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Joana Meneses Fernandes: “Os projetos servem para desinquietar um bocadinho.”

A cidade de Braga prepara-se para ser Capital Portuguesa da Cultura em 2025. Para compreender a visão, os objetivos e os desafios deste projeto, o Gerador conversou com Joana Meneses Fernandes, Coordenadora do Programa Braga 2025.

Texto de Tiago Sigorelho

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A Capital Portuguesa da Cultura, título atribuído pelo Ministério da Cultura, surge após um longo percurso que remonta à candidatura de Braga a Capital Europeia da Cultura. Ao longo deste caminho, foi definida a estratégia Braga Cultura 2030, um documento orientador das políticas culturais da cidade.

Nesta entrevista, Joana fala da relação entre a estratégia cultural da cidade e a Capital Portuguesa da Cultura, da importância da participação comunitária, do impacto desejado do programa para além de 2025 e do modo como a cultura pode contribuir para uma cidade mais inclusiva e sustentável.

Gerador: O título de Capital Portuguesa da Cultura surge após a elaboração da estratégia cultural “Braga Cultura 2030”. De que forma a programação de Braga 2025 concretiza os objetivos definidos nessa estratégia?

Joana Meneses Fernandes: A estratégia Braga Cultura 2030 e o atual programa para a Capital Portuguesa da Cultura são muito íntimos, digamos assim. O caminho começou em 2018, quando o município decidiu avançar com a candidatura a Capital Europeia da Cultura. De alguma forma aquilo que nós vamos ver acontecer em 2025 começou a ser pensado em 2018.

A estratégia na qual nós trabalhámos durante os dois primeiros anos desse processo, um processo muito intenso e muito conectado com o território, serviu de alicerce à candidatura a capital europeia da cultura. E era também uma exigência, de alguma forma, da candidatura. Ou seja, havia um dos critérios, o primeiro critério da candidatura à capital europeia, que perguntava sobre a existência de uma estratégia cultural na cidade e de que forma é que a candidatura à capital europeia respondia a essa estratégia. Por isso nós começamos pela base, que foi o documento da estratégia. E esse documento foi preparado baseado num intenso processo de auscultação da cidade e dos agentes culturais, através de diversas metodologias, entrevistas individuais aos agentes, desde, obviamente, aquilo que são os decisores políticos, quem estava à frente das políticas públicas para a cidade neste domínio, mas não só neste domínio, noutros correlacionáveis, ou seja, não só para a cultura, mas também no que diz respeito ao turismo, à economia, à educação, ao urbanismo.

Fomos para o terreno, conversámos com os agentes culturais da cidade, realizámos imensas atividades, desde focus groups, refeições coletivas, fomos para a rua conversar com as pessoas. E todo esse processo de auscultação resultou na estratégia. Isso foi muito visível pela forma como a estratégia foi acolhida, ou seja, as pessoas reviram-se naqueles princípios estratégicos, naqueles eixos e naquelas propostas de ação que estavam consubstanciadas no documento. A própria redação do documento também foi muito participada. Houve uma primeira fase em que apresentámos publicamente uma versão preliminar deste documento para recolher ainda mais inputs e fazermos acertos, etc. E só depois disso colocámos cá fora a sua versão final. E este documento de estratégia aponta, como eu estava a dizer, uma série de eixos de intervenção e de ações, que depois, mais tarde, alimentaram o processo da candidatura a capital europeia, ou seja tudo isso está também vertido e refletido no dossiê de candidatura e na nossa proposta.

E a ligação com a capital nacional? A capital nacional é tipo um substituto mais pequenino do que seria a capital europeia da cultura?

Não é um substituto, não pode ser um substituto. E também não é mais pequenino, mas tem de ter obviamente objetivos diferentes. Uma coisa é uma capital europeia da cultura, com tudo o que implica, os seus critérios de avaliação, que tem de cumprir perante a Comissão Europeia, etc. Aquilo que nós estamos a preparar para a capital portuguesa da cultura é um programa com um conjunto de 18 projetos que saem do dossier de candidatura à capital europeia, sendo que esses projetos no dossiê de candidatura já estavam completamente alinhados com a estratégia. Portanto, o que nós vamos ver agora é uma materialização da estratégia e de algumas dessas principais linhas de ação. 

