Com apenas quatro singles lançados e um contrato com a Warner Music, Martim Alexandre leva-nos numa viagem pelo hip hop, afro pop e trap, sem pertencer a nenhum deles – “Eu faço música, não faço trap ou pop, faço música.”
Martim, ou Martim Alexandre, como se apresenta no mundo da música, e faz questão de diferenciar, tem 23 anos, mas desde que se lembra, a música está presente na sua vida, até em sonhos. Com 10 anos começou a aprender piano, depois guitarra, sempre influenciado e ensinado pelo seu pai que na altura estudava música e “sabia o que estava a ensinar”. Ter nascido com influências musicais, tanto da família como de amigos, e numa época em que partilhar música está à distância de um carregamento no YouTube ou Spotify, o jovem aspirante a músico começou a partilhar as suas músicas no YouTube. “Superstition”, de Stevie Wonder, “1 de abril”, de Plutónio, “See Fire”, de Ed Sheeran, “Let it go”, de James Bay, ou “Get Down on It”, de Kool & The Gang, são alguns dos temas que Martim, ao piano, partilhava sempre sem cantar por não se sentir à vontade, “porque achava que não sabia cantar”.
“No início não sabia muito bem o que ia fazer, não sabia cantar sequer, mas depois comecei a ver muita gente a gravar músicas e pensei, “se calhar até consigo fazer isto, deixa-me lá tentar”, e foi por aí, até hoje” – conta Martim ao Gerador, no entanto, o caminho de que Martim fala foi feito devagarinho, e começou entre amigos – “depois de perceber que queria cantar, decidi falar com um amigo meu, e fui gravar, o estúdio era num quarto, nada profissional, um microfone, uma câmara, tudo com pouca qualidade, mas achei que era o início de algo”.


No “estúdio improvisado” do amigo, a música foi fazendo cada vez mais sentido para Martim e decidiu dar o salto – “senti que precisava de dar o salto e aumentar a qualidade, então fui ao Instagram, comecei a fazer scroll e depois de alguma procura encontrei um estúdio, o Noiz, e fui lá gravar. No início foi muito estranho e lembro-me de chegar muito envergonhado, com medo de alguma coisa, mas o Tayob pôs-me logo à vontade e comecei a ganhar o gosto de estar num estúdio mais a sério”.
Estar num estúdio com um produtor fez aumentar o seu interesse por explorar outro instrumento – a voz –, e começou a pôr em prática o que aprendera em dois anos. Percebeu que “o canto é uma coisa que se pode praticar”, e entre as sonoridades que invadiam a sua criatividade e aquilo que queria mostrar ao mundo juntou a voz para falar sobre si e sobre o que vê no mundo – “Tento mostrar as origens que tenho, as minhas experiências e as dos outros. Quero, acima de tudo, transmitir sempre que devemos aproveitar a vida ao máximo, porque amanhã não sabemos se estamos cá”, conta.
De música em música, até à Warner Music
Provavelmente, quem ouvir Martim Alexandre sentirá um travo de hip hop, afro pop e trap. Questionado sobre se se encaixa em algum destes estilos, e se para si ainda faz sentido continuarmos a catalogar tipos de música, Martim Alexandre diz não se encaixar em nenhum – “Eu acho que depende de cada um, há artistas que só fazem trap, ou pop, eu particularmente não gosto de me inserir só num estilo, porque também não ouço só um estilo de música. Posso fazer afro, trap, pop, até hip hop, por isso não gosto de me inserir em nenhum, eu faço música, não faço trap ou pop, faço música, e essa é a diferença”.
Drake, The Weekend, Travis Scott, Plutónio, Richie Campell, Calema e Djodje são alguns dos cantores que estão na playlist do artista e que, “inevitavelmente” surgem como inspiração, mas surge também a “influência moçambicana e angolana”, e tudo aquilo que foi ouvindo ao longo da vida, por isso, o jovem diz que as suas músicas saem em “Modo Martim”, sendo “uma mistura de tudo”.
