fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Carmo Gê Pereira

O cu é lindo! #AnalAugust

Nas Gargantas Soltas de hoje, Carmo G. Pereira desmistifica o sexo anal.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Para quem gosta de jogos de palavras e hashtags fáceis, partilho a que circulou este agosto por aí!

Como correu o vosso #AnalAugust (em português Agosto Anal)?

A universalidade do ânus faz dele lugar de reinvenção e vivência sexual privilegiado.

Este orgão rechaçado, fonte de tabu, ligado ao sujo e proibido e, ao mesmo tempo, fonte de obsessões numa sociedade cada vez mais cu-centrada, as nádegas, cheias, redondas, musculadas quanto baste que mais que nunca são parte do corpo, enquanto objecto de desejo a atingir. Reflexo disso são os dados que mostram uma procura crescente em práticas anais pelo público heterossexual de sites de pornografia, a par com o crescimento nas cirurgias cosméticas, que vão do adelgaçamento, enchimento das bochechas ao branqueamento do seu centro e da procura e produção de brinquedos anais e guias para a prática pelo mercado de sex shops.

Uma obsessão que vale para todos, com pegging a prometer-se mercado como uma das novas trends sexuais há muito adiadas, mesmo perante a resistência de uma sociedade que consagra a maior castração feita ao homem cisgénero heterossexual onde o ânus deixa de ser uma possibilidade e passa a ser um órgão excretor, como privilégio e marca de uma masculinidade tóxica.

Neste desafio e, em muitos outros, escapa à retórica de diferença de género ao mesmo tempo que escapa à função “natural” do sexo como reprodutivo ao mesmo tempo que permite abandonar a díade pénis-vagina. É o primeiro passo para a deginitalização do prazer, ainda sujeito à lógica do penetrador e do penetrado, embora ao mesmo tempo se coloque como uma metáfora, embora redutora, da permeabilidade do corpo. O acto de ser penetrado como acto de permissão à vulnerabilidade. E vemos aqui de novo primazia do penetrador em masculinidade, começa-nos a parecer que, na verdade, o problema não é de quem é penetrado, mas quem penetra. Uma construção redutora de uma sexualidade entre activo e passivo remete-nos sempre para um binário demasiado próximo do masculino - feminino, em que o acto sexual é uma re-encenação sem fim de um acto de posse, como se fosse impossível deslocarmo-nos desse modelo cis-sexista, binário e sexista.

Um cu, contendo em si a capacidade libertadora de dar prazer independente do género, da orientação sexual e da anatomia reprodutiva, pode-nos libertar deste predicado, perante o uso das próteses, e a liberação de um corpo bio para um corpo tecnoformado.

O pegging é assim o acto de alguém que não é homem penetrar um homem, com um strap-on, ou cinto com dildo, vibrador, num acto de re-encenação orgânico, de mãos livres, onde se põe em jogo práticas, não orientações.

Estatísticas apontam que 40% da população sexualmente activa já experimentou algum tipo de brincadeiras anais e que de 20 a 25% da população em relações heterossexuais já tentaram sexo anal.

Qualquer acto sexual ultrapassa o aspecto fisiológico e é vivido como uma experiência física, emocional e psicológica. O sexo anal não será excepção. Os tabus que ainda rodeiam esta prática relegam-na muitas vezes para um campo de determinada intimidade entre parceiros que poderá contribuir para uma maior entrega. O facto de ainda ser encarado como uma prática não normativa (cada vez menos), embora continue a ser penetração, podem torná-la em ainda mais excitante, como se fosse uma nova e para alguns “proibida” fronteira a ultrapassar. Também à prática anal está associado um sentimento de maior vulnerabilidade e permeabilidade. E sendo uma prática para a qual se espera atenção e cuidado de ambos os intervenientes, a satisfação está quer nos factores fisiológicos quer no cenário mental e emocional em que se exerce.

O cu, que vem de nascimento em quase todos nós (1 em cada 5000 crianças nascem sem orifício anal ou com o mesmo bloqueado) é lugar de piadas, palavra em mil expressões, caso para dizer que andamos sempre com ele na boca.

No entanto, práticas orais como o rimming ou anilingus são pouco faladas e já bastante feitas. Curiosamente, embora seja uma prática bem prevalente em pessoas LGBT e haja relatos de prevalência em mulheres heterossexuais, como receptoras, mais uma vez o cu dos homens heterossexuais é pouco molhado! Deixemo-nos de pudores e aproveitemos, que toda a gente tem cu para o prazer!

O ânus, este órgão sem género, tem uma estrutura igual em todos nós. E como a Adélia Prado diz, o cu é lindo.

-Sobre Carmo G. Pereira-

Carmo Gê Pereira é/tem um projeto português ligado à sexualidade com workshops, formações e tertúlias, sessões de cinema, ciclos de eventos e aconselhamento sexual. Atua de forma ativista paralelamente. Assumidamente LGBTQIA+, sex-positive de forma crítica tem-se destacado como: formadora de educação não formal, educadora sexual para adultos, na área do aconselhamento sexual não patologizante, expert em segurança, recomendação e utilização de tecnologias para a sexualidade. Formada em sexologia e doutoranda do Programa Doutoral de Sexualidade Humana da FCEUP, FMUP e ICBAS. Mais informação em www.carmogepereira.pt

Texto de Carmo G. Pereira
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Publicidade

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

28 Maio 2025

Às Indiferentes

21 Maio 2025

A saúde mental sob o peso da ordem neoliberal

14 Maio 2025

O grande fantasma do género

7 Maio 2025

Chimamanda p’ra branco ver…mas não ler! 

23 Abril 2025

É por isto que dançamos

16 Abril 2025

Quem define o que é terrorismo?

9 Abril 2025

Defesa, Europa e Autonomia

2 Abril 2025

As coisas que temos de voltar a fazer

19 Março 2025

A preguiça de sermos “todos iguais”

12 Março 2025

Fantasmas, violências e ruínas coloniais

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0