Com abertura prevista para dia 29 de maio, a Feira Internacional de Arte Contemporânea ARCO Lisboa regressa à capital com novos prémios e entrada gratuita alargada "para atrair o público jovem".
Até 1 de junho, no edifício da Cordoaria Nacional, estarão presentes 83 galerias de 17 países, sendo 30 portuguesas e 53 estrangeiras, dando especial relevo às presenças de Espanha, Alemanha, Itália e Brasil.
A feira divide-se em três núcleos: o Programa Geral, com 61 galerias, Opening Lisboa - comissariado por Sofia Lanusse e Diogo Pinto - com 18 galerias, e "As formas do Oceano", núcleo comissariado por Paula Nascimento e Igor Simões, reunindo projetos centrados em África, a sua diáspora e outras geografias, em cinco galerias.
Este ano, a aposta no público mais jovem é clara. “Eles serão os artistas do futuro, os galeristas e também os colecionadores. E, para isso, é preciso partilhar com eles tudo aquilo que consideramos maravilhoso”, diz Maribel López, diretora do certame, em entrevista ao Gerador.
Outra novidade, este ano, será a atribuição de novos prémios, entre os quais o Prémio de Aquisição Museu de Arte Contemporânea Armando Martins (MACAM), lançado este ano na ARCOmadrid, e o Prémio Aquisição Coleção Studiolo -- Candela A. Soldevilla, da colecionadora espanhola. Além destes, mantêm-se o Prémio Opening Lisboa, o Prémio Fundação Millennium BCP para o Melhor Stand, e também as aquisições da Fundação ARCO e da Câmara Municipal de Lisboa. Esta última será na ordem nos 150 mil euros, segundo anunciado pelo Presidente, Carlos Moedas.
De acordo com a organização, nos últimos três anos, a afluência passou de 11 mil visitantes, em 2022, para mais de 13 mil, em 2023 e em 2024. Este ano a expetativa da organização é que esse número seja ultrapassado.
-Quais as novidades que podemos esperar na edição deste ano da ARCOlisboa?
Bem, as novidades deste ano concentram-se, sobretudo, nos projetos de cada uma das galerias, que pensam sempre num projeto especial para a ARCO Lisboa. Depois, na secção Opening Lisboa, onde participam 16 galerias, quase todas novas ou que participaram apenas no ano passado. Esta secção foi pensada para trazer sempre novos conteúdos à feira, com curadoria de Sofia Lanusse e Diogo Pinto. Isso é muito especial.
Por outro lado, a experiência na Cordoaria contará com novos espaços para tomar café, para tomar champagne, os fóruns e a própria experiência do espaço. Creio que será muito interessante. E também vamos convidar os jovens até aos 25 anos a virem gratuitamente durante as tardes de sexta-feira e sábado. Tudo isso parece-me uma excelente experiência em torno da arte contemporânea.
-Quais são as expectativas para este ano? Esperam uma participação superior às edições anteriores?
Esperamos muito interesse, de facto, por parte dos visitantes. Nestes últimos dias, quando já temos tudo preparado, muitas pessoas começam a dar-se conta, porque colocámos muito mais publicidade na cidade, também em Lisboa, e contactam-nos. Por isso, acredito que este ano vamos ter mais público, o que nos deixa muito entusiasmados.
Além disso, temos um programa de convidados da própria feira que também cresceu este ano. São 140 convidados, entre colecionadores internacionais, profissionais, diretores de museus e críticos de arte. O programa é maior este ano, sim.
-Há um maior foco nos jovens com a secção Opening, que já tinha mencionado. Porquê esta nova aposta?
Bem, realmente preocupamo-nos com a presença dos jovens, não só com o programa Opening, com o convite, mas também com as secções livres, dedicadas a artistas. Isto porque temos a certeza de que os jovens são o nosso futuro e, se conseguirmos que eles se conectem com a arte contemporânea, acreditamos que podemos aspirar a um futuro mais empático, onde nos escutemos mais e nos compreendamos melhor. Por isso é que a sua presença nos importa tanto.
Eles serão os artistas do futuro, os galeristas e também os colecionadores. E, para isso, é preciso partilhar com eles tudo aquilo que consideramos maravilhoso.
-Consideram que é importante dar estas oportunidades a novos autores, especialmente num contexto que é cada vez mais desigual?
Claro, é muito importante dar oportunidades aos artistas, especialmente aos jovens, através das suas galerias, para que possam continuar a fazer arte. Porque, claro, não se trata apenas de vender arte — quando se vende uma obra, o que se consegue é permitir que um artista continue a trabalhar. E as pessoas que têm ideias sobre arte não pertencem apenas a um contexto social específico.
Por isso, temos de tentar garantir que a maioria dos artistas possa dar forma às suas ideias. Como disse, neste contexto cada vez mais difícil e desigual, temos de gerar mais oportunidades. É por isso que a feira é importante, assim como as secções dedicadas aos jovens, para lhes dar espaço para imaginar todas estas ideias.
-Há um reflexo, na arte, destas novas divisões sociais? Deste extremar de posições políticas? Isso também se nota nas obras?
Bem, as obras de arte falam sempre do nosso presente. Normalmente não de forma tão explícita, ou talvez não expliquem diretamente, mas ajudam-nos a compreender ideias complexas.
Acredito que temas como a sustentabilidade, a violência, as questões de género e de raça estão muito presentes nos discursos dos artistas, mesmo que nem sempre de forma explícita. Sem dúvida, os artistas são aqueles que observam o nosso presente com um olhar mais crítico e profundo.
-Ou seja, no que diz respeito à curadoria, isso não é algo que seja tão tido em conta?
Não, porque no caso de uma feira, é algo muito específico. Não é uma curadoria no sentido temático tradicional.
Quando falamos de galerias jovens, falamos mais das suas formas de atuação — não tanto da origem dos artistas ou do conteúdo específico. Numa feira, a curadoria é diferente de uma exposição. São as galerias que trabalham com os artistas que estão a fazer estas investigações. Portanto, sim, isso estará presente, mas será necessário olhar com atenção.