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Joana Mundana: “Nenhum dia pode passar sem sentires que tiveste pelo menos um momento de felicidade”

Joana Ribeiro é uma ilustradora digital freelancer de 31 anos. Cresceu nas Caldas da Rainha, estudou arquitetura no Porto e sempre se sentiu fascinada pela arte. Em entrevista ao Gerador, via online, a ilustradora assume que, por vezes, sente falta do desenho e da relação que tem com os seus cadernos. Mas garante ser uma jovem mulher feliz, orgulhosa do trabalho que tem vindo a realizar e sem grandes expectativas para o futuro. Vive um dia de cada vez, estando ainda “em fase de descoberta”. Do mundo e de si própria.

Joana Mundana. Créditos: Nuno Lima

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Aos 18 anos, a arquitetura pareceu-lhe, segundo as suas palavras, “a opção mais razoável”, pois iria conseguir ter as bases teóricas para qualquer opção futura que escolhesse seguir profissionalmente. Sempre gostou de artes performativas, principalmente de dança, e de design industrial. Porém, o desenho manteve-se como um prazer escondido. É a sua maneira visual de mostrar o que sente e o que vive.

Enquanto trabalhava na área da arquitetura, recebia imensos pedidos para trabalhos digitais e deu por si a aprofundar essa técnica, acabando por também se apaixonar por ela. Decide então abandonar o gabinete de arquitetura onde trabalhava e seguir numa viagem enquanto ilustradora freelancer.

Adotou o nome Mundana, pois sentiu a necessidade de criar uma personagem quando começou a partilhar publicamente o seu trabalho. É também uma maneira de se manter “menos exposta”. Gosta de representar as coisas que a rodeiam, as pessoas que admira, os momentos que vive e os elementos da vida terrena. Admite ser uma mulher que aprecia “a beleza das coisas comuns”, tentando valorizar os pequenos detalhes da vida. É também isso que tenta representar nas suas obras e daí ter adotado o nome artístico Joana Mundana.

Joana Mundana. Créditos: Nuno Lima

Gerador (G.) – Como e quando é que percebeste que as artes tinham mesmo de fazer parte da tua vida?

Joana Mundana (J. M.) – Acho que sempre tentei fugir um pouco a isso, sabes? Principalmente durante a adolescência. Mas claro que era difícil contrariar este amor pela arte. Imagina, eu estudei ciências no Ensino Secundário, mas os meus cadernos de matemática estavam cheios de desenhos nas páginas [risos]! Nessa altura também fazia dança contemporânea e dança criativa, o que me permitia estar mais ligada a esse mundo. Se eu não tivesse a dança, ter-me-ia custado muito estar tão desconetada das artes. Quando iniciei o curso de arquitetura, percebi que estava a fazer “o que era suposto” para mim. Estava finalmente a ter aulas e a aprender sobre algo que adorava. Tinha aulas de desenho, debatia temas interessantíssimos, como questões de estética. Foi aí que percebi que seria impossível fugir e que as artes tinham mesmo de fazer parte da minha vida.

G. – Então o que te fez tomar a decisão de deixar o gabinete de arquitetura para trabalhar como freelancer?

J. M. – Quando estava a trabalhar aí, sentia que não estava a dar o suficiente para o mundo. Que não estava a contribuir o suficiente, sabes? Na altura sentia-me infeliz naquele lugar e dava por mim à espera da hora para me ir embora. Para além disso, já tinha alguns pedidos de ilustrações e não estava a conseguir conciliar tudo. Agi um bocadinho por desespero e o timing não foi de todo o melhor. Decidi despedir-me em fevereiro de 2020 [risos]. Mas pronto, acabei por aproveitar o tempo para criar o meu site, organizar tudo e começar a partilhar mais o meu trabalho para que as pessoas o pudessem conhecer. Aos poucos, as coisas foram acontecendo. O maior desafio, tendo em conta a pandemia, penso que tenha sido a questão dos eventos. Eu tinha pensado em participar numa série de mercados para poder apresentar o meu trabalho e fazer com que as pessoas chegassem até mim, mas as exposições eram constantemente canceladas. As galerias fecharam, não conseguia estar presencialmente com outros artistas… em contrapartida, as pessoas ficaram muito mais abertas ao online, o que me permitiu participar em workshops à distância e conhecer pessoas que estavam do outro lado do mundo. Tentei encontrar o lado positivo da situação, mas, em termos profissionais, senti grandes dificuldades.

