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Ovar Expande: ser cantautor para lá das convenções

Concertos, masterclasses e conversas voltaram a preencher a Escola de Artes e Ofícios de Ovar na sexta edição do Ovar Expande, que de 14 a 18 de outubro trouxe à cidade o universo dos cantautores

Texto de Redação

Manel Cruz

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É na antiga fábrica de papel de Ovar, sobre a margem do rio Cáster, ladeada de campos verdes, que um heterogéneo cartaz musical se apresenta. Nomes consagrados como Manel Cruz e The Legendary Tigerman partilham o espaço com artistas emergentes como MaZela e IBSXJAUR.

O concerto inaugural, a 16 de outubro, será de MaZela, mas antes disso Maria Roque (a artista por detrás do nome) junta-se a Manel Cruz e a Fernando Alvim para uma das conversas da programação: um episódio do programa Prova Oral, da Antena 3, gravado ao vivo na Sala Galeria, onde MaZela tocará a seguir.

Manel, 51 anos celebrados neste dia, traz um repertório recente misturado com uma viagem a Foge Foge Bandido. Maria, 27, apresenta o seu álbum de estreia. Apesar de estarem em pontos diferentes da vida e da carreira, nem tudo é distância. Manel é pai de gémeos, Maria tem uma irmã gémea. Ambos partem de pontos similares no ato da composição musical: “Quando escrevo um poema, esse poema já tem de ter uma musicalidade”, diz Manel a Fernando Alvim. Para Maria, o poema também tem de valer por si, com a música a dar “uma caminha” à letra. Ambos têm posições ambivalentes em relação às redes sociais. Maria reconhece-lhes o lado bom de fazer a música chegar a muita gente mas considera ter-se chegado a um ponto de excesso de informação. Manel também reconhece o lado da democratização, mas considera que imprimiram um caráter de urgência às pessoas.

Respondendo à curiosidade de um ouvinte da plateia sobre o processo criativo, Maria Roque assume-se “fã das notas de telemóvel”, porque as ideias lhe surgem em qualquer lugar. Mas nem por isso são pouco maturadas. Em entrevista ao Gerador ainda antes da gravação do episódio, a artista partilhou um pouco do processo que a levou ao álbum de estreia, “Desgostos em Canções de Colo”, com algumas músicas a começarem a ser trabalhadas seis anos antes do lançamento. Para além de ser o primeiro álbum, foi integralmente gravado em casa. Maria começou a compor sozinha, mas pelo caminho encontrou Alex, agora seu companheiro e também guitarrista e produtor do projeto. As coisas foram surgindo de forma orgânica e ultrapassando as expectativas da artista: “Eu gostava de fazer canções, nem sequer me imaginava a tocá-las num palco”, revela ao Gerador.

MaZela (Câmara Municipal de Ovar)

A conversa com Fernando Alvim terminaria com um momento musical, mas não foi protagonizado por nenhum dos dois músicos. Seria Eurico Silva, desafiado por um ouvinte sabedor da sua presença na plateia que ligou para o programa, a fechar a conversa. Eurico criou o conceito do bandopipo, o instrumento protagonista da exposição “Da Aduela ao Brinde”, patente na sala onde a Prova Oral acabara de ser gravada. O nome é auto-explicativo: o cordofone foi criado a partir de um pipo e pensado para dialogar com a família do bandolim, numa união entre música e tanoaria. E foi dessa união que Eurico Silva fez sair os primeiros acordes da suíte número 1 de Bach, desta vez não para violoncelo, mas para bandopipo.

Se Maria Roque começou a compor de forma solitária, num exercício de vulnerabilidade que perpassa o desgosto e a dor, Manel Cruz começou por ter “as costas quentes da banda”, como descreveu em entrevista ao Gerador. Depois de Ornatos Violeta, Foge Foge Bandido, Pluto ou Supernada, a estreia em nome próprio aconteceria em 2019 com o álbum Vida Nova, e aí inaugura-se “uma faceta mais exposta e mais frágil”, conta. A transição seria uma mistura entre as duas dimensões, já que, quando começou a tocar a solo, tinha poucas músicas pensadas para aquele formato: “Aquilo soava-me sempre àquelas músicas à fogueira em que as pessoas tocam uns acordes e cantam, mas em termos do som, do ambiente que instalava na sala, era uma coisa mais de revisitação das músicas em si do que propriamente do som que se instalava”. Com o Vida Nova, a composição já é pensada para voz e guitarra.