A seleção desses 18 projetos, naturalmente precisou de ser realinhada com uma nova lógica orçamental e também de calendário. Portanto, uma coisa seria preparar e executar ou implementar esses projetos para um horizonte temporal de 2027, a partir do momento em que temos dois anos, temos de repensar e redimensioná-los. Mas acreditamos que eles não perdem o seu potencial de alcance.

Entre 2018, quando começaram a desenhar essa estratégia, e hoje, o mundo mudou profundamente: pandemia, conflitos geopolíticos, revolução tecnológica. Como é que estas transformações globais se refletem na programação de Braga 2025?

É curioso dizeres isso, já que no momento em que nós apresentámos a estratégia na sua versão final, precisamente na sessão da apresentação, eu fiz questão de sublinhar que aquela estratégia e aquele documento que nós estávamos a apresentar, e que pretendia ser um documento orientador para as políticas públicas na área da cultura para os próximos 10 anos, obviamente precisaria de ser revisitado e revisto, etc. Ou seja, era um guião de trabalho, mas ele tinha de ser suficientemente flexível para acomodar alterações que viessem a acontecer nas circunstâncias, à escala global. E na altura, acho que isso foi no final de 2019, não havia ainda uma pandemia. Não havia ainda estes conflitos geopolíticos à escala global e disseminados. E uma série de outras coisas, de facto, até coisas que estão a acontecer na cidade.

Naquele momento percebia-se, por exemplo, que a cidade estava a acolher muitos novos residentes, a que nós chamamos, novos bracarenses, como por exemplo a comunidade brasileira, mas o fenómeno não tinha ainda a escala que tem hoje. E por isso, quando nós pensamos a estratégia, pensamos também nesse sentido, ou seja, que ela pudesse ser suficientemente flexível para acolher estas alterações que acontecessem, quer a nível local, quer a nível europeu ou mais global.

E sentes que a programação para 2025 já aborda, de certa forma, estes desafios que fomos falando agora?

Sim, sim. Não querendo entrar aqui muito no pormenor dos projetos ou da programação, mas a verdade é que projetos como o Contra-Quiosque, como a Forma de Vizinhança, ou como o Desejar, têm uma dimensão muito participativa…

Eles vão obviamente, nessa dimensão participativa, receber o input de tudo aquilo que são as comunidades que neste momento estão presentes no território, do ponto de vista até da sua organização urbanística. Eu acho que no nosso processo de candidatura à capital europeia, nós tentámos acolher de forma muito concreta preocupações globais no que diz respeito aos desafios que as cidades hoje enfrentam. Ou seja, não era só sobre Braga, era como é que Braga podia ser, de alguma forma, uma cidade para testar soluções piloto de desafios que eram comuns a outras cidades europeias. E isso, com esta seleção de projetos que nós vamos agora implementar na capital portuguesa da cultura, mantém-se.

E em poucas palavras, como explicarias a alguém na rua o conceito da Capital Portuguesa da Cultura Braga 2025?

Isso é uma pergunta muito difícil. Mais do que um conceito único, há três objetivos principais. Primeiro, celebrar a criação artística contemporânea nacional, mostrar em Braga o melhor que se faz hoje no país. Segundo, manter uma dimensão europeia: abrir o que é português à Europa, valorizando o que construímos antes, com as redes e as parcerias estabelecidas. Porque, na realidade, também só celebraremos com dignidade a criação artística nacional, mostrando-a e abrindo-a à Europa. E em terceiro lugar, obviamente, um esforço de capacitar, robustecer, qualificar, etc, o setor cultural e criativo local. É uma oportunidade também de nos colocar em contacto com outras experiências, outros agentes, pensar de Braga para outros sítios e ampliar a sua visão do que pode ser o seu papel.

