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Pata d’Açúcar: salvar animais abandonados para ajudar pessoas diabéticas

A Associação Pata d’Açúcar, criada em 2016 pelo militar Nuno Benedito, tem como missão resgatar cães de abrigos para animais abandonados e prepará-los para virem a ser cães de alerta médico de pessoas com diabetes tipo 1. Com este projeto, torna-se possível reforçar a vigilância, permanente, da oscilação dos valores de glicemia a que uma pessoa com diabetes está sujeita, ao mesmo tempo que se dão novas oportunidades e uma nova família a cães abandonados.

Texto de Mariana Moniz

Cadela LOLA com a colaboradora da Pata d’Açúcar, Vânia Madeira. Créditos: EDfotografia

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Em 2015, Nuno Benedito, militar há mais de 25 anos, foi desafiado por uma pessoa com diabetes tipo 1 para que recorresse à sua experiência na área da cinotecnia, mais especificamente na vertente da deteção à base do olfato, e treinasse o seu cão para o ajudar no controlo da doença. Tendo a experiência sido positiva, Nuno Benedito decidiu usar a sua prática para treinar outros cães para serem animais de alerta médico.

Assim surge a Pata d’Açúcar, em dezembro de 2016, destinando-se a “selecionar e resgatar cães de abrigos para animais, cuidar, treinar e prepará-los” para ajudarem pessoas com diabetes tipo 1 no controlo e vigilância das suas glicemias.

De acordo com os dados da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV), em 2020, “foram recolhidos 31 339 animais errantes, abandonados, vítimas de maus tratos, ou outros”. Por sua vez, de acordo com o relatório do Grupo de Trabalho Para o Bem-estar Animal da DGAV (GTBEA) do mesmo ano, entre outubro de 2014 e junho de 2020, a Procuradoria-Geral da República registou 12 790 inquéritos pela prática de crimes contra animais de companhia, sendo 9543 pela prática de maus tratos e 3247 por abandono.

Por outro lado, o Relatório Anual do Observatório Nacional da Diabetes de 2019, referente às estatísticas dos anos de 2016, 2017 e 2018, indica que a prevalência estimada da diabetes na população portuguesa, com idades compreendidas entre os 20 e os 79 anos (7,7 milhões de indivíduos), foi de 13,6 %. Isto é, mais de 1 milhão de portugueses neste grupo etário foi diagnosticado com a doença. Salienta-se ainda que, em 2018, a diabetes “representou cerca de oito anos de vida perdidos por cada óbito pela doença na população com idade inferior a 70 anos”.

As causas da diabetes tipo 1 não são, ainda, plenamente conhecidas, porém, sabe-se que a doença é mais frequente em crianças e jovens. De acordo com a Associação Protetora de Diabéticos de Portugal (APDP), na diabetes do tipo 1, “as células do pâncreas deixam de produzir insulina, pois existe uma destruição maciça destas células”. Assim, estes doentes passam a necessitar de terapêutica com insulina para toda a vida.

Entre os sintomas da diabetes tipo 1, destacam-se: emagrecimento rápido; dores de cabeça, náuseas e vómitos; urinar com frequência; aumento da sede e da fome; e sensação de fadiga e dores musculares. Estes sintomas são causados pelas quantidades de açúcar no sangue. Quando a glucose permanece no sangue e a glicemia aumenta, dá origem à hiperglicemia. Se, por outro lado, houver uma diminuição dos níveis de açúcar no sangue, o indivíduo entra em hipoglicemia. Para que estas situações não ocorram, o doente deve controlar os seus valores de glicemia com frequência.

Em casos de hipoglicemia, a pessoa pode sentir dificuldades em raciocinar, tremores, palidez, palpitações e, em casos mais graves, pode sofrer convulsões, perda de consciência, ou até mesmo entrar em coma. Já no que diz respeito à hiperglicemia, esta condição pode causar cansaço, visão turva, sensação de boca seca, entre outros sintomas. Porém, tal como explica Antónia Saraiva, enfermeira e vice-presidente da Pata d’Açúcar, “estes pacientes deixam de sentir os sintomas ao longo dos anos, acabando por não vigiar os seus níveis com a frequência que deveriam”.

