fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Alexa Santos

Qual é o nosso papel na vida das crianças LGBTI+?

A 7 de agosto celebrou-se dois anos da lei 38/2018. Esta lei dá o direito…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

A 7 de agosto celebrou-se dois anos da lei 38/2018. Esta lei dá o direito à autodeterminação da identidade de género, expressão de género e à proteção das características sexuais de cada pessoa, em Portugal. Talvez se lembrem desta lei como a “lei das casas de banho”[1] porque também dava diretrizes às escolas sobre como proceder para que crianças e jovens trans pudessem utilizar casas de banho e balneários nas escolas de acordo com a sua identidade. A polémica gerada acabou por, em muitos casos, simplificar o objetivo do despacho que pretende dar a possibilidade a muitas pessoas de viver o dia a dia de acordo com quem são, protegendo-as face à discriminação e violência baseadas na sua identidade ou expressão de género e teve muito pouco que ver com casas de banho.

A maior parte das pessoas identifica-se com o género que lhes é atribuído à nascença, ou seja, identificam-se com os papéis e construções sociais que existem consoante o sexo que lhes é atribuído quando nascem. Porque é que digo que é atribuído? Na generalidade, o sexo e o género são naturalizados enquanto binários, pénis/vagina, menino/menina, homem/mulher. Quando uma pessoa engravida e vai a consultas médicas, depois de alguns meses ouve do médico a pergunta: “quer saber o sexo do bebé?” É através do que o médico vê no ecrã pixelizado a duas cores, enquanto faz um ultrassom, que se determina a característica “sexo” que não só se assume que será coincidente com o género da criança, como irá definir o nome, as características esperadas, cores preferidas, brinquedos que a família alargada vai comprar, potenciais profissões, ou seja, o papel que aquela criança irá ter na sociedade e que a irá acompanhar pela vida inteira.

O que acontece quando a criança não se identifica com o género que lhe é atribuído à nascença? O que acontece se uma criança diz aos adultos que não é do género que os pais, a família, a sociedade dizem que ela tem de ser? Qual é o papel dos adultos?

Apesar de sermos um país com avanços legislativos em matéria de questões relacionadas com orientação sexual e identidade de género[2] e sermos também apontados como um país onde há pouca violência física por motivos de orientação sexual e identidade de género segundo a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (FRA)[3], sabemos que a necessidade de apoiar pessoas e crianças LGBTI+ continua. Em Portugal, a Casa Qui e a Casa Arco Iris[4] acompanham e apoiam centenas de pessoas e jovens LGBTI+. Além disso, continuamos a ver casos de violência e bullying a ser registados anualmente pela ILGA Portugal e pela rede ex aequo.[5]

O estudo Diversity and Childhood[6] transformar atitudes face à diversidade de género na infância no contexto europeu, coordenado em Portugal por Ana Cristina Santos e Mafalda Esteves do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, financiado pela União Europeia, reúne um grupo de cientistas de nove países europeus no combate à discriminação e violência a que muitas crianças e jovens que não se identificam com o género que é esperado são alvo. Vemos que, como afirma Ana Cristina Santos, «É evidente a falta de recursos, sobretudo de formação e informação, por parte de profissionais envolvidos na implementação da Lei de Autodeterminação [Lei nº38/2018, de 7 de agosto, regulamentada em 2019], o que gera obstáculos à igualdade de tratamento desta população em áreas como a educação, saúde, intervenção familiar, media e espaço público e comunitário». Mais alarmante ainda, acrescenta, «é a total ausência de questões LGBTI+ na formação académica e curricular de grande parte destes profissionais, com mais de metade a admitir nunca ter feito, posteriormente, uma atualização de conhecimentos ou uma formação específica para o trabalho com crianças e jovens LGBTI+».

Com leis, mas sem a implementação das mesmas, sem os adultos que acompanham crianças no seu dia a dia saberem mais sobre estas crianças e como apoiá-las, o risco de discriminação e violência mantém-se e é muitas vezes reforçado pelos adultos que deveriam proteger e potenciar o crescimento de todas as crianças.