Houve diálogo com outras capitais nacionais da cultura, por exemplo, com Aveiro, que antecede Braga, ou Ponta Delgada, que vai ser a seguinte, para criar sinergias ou aprendizagem partilhada?

Sim, foi havendo um diálogo paralelo entre as cidades, sendo que esse diálogo tem ritmos muito diferentes, porque cada cidade tem o seu calendário para implementar o título. Mas sim, foram acontecendo conversas e trocas de ideias.

Não há colaborações concretas?

Não há colaborações concretas, não.

Mas há uma reflexão coerente e continuada?

Sim, sim, há uma continuidade das relações que foram estabelecidas também no momento anterior, o que foi muito curioso. Obviamente era uma competição, não é? A gente estava a competir entre si, mas sempre houve uma boa relação e troca de ideias entre as cidades. E isso foi muito interessante e muito saudável neste processo, porque existia, de facto, uma relação e um alinhamento, até porque havia questões e desafios do próprio processo que eram comuns a todas as cidades e houve uma articulação até junto da entidade que estava a gerir o processo da candidatura, neste caso o GEPAC, que era concertada entre todas as cidades. E isso foi um processo muito interessante e que, de alguma forma, continuou presente após a decisão do Júri Internacional de atribuir o título a Évora e do Ministério da Cultura atribuir o título a estas três cidades portuguesas.

Falando do Ministério da Cultura, como é que ele está presente hoje em dia no acompanhamento do que é a capital nacional da cultura em 2025? Existe uma relação regular, interessada, presente, envolvente ou foi só receber o 1 milhão de euros, julgo eu, que tinham direito?

São 2 milhões de euros. Na realidade esse valor, esse pacote financeiro, tem diferentes proveniências, por isso há meio milhão de euros que vem do Orçamento de Estado, que vem diretamente do Ministério da Cultura, depois existe um milhão de euros que vem através do Programa Operacional Regional, neste caso o Norte 2030, e depois mais meio milhão de euros que vem em específico do Turismo de Portugal. Portanto são diferentes entidades.

E todas se fazem representar de alguma maneira nas conversas?

Com todas temos de manter uma relação.

Uma das recomendações resultantes do processo de candidatura europeia foi o reforço da participação cidadã no programa cultural. Já mencionaste que isso foi muito importante desde o início para vocês. De que forma é que Braga 25 procura estar presente junto da comunidade local? Como irão envolver a comunidade local, dos jovens às comunidades migrantes, minorias, população sénior?

Isso foi pensado de acordo com as estratégias, abordagens, etc., de cada um dos projetos e que o fazem de formas muito diferentes também. Por isso não há uma fórmula única. Mas grande parte dos nossos projetos, da forma como foram pensados, não poderiam existir em 2025 sem essa participação, ou seja, eles resultam efetivamente numa complicidade muito grande com as diferentes comunidades que estão presentes neste território. E lá está, e cada uma delas tem as suas diferentes metodologias.

Posso, se calhar, mencionar especificamente um órgão consultivo que é também um resultado do processo anterior, ou seja, ele já existia no acompanhamento da candidatura à Capital Europeia da Cultura. Na altura chamava-se geração B27 e agora chama-se geração B25+. É composto por 25 jovens que frequentam diferentes estabelecimentos de ensino da cidade e que procura ser representativo, ou seja, assegurar diferentes backgrounds, diferentes escolas, diferentes motivações. É um órgão que é diverso e que é intencionalmente inclusivo também na sua constituição. E estes jovens funcionavam e continuam a funcionar como uma espécie de órgão consultivo, com quem nós vamos debatendo as diferentes opções do programa, quer no processo anterior, quer agora.

É algo que consegues imaginar para continuar no futuro, mesmo fora do programa de Braga 25?

Eu acredito que muitas experiências que estão a resultar destes projetos têm todo o potencial para permanecerem e serem um legado de alguma forma do processo da capital portuguesa da cultura.