G. – Como é ser uma jovem mulher ilustradora em Portugal e o que consideras necessário para que se possa investir mais nesta vertente artística?

J. M. – Quando uma pessoa decide entrar neste meio, apercebe-se de que existe muita concorrência. Existem muitas pessoas a pensar da mesma maneira ou parecido, que têm objetivos semelhantes, e Portugal é, sem dúvida, um país pequenino e com pouca procura deste tipo de trabalho [as ilustrações]. Não sei… eu gosto de pensar que há espaço para todos, mas a verdade é que se torna difícil entrar neste meio. É difícil ser artista em Portugal. Muitas pessoas me perguntam: “mas o que é que tu fazes?”. À medida que vou apresentando projetos e mostro o resultado final das minhas ilustrações, já começam a perceber que afinal é algo que pode ser útil, que está presente em mais sítios do que nós imaginamos e que nos pode ajudar a transmitir muitas mensagens. Sinto que a ilustração começa a ganhar espaço. Eu comecei a pensar na possibilidade de isto ser uma profissão meio que por acaso, mas desde sempre que tive a tendência para pegar nos livros que estavam cheios de ilustrações, gostava de olhar para os artigos que estavam ilustrados, para as capas dos discos de música. Sempre foi algo que me inspirou e, se formos a ver, já está presente na nossa vida há muito tempo. Não posso negar que a ilustração é uma vertente em crescimento, mas também sinto que não existe um investimento suficiente na área. É tudo uma questão de prioridades. Gostava que as pessoas também entendessem as possibilidades de comunicação que a ilustração oferece. Muitas editoras sentem que é arriscado investir no design gráfico e nas ilustrações, e acabam por escolher a via mais segura, como a fotografia. Só que o mais seguro também é repetitivo.

"Nua e Crua". Ilustração de Joana Mundana

G. – Consideras-te uma overall maker. O que é que isso significa concretamente?

J. M. – Ah! Isso é um lado que não tenho partilhado muito. É “meter as mãos na massa”, construir objetos. Desde pequena que tenho esse prazer e não sei até que ponto isso não foi estimulado pela minha família. O meu pai faz de tudo um pouco, a minha mãe também fazia muitas coisas, desde carpintaria à arte têxtil, o meu avô era alfaiate… faz parte da minha identidade. Gosto de partir do zero, de descobrir como se fazem coisas novas e, simplesmente, fazer. Acho que aqui também entra o meu lado de arquiteta e designer industrial. Aliás, este ano comecei a investir mais na minha formação nessas áreas. Tirei cursos de cerâmica, produção têxtil, até fiz um workshop de carpintaria! Ainda estou um pouco à procura, sabes? Vejo todas as minhas ilustrações como um projeto. Gosto de idealizar um plano desde o início para conseguir explorar diferentes técnicas e, acima de tudo, transmitir a mensagem que os clientes pretendem passar. Eu gosto de experimentar tudo! [risos]. Mas também tenho receio da reação das pessoas, pois elas habituam-se a que tu faças o teu trabalho de uma determinada maneira. Quando te apetece “extravasar” e experimentar algo novo, acabas por ter de o fazer de uma maneira mais privada, ainda que gostasses de o partilhar.

G. – A tua principal inspiração é o mundano. Como é que isso se expressa nas tuas obras?

J. M. – Numa primeira fase, inspirava-me mais nas pessoas, principalmente nas mulheres que conhecia. Depois, comecei a querer usar o desenho como forma de expressão e reflexão. Esses desenhos sempre me saíram naturalmente e decidi começar a partilhá-los para ver a reação das pessoas. Retrato, sobretudo, as coisas que eu sinto que fazem parte do dia a dia, e a verdade é que a grande maioria das pessoas também se revê nessas ilustrações. A melhor parte de todo este processo é perceber que não sou só eu que me sinto de determinada forma. Consegui sentir-me menos sozinha ao perceber que afinal as coisas que eu considero que fazem parte do meu dia a dia, também podem fazer parte do dos outros. E isso é que é a vida, não é?

G. – Apresentas, quase sempre, figuras humanas e femininas nas tuas ilustrações. Há alguma intenção por detrás dessa escolha?

