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InterrogAção: a associação juvenil que quer pôr a comunidade beirã a pensar

Quais as práticas artísticas do distrito de Castelo Branco? Quem são os artistas da terra?…

Texto de Redação

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Quais as práticas artísticas do distrito de Castelo Branco? Quem são os artistas da terra? Como chegar à cultura da região? Pôr a comunidade a pensar, a interrogar e a agir perante a cultura de Castelo Branco são os principais motivos da InterrogAção, uma associação juvenil constituída pela forte ligação à cidade do Interior.

A Rita conhecia a Marta, mas não conhecia a Mariana. A Mariana não conhecia a Marta nem o Zé. O Zé só conhecia o Vasco. O Vasco conhecia todos. Foi este o início da InterrogAção. Um grupo de cinco pessoas que formaram a associação e acabaram por criar uma amizade. A ideia, que inicialmente era só um projeto idealizado pelos amigos, depressa foi concetualizada, e o desejo de constituírem uma associação foi cumprido. O principal foco, desde o primeiro dia, foi um só: promover a cultura do distrito de Castelo Branco.

Se, no verão de 2020, a InterrogAção dava os primeiros passos ainda como projeto, em abril de 2021, era já uma associação juvenil. Neste período, a InterrogAção criou um plano de atividades, lançou-se nas redes sociais online e expandiu-se a mais jovens albicastrenses. Depois da formalização do projeto conseguida através de uma angariação de fundos lançada nas redes sociais, a InterrogAção passou também a fazer parte das associações do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ).

Ao longo de um ano e meio de vida, o coletivo já elaborou programas com diversas atividades, que vão desde workshops, conversas, tertúlias, debates, exposições, oficinas criativas, formações, entre outras dinâmicas artísticas. O principal propósito dos convívios presenciais e à distância passa por tornar a cultura mais acessível para todos. “As atividades são gratuitas. Um dos nossos objetivos é que todas as pessoas possam aceder aos conteúdos e participar nas iniciativas sem qualquer problema”, afirma Marta Vicente de 23 anos, integrante da InterrogAção e licenciada em Ciência Política e Relações Internacionais.

Reunião da equipa InterrogAção. Fotografia de InterrogAção

Para alcançar um dos grandes motes do projeto (dar a conhecer os artistas da região), a associação criou uma open call direcionada aos talentos do distrito de Castelo Branco. Numa primeira fase, a organização conseguiu reunir perto de 15 candidaturas. “A partir desta base de dados, criámos uma união com os artistas e passámos a divulgar o trabalho deles nas nossas redes sociais”, revela Marta. É desta forma que se consegue perceber a importância do papel da InterrogAção: ser o elo de ligação entre os artistas e o público que ainda não os conhece. “O percurso da InterrogAção é fazer o caminho de levar a resposta à oferta. É o tentar perceber o que acontece neste rio que há entre os dois. É o aproximar que, se calhar, não acontece tanto”, refere Rita Dias de 21 anos, estudante de Filosofia e integrante do grupo.

A ligação à cidade do Interior

De um núcleo inicial de cinco pessoas, o coletivo juvenil conta já com 13 elementos e direciona-se, principalmente, para a faixa etária dos jovens. “A ideia é que a associação esteja sempre ligada aos jovens que vivem ou trabalhem em Castelo Branco”, diz Marta Vicente ao Gerador. É, através da vivência na região, que se torna possível fazer o levantamento real do que acontece em termos culturais no território. “Não somos todos de Castelo Branco, mas somos todos do distrito. Ou seja, nascemos cá, frequentámos cá a escola e só agora alguns saíram por causa da faculdade. Nós conhecemos, nós presenciamos, nós vivenciamos Castelo Branco e sabemos o que há e o que não há”, conta Rita. Com uma forte consideração pelo percurso cultural que a cidade tem feito ao longo dos tempos, a associação pretende ajudar a diminuir a distância entre a oferta e o público.

Pelo facto de muitos dos elementos da InterrogAção estudarem em diferentes pontos do país, um dos maiores desafios do projeto passa por conseguir juntar os membros do grupo presencialmente. Para contornar esta situação, a associação pretende “aumentar a equipa para garantir a presença frequente de elementos na região de Castelo Branco e investir nas relações team building”, assegura Maria Roque de 23 anos, estudante de Psicologia Clínica e artista de música no projeto Ma Zela.

O apoio da cidade à associação

A InterrogAção iniciou-se já em pandemia e, por isso, as reuniões à distância eram frequentes. Quando foi possível reunir presencialmente, a associação chegou a fazê-lo na Fábrica da Criatividade, um espaço de produção cultural na cidade de Castelo Branco. “Em dezembro de 2020, quando éramos somente um projeto, já estávamos a trabalhar nas nossas ideias na Fábrica da Criatividade, com as portas abertas e muito recetivos ao projeto”, recorda Rita.