Ou seja, pessoas, órgãos mais ou menos informais que envolvam diferentes comunidades que tiveram agora esta oportunidade de serem ouvidas, eu acho que elas próprias vão reclamar esse espaço no momento seguinte. Isso é ótimo, é muito saudável.

Outra dimensão da estratégia 2030 sublinha a importância das redes culturais regionais. O projeto Square, no âmbito do quadrilátero, que envolve Braga, Guimarães, Barcelos e Famalicão, é um bom exemplo. Como vêem esta dinâmica?

Sim, a questão da cooperação a nível regional ou extra-municipal foi algo que também esteve presente como preocupação e como estratégia, já desde a candidatura à capital europeia. A cidade era quem liderava o título, mas aquilo que são as dinâmicas de um ecossistema cultural não são compatíveis com as fronteiras administrativas de um concelho. As pessoas não se comportam assim. 

E isso foi algo que trouxemos agora também para a capital portuguesa. Ao fazermos a seleção dos projetos, quisemos que esta cooperação continuasse a estar presente e representada. Por isso, um dos projetos que selecionámos foi precisamente o Square, que é um projeto que acontece no contexto territorial do quadrilátero urbano. O seu foco de trabalho é um fenómeno muito específico destes quatro municípios, que é a existência de um ecossistema de música independente, não apenas com artistas, com bandas, mas também com agentes, com editoras, etc. Mas que, por algum motivo, nunca foi pensado estrategicamente numa lógica conjunta.

Entendemos que havia aqui um potencial e que a capital europeia, e agora a capital portuguesa, podiam de alguma forma ser uma alavanca para que este ecossistema pudesse dar o salto seguinte, nomeadamente no que diz respeito à internacionalização dos seus agentes. E acreditamos que pode também ser um novo passo e um novo momento para esta cooperação entre estes quatro municípios no que diz respeito à área cultural.

O programa inclui algo muito interessante que é a intervenção em espaços emblemáticos, tipo o Theatro Circo, naturalmente, mas também muitos espaços não convencionais, espaços que não são tipicamente usados para atividades culturais e artísticas. Qual é a intenção por trás desta abordagem?

No momento em que estávamos a elaborar a estratégia, nesse processo de auscultação, uma coisa que ouvimos com muita frequência de diferentes pessoas era o facto de grande parte daquilo que eram os eventos ou as manifestações culturais acontecerem no centro da cidade. E acontecendo no centro da cidade, acontecerem naquilo que são os tais espaços convencionais, como o Theatro Circo ou o gnration, ou ainda os outros equipamentos que fazem parte da esfera de gestão do município. 

Ao mesmo tempo, também percebemos que havia uma clara assimetria, até do ponto de vista urbanístico, entre o centro histórico e outros locais. Zonas com prédios com muitos andares e que neste momento são espaços que são densamente habitados. Muitas pessoas moram naqueles sítios, mas a forma como o espaço público daqueles sítios foi pensado não permitiu que lógicas de vizinhança ou mais comunitárias, etc., fossem construídas. E nós entendemos, já no momento da estratégia, que esses espaços deveriam ser também alvo de intervenção. E entendemos que aquilo que poderiam ser dinâmicas culturais levadas para esses espaços podiam ser também indutoras de uma nova lógica de convívio e vizinhança. Daí iniciativas como o Contra-Quiosque, o Shopyard, a Forma de Vizinhança, os Trajetos Comunitários. Todos eles têm muito essa vontade de questionar como é que se faz cultura na cidade. 

Já falaste do Contra-Quiosque e do Shopyard. Queres explicar um pouco no que consistem?

O Contra-Quiosque é um projeto que pretende ocupar alguns quiosques que estão espalhados pela cidade, mais ou menos centrais, e que neste momento estavam vazios, tinham caído em desuso, e que irá transformá-los em dispositivos que acolhem microexposições. Por isso, o Contra-Quiosque como um todo é uma exposição que ocupa quiosques espalhados pela cidade e que, no fundo, pretende ser uma exposição policêntrica. Em cada um desses quiosques há um artista convidado que intervém sobre um tema relacionado com a cidade e com este território, de alguma forma.