J. M. – É o tema que conheço melhor. Admito que o meu trabalho tem vindo a evoluir para ser cada vez mais autobiográfico e que tenho tido a coragem para me expor cada vez mais nele. Tem sido um processo importante para mim. Sem dúvida que “as pessoas” são o meu tema preferido. As pessoas, as coisas boas da vida e tudo o que as pode unir. Se calhar por serem elas o que mais gosto na minha vida. Por outro lado, gosto de representar mulheres para que as ilustrações se aproximem daquilo que eu sou.

"Com a Onda". Ilustração de Joana Mundana

G. – O que é, para ti, “a beleza das coisas comuns”?

J. M. – É mesmo isso: é serem comuns. Não lhes damos a devida importância, mas, se formos a ver, são o que mais preenche a nossa vida. Não são os momentos raros que fazem quem nós somos. Acho que é importante fazermos das pequenas coisas algo especial. É ouvir música, é apanhar sol, é ler um livro, é beber um chá quentinho no inverno. Sempre cresci com o intuito de conseguir atingir todos os meus objetivos, sempre procurei ser uma pessoa focada, ter boas notas, queria que as pessoas tivessem orgulho em mim. Mas sinto que acabei por fazê-lo em modo automático. Questionava-me muito se estaria no lugar certo, se estaria a cumprir as expectativas que tinham para mim. Depois, houve uma altura da minha vida em que as coisas só correram mal. Passei por situações um pouco traumáticas, perdi pessoas importantes e atravessei momentos complicados. Mas foram esses momentos que me fizeram valorizar cada vez mais o dia a dia. Não sabes o que acontece amanhã. Dou por mim a pensar que estive seis anos da minha vida a estudar arquitetura - que é um curso muito difícil e pesado – e que devia ter dançado mais, devia ter aproveitado mais. Mas pronto, é a efemeridade da vida. Não me faz sentido estar num lugar onde não me sinto preenchida ou útil, pois não sei quando é que tudo pode acabar. Quando é que eu própria posso “acabar”. Também existe uma outra fase, em que dás por ti a tentar aproveitar o dia ao máximo, a querer fazer imensas coisas ao mesmo tempo e isso pode criar alguma exaustão emocional. No fundo, acho que foram as pessoas que conheci ao longo dos anos e os momentos que tive a oportunidade de experienciar que me fizeram valorizar mais “as coisas comuns”. Nenhum dia pode passar sem sentires que tiveste pelo menos um momento de felicidade.

G. – A tua exposição “Ainda Estou Aqui” reflete sobre a saúde mental. Como chegaste até esse tema?

J. M. – Bem, eu fui fazendo alguns desenhos, com base em episódios pessoais e de pessoas que conhecia, mas guardava-os sempre para mim. Eram os tais “esboços de caderno”. Acabei por perceber que muitos dos desenhos se podiam conectar de alguma forma e que podiam vir a ser úteis para alguém que estivesse a passar por episódios semelhantes. Em janeiro, convidaram-me para realizar uma exposição individual e eu pedi para exibir essas ilustrações no mês da saúde mental [outubro]. Para mim, as imagens têm um papel importante na medida em que nos conseguem passar mensagens mais passíveis de interpretação, ao contrário do texto, por exemplo. Cheguei a este tema por ter a necessidade de falar sobre ele abertamente, por achar que seria bom que as ilustrações fossem vistas por outros, por sentir que as pessoas se iriam identificar de alguma maneira, e porque queria fazê-las pensar. Confesso que tive bastante receio, pois estava a expor-me de uma forma mais íntima e, sendo um tema bastante pesado, a reação do público podia não ser a melhor. Mas senti necessidade de ser honesta.