Mas a vida em banda não acabou. Os Ornatos continuam a juntar-se ocasionalmente, em concertos que atraem gerações diferentes, e os Pluto celebram este ano o vigésimo aniversário do álbum “Bom dia” - ainda haverá concerto a 5 de dezembro, no Capitólio, em Lisboa, e a 12 de dezembro, no Hard Club, no Porto.

Como pano de fundo destas décadas na música, o STOP. O histórico centro comercial do Porto convertido em salas de ensaios onde vários músicos coabitam é casa para Manel Cruz que, além de lá ensaiar, foi presidente da associação Alma STOP. Vê o STOP como um caso de persistência e de resistência: “Um serralheiro ou um carpinteiro não têm um escritório com um computador, têm máquinas que fazem barulho, têm um horário para trabalhar, e com os músicos é a mesma coisa, têm de ter uma hora para trabalhar e mesmo assim há um nível de decibeis permitido. O STOP permitia isso, e com rendas acessíveis”, resume o músico sobre aquele sítio “peculiar” que, para já, resiste.

Residência artística: trazer a comunidade local para o evento

O segundo dia de concertos e quarto de Ovar Expande traz a apresentação da residência artística de Bia Maria (nascida Beatriz Pereira) com um coro local. O formato de residência não é novo - já tinha sido experimentado o ano passado com a artista ovarense Laura Rui, que habitualmente se apresenta a solo mas, no contexto da residência, trabalhou pela primeira vez em banda. Desta feita, seria a vez de Bia Maria, que trouxe ao Ovar Expande o seu álbum “Qualquer um Pode Cantar”, trabalhar com um coro local. O objetivo era que a própria comunidade local fosse “protagonista do evento”, explica ao Gerador Licínio Pimenta, Chefe da Divisão de Cultura e Desporto da Câmara Municipal. O convite foi aberto a qualquer pessoa, mas foram várias as pessoas com experiência musical a participar.

Bia Maria e o coro local (Câmara Municipal de Ovar)

Pouco antes de subirem ao palco, algumas das mulheres deste coro predominantemente feminino contaram ao Gerador as suas motivações para responder à chamada. Manuela Branco e Theresa Jorge integram um coro de professores que tem estado a trabalhar com Laura Rui, e foi a cantora a informá-las da possibilidade. “A Bia é uma simpatia. Diz sempre que está tudo bem mesmo que não esteja”, resume Manuela Branco. Manuela Marques, que já frequentou o coro da Universidade Sénior, alinha: “Passa-nos uma energia muito positiva, está sempre a dizer que somos o máximo”. A integrante do coro aprecia o “aconchego” transmitido pela música de Bia, aliado à vertente de intervenção, como acontece em “Marcha da Paridade”, a única música que Ana Vital conhecia antes de entrar na residência. “Agora já conheço mais músicas e são todas muito bonitas”, declara ao Gerador a integrante do coro “Suspiro”, nascido no Orfeão de Ovar. Apesar dos elogios ao disco de estreia, Bia Maria, que também dá aulas, quer continuar a trabalhar em conjunto: “Sempre que vamos a uma região nova”, [tentamos] trabalhar com vozes desse lugar”, conta ao Gerador. E quer continuar a conciliar os mundos: “O processo de escrever, só por si, já é tão solitário que depois preciso de compensar com o outro lado, por isso acho que vou sempre continuar a fazer um bocadinho das duas coisas”. A partilha prosseguiria no palco da Sala Expande, outrora ala de secagem da antiga fábrica de papel. Durante uma hora, ora a solo, ora acompanhada pelo coro, Bia foi partilhando as histórias por detrás de músicas como “Para o Joaquim”, um alerta para a necessidade de cuidarmos do planeta. Pelo meio, vai avisando que a sua música é melancólica, por isso “sai tudo dos concertos para o psicólogo”, brinca. “Tenho o nariz entupido por palavras que alguns já não merecem”, canta em “Lenço de Papel”. O público mantinha-se tímido, mas Bia foi puxando e acabaria por conseguir levar a assistência a alguma interação.