Martim é também um apaixonado, e diz, em jeito de brincadeira, que talvez seja porque nasceu em fevereiro, mês em que se celebra o dia dos namorados. Por isso, as músicas contam-nos experiências românticas, “gosto sempre de dar esse toque às minhas músicas”, desvenda, e em todas elas (nos videoclipes) faz questão de trazer os seus amigos – “Gosto de estar rodeado de boas energias, de pessoas que me apoiam na minha caminhada na música e que estão sempre prontas para curtir comigo. Dá-me mais confiança, sinto-me muito mais relaxado, e isso torna tudo mais natural.”
Em 2018 estreou-se com "Até ao Fim", e em 2020 voltou a mostrar ao mundo a sua arte com o single “Diz-me só”, uma música que transmite, a seu ver, “que cada um deve viver a vida como bem quiser, tomando as escolhas que considera mais acertadas para a sua vida”, para além disso “mostra a importância de termos aqueles que mais gostamos e nos apoiam ao nosso lado, durante a caminhada”. Depois, veio a “Lembrar de mim”, uma música mais “introspetiva”, na qual o músico expressa a sua necessidade de, por vezes, “abrandar, situar-me e continuar, isto porque, muitas vezes as nossas vidas são tão corridas e estamos sempre tão ocupados que acabamos por não ter tempo para olhar para nós próprios, a personagem principal da nossa vida”.
Recentemente lançou o single “Pecado” que, segundo o artista, “mostra uma maturidade diferente, um Martim mais sólido”, em comparação com os singles anteriores que mostram “um Martim mais cru, que estava a descobrir a sua sonoridade”. Acompanhando sempre todos os passos da sua música, o artista deixa o beat a cargo do seu produtor Tayo Juskow e guarda as letras para si – “Tudo o que lancei foi o Tayo que produziu, mas gosto de ajudar sempre, dar as minhas ideias porque também tenho a minha experiência a tocar instrumentos. Mas em relação às letras, gosto de ser eu a escrevê-las, porque acho que faz mais sentido, sinto mais quando estou a cantar, já vivi ou vi aquilo, fui eu que escrevi.” Foi juntamente com Tayo que decidiu também enviar as suas músicas para a Warner Music e, em outubro de 2021, foi chamado para assinar contrato.
“Eu saltei de um estúdio de quarto, com microfone, e computador, para um estúdio profissional. Não tenho muita experiência em estúdios, mas acredito que com trabalho tudo se consegue”, afirma o jovem músico da zona de Lisboa que depois de três singles lançados conseguiu um contrato com a Warner Music e uma visibilidade no mundo da música. Ainda assim, Martim não se deixa iludir e conta que, apesar de a Warner Music lhe dar outra visibilidade, o trabalho tem de partir de si, “porque se eu não fizer um trabalho bom, as pessoas não vão gostar e não vão ouvir, por isso acima de tudo, é importante fazer um bom trabalho, gravar boas músicas e evoluir a cada dia, o resto virá”.
Sobre as situações que já o marcaram ao longo da carreira, foi ver a evolução desde os vídeos no YouTube, até à Warner – “Tenho vindo a trabalhar bastante para tentar evoluir tanto na escrita e no canto, como a tocar piano e guitarra. Se ouvirem, por exemplo, a “Diz-me Só” e a “Pecado” podem observar que existe uma evolução na minha voz, na sonoridade, e na letra.
Ser jovem músico e o futuro
Questionado sobre ser tão jovem e já ter o seu nome associado a uma editora discográfica como a Warner Music, Martim justifica dizendo que “é tudo trabalho”. – “Acho que cada vez mais estamos a abrir portas enquanto jovens, temos a Nenny, o Julinho KSD, que já atingiram patamares que muitos artistas ainda não conseguiram atingir. É o que digo, com trabalho tudo se consegue. Não sinto resistência e acho que também se mede pelo trabalho e não pela idade, se o trabalho tem qualidade, as pessoas vão gostar e ouvir, não há esse entrave da idade.”
No seu percurso, e devido à situação pandémica, Martim ainda não teve oportunidade de subir a palco, mas já o sonhou muitas vezes, imaginando que “quando chegar o momento, acho que vou agarrar com força e oportunidade”. Sobre o futuro, Martim diz que ainda não tem ideia de lançar um EP, apenas desvenda que vai lançar “vários singles soltos”, sendo que o primeiro será já em janeiro – “Viciado”, um som de amor, porque “quem é que nunca foi viciado num amor?”