Com as condições pandémicas a permitirem um contacto mais próximo entre todos, as reuniões de equipa acontecem atualmente na Social IN, uma incubadora social de Castelo Branco que pretende apoiar projetos de empreendedorismo social. A InterrogAção é um dos 11 projetos incubados pelo movimento de inovação e inclusão. “Nós somos parte da Incubadora desde que nos formámos. Temos apoio da instituição desde o início e, a partir de janeiro deste ano, passámos a reunir no espaço físico da Social IN, bem no centro da cidade”, explica Marta.

 No espaço Social IN, as integrantes da associação Maria Roque, Rita Dias e Marta Vicente

É na incubadora social, onde o Gerador conversou com alguns dos membros da InterrogAção, que se começa a definir o novo plano de atividades para os próximos semestres. Ainda sem poderem confirmar quais as atividades futuras, as integrantes da associação recordam o ConfinArte. Realizado à distância, era um projeto que girava em torno de conversas acerca de um conteúdo artístico disponibilizado previamente. Os propósitos do ConfinArte passavam por explorar o objeto artístico com o próprio artista e trocar ideias com o público. Satisfeitas com o resultado final do projeto, Marta diz que “foi uma experiência muito enriquecedora e, até ao momento, o maior contacto da associação com os artistas, uma vez que eram atividades semanais”.

Na Feira da Criatividade, uma iniciativa da InterrogAção. Fotografia de InterrogAção

Para além de se destinarem aos jovens, as iniciativas da InterrogAção também se dirigem às crianças de Castelo Branco. O departamento de sessões escolares atua nas escolas da cidade e está encarregado de incentivar a discussão de problemáticas, o pensamento crítico dos alunos e a interrogação do mundo que os rodeia. Sobre uma das experiências junto dos mais novos, Rita Dias relembra que “os alunos do 3.º e 4.º anos mostravam-se muito empolgados por estarem a fazer o percurso de três workshops divididos pelas áreas de filosofia, psicologia e música”. Uma iniciativa intitulada de Feira da Criatividade que pretendem repetir num futuro próximo.

Numa das sessões escolares organizada pela InterrogAção. Fotografia de InterrogAção

O acreditar e o amor à causa

A base da InterrogAção rege-se pelo espírito de voluntariado e de equipa, onde cada um é importante. Para ser possível a criação dos projetos artísticos, a fim de promover a inserção social e a participação ativa da comunidade onde estão inseridos, a associação tem recorrido a candidaturas de apoio financeiro. Além do crowdfunding que ajudou na formalização da associação, o coletivo também participou no programa Transforma Portugal, “onde todo o dinheiro adquirido se destinou à execução das atividades”, acrescenta Marta. Para conseguirem garantir a realização de mais iniciativas, o projeto de intervenção social continua a candidatar-se a apoios de diferentes instituições.

A situação demográfica da população jovem de Castelo Branco

Sem ainda termos acesso aos dados mais recentes de 2021, os Censos de 2011 relatam uma situação delicada no seio da população jovem do Interior de Portugal. É na faixa etária dos jovens que se revelam as maiores quebras demográficas no distrito de Castelo Branco. A incidência mais profunda situa-se nos jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos atingindo, principalmente, os concelhos de Idanha-a-Nova e Vila Velha de Ródão.

Ainda sobre os últimos censos, um dado que também gera preocupação relaciona-se com o nível de analfabetismo que ainda existe nesta região do país. O concelho de Castelo Branco é o que apresenta uma maior percentagem de população analfabeta (22 %). No entanto, é também o concelho de Castelo Branco que contém a maior percentagem de população que frequentou o ensino superior (16,1 %). Apesar das barreiras que surgem no caminho da associação, quer por motivos financeiros ou pela pouca população nova na região, o grupo mostra-se com vontade de firmar a marca da InterrogAção. Junto dos jovens e sempre perto da cultura, a associação quer provar que Castelo Branco pode ser uma cidade que os jovens não querem deixar.

Palavra de ordem: “Interroga-te!”

Com o lema “Interroga-te!”, a associação quer continuar a trabalhar numa perspetiva sociocultural, de comunidade e de arte, e mostrar Castelo Branco aos seus e aos de fora. Cientes de que estão num período de imposição, a vontade de se afirmarem enquanto associação juvenil proativa na comunidade é cada vez maior. Grande é a partilha que a InterrogAção tem feito desde o primeiro dia. Dar voz aos artistas locais, difundir o seu trabalho e mostrar à comunidade as práticas culturais da região são fatores claros na certeza de que a InterrogAção é uma associação precisa em mais pontos do país.

Texto de Ana Margarida Rodrigues
Fotografias de Ana Margarida Rodrigues e InterrogAção

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