As formações e as conversas constituem também eixos de programação, e este ano Luca Argel e Carlos Tê orientaram masterclasses sobre composição, em diálogo com o tema do evento, os cantautores. Mas este formato só começou na terceira edição, quando o festival transitou dos meses de verão para outubro e se começou a pensar mais a sério na expansão para as outras artes, conforme explicou ao Gerador Gilberto Godinho, produtor executivo do Ovar Expande. As duas primeiras edições consistiam em concertos de 15 em 15 dias a preencher os meses de julho e agosto. Daí, passou-se para uma dinâmica mais condensada, mas simultaneamente aberta a momentos extra-concerto.

Compor para nós…

Ela Li (nome artístico de Rita Laranjeira) também vem pronta para a partilha quando sobe ao palco para apresentar o seu primeiro disco a solo, Choradeira, e, apesar de muito feliz, confessa-se também “aterrorizada” por regressar ao palco após um ano de paragem e dedicação a tempo inteiro à maternidade, uma experiência que descreve como um “tsunami”. “Este ano fui só a Rita, nem Laranjeira, só a Rita mãe. Só agora é que estou a voltar a mim”, dirá ao Gerador antes do concerto e depois de partilhar uma conversa com Afonso Cabral, moderada por Gilberto Godinho. Apesar deste ano de afastamento, Rita, que antes do projeto a solo já tinha trabalhado com bandas, tem muita vontade de voltar à música, e confessa ao Gerador ter o telemóvel “cheio de anotações”.

Apesar dos receios, Choradeira é um álbum sobre dor e tristeza que obriga a cantora a um exercício de exposição: “É o ciclo das emoções pelas quais nós passamos, de dor, de perda, de tristeza, da felicidade, do apaixonar, depois outra vez do abandono, do sentir que não pertencemos a um lugar, do adeus”. Mas é uma exposição apenas parcial, na medida em que todos podemos rever-nos nessas emoções. Para Rita, é uma estratégia: “Cheguei à conclusão que faço isso, e agora, pensando na fotografia [outra área a que também se dedica], sempre me senti melhor atrás da câmara do que a ser à frente, e quando estou à frente arranjo sempre uma desculpa para não ser só sobre mim”, reflete.

Ela Li (Câmara Municipal de Ovar)

…e para outros

Embora oriundo de um universo musical muito distinto, Afonso Cabral usa estratégias similares. Há muita coisa que se coíbe de dizer quando escreve para si próprio, mas quando escreve para outros intérpretes, há amarras que se libertam, conforme explicou na conversa com Gilberto Godinho.

Depois da experiência com os You Can’t Win, Charlie Brown, cantar a solo começou por ser um desafio, de perceber como soa a música que sai só de si, ainda que sem desvalorizar o input dos músicos que trabalham consigo. Mas na banda, a decisão é muito mais partilhada, diz ao Gerador. A relação com o público também muda: “Acabo por me apresentar num formato muito intimista e despido e nesses contextos o contacto com o público é muito diferente. Porque é sempre muito mais próximo e há uma conversa muito mais direta”, conta.

Mas em boa verdade, o álbum Demorar, que levou ao Ovar Expande, não é inteiramente a solo. A música que dá nome ao álbum é um dueto com Manuela Azevedo. “Não pensei em mais ninguém”, diz ao Gerador sobre a escolha da vocalista dos Clã. Num exercício um pouco diferente, Afonso também convidou o músico japonês Shugo Tokumaru para cantar um trecho do tema “Confusão”. “Tinha vindo de estar no Japão, a tocar com o Bruno Pernadas, e pensei que adorava ter alguém japonês a cantar neste disco, e foi a primeira pessoa em quem pensei”, relata ao Gerador. No palco da Sala Expande, a passagem em japonês foi assegurada por Inês Sousa, que participa no disco com coro e pandeireta.

