André Rosinha, contrabaixista, é natural de Sintra e é apaixonado pelo mundo do jazz. Ao contrário da maioria dos músicos, encontrou o gosto pelo contrabaixo, por um feliz acidente, já na casa dos vinte. Mas não é isso que o impede de brilhar com a sua distinta cabecinha de leão! É um rapaz simples que gosta de ser desafiado e de absorver música, tanto quanto possível. Podem vê-lo a tocar na banda do Salvador Sobral, no grupo do João Barradas (acordeão), do Júlio Resende (piano), do Eduardo Cardinho (vibrafone) e muitos mais. No entanto, para já, o que têm de ouvir sem mais demoras, é o seu primeiro disco, Pórtico, lançado no início deste ano. Os críticos não têm poupado nos elogios e como diria o André, “é de ouvir”!
Subindo por uma das ruas laterais à da Brasileira vamos dar ao Largo do Carmo. Deparamo-nos com uma mesa que seria perfeita para o nosso jogo, mas está ocupada. De repente, um banco de pedra fica livre. Decidimos que esse seria o sítio certo para o jogo da Pergunta da Sorte. Sentámo-nos e expliquei as regras do jogo. Muito preocupado, o André perguntou-me se não o ia pôr a cantar. Quem sabe? Com a Pergunta da Sorte as possibilidades são mais que muitas. Embora reticente com esta minha incerteza, o André lança o dado e avança 4 casas. O jogo começa. Fomos parar à casa do Sê Criativo, a casa que lança um desafio que o convidado tem de resolver de forma criativa. O André vira a carta que revela a primeira pergunta.
Sê Criativo: Um amigo teu está triste porque partiu uma unha. Que playlist lhe recomendarias? (sugere, no mínimo, 5 músicas).
André Rosinha (AR): Uau, se está triste… aconselharia, claramente, Bon Iver, que eu gosto muito e é triste q.b. Aconselharia uma banda que descobri há pouco tempo, Florist, que é bem gira e eu não conhecia. Mais coisas tristes… o Moonlight Sonata, City and Colour. Está bom? Têm de ser mesmo cinco?
Andreia Monteiro (AM): Sim.
AR: Eu não oiço assim muita música triste.
AM: Pode ser alegre para ele animar.
AR: Daughter, que foi a minha irmã que me mostrou e tem as duas coisas, o alegre e o triste.
Sem tempo para tristezas, volta-se a lançar o dado e avançamos 1 casa indo parar à Pergunta da Sorte, em que posso fazer a pergunta que escolher na altura.
Pergunta da Sorte: Fora a música, quem é o André Rosinha?
AR: Sou uma pessoa simples, que gosta de coisas simples e que coincidiu gostar muito de música. Mas também gosto doutras coisas. Gosto de desporto, gosto bastante de ler, gosto de estar sossegado e que não me chateiem muito (risos).
AM: Que não é o que eu te estou a fazer hoje!
AR: Sim… Vá agora, se faz favor, um 6!
Vamos lá a ver se o dado faz a vontade ao André. Lança-se o dado e… parece que não. O dado revela o número 4 que nos leva à Pergunta Rápida, onde temos cartas com perguntas de sim ou não que têm de ser respondidas sem pensar muito.
Pergunta Rápida: Fá ou Dó?
AR: Fá. Tenho mais fás no contrabaixo.
De mãos dadas com um pensamento estratégico, seguimos para a próxima e avançamos 5 casas, indo parar ao número 14, onde nada acontece.
AR: Yes! Ficaste triste, não foi?
AM: Fiquei.
Mas o nosso amigo dado nunca nos deixa ficar muito mal. O André volta a lançar o dado e avança 6 casas. Desta vez temos mais um Sê Criativo!
Sê Criativo: Pensa no teu número da sorte. Sem falar conta-nos uma história em x passos.
AR: Vou desenhar, posso? Estás preparada?
AM: Preparadíssima!
AR: Desenho muito mal. Vai ser épico! Tem de ser uma história? Isso é muito complicado. Estás a borrifar-te, não é?
AM: Um bocadinho (risos, daqueles que pendem para o maléfico).
Finalmente o André contentou-se com a escolha do dado e começou a desenhar. Para quem não tinha jeito o desenho ficou composto e ainda teve direito a uma palete de duas cores. Aquando do processo artístico diz que jamais iria perceber o desenho. Chegou até a dizer que não estava a sair nada parecido com o que ele queria dizer. Parece que vamos descobrir se isso é verdade muito em breve. Para já, fica aqui o resultado final desta obra-prima:
AR: Se eu não explicar acho que jamais vais perceber.