G. – De que forma as ilustrações desta exposição demonstram os desafios associados às diferentes perturbações mentais?

J. M. – Primeiramente, tentei brincar um pouco com a escala, sendo esta uma representação visual mais óbvia daquilo que eu sentia. Nós temos sempre um lado mais positivo e um mais negativo, ou um lado mais otimista e outro mais pessimista. Nestas ilustrações encontras a representação desse desequilíbrio que o peso dos dois por vezes cria em nós. Também tentei evidenciar esta dualidade através do contraste e das cores. Se reparares, a figura positiva, a que não desiste, está mais pequena nestas representações e é ilustrada de uma maneira mais etérea. Já a outra figura humana está muito mais contrastada, até na forma como fiz as sombras e o traço em si. Desenhei tudo de uma maneira muito orgânica, sabes? A forma como eu riscava, no momento em que estava a representar aquela personagem específica, relacionava-se sempre com o que eu estava a sentir em relação a ela. Ou seja, fiz traços muito mais bruscos e mais violentos quando quis representar algo que fosse igualmente intenso, e procurei fazer traços mais simples e delicados quando estava a representar momentos mais leves e mais calmos. É um pouco por aí. Mas a escala é mesmo o mais importante. Algumas peças estão quase à escala real para que as pessoas se sintam mesmo próximas daquela realidade. Não quero que vejam apenas uma ilustração em miniatura, quero que sintam que estão mesmo a olhar para uma pessoa e que se revejam nela. É o exemplo da ilustração “Ir ao fundo”. Para além disso, tentei jogar com a cor preta. Ora é apenas o fundo de uma imagem, como também pode ser a representação de algo que está a envolver as figuras. Isto observa-se em “Negro Mar”, sendo que a figura pequenina se está a afogar no “mar de lágrimas” da figura principal. Este jogo com as cores serviu para evidenciar a solidão de todo aquele processo, mas também para que não haja nenhuma distração, entendes? O assunto é aquele e não era para ser outro.

G. – “Ainda Estou Aqui” é o “grito ou o sussurro”. O que achas que é verdadeiramente e de que maneira os dois se podem confundir?

J. M. – Para mim, o título desta exposição é um grito. Por mais que tu passes por uma série de coisas, por mais que te vás abaixo, aquela pessoa que tu és - a figura pequenina que é representada em todos os desenhos - continua a insistir e continua lá. É um grito ao mundo, a quem quiser ouvir. Descrevi como um grito ou um sussurro porque, em algumas das imagens, a pessoa pequenina está mais investida em não desistir e está mais capaz. Mas em outras ilustrações está a ir-se abaixo como a figura principal e quase que deixa de existir. É como uma voz, que vai tendo mais ou menos força. Daí o grito. Ou o sussurro.

"Ouve-me". Ilustração de Joana Mundana para a exposição "Ainda Estou Aqui"

G. – Para ti, qual é a importância da arte na divulgação destes temas?

J. M. – Acho que estamos sempre a tentar arranjar palavras para descrever as nossas emoções. O problema é que essas palavras raramente correspondem exatamente ao modo como nos estamos a sentir. Assim como as palavras são uma forma de linguagem, as artes visuais e a música também o podem ser. Acho que todas são válidas para tentarmos explicar o que são as emoções, mas sinto que as artes são particularmente úteis para essa expressão. Existem músicas que te fazem sentir de determinada maneira, existem desenhos que representam melhor alguns momentos. Há coisas que as palavras não conseguem mesmo explicar. Daí recorrermos à arte.

G. – “Eles não veem. Eles não ouvem”. Quem são eles?

J. M. – Nessa ilustração está um senhor a tocar violino, rodeado de pessoas, mas apenas a criança quer parar para o ouvir. A ideia é… bem, eles são… [risos]. Estás a ver? É por isto que eu desenho e não falo ou escrevo. Eles são as pessoas que não acreditam, sabes? São as pessoas que tentam apagar aquele lado que tu tens em criança, o lado que se fascina constantemente com o mundo, com as coisas do dia a dia. Para as crianças, tudo é novo e, para nós, já são só coisas de rotina. Agora até tenho estado a trabalhar numas ilustrações onde estou a representar as pessoas que te “regam” e que te fazem florescer, contrastando com as pessoas que te tentam manipular e tirar a ingenuidade.

"Eles não veem. Eles não ouvem". Ilustração de Joana Mundana

G. – Porque costumas fazer as tuas ilustrações em trípticos?

J. M. – Primeiro porque costumo elaborar muitas ilustrações em séries. Sempre senti que queria explorar as diversas formas de representar algo, não havendo apenas uma única forma. Por exemplo, recorro muito aos baloiços para representar a liberdade e a libertação do mundo terreno – que se calhar são essas pessoas que não veem e não ouvem. Sempre fiz muitos baloiços e gostei de explorar essa ideia em muitos contextos. Faço um e depois penso que também poderia ilustrá-lo de outra maneira. Os trípticos acabam por se relacionar com o facto de haver sempre uma mensagem principal com pequenas histórias dentro dela. Assim, as pessoas podem isolar uma parte da imagem e ter uma história, mas também podem juntar as outras e criar uma diferente.