Desafiar o conceito de cantautor

O último dia do Ovar Expande traria uma das propostas mais disruptivas do cartaz: IBSXJAUR. A dupla, que acaba de lançar o álbum Sanity, resulta da fusão de dois músicos com percursos próprios - IBS (INFRABASSESATURE) e JAUR. Conheceram-se em França, no final de 2021, e começaram a trabalhar em conjunto em 2022. Não é só o nome que é uma fusão: a proposta musical funde techno, hyperpop e drum and bass. “Eu sempre adorei a música híbrida, sempre gostei muito de hip hop, trap, e muito de música eletrónica”, conta ao Gerador Júlia Aurora (JAUR).

O início do percurso parecia precário - começaram apenas com um computador e um microfone - mas isso não foi uma limitação criativa. Gostam muito do seu processo de trabalho e sentem-se muito confortáveis com o método, por isso mantêm a lógica, ainda que agora, afiança-nos Júlia, já tenham um computador melhor. E apesar de ser o terceiro ano de vida do projeto, a identidade já está consolidada: “Estamos mesmo a chegar ao ponto mais definido da nossa música e da nossa identidade, mas claro que aceitamos todas as experiências que temos na vida”, resume Júlia.

IBSXJAUR (Câmara Municipal de Ovar)

Fusão é também uma palavra importante para definir a música de Lana Gasparøtti. A pianista luso-croata trouxe ao Ovar Expande o seu disco de estreia a solo, Dimensions, uma mistura de jazz, hip-hop, drum and bass e eletrónica. Desde pequena que ouve vários estilos de música, por influência dos pais, e agora a ideia era criar algo que lhe agradasse enquanto ouvinte, conta ao Gerador. Licenciada em jazz, procurou aliar essa base aos outros estilos que gosta de ouvir. Apesar de o disco ter “várias Lanas”, a cantora afirma já ter encontrado ali uma identidade, embora se mantenha aberta a transformações. Depois de ter tocado em várias bandas, queria colocar-se à frente e fazer algo que sentisse como seu, ainda que tenha também os inputs criativos dos músicos que trabalham consigo.

A noite (e o Ovar Expande) encerraria com o público pela primeira vez em pé na Sala Expande, para ouvir The Legendary Tigerman. Antes do concerto, Paulo Furtado participou no podcast Dedo Invisível, do Gerador, onde falou do início da sua carreira, da relação com as redes sociais e os algoritmos e da recente experiência da paternidade.

O último dia do Ovar Expande também funcionou, para Gilberto Godinho, como desconstrução “da ideia preconcebida do que é o cantautor”, com sonoridades e linguagens diferentes do que nos habituámos a associar ao conceito. Para Licínio Pimenta, o evento não tem de ter “gavetas demasiado estanques”, embora deva ter um fio condutor, que este ano passou por mostrar propostas de artistas que escrevem aquilo que compõem, de forma mais tradicional ou mais arrojada.

Juntar nomes consagrados e artistas emergentes é um desafio, mas também um propósito, sobretudo num espaço democratizado onde não existe um palco principal e um palco secundário. Embora a Sala Galeria acolha tendencialmente os lançamentos de álbuns, isso pode ser alterado se a gestão logística assim o determinar, como aconteceu com Lana Gasparøtti.

Para Licínio Pimenta, este não deixa de ser também um momento de atração de novos públicos a Ovar, que não venham apenas pelo turismo de verão: “Quem veio, sobretudo às últimas três, quatro edições, conhece o espaço, conhece o ambiente e confia na programação. É um público com sentido crítico, e isso também é bom para nós”.

Texto de Cátia Vilaça
Fotografias: Câmara Municipal de Ovar

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