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Reivenção dos sabonetes: a produção artesanal e as escolhas ecologicamente conscientes

Hoje, o sabão azul e branco já não serve os propósitos de antigamente. Além de…

Texto de Mafalda Lalanda

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Hoje, o sabão azul e branco já não serve os propósitos de antigamente. Além de um agente de limpeza, os sabonetes integram as rotinas de  beleza e saúde de várias gerações. Se antes um único sabão servia para todas as funções, neste momento há sabonetes para tudo e para todos. A variedade torna possível personalizar a escolha dos ingredientes consoante a nossa realidade e os nossos princípios. Nos últimos anos, a produção saboeira tornou-se ambientalmente mais consciente e, também por isso, os sabonetes artesanais são cada vez mais populares. A utilização de matérias-primas locais, de ingredientes naturais ou a diminuição da pegada ecológica são questões a considerar no momento de tomar uma opção.

Dulce Mourato é autora de vários livros dedicados à saboaria e cosmética naturais. O seu último título, Cosmética Natural, inclui respostas a perguntas tão pertinentes como: O que é preciso para fazer os seus próprios produtos cosméticos? Que matérias-primas escolher? Que instrumentos usar? Quais os procedimentos? Além de apresentar receitas e fórmulas, também oferece informação sobre as plantas usadas na cosmética, desde as suas origens às suas características e principais utilizações.

São vários e diversos os caminhos que levam cada um de nós à saboaria artesanal. Dulce Mourato começou por explorar esta área para promover o interesse dos alunos que lecionava numa escola de intervenção prioritária (TEIP). Aquilo que começou por ser uma ideia educativa tornou-se num projeto escolar de sucesso que levou alguns jovens a familiarizarem-se com a produção de sabão e de detergentes ecológicos. De forma geral, as escolhas verdes são um motivo cada vez mais perenemente na aproximação dos portugueses aos sabonetes. É também o caso de Dulce Mourato: “Na minha profissão, como professora de ciências, como mãe e como cidadã, tenho a obrigação de zelar por um mundo mais ecológico e limpo. O sabão natural é ecológico tanto durante todo o seu processo de produção como no uso do produto final. Não há resíduos tóxicos em nenhuma das fases! Sabão natural é e será sempre a minha opção.”

Enquanto professora tem reparado na progressiva consciencialização das práticas ecológicas nas gerações mais jovens. “Os jovens tornam-se mais atentos e preocupados ao que se passa em seu redor, são bastante críticos  e conseguem muitas vezes fazer os mais velhos mudarem de hábitos. A escola de hoje também é um excelente veículo de informação e de aprendizagem, pois a temática educação ambiental tem sido muito abordada não só por educadores como por professores, devido à grande quantidade de problemas ambientais que vêm ocorrendo no planeta. A utilização de produtos naturais ecológicos  é uma das formas de minimizar o impacto ambiental.”


Depois de investigar e contactar diretamente com a área, Dulce Mourato começou a desenvolver workshops na qualidade de artesã, nomeadamente no Instituo Português de Naturologia. É com prazer que transmite os seus conhecimentos de produção saboeira, procurando promover a alteração de certos hábitos e comportamentos simultaneamente. Em entrevista conta-nos os distintos motivos que levam homens e mulheres a procurar este tipo de atividades: “A preocupação com a saúde da pele é uma das maiores preocupações e depois existe também  a preocupação ambiental.  Há quem venha aprender  para ocupar os tempos livres,  outros que,  para além de tudo o resto, querem aprendera produzir sabão natural   para poderem criar uma outra fonte de rendimento ou mesmo criar o seu próprio negócio.”

Não é possível fazer escolhas conscientes sem atentarmos na origem das matérias primas. A autora, tal como faz notar nos seus livros, privilegia produtos de origem vegetal, como o azeite, o óleo de coco, o óleo de rícino ou as manteiga de karité e de cacau. Acredita também que a produção artesanal de sabonetes é um bom incentivo ao comércio local, nomeadamente devido a exemplos como o azeite em Portugal. Contudo, ainda há caminho a percorrer no que toca à legalização referente à produção artesanal permitida: “Temo que a lei em vigor seja um travão para o comércio local, uma vez que a produção autorizada iguala-se  à da industria, e os custos acabam por ser muito elevados para uma produção que é artesanal. Creio que a lei relativa à produção artesanal de sabão deveria ser revista e ajustada, de forma a serem criadas saboarias artesanais e de forma a que o comércio local se desenvolva com produtos de excelência como caso o sabão natural.”

Antes de se aventurar a criar o seu próprio projeto, Susana Ernesto foi desenvolvendo e adensando o seu interesse pela saboaria artesanal sob a égide do mais natural possível. Com a gravidez passou a “tolerar muito pouco os cheiros demasiados intensos dos sabonetes de banho industrializados” e, progressivamente, começou a experimentar workshops que lhe permitiram ganhar bagagem para passar à ação. Esta aprendizagem, partilhada com João, permitiu compreender as diferentes processos na produção artesanal: o processo a quente e o processo a frio. No seu caso particular optou pelo processo a quente: “Por inúmeros motivos, dos quais salientamos o facto de na altura residirmos num pequeno apartamento que de forma alguma nos permitiria aguardar cerca de 40 a 50 dias para que o processo propriamente dito estivesse totalmente concluído: a saponificação.”

A produção artesanal exige que nos debrucemos sobre as matérias-primas utilizadas e a forma como as mesmas são obtidas. Neste sentido, promover o comércio artesanal é uma forma de assegurar a obtenção de matérias-primas de comércio justo. Esta foi naturalmente uma preocupação da Mog Soaps, nomeadamente no início do projeto: “Durante meses avaliamos vários dos potenciais fornecedores para as nossas matérias-primas e conseguimos que o nosso foco fosse ao encontro daquilo que procuramos,acreditamos e valorizamos: a não utilização de plásticos e micro-plásticos (Propileno) nem tão pouco de matérias potencialmente cancerígenas (Parabenos), a garantia fidedigna de que trabalhamos com empresas que não utilizem os animais para suas cobaias, sendo brutalmente desrespeitados. E, ainda, banir por completo os sulfatos que invadem todos os dias as nossas águas.”

Enquanto conceito, a Mog promove uma produção saboeira de luxo, mas sem exigir o sacrifício ou a sobrecarga da própria Natureza: “Manter e garantir a mesma qualidade dos produtos de luxo, atendendo a todas as questões ambientais, sociais e humanas. Por exemplo, as nossas edições Floral e Forest possuem um aroma inebriante (e que se mantém ao longo das utilizações), glicerinas de altíssima qualidade (não secam a pele e são 100% isentas dos produtos supramencionados) e esfoliantes 100% naturais (não possuem quaisquer partículas de plástico)”. 

De facto, o sabonete já não é um único produto. Reinentou-se e adaptou-se às necessidades de cada um através de uma seleção mais consciente de matérias-primas.

Durante os próximos dias, o Gerador destaca a produção artesanal de sabonetes em Portugal. O mote desta semana temática é precisamente a reportagem “Saboaria Artesanal: A reinvenção ecológica da cultura do sabonete português, publicada na Revista Gerador 31. Sabe mais sobre a semana temática aqui.

Texto de Mafalda Lalanda
Fotografias de Dulce Mourato

Se queres ler mais notícias sobre a cultura em Portugal, clica aqui.

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