Aqui entra o trabalho da Pata d’Açúcar e dos seus animais. Sediada, provisoriamente, no Seixal, a Pata d’Açúcar treina os seus cães para conseguirem detetar variações ou baixas de glicemia, alertando depois o diabético com a emissão de um sinal.

No final de cada ano, abrem-se as candidaturas para as famílias que desejam ter um cão de alerta médico. Uma vez selecionado, cada agregado familiar do candidato tem de realizar uma entrevista presencial com a Pata d’Açúcar, na qual estão presentes médicos, enfermeiros, uma advogada e os treinadores.

Assim que as famílias estão escolhidas, o Departamento de Formação e Treino, juntamente com o Departamento Veterinário da Associação, desloca-se aos abrigos para animais abandonados e resgata-os, para depois os atribuir às respetivas famílias. Assim que são salvos pela Pata d’Açúcar, estes animais nunca mais voltam a entrar num canil e são testados, “exaustivamente”, para que se saiba se têm as características necessárias e se se encontram bem de saúde. Para tal, são realizados doze testes práticos, em que o animal deve ter um aproveitamento de 100 %. Entre as características preferidas, Nuno refere que “o cão deve ter uma elevada capacidade social, uma capacidade de foco e olfativa acima da média e, ainda que não seja obrigatório, ser de porte médio e ter pêlo curto a médio”.

Os cães resgatados pertencem à Pata d’Açúcar, que nunca deixa de ser o detentor permanente do registo do animal até ao fim da sua vida. Após um ano, quando dão o trabalho como concluído – “que, na verdade, nunca é concluído, pois estamos sempre a monitorizar o cão”, salienta Nuno – é celebrado um contrato de tutela entre a família e a Pata d’Açúcar. Deste modo, a Associação cede a tutela do animal mediante um contrato, em que a família é obrigada a manter o seguro de responsabilidade civil e todos os cuidados do animal. “À mínima suspeita de maus-tratos, o cão é retirado da família e é apresentada uma queixa.”

Assim que o cão entra na vida da família selecionada, “o primeiro passo é adaptar o animal ao novo ambiente e as pessoas ao novo animal”. Este processo tem a duração aproximada de 15 dias a um mês. A partir daí, começam os treinos de estimulação olfativa. “É um trabalho participativo, em conjunto com as famílias”, descreve Nuno.

Ao longo do primeiro ano de adaptação do cão, todo o programa é gratuito para a família selecionada, incluindo os treinos, cuidados veterinários, alimentação, entre outros aspetos. Contudo, o presidente frisa que “tem de haver um sacrifício de parte a parte. Quer dizer, a família só tem de se deslocar, pelo menos, duas vezes às nossas instalações – uma para a entrevista e outra para vir buscar o cão – a partir daí, as deslocações são quase todas da Pata. É um trabalho muito minucioso, que requer dedicação e paciência que muitos não têm ou percebem”.

Para além dos departamentos acima referidos, a equipa da Pata d’Açúcar é constituída por uma direção, presidida por Nuno e Antónia, órgãos auditores, como o Conselho Fiscal e a Assembleia Geral, um Departamento Científico, um Departamento de Investigação e Análise, uma provedoria de associado, constituído por uma engenheira zootécnica e diabética tipo 1, um Departamento Jurídico e uma assessora de imprensa. Paralelamente, existem as FAT (famílias de acolhimento temporário). Quando a associação precisa de impulsionar tecnicamente o cão, e as famílias oficiais não têm tanta experiência prática como é necessária, as FAT ficam com o animal durante a sua formação. É o caso de Nuno Moniz, diabético tipo 1, FAT na Pata d’Açúcar deste 2019, e agora também beneficiário da associação e dos seus serviços.

Tem 33 anos e trabalha na área do marketing digital. Foi diagnosticado com diabetes aos 15 anos e admite que, “ao início, não sabia bem de que se tratava”. Porém, com o avançar dos anos, Nuno Moniz aceitou bem a sua doença.