AM: Tenho algumas ideias. Mas já está?
AR: Acho que sim. É um resumo.
AM: Primeira coisa que te quero perguntar: dividiste-me isto em compassos?
AR: Não, é um género de BD.
AM: É um concerto ou ensaio.
AR: Sim.
AM: Tu és este (aponto para o boneco junto ao contrabaixo).
AR: Pois, isso não é difícil.
AM: Depois há um cantor, um pianista e um baterista. Portanto, primeiro deve ser o cantor a cantar. Aquilo deve ser um coro, não sei. Depois és tu, o baterista e o pianista a tocarem. Por isso, se calhar aqui o cantor está a apresentar-vos. Aqui estão todos no palco de frente para a plateia. Entretanto já passou uma hora e picos de espetáculo. Depois dás ai um bemol. Não sei.
AR: Está mais ou menos, mas não é nada disso (risos). Basicamente isto conta a história de como conheci o Salvador, que é uma boa história.
AM: Por acaso, olhei para ai e pareceu-me ser a banda do Salvador.
AR: Nesta história não. Eu conheci o Salvador através de um amigo, o Javier Galiana, que é um senhor espanhol que vivia em Lisboa e que o Salvador conhecia por ter vivido em Espanha. Eu estava a fazer um ensaio com ele e com o Vasco, quando o Sal disse que em Abril ia estar em Lisboa, queria marcar uns concertos e perguntou se ele conhecia músicos portugueses para tocar. O Javier disse que era perfeito, porque já estava a tocar com quem gostava. Então marcamos uns concertos. Este seria o ensaio, em que eu estou a pensar. Depois fazemos o espetáculo e eu continuo a pensar, “meu, o que é que está aqui a acontecer?”. Depois, passado muito, muito tempo, voltei a tocar com ele e foi alta cena! Isso foi um resumo. Ou seja, na primeira vez em que tocamos não houve uma química muito grande. Demo-nos bem. Quer dizer, não nos demos assim tão bem. Ele fala sempre imenso disso, que da primeira vez que nos conhecemos não houve assim muita empatia. Depois, quando ele voltou, ligou-me e dez minutos depois de começarmos a falar ele virou-se e disse, “epah, vou ser amigo deste gajo”. E pronto, ficamos muito amigos. Foi essa a história que achei interessante, por ser uma pessoa com quem não criei laços da primeira vez que a conheci e depois, passado um ano ou dois de estar com ele, parecia que já o conhecia há anos e agora esse gajo é o meu melhor amigo. Desculpa pelo desenho.
AM: Não, está muito giro! Gostei! Já vi pior, não está assim tão mau.
Após esta pequena pausa para um elogio podemos voltar a lançar o dado, que nos manda avançar 6 casas indo parar à casa da Carreira, onde as cartas revelam perguntas sobre a vida profissional do artista.
Carreira: Qual o trabalho que mais gostaste de fazer até hoje?
AR: Já respondi com a pergunta anterior.
AM: Salvador?
AR: É com o meu amigo Salvador. Pode ser injusto para outras pessoas, mas o dele foi especial por várias coisas.
AM: Queres dizer que coisas são essas?
AR: Pela química que se criou no grupo. Acho que posso dizer isto. Inicialmente eu não era o baixista, era outro rapaz. Só que esse outro rapaz está metido em muitas coisas e o Salvador chateou-se, porque queria ensaiar e fazer coisas e o rapaz nunca podia. Então, decidiu chamar-me e foi assim que eu comecei a tocar com eles. Já eramos amigos. Já tocava muito com o baterista, que é o Pedroso, e já tinha tocado há muito tempo atrás com o Júlio. Depois começamos a tocar e havia uma química incrível, acontecem coisas incríveis.
Por falar em coisas incríveis, está na hora de lançar o dado e descobrir o desafio incrível que o jogo nos vai propor, desta vez. Quatro casas à frente vamos parar a outra Pergunta da Sorte.
Pergunta da Sorte: Para além de fazeres parte da banda do Salvador Sobral que outros projetos tens?
