fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Sandra Baldé

No meu tempo, quando havia um ranking de popularidade PALOP

Nas Gargantas Soltas de hoje, Sandra Baldé reflete sobre culturas africanas, estereótipos de beleza e autoestima.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Trends do Tik Tok, eu, e uma série da Netflix - Colin em Preto e Branco. Estes três elementos poderiam não ter nada a ver uns com os outros, se a pauta da (des)padronização de beleza não os atravessasse em simultâneo. 

Trabalho com a internet há 10 anos e há mais de 15 anos que consumo conteúdos nas redes sociais. E posso dizer sem medo que nunca presenciei uma celebração tão audível e tão bonita das culturas africanas. Pelo Tik Tok fora, são várias as trends criadas por jovens que não só evidenciam as músicas maravilhosas (antigas e recentes) que se produzem em vários países do continente africano como a República Democrática do Congo, África do Sul, Gana, Nigéria; bem como vários outros elementos culturais - a comida, os lugares característicos, situações típicas, a língua… ah, a língua!

No meio disto tudo, fascina-me ainda mais que este movimento tenha influenciado os PALOP. Sou suspeita para falar, pois foi com esta comunidade que eu cresci. E sentir esta transição de “vamos anular as nossas identidades para sermos mais agradáveis ao palato padrão branco” VS “vamos enaltecer as nossas raízes porque não há nada mais valioso do que isso” abraça-me o coração e descansa a minha mente. E não posso deixar de comentar o quão vaidosa fico  ao sentir que finalmente as pessoas enxergam a Guiné Bissau. Sinto que, para além do que já falei, temos demonstrado a nossa excelência em tanto. Na música, no desporto, no empreendedorismo… os guineenses são de uma valentia, inteligência e potência enormes. E somos lindos. A nossa pele caracteristicamente retinta é tão bonita. O nosso crioulo é lindíssimo e cheio de personalidade.

No meu tempo de escola, havia um ranking de popularidade entre os PALOP. Nesse ranking, os cabo-verdianos e os angolanos disputavam o primeiro lugar. De seguida, vinham os moçambicanos e os santomenses. No final do ranking, estávamos nós, os guineenses. Isto porque éramos considerados os mais feios - éramos os mais escuros, o nosso cabelo era o mais rijo, o nosso crioulo o mais esquisito. Estávamos todos muito embebidos na narrativa do colorismo e era assim que achávamos que as coisas tinham que ser.

Isto influenciou bastante a minha autoestima e a minha relação com o meu background cultural, que não foi nada feliz. Foram necessários anos para mudar esta percepção. Vivi demasiados anos a detestar a minha pele preta escura. 

“Preta azulada.”

Costumo dizer que no verão fico “preta azul”, de tão bonita e brilhosa que a pele fica nesta altura do ano. Ouvi esta expressão de forma pejorativa pela primeira vez na série que estou agora a acompanhar - “Colin em Preto e Branco”. Um dos episódios da série centra-se em Colin (um rapaz birracial) e o seu interesse amoroso, Cristy, uma menina negra que é hostilizada pelos amigos e pelos pais adotivos de Colin (que são brancos). Hostilizada porquê? Porque Cristy, uma menina negra e periférica jamais poderia ser um bom partido para Colin, aos olhos de uma sociedade racista. Este episódio deixou-me particularmente desconfortável, porque apesar de ser ficção, retrata a realidade de forma muito honesta. Mais uma vez, o negro a ser questionado - ora é a sua inteligência, ora é a sua índole, ora é a sua beleza. 

Séries como estas são necessárias porque denunciam o que está mal e o que precisa de mudança. E a luta de um movimento pode acontecer de várias formas. Quando eu vejo jovens negros tão comprometidos a fazer diferente, sinto que há esperança. Está a construir-se uma geração de miúdos e miúdas negras orgulhosas, munidas de muito amor próprio e amor às suas identidades.

-Sobre Sandra Baldé-

Escritora, DJ, e empreendedora digital, começou o seu percurso no digital em 2013 com o blog Diário de uma Africana, uma plataforma voltada para discussões raciais & de género e para autocuidado de pessoas negras. Em 2021 autopublicou o seu primeiro livro intitulado "Para Que Fique Bem Escurecido" cujo enredo gira em torno dos desafios da mulher negra num país maioritariamente branco. 

Texto de Sandra Baldé
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

10 Setembro 2025

No gerador ainda acreditamos no poder do coletivo

3 Setembro 2025

Viver como se fosse música

27 Agosto 2025

A lição do Dino no Couraíso

13 Agosto 2025

As mãos que me levantam

8 Agosto 2025

Cidadania como linha na areia

6 Agosto 2025

Errar

30 Julho 2025

O crime de ser pobre

23 Julho 2025

Às Escolas!

16 Julho 2025

Podemos carregar no ”Pause” e humanizar?

9 Julho 2025

Humor de condenação

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0