Temos de fazer um caminho contínuo para construir uma sociedade afirmativa que celebre a diferença e que seja segura para todas as pessoas, mas principalmente para as nossas crianças.


[1] https://www.tsf.pt/portugal/sociedade/isto-nao-e-um-despacho-de-casas-de-banho-11227863.html

[2]https://www.cig.gov.pt/wp-content/uploads/2020/06/OECD-LGBTI-2020-OverTheRainBow-TheRoadToLGBTIInclusion-Full-report.pdf

[3]https://www.publico.pt/2020/05/14/sociedade/noticia/portugal-pais-ue-menos-pessoas-lgbti-sofrer-agressao-fisica-sexual-1916448

[4] http://www.casa-qui.pt/ e https://www.associacaoplanoi.org/casa-arco-iris/

[5] https://www.rea.pt/observatorio-de-educacao/

[6] https://ces.uc.pt/pt/investigacao/projetos-de-investigacao/projetos-financiados/diversity-childhood

-Sobre Alexa Santos-

Alexa Santos é formada em Serviço Social pela Universidade Católica de Lisboa, em Portugal, e Mestre em Género, Sexualidade e Teoria Queer pela Universidade de Leeds no Reino Unido. Trabalha em Serviço Social há mais de dez anos e é ativista pelos direitos de pessoas LGBTQIA+ e feminista anti-racista fazendo parte da direção do Instituto da Mulher Negra em Portugal e da associação pelos direitos das lésbicas, Clube Safo. Mais recentemente, integrou o projeto de investigação no Centro de Estudos da Universidade de Coimbra, Diversity and Childhood: transformar atitudes face à diversidade de género na infância no contexto europeu coordenado por Ana Cristina Santos e Mafalda Esteves.

Texto de Alexa Santos
Fotografia de Lisboeta Italiano

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

16 Julho 2024

Assassinato de carácter: o (pré)juízo de Cláudia Simões

11 Julho 2024

Carta do Leitor: Afinar a curiosidade na apressada multidão

9 Julho 2024

Sobre a Necessidade (o Dever) de Reconhecer o Estado da Palestina

4 Julho 2024

Exames nacionais? Não, obrigado

3 Julho 2024

Carta do Leitor: Programação do Esquecimento

2 Julho 2024

Mérito, PIB e Produtividade: a santíssima trindade em que temos de acreditar

27 Junho 2024

Carta do Leitor: Assim não cumpriremos abril

25 Junho 2024

A culpa e as viagens

20 Junho 2024

Carta do Leitor: André, cala-te só um bocadinho…

18 Junho 2024

Tirar a cabeça da areia

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Soluções Criativas para Gestão de Organizações e Projetos [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Narrativas animadas – iniciação à animação de personagens [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online e presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

O Parlamento Europeu: funções, composição e desafios [para entidades]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Pensamento Crítico [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

O Parlamento Europeu: funções, composição e desafios [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online ou presencial]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Práticas de Escrita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Produção de Eventos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Planeamento na Comunicação Digital: da estratégia à execução [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação à Língua Gestual Portuguesa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

5 JUNHO 2024

Parlamento Europeu: extrema-direita cresce e os moderados estão a deixar-se contagiar

A extrema-direita está a crescer na Europa, e a sua influência já se faz sentir nas instituições democráticas. As previsões são unânimes: a representação destes partidos no Parlamento Europeu deve aumentar após as eleições de junho. Apesar de este não ser o órgão com maior peso na execução das políticas comunitárias, a alteração de forças poderá ter implicações na agenda, nomeadamente pela influência que a extrema-direita já exerce sobre a direita moderada.

22 ABRIL 2024

A Madrinha: a correspondente que “marchou” na retaguarda da guerra

Ao longo de 15 anos, a troca de cartas integrava uma estratégia muito clara: legitimar a guerra. Mais conhecidas por madrinhas, alimentaram um programa oficioso, que partiu de um conceito apropriado pelo Estado Novo: mulheres a integrar o esforço nacional ao se corresponderem com militares na frente de combate.

A tua lista de compras0
O teu carrinho está vazio.
0