Conheceu a Pata d’Açúcar através de um outro diabético, seu conhecido e colaborador da associação, que, na altura, já era tutor de um dos cães de alerta médico. Esse mesmo colaborador, é o dono de uma ótica, parceira da Pata d’Açúcar e que costuma patrocinar alguns cães para que os treinos não tenham custos para o tutor. Mais tarde, Nuno Moniz quis tornar-se FAT em 2019. Um ano depois, conheceu a Estrela, uma cadela que havia sido resgatada da Instituição Bianca.

Quando lhe “calhou” a Estrela como cadela para Nuno treinar enquanto FAT, os dois fizeram “o match perfeito”. Decidiu então candidatar-se para poder ser o tutor da cadela. No início de 2020, Estrela entrou oficialmente na vida de Nuno, e o mesmo tornou-se seu tutor.

Tal como nos explica, “ser FAT é estar disponível para este tempo de treino. Não só para desenvolver o alerta médico, mas também as competências sociais do animal”. Estas famílias de acolhimento não têm de ser, obrigatoriamente, diabéticas. Os cães, por sua vez, ficam entre 7 a 8 meses com as FAT e vão trocando de família para poderem adaptar-se a diferentes ambientes e não se apegarem a uma determinada família. Normalmente vão alternando de família de duas em duas semanas. “Como vivo num meio mais urbano, gosto de trazer os cães para o parque para os treinar e ensiná-los a perder determinados medos, como atravessar a estrada com barulho ou a ponte do jardim”, risse relembrando que a sua cadela, até hoje, tem medo de atravessar a ponte de metal a que Nuno se refere.

Outro trabalho das FAT é a filmagem dos treinos para que Nuno Benedito possa avaliar e sugerir algumas mudanças. Para além disso, assim consegue acompanhar a progressão dos animais.

Quando o cão é entregue oficialmente à família beneficiária, o papel das FAT termina. Porém, o presidente Nuno Benedito reforça que “a Pata procura promover o convívio entre as FAT e as famílias oficiais após o processo. Criam-se ligações, muitas delas até improváveis”.

Nuno Moniz acredita que a Pata d’Açúcar “traz mais consciência para a diabetes e para a possibilidade de resgate de animais, e prova que os cães são capazes de fazer coisas inimagináveis”. Para além disso, tem esperança que este projeto possa trazer a possibilidade de se criarem outras associações dedicadas a outras doenças crónicas.

A sua cadela, presente na nossa entrevista, mostra-se muito protetora e observadora. Nuno conta que Estrela se adaptou bem a todas as famílias, mas que a sua ligação foi demasiado grande. “Em 2020, não estava numa fase muito boa da minha vida, e, claro, que a pandemia não ajudou. Quando a Estrela veio, a minha vida mudou bastante. A todos os níveis.”

Ao início, Estrela raspava a perna de Nuno para o alertar das hipoglicemias. Agora, se estiverem na rua, salta para cima do tutor e fixa-o atentamente. Em casa, segue-o emitindo latidos ou a ladrar. “O facto de termos um animal, superempenhado a ajudar-nos no tratamento da doença, também nos leva a nós a empenharmo-nos”, conclui.

Vídeo de Estrela a dar o seu alerta médico. Lua, a outra cadela de Nuno, também está presente.

Os treinos: “aquilo que chamamos trabalho para nós, para o cão é diversão”

Após o plano vacinal do animal estar concluído, inicia-se o processo de treino que consiste num “trabalho de deteção olfativa, culminando na deteção olfativa aplicada”. Tal como esclarece Nuno Benedito, os treinos têm vários níveis de aprendizagem, começando por “habituar o cão a detetar determinado odor e compensando-o com um prémio”, mais concretamente, comida. “Se o nosso valor de açúcar no sangue baixar, nós sentimo-nos mal e começamos a suar, por exemplo. Numa pessoa com diabetes tipo 1, os sintomas de alerta desaparecem, e isso é que é perigoso. Contudo, sempre que os valores baixam, a pessoa transpira mais e o que os cães aprendem, através do suor, é a identificar essas partículas”, acrescenta.

