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Já T’Explico: Jovens universitários procuram fazer a diferença no mundo com explicações a alunos

Os jovens universitários do Porto apoiam estudantes do quinto ao nono ano para pensarem em grande. Como? Através da organização sem fins lucrativos Já T’Explico, que dá suporte na área da educação a crianças com dificuldades educativas e socioeconómicas. O Já T’Explico não se centra apenas no desenvolvimento educativo, também trabalha no desenvolvimento humano e social, cultural e intelectual. E acreditam que fazem a diferença no mundo.

Texto de Redação

©Já T’Explico

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Susana Pereira é da cidade do Porto, tem cinco netos, e o Já T’Explico fez parte da vida de três deles. Tudo começou há alguns anos, quando os voluntários estavam a distribuir panfletos à porta da Escola Secundária Carolina Michaëlis a apresentar o projeto. Susana Pereira partilha com o Gerador que inicialmente não estava nada confiante com a legitimidade do projeto. Explica que lhe pareceu duvidoso jovens oferecerem explicações gratuitas. Ainda assim, decidiu inscrever o neto, mas assistiu às primeiras duas explicações por precaução. “Como eram estudantes tive um bocadinho de receio, depois de assistir às explicações e de ver que era tudo tão claro e correto até pedi perdão pelo meu pensamento”, partilha Susana.

Atualmente, Susana Pereira, além de avó, é encarregada de educação da Beatriz e do Salvador – os únicos netos com idade elegível para o apoio do Já T’Explico. Isto porque a associação atua com estudantes do quinto ao nono ano. Pedro Matias, Chief Operations Officer (COO) do Já T’Explico, esclarece que, a partir do ensino secundário, as matérias começam a afunilar e a serem mais complicadas, por isso, ao atuarem apenas até ao nono ano todos os voluntários têm confiança e conhecimentos para ajudar os beneficiários. Para além disso, o Já T’Explico apenas apoia estudantes com dificuldades socioeconómicas e educativas.

Os quase 100 voluntários do Já T’Explico têm todos backgrounds muito diferentes e, por vezes, não estão relacionados com a área da educação. Tal como é o caso da Mariana Melo, 21 anos, estudante do primeiro ano do mestrado de Bioengenharia Molecular, que é voluntária desde o ano passado, no departamento de Mentoria. Na prática, dedica algum tempo semanal para dar explicações a uma aprendiz (alcunha que atribuem a todos os alunos que apoiam).

Os voluntários podem trabalhar em diferentes departamentos: Mentoria, Marketing e Comunicação, Recursos Humanos ou Estratégia. ©Já T’Explico

Desde 2012 que o Já T’Explico tem crescido e já conta com quatro polos com um espaço dedicado às explicações. No caso dos netos de Susana Pereira, as explicações são na Rua Mouzinho da Silveira. A avó dos jovens comenta que prefere o formato de explicações presenciais e que, nesse caso, ainda oferecem lanche ao explicando.

A universitária Mariana Melo explica que tentam ser mais do que uma rede de segurança para os aprendizes. “A relação não passa só pela educação, nem é o nosso objetivo ser apenas um apoio educativo. Nós também queremos ser um suporte emocional, queremos ajudá-los noutras vertentes e a saberem construir os seus valores.” A voluntária conta ainda que o momento de explicação passa também por conversas mais pessoais, com temas como a escola e os professores.

Além disso, a estudante de Bioengenharia Molecular explica que tenta também colmatar alguns aspetos com que concordam menos no ensino. “Nós tentamos mostrar à criança que ela é capaz, que não importa apenas as notas, que as notas são um acréscimo e o que é importante é ter conhecimento”, partilha a voluntária.

Ainda assim, Susana Pereira diz que as notas dos netos melhoraram logo que começaram a ter este apoio da organização. A encarregada de educação dos dois aprendizes diz que os netos são um “bocadinho preguiçosos a estudar e, havendo um compromisso e em especial para os testes, é uma grande ajuda (no sucesso escolar)”. Justifica ainda a importância do Já T’Explico no ambiente escolar dos netos, porque os métodos de ensino atuais são muito diferentes do que o que ela aprendeu, portanto, não consegue ajudar os netos pelos processos que aprendem na escola, especialmente na área da físico-química e matemática.