G. – Uma dessas ilustrações foi a que elaboraste para a exposição coletiva do 7º Encontro Nacional pela Justiça Climática. Qual foi a tua motivação para a criação dessa obra?

J. M. – O tema era a sustentabilidade e, tendo eu a tendência para trabalhar de forma muito autobiográfica, também ilustro assuntos que me preocupam. Ao representar mulheres abordo o feminismo, por exemplo. A sustentabilidade também é um assunto que me é próximo e considero importante a contribuição dos artistas para a divulgação destes temas. Lá está, consegues transmitir determinadas opiniões através das imagens, que se calhar não consegues através das palavras. É também uma forma da arte chegar até às pessoas, não sendo uma coisa tão elitista e exclusiva. Nessa ilustração tentei retratar a minha visão sobre a sustentabilidade e como seria se fossemos capazes de olhar para a Terra como algo que cuidamos e não apenas como um lugar que ocupamos. A figura humana presente na ilustração representa a natureza. Achei que, ao desenhar uma pessoa, haveria mais probabilidade de o público se identificar com ela e tivesse um pouco mais de empatia. As outras figuras pequeninas somos nós, no sentido em que cada um tem o seu papel. Estar lá, ocupá-la, mas sem ser de uma forma tão impositiva. É uma metáfora para a esperança.

Ilustração de Joana Mundana para o 7ºEncontro Nacional para a Justiça Climática

G. – Que outros temas procuras retratar nas tuas ilustrações?

J. M. – Gosto muito de desenhar as relações entre as pessoas. Na altura da pandemia procurei fazer algumas que representassem não só o momento que estávamos a atravessar, mas também as fases do meu dia a dia em casa com o meu namorado. Na ilustração “Em Casa” vês uma espécie de alçado azul com várias janelas e várias pessoas, cada uma a fazer a sua tarefa. É um bocadinho como a “Janela Indiscreta” do Hitchcock, sabes? Quem vê esta ilustração é como se estivesse a sentir um certo voyeurismo. Tenho a tendência para representar aquilo vejo, sejam as pessoas ou a arquitetura, por exemplo. Às vezes não tem de ser tudo tão pesado e não tem de haver uma mensagem específica a transmitir. Também faço ilustrações personalizadas que me são pedidas por clientes. Cheguei a conhecer um casal que me pediu para representar todo o seu percurso de vida desde que se conheceram até que emigraram para outro país. Consegui ilustrar tudo numa única composição e é isso que me fascina!

"Em Casa". Ilustração de Joana Mundana

G. – Ao representares histórias de sofrimento e superação, estás também a querer transmitir uma mensagem pessoal?

J. M. – Sem dúvida. Não só é uma mensagem pessoal como também quero que seja uma mensagem de esperança. Mesmo com os temas mais pesados. Nesta minha última exposição, “Ainda Estou Aqui”, tentei trazer algum sentido de humor que te possa fazer pensar: “olha, eu também me sinto assim”. Mas sim, acima de tudo são histórias de superação. Gosto de pensar na vida como um ciclo com várias fases que tens de ultrapassar. É uma mensagem pessoal, mas que considero necessária. Todas as minhas ilustrações acabam por ser uma metáfora para algo importante da nossa vida.

G. – És uma pessoa que tem tendência a procurar o lado bom e positivo, mesmo nas coisas pequeninas ou nos momentos negativos. Nos dias em que isso não é possível, como é que geres esses sentimentos?

J. M. – Tento procurar a minha rede de apoio externa. A minha rede de salvação. Tenho a mania de que sou muito independente e de que não preciso da ajuda de ninguém. Passo muito a imagem de que sou corajosa, mas nem sempre é o caso. Às vezes tens de assumir, a ti e aos outros, que as coisas não estão a correr bem. É preciso tempo e penso que o freelancing me ajudou a perceber isso. Entendi que nem todos os dias têm de ser superprodutivos, porque não somos robots, não é? As vezes também somos incapazes e não há mal nenhum nisso. Aliás, esses dias maus acabam por nos ser úteis no futuro. É bom que exista um certo espaço que te dê a oportunidade de sentires as emoções mais negativas. É o que te faz parar para pensar. Mas atenção, não me estou a referir à positividade tóxica, não nos podemos forçar a encontrar um lado positivo em tudo. Apenas temos de encontrar uma luz ao fundo do túnel e voltar a tentar.

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