Por sua vez, o tutor Nuno Moniz explica-nos como os treinos são realizados. Quando o diabético se encontra em hipoglicemia deve retirar uma amostra de saliva e congelá-la num frasco. Mais tarde, para habituar o cão a detetar esse cheiro, a amostra é colocada no tornozelo do doente, pois é o que está mais ao nível do animal e fica junto de uma zona onde mais suamos: os pés. Nuno Benedito salienta ainda que “o treino é simples. Apenas é trabalhoso na medida em que temos de o adaptar ao tipo de cão, no timing certo, sempre com metodologias positivas. O cão não pode ser obrigado a fazer nada, tem de ser motivado e estimulado a querer fazer”.

Estes cães são constantemente monitorizados pela equipa de veterinários, várias vezes por ano, realizando análises sanguíneas. “É como se fossem atletas de alta competição, vamos dizer assim. Não há segredos, não há truques. Há uma componente técnica muito forte, mas apenas estamos a ensiná-lo a brincar de uma determinada forma. Aquilo que chamamos trabalho para nós, para o cão é diversão”, afirma o presidente.

Até agora, a comunidade científica não sabe ao certo que substâncias é que o cão consegue identificar. Porém, a Pata d’Açúcar tem, na sua equipa, uma aluna que está a elaborar uma tese de mestrado e a colaborar com o departamento de química da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade NOVA, para tentar perceber como é que os cães conseguem distinguir e identificar os diferentes odores. “Se eu estiver sentado no meu sofá com mais três ou quatro pessoas, e uma delas baixar os níveis no sangue, o cão irá ter com essa pessoa. Não sabemos como, mas a verdade é que as consegue distinguir”, relata Benedito.

Pelo bem-estar do animal, os treinadores nunca o obrigam a emitir um alerta específico. Em vez disso, aproveitam o comportamento que o cão oferece naquela situação e reforçam esse sinal. Alguns cães lambem a zona dos tornozelos, outros dão a pata, outros ladram. “O importante é que o cão tenha uma reação e ofereça, voluntariamente, uma reação à presença do odor.”

Cães de alerta médico da associação Pata d'Açúcar. Créditos: EDfotografia

O presidente da associação admite que o mais difícil é lidar com as pessoas e com a sua impaciência. “Temos de lutar um bocadinho contra uma parte cultural que temos no nosso país: os animais de companhia são, ainda, muito vistos como objetos, e estes cães não podem ser vistos como objetos. Têm uma valência que pode salvar vidas. As pessoas é que têm de ter a capacidade para conhecer o animal e interpretar os sinais que ele dá.”

A verdade é que estes cães não ajudam os diabéticos apenas através do seu alerta. Ajudam também na integração social da pessoa, visto que a mesma tem tendência para se isolar devido à doença, e combatem o sedentarismo, pois o cão tem de passear e fazer exercício físico. “São uma mais-valia social.”

A Pata d’Açúcar tem, de momento, 20 000 colaboradores associados, todos voluntários e de vários estratos profissionais. Apenas cinco membros da equipa são diabéticos tipo 1, “todos os outros fazem parte por simpatizarem com a causa e se divertirem a ajudar as pessoas e os animais. Isto é que dá o gozo”, revela Benedito. Para além disso, o presidente distingue os diferentes valores seguidos pela associação, desde “a paixão pelo que se faz”; “a valorização social, ou seja, não ver o diabético como um “coitadinho”, mas sim como uma pessoa que precisa de apoio”; “o gosto pelos animais e a preocupação pelo resgate”, de modo a que também contribuam para a saúde pública; e “a coesão e empatia entre os vários associados”.

Aprender a aceitar a diabetes: “os nossos animais salvam vidas”

Atualmente, a Pata d’Açúcar já conseguiu ajudar 50 pessoas com os seus cães de alerta médico. Está, de momento, a trabalhar com o seu 21.º cão, sendo que, até agora, já teve 18 casos positivos. Têm cães “de norte a sul do país” e estão a atuar, pela primeira vez, na ilha Terceira, nos Açores, com o apoio da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo. “Vislumbra-se a possibilidade de continuar e poder ajudar mais pessoas naquela região. Uma região marcada pela prevalência de diabetes”, conta o presidente.