Pedro Matias esclarece que “o Já T'Explico não se reduz a explicações semanais, isso foi o início da organização, agora é uma ação mais regular (na vida das crianças). O Já T’Explico está presente noutros momentos como atividades culturais, ou mesmo formações importantes para o desenvolvimento pessoal e profissional”.

O Já T’Explico organiza diferentes tipos de atividades ao longo do ano para promover o convívio entre todos os voluntários e aprendizes. ©Já T’Explico

Mariana Melo diz que sempre viveu num ambiente escolar estável, com bons alunos e assume que teve muitos privilégios a nível de educação e que nem todas as crianças têm essas oportunidades. Por isso é que o trabalho do Já T’Explico faz sentido, para si: “Nós trabalhamos de forma a erradicar as diferenças no acesso à educação e, com as crianças, fazemo-las perceber que, apesar das dificuldades, elas têm valor.”

“A prioridade é sempre oferecer apoio a crianças de meios mais desfavorecidos, que de outra forma não teriam acompanhamento escolar”

O Já T’Explico estabelece parcerias com diferentes entidades, como a Comissões de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) e gabinetes de juventude, para conseguirem contactar os alunos que precisam de maior apoio. Além disso, também há casos de pessoas que entram, de forma individual, em contacto com o projeto e, nesses casos, há uma entrevista para perceber o contexto socioeconómico da família. Isto porque “a prioridade é sempre oferecer apoio a crianças de meios mais desfavorecidos, que de outra forma não teriam acompanhamento escolar”, explica o COO da organização.

Ainda assim há passos por cumprir. Um deles é melhorar a relação do Já T’Explico com as escolas, seja com direções, seja com associações de pais. Pedro Matias refere que alguns professores não olham para a organização da melhor forma. “Há um bocadinho a ideia de que queremos substituir os professores, temos de ter cuidado na forma como comunicamos, porque não é esse o nosso objetivo”. Já com os encarregados de educação o Já T’Explico tem um contacto constante para perceberem a evolução dos aprendizes.

A Direção-Geral de Estatística de Educação e Ciência (DGEEC) voltou a analisar os “Resultados Escolares: Sucesso e Equidade” nos alunos do ensino básico e secundário. O relatório publicado este ano mostrou que cada vez há uma diferença menor de sucesso escolar entre alunos desfavorecidos e os restantes. Este sucesso escolar foi medido conforme a conclusão e desistência dos alunos no ciclo escolar. Ainda assim, o relatório mostra que os alunos carenciados continuam a ter mais dificuldade a nível de educação.

Em 2021, a Fundação Belmiro de Azevedo realizou o estudo “Estudantes Nacionais e Internacionais no acesso ao ensino superior”, que aborda também as desigualdades no ensino. O estudo, além de mostrar que os estudantes desfavorecidos têm maior dificuldade no acesso ao emprego, expôs também que lidam com um maior risco de desemprego. Alberto Amaral, membro do Conselho Consultivo do Edulog, explicou à Lusa que a dificuldade nestes jovens começa a partir do momento em que são os primeiros da família a terem acesso ao ensino superior, cita o Observador, o que resulta numa falta de conselhos de familiares na escolha dos cursos universitários. Além disso, as dificuldades começaram a partir do momento em que durante o ensino obrigatório tiveram menos apoio e uma falta de acesso a explicações.

Além dos obstáculos já referidos, ainda existem outras dificuldades na ida para a universidade, porque alunos carenciados normalmente não têm possibilidade de escolherem instituições de ensino privadas e fora das suas cidades. Ainda assim, existem alunos de meios mais desfavorecidos que decidem ingressar no ensino universitário, mas o abandono universitário é mais elevado em relação aos restantes alunos. Alberto Amaral expõe à Lusa que uma das soluções passa por conceder mais bolsas de estudo. “As bolsas de estudo são atribuídas apenas a famílias claramente desfavorecidas, que têm rendimentos extremamente baixos. Os alunos de famílias de classe média não têm acesso”, conclui um dos membros do conselho consultivo do Edugol, cita o Observador.

Texto de Mariana Sousa Lopes

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