusão é subjetiva e aberta a interpretações. É crucial promover um diálogo dentro da comunidade LGBTQ+ e não-monogâmica para entender e respeitar as diversas perspectivas sobre o assunto. Ao fazer isso, podemos trabalhar para uma comunidade mais inclusiva e solidária que defende o amor, a liberdade sexual e a proteção para todas as formas de relacionamento. 

E para vocês? A não-monogamia tem lugar na comunidade LGBTQ+?

-Sobre Marta Guerreiro-

Marta Guerreiro é formada em Jornalismo com mestrado em Realização. Conta com três livros publicados e vários trabalhos escritos na área do activismo (com foco em saúde mental, feminismo, não-monogamias e questões lgbtq+), assim como com a criação de uma lista de psicólogues lgbtq friendly disponível online. 
Acredita que a revolução também se faz através da escrita e que a poesia e a empatia são protagonistas na mudança e na igualdade. 
Atualmente está emigrada em Londres onde, além de continuar a escrever, trabalha também com propriedade intelectual e proteção de marcas.

Texto de Marta Guerreiro
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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