Maioritariamente, a associação trabalha apenas com cães que foram abandonados e se encontram em abrigos. Porém, a Pata d’Açúcar tem outra componente para as pessoas que são associadas e não querem esperar ou estar “sujeitas ao escrutínio da seleção”, preferindo requisitar os serviços da associação. Por exemplo, os doentes podem já ter um cão que é seu, podem querer adotar ou comprar um animal. Nestes casos, a associação vai com ele ver o animal, aplica os doze testes práticos e dá o seu parecer relativamente às aptidões do cão. Se as tiver, é elaborado um orçamento discriminativo, o qual a pessoa pode aceitar ou não.

Foi o caso da enfermeira Antónia Saraiva, diabética do tipo 1 há 38 anos. “Conheci a Pata d’Açúcar ao ver um programa de televisão e fiquei logo interessada em ter um cão deles”, começa por contar. Nuno Benedito sugeriu que Antónia se candidatasse, mas a enfermeira não quis esperar, acabando por comprar um animal que já pertencia à associação. Ao contrário do que acontece com quem se candidata, Antónia Saraiva teve de pagar os treinos de Mica, a sua cadela labrador, que se juntou à sua família em outubro de 2019.

Mais tarde, resultado da sua amizade com Nuno Benedito, Antónia torna-se vice-presidente da Pata d’Açúcar, ou como ela se caracteriza, “a primeira-dama da associação”. Não age diretamente enquanto enfermeira nem interfere na parte clínica, porém, está sempre presente nas entrevistas com as famílias, analisando a dinâmica do núcleo familiar. Para além disso, ajuda as pessoas a aceitarem a sua doença ao participar em eventos como feiras ou palestras em centros de saúde. Aí, fala da alimentação, da história da diabetes e demonstra de que forma os cães de alerta médico podem ajudar estes doentes. Na grande maioria das vezes, Mica também está presente.

Antónia sempre viveu bem com a diabetes, mas tem consciência de que “existem muitos diabéticos que não aceitam a sua doença. O facto de terem um cão faz com que socializem muito mais, pois têm de o levar à rua para passear”. O animal usa sempre uma identificação de “cão de alerta médico”, o que faz as pessoas questionarem o porquê e quererem aprender quando se cruzam com um diabético. “Logo aí, a timidez do doente vai-se dissipando, porque ele é “forçado” a interagir com outras pessoas”, explica a enfermeira. “Os nossos cães salvam vidas”.

A marcação de Mica é dar com a pata na perna da sua tutora. “Outras vezes, marca com o olhar. Quem tem cães percebe isto. A maneira de olhar é diferente.” Antónia não a pode levar para o trabalho, devido à sua profissão no hospital. Contudo, a Pata d’Açúcar está a trabalhar para que os seus cães sejam reconhecidos como “cães de assistência médica”, para que os doentes os possam levar para o trabalho. “Os animais teriam um desempenho melhor se estivessem 24 horas com o tutor, ainda que os treinos sejam constantes”, esclarece a enfermeira.

Nuno Benedito assume que as pessoas com diabetes tendem a chocar-se numa fase inicial, mas que depois banalizam a sua doença. “Queremos dar o nosso contributo para mudar o mindset das pessoas no nosso país. Queremos mudar a maneira como os animais são vistos, e até a maneira como a diabetes é vista em determinadas regiões.”

Para ajudar a Pata d’Açúcar, para além de se ser sócio, importa também a sua divulgação. “Nunca procurámos uma publicidade gratuita. Sempre quisemos que os resultados falassem por si”, refere o presidente. Qualquer pessoa pode ainda ajudar nos eventos que a associação organiza ou candidatar-se a ser FAT, porém, Nuno relembra: “Isso é muito exigente, requer aceitar ter vários animais em casa e perceber que, na realidade, não são deles.”

Nuno Moniz, FAT e tutor de Estrela, afirma que uma das vantagens de poder fazer parte da associação é ter acesso a fóruns em que pode partilhar a sua experiência com outros diabéticos. “Falar com pessoas com diabetes é fácil, o difícil é explicar a quem não a tem. Com a Estrela, não precisei de explicar nada, a ligação estava lá.” Já Antónia Saraiva admite que, com a Pata d’Açúcar, ganhou “novos amigos. Amigos verdadeiros, que estiveram lá nos momentos mais difíceis. E ganhei a Mica! Agora faço parte da família Pata d’ Açúcar”.

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