O Shopyard também tem um pouco esse mote. Por isso, a cidade de Braga, só aqui no centro, num raio muito próximo, tem imensos shoppings de primeira geração, aqueles shoppings dos anos 80. Entretanto, as cidades mudaram, porque a forma como se consome e se compra hoje em dia é diferente também, o comércio mudou e, portanto, muitos desses espaços ficaram também meio que abandonados ou caíram em desuso, com muitas lojas fechadas. O Shopyard pretende sinalizar esses diferentes espaços e testar soluções para que esses espaços possam vir a ser revitalizados através de dinâmicas culturais.

Alguns dos temas trabalhados — questões coloniais, diversidade de género, sustentabilidade — pretendem provocar reflexão. Olhando para todas estas perspectivas diferentes, inclusivas, como é que esperam que seja o impacto desta programação no futuro?

Os projetos servem para desinquietar um bocadinho, não é? Nós não queremos ser provocadores, não há aqui uma intenção de colocar o dedo na ferida. Mas, de facto, há um conjunto de questões, não só nesta cidade, mas na sociedade em geral, que precisam de uma reflexão e de uma maior visibilidade e de diferentes pessoas a olharem para eles. Porque apesar de algumas destas questões parecerem que aparentemente estão no passado, como por exemplo as questões coloniais, na verdade elas continuam a estar muito presentes na nossa sociedade. E há desafios desses momentos que têm questões mais à escala global, geopolíticas, que os tornam novos, todos esses temas são contemporâneos, ou seja, não estão isolados e não estão encapsulados no tempo. 

Nós sentimos que uma cidade como Braga, que é também uma cidade com uma presença religiosa muito forte e portanto que há, de alguma forma, um perfil mais conservador, que subsiste também nas instituições, pode ter a oportunidade de falar destes temas. Podem trazer um contributo importante para uma cidade que é cada vez mais multicultural e que também está a ser desafiada por isso. 

Apesar deste ser uma programa para uma capital nacional da cultura, continuam a existir muitas colaborações europeias. Essa parte continua a ser algo que vocês procuram? É fundamental para a criação futura artística e cultural aqui em Braga?

Claro que sim. A possibilidade de trazer essas outras experiências, artistas, agentes do setor cultural criativo à cidade, também é a partir daí que o nosso setor cultural e criativo pode crescer, com essas contaminações, com esses intercâmbios, etc. A capital, digo isto algumas vezes, é a capital portuguesa da cultura, não é sobre Braga apenas. 

Obviamente a cidade, a identidade da cidade, os agentes da cidade têm de estar presentes, mas a ambição tem de ser muito mais do que essa. E nós achamos que uma capital portuguesa da cultura deve ter também essa ambição de convocar artistas internacionais para a sua programação e potenciar essas colaborações.

A reflexão em torno de ecossistemas urbanos, de hortas urbanas, de práticas artísticas sustentáveis, mesmo do envolvimento comunitário mais ligado à dimensão ambiental e social, isso também está muito presente. Qual é o papel de pensar na sustentabilidade ambiental no Braga 25?

Há algumas questões que são transversais ao nosso programa e aos nossos projetos, como não poderia deixar de ser, que são, por um lado, as questões da sustentabilidade e, por outro lado, também as questões da acessibilidade e da inclusão. 

Nós temos um guião de trabalho para cada um destes temas, que está presente e que tem de ser cumprido quase como se fossem normas em cada um dos projetos. Mas os projetos em si, dentro daquela que é a sua especificidade, procuram, no que diz respeito a estas duas temáticas, incorporar práticas que sejam consentâneas com aquilo que hoje em dia as boas práticas nos dizem sobre esses assuntos.

Eu sei que esta pergunta é sempre difícil de responder, é como perguntar aos pais quais são os filhos que preferem, mas se tivesses que destacar duas, três atividades que vão acontecer no programa de Braga 25, quais aquelas que tu acharias que seriam mais interessantes? Deixo, até, um desafio adicional: que iniciativas poderiam estimular as pessoas a vir de longe para Braga?