AR: Começo com um dos injustiçados de que estava a falar há bocado, porque também adoro tocar com o gajo. Mas está um furinho abaixo, que é o João Barradas. Gosto muito de tocar com ele e gosto muito dele como pessoa, sou muito amigo dele. Agora gosto muito de tocar com o meu grupo, porque lancei um disco este ano. A gravação foi incrível, estou muito contente! Gosto muito de tocar com o Eduardo Cardinho e gosto muito de tocar no grupo do Júlio Resende. Acho que já chega, senão não vou parar de dizer nomes. Gosto de tocar em muitas coisas diferentes. Gosto de tocar com pessoas diferentes e de absorver música de todos os lados. Ver como é que eles querem que eu tente soar, o que têm em mente para esta música soar. Gosto destes desafios.
Passamos ao próximo desafio e o dado faz-nos avançar 3 casas, indo parar a mais uma Pergunta da Sorte.
Pergunta da Sorte: Gostas mais de compor ou de improvisar?
AM: Não sei se esta pergunta é bem-feita. Agora dizias-me que improvisar é compor e a pergunta ia por água abaixo.
AR: É isso. Improvisar é compor (risos). Neste momento da minha vida gosto mais de improvisar. Não tenho composto há algum tempo. Mas também tem a ver com ter gravado um disco há pouco tempo.
Desta vez avançamos mais 3 casas e vamos parar a uma Pergunta Rápida.
Pergunta Rápida: Primeiro o leite ou cereais?
AR: Primeiro cereais, eu não bebo leite.
AM: Comes cereais com o quê?
AR: Com iogurtes ou batidos.
Após uma pergunta tão pertinente como esta é melhor voltar a lançar o dado. Avançamos 2 casas indo parar a mais uma Pergunta da Sorte.
Pergunta da Sorte: Qual é o concerto que relembras com mais carinho e porquê?
AR: Isso é difícil. Talvez a primeira casa da música com o Salvador, porque estava tudo perfeito. Estávamos a tocar super bem, estávamos super colados nesse dia e o público estava super atento. Foi uma conexão perfeita, banda e público.
AM: Porque é que não estive lá?
AR: Pois isso foi…
AM: Foi um erro!
AR: Não estiveste, mas estás a ouvir. O Amar Pelos Dois é desse concerto.
Depois da boa-nova, que sempre conforta a tristeza de não ter estado presente no concerto que foi caracterizado como sendo a conexão perfeita, parece que o dado está do meu lado e, 3 casas à frente, vamos parar a mais uma Pergunta da Sorte.
AR: Bem, ao menos não estou a cantar.
AM: Mas eu também posso ter a amabilidade de te pedir para cantares.
AR: Não podes, que eu estou a ler as perguntas que tens ai.
Pergunta da Sorte: Como é que percebeste que o contrabaixo era o teu instrumento?
AR: O contrabaixo foi um feliz acidente da minha vida. Eu tocava baixo elétrico e quando acabei o 12º ano decidi que queria tocar música. Já tocava e tinha bandas. Tocava rock, na altura. Já tinha tido umas aulas e pensei, gosto disto, não quero ter um emprego de secretária decididamente, não quero ir tirar um curso para a faculdade que não vai servir para nada, porque eu não quero nada disso, e gosto de tocar com os meus amigos. Vou arriscar! Decidi estudar mais a sério e, na altura, o que havia mais a sério era o Conservatório de Música de Lisboa. Então, fui para lá. Mas não havia baixo elétrico, então o mais parecido era o contrabaixo. Lá fui eu começar a tocar contrabaixo com arco, que a minha mãe e irmã gostavam muito. Aquilo é horrível nos primeiros tempos, parece que estamos a matar pessoas (imita o som de matar pessoa a arco – imperdível leitores!). Durante um ano estive um bocado em negação a dizer que queria era tocar baixo elétrico e que não queria tocar contrabaixo. Mas ao fim do primeiro ano arrumei o baixo num saco, nunca mais lhe toquei, e nunca mais larguei o contrabaixo.
AM: Porque é que tens um leão no contrabaixo?
AR: Escolhi esse contrabaixo, porque gosto do som. Eu tinha outro contrabaixo, que entretanto já vendi. Era manhoso, mas era para começar a tocar, e tinha o típico caracol. Houve uma festa do jazz no São Luiz, em que eu fui tocar e o contrabaixo que estava lá era o do Nelson Cascais, que tinha uma cabeça de leão. Os contrabaixos são coisas muito pessoais. Ou seja, tu tocas nele e gostas ou não gostas. É como as pessoas. Aquele primeiro impacto em que percebes logo se gostas ou não da pessoa. Peguei naquele contrabaixo e pensei que era incrível, que tudo o que eu quero num contrabaixo estava ali. Passado um ano, quando decidi que queria comprar um contrabaixo novo e tinha dinheiro para o fazer, comecei a chatear o Nelson Cascais e perguntei-lhe se ele não queria vender o contrabaixo. Na altura ele disse-me que não queria e eu sempre a chateá-lo. Até que um dia pensei que ia ali à Alemanha ou Espanha à procura de contrabaixos. Nunca mais me esqueço. Há um dia em que acordo, ligo o telefone e tenho uma mensagem do Nelson a dizer, “Bom, sempre queres o cabecinha de leão?”. E eu, “Claro”! Fui buscá-lo nessa tarde. Foi uma feliz coincidência em que tudo se alinhou. Acho que foi mais o contrabaixo que me escolheu a mim do que eu a ele.
AM: É uma história engraçada, também!
Cada vez mais perto do final o dado manda-nos avançar duas casas. Vamos parar a uma Pergunta Rápida.
Pergunta Rápida: Rápido ou devagar?
AR: Rápido. Sou um gajo despachado. Depende das coisas.
AM: Eu a comer é muito devagar.
AR: E eu não sei? (risos) Numas coisas sou rápido, noutras é devagar.
Lançamos o dado e, uma casa à frente, vamos parar ao número 47, onde nada acontece. O André volta a lançar o dado e, 3 casas à frente, chegamos a uma Pergunta da Sorte.
Pergunta da Sorte: Qual o músico que mais te surpreendeu em palco?
AR: Epah… foi o senhor Sobral. Já fez coisas que eu nunca pensei que fossem possíveis, mas aconteceu.
AM: Podes dar um exemplo dessas coisas impossíveis?
AR: Não queria muito falar disso.
Vamos então continuar! Desta vez, o dado manda-nos avançar 5 casas levando-nos até à Casa Gerador, onde o jogo chega ao fim. Ou será que não? Houve tantas perguntas em que o André não calhou. Giro era continuar… E foi isso mesmo que aconteceu! O rapaz que não gosta muito de entrevistas decidiu dar-me a possibilidade de lhe fazer mais duas perguntas! Uma vez que durante o jogo não calhou na casa do Pessoal, onde as cartas fazem perguntas sobre a vida pessoal do artista, esses foram os cartões escolhidos agora.
Pessoal: Qual foi a última pessoa a quem disseste “obrigado” e porquê?
AR: A última pessoa a quem disse obrigado foi à Andreia Monteiro, porque me pagou o almoço.
AM: Pois foi (risos).
AR: Han? Correu bem!
AM: Assim foi fácil. Agora as pessoas vão achar que te subornei.
AR: É isso.
Com a jura de que não houve subornos para a realização deste jogo, vamos mas é virar mais uma carta do Pessoal.
Pessoal: Qual é o teu talento escondido?
AR: Acho que cozinho bem.
AM: E o que é que cozinhas melhor?
AR: Olha, ontem cozinhei arroz de marisco para amigos. Eles estavam muito felizes, por isso devia de estar bom (risos). Também sei fazer lasanhas, de carne ou vegetarianas.
AM: Não é fácil fazer uma lasanha. Gosto muito, mas é muito raro eu dizer que uma lasanha está muito boa.
AR: Também cozinho coisas vegetarianas. Tive uma fase vegetariana, então aprendi a cozinhar muitas coisas vegetarianas, que ainda hoje como. Temos de ser amigos dos animais.
Embora acabados de almoçar, a conversa começa a deixar-me com água na boca, pelo que, agora que temos todas as condições reunidas, é hora de dar resposta à Casa Gerador, a casa final do jogo, onde o entrevistado irá responder a uma pergunta da convidada anterior e deixar uma pergunta para o próximo. Ainda se lembram da pergunta da Catarina Munhá? “Se pudesses escolher uma música para ouvir como se fosse a primeira vez, e teres aquela sensação de descoberta, qual era a música que escolhias? ”. Podes rever a pergunta da Catarina aqui.
Vê o vídeo em baixo para saberes qual a resposta do André e a pergunta que deixou para o próximo convidado da Pergunta da Sorte! Vemo-nos em breve! ;-)