Isso é mesmo difícil. Até porque eu sinto-me... Os projetos têm curadores, mas na realidade eu participei muito naquilo que foi a própria construção dos projetos, uns mais do que outros. Então é mesmo difícil para mim fazer esse exercício. Por isso, acho que tenho de ser politicamente correta, não é? Até para ninguém ficar chateado comigo (risos).

Nós temos um programa de mediação que tem diferentes atividades. E uma dessas atividades é uma coisa tão simples como  uma visita organizada mensalmente, em que quem chega à cidade e quem quer conhecer os projetos da Braga 25 que estão a acontecer naquele mês, pode inscrever-se nesta visita e irá fazer um percurso pela cidade, onde passará pelos projetos e pelas diferentes zonas da cidade que estão a ser ocupadas e onde alguma coisa do Braga 25 está a acontecer naquele momento. 

O título de Capital Portuguesa da Cultura pode ter um impacto económico na cidade? É algo que perspetivam?

Há um conjunto de teorias e métricas de como medir os impactos económicos da cultura. Desde logo, obviamente, se nós estamos durante um ano a oferecer diferentes momentos e diferentes dinâmicas culturais, isso naturalmente, poderá ter um impacto naquilo que é a procura turística da cidade.

As teorias sobre aquilo que são as indústrias criativas e o setor cultural e criativo dizem que as cidades que têm uma oferta cultural vibrante, por si só, estimulam o crescimento da economia, ou seja, que os profissionais destes domínios são pessoas que procuram estar num ambiente que é culturalmente vibrante. Essa poderá ser, desde logo, uma consequência direta da capital portuguesa da cultura.

Já falámos dos 2 milhões que vêm do Estado português. O orçamento global para a capital nacional da cultura é de quando?

Tenho que referir a mesma coisa que o senhor presidente da câmara. Então, o orçamento do município de Braga para a cultura é de cerca de 12 milhões e meio de euros, aos quais se juntam os dois milhões.

Humm, essa é mais uma visão holística, não é só concreta desta programação, mas mais de tudo o que se faz a nível cultural. Ainda nesta dimensão financeira, uma das barreiras muitas vezes identificadas nas teorias de acesso à cultura é a do custo de bilheteira. Têm alguma política de preço definida para a bilheteira?

Então, grande parte das nossas atividades são gratuitas. Há alguns projetos que têm de facto entradas pagas, mas apesar de tudo com custos muito acessíveis, mas esses são mesmo uma pequena amostra da nossa programação e que teve a ver, sobretudo, com esta necessidade de gerir entradas e não tanto com uma necessidade de angariar receitas. 

Nós fizemos uma revisão muito acentuada daquilo que era o nosso preço médio de bilhete, por exemplo, no caso do Theatro Circo, o preço médio do bilhete rondava os 15 euros e no nosso planeamento do orçamento para 2025, esse valor foi reduzido para 8,5 euros. Precisamente com essa intenção, de que em 2025 a cultura pudesse ser financeiramente mais acessível aos públicos.

Uma última pergunta. Como imaginas Braga em 2030, depois de concluída esta estratégia e a experiência cultural de 2025?

Mais do que uma perspectiva cultural, porque quando nós pensámos a estratégia, pensámos muito mais do que cultura. Pensámos em bem-estar físico, em bem-estar mental, em impacto social, comunitário, etc. Eu gostaria que a cidade de Braga fosse, efetivamente, e mais do que é agora, uma cidade com uma grande qualidade de vida, não só para quem já habita, mas também para os potenciais novos bracarenses e também que a visita.

E que a cultura servisse, por exemplo, para as questões que falávamos há pouco da sustentabilidade ambiental e também da acessibilidade, que fosse um exemplo, de alguma forma, nessas diferentes temáticas e que fosse a cultura indutora de uma nova forma de estar na cidade a esse nível também.

Toda a informação sobre a programação de Braga 25 pode ser consultada aqui.

Este texto faz parte de uma parceria entre Braga 25 e o Gerador.

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