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Ritta Tristany: “O tempo voa e eu acho sempre que vou a tempo”

Desde que é gente que Ritta Tristany gosta de desenhar, pintar, escrever e cantar. Pinta…

Texto de Isabel Marques

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Desde que é gente que Ritta Tristany gosta de desenhar, pintar, escrever e cantar. Pinta com música e canta a desenhar sóis e luas no espaço.

Inspirada de estórias e canções que, pela sua voz, embalavam os seus filhos à noite, editou um livro que escreveu, ilustrou e cantou, sempre com a preciosa colaboração, persistência e incentivo do seu companheiro Firmino e com a participação dos seus filhos, João e Miguel.

O tempo continuou a voar desenfreadamente, e eis que se encontra numa fase diferente da vida em que decide gravar um novo trabalho, desta vez não para crianças de palmo e meio, mas para a criança que todos guardamos dentro de nós e que quer manter-se viva.

Voa Tempo é o nome do seu mais recente projeto de originais que conta com dez faixas e que relembram as estórias e vivências de uma vida em que o tempo voou simplesmente.

O Gerador esteve à conversa com Ritta Tristany para conhecer mais de perto o seu trajeto, bem como o seu projeto do Voa Tempo. Ao longo da conversa, a artista procurou refletir sobre as suas inspirações e ambições.

Gerador (G.) – Passando a ler uma pequena apresentação tua... “Desde que sou gente, desenho, pinto, escrevo e canto. Se faço qualquer uma destas coisas na perfeição?… não…, mas tento e gosto, e é isso que importa.” Quando e como é que nasceu a vontade de partilhar estas pequenas “imperfeições” com os outros?

Ritta Tristany (R. T.) – [risos] Partilho estas pequenas imperfeições desde sempre. Desde pequena que faço essas coisas todas, mas, neste momento, é que surgiu a vontade de fazer um álbum em primeira pessoa. 

G. – Nunca sentiu o receio da sua arte não ser aceite?

R. T. – Claro! E ainda tenho, mas tento ultrapassar aos poucos senão não faço nada. Eu quero aproveitar o tempo que me resta, mas, sim, há sempre medos, receios. Não vou dizer que não. Claro que eu gosto muito que me digam que está bonito, mas, quando não apreciam, gostava muito mais que me fizessem uma crítica construtiva e não só o não gosto porque não gosto. 

G. – Fruto dessas imperfeições nasce agora o disco Voa Tempo. Queres-nos falar um pouco sobre o seu conceito?

R. T. – Eu trabalho com o meu companheiro que é o Firmino Pascoal, fazendo voicings e harmonias com ele, já há muitos anos. Depois, foi aquela necessidade de fazer um trabalho para crianças, foi a Selva da Amizade, porque eu escrevo pequenos contos para crianças e então compusemos letras para esse trabalho e fiz concertos para crianças.

Entretanto, surgiu a tal vontade de fazer um álbum em nome próprio, mas para crianças mais crescidas, ou seja, para a nossa criança interior. Para a criança que todos temos cá dentro. Foi uma coisa que foi surgindo...

Na realidade, isto tudo começou com uma letra que um amigo meu escreveu sobre o “gato pardo”, e como eu gosto muito de gatos desafiou-me a fazer música com aquilo. Então, musiquei. Tive a ajuda de um outro amigo, que é o Rui Pais, e que tirou os acordes na guitarra e fez os arranjos e depois achámos que o tema estava muito engraçado. E começámos a pensar porque não fazer um single com videoclipe e tudo mais. E ficaríamos por aí...

Só que, entretanto, começou o bichinho, e estávamos na pandemia, de eu ter músicas, o Firmino também ter músicas, há outro amigo que também tinha, e porque não fazer um álbum em nome próprio? Fui incitada por várias pessoas. Entretanto, acabei por fazer. 

Primeiro, gravou-se o Gato Pardo, a seguir a gravar essa estávamos na pandemia e a voz, por exemplo, já teve de ser gravada em casa. Depois, as coisas foram num ficheiro para um guitarrista, para o baixista, etc. E assim, passo a passo, foi acontecendo um álbum que se chama Voa Tempo que tem que ver comigo. O tempo voa, e eu acho sempre que vou a tempo. 

Álbum "Voa Tempo", Ritta Tristany

G. – Rita, falava-me agora sobre um ponto interessante. O gosto pela escrita para crianças. De onde nasceu esse fascínio e porquê esse público?

R. T. – Sempre gostei muito de crianças e sempre tive uma ligação especial com elas. No fundo, acho que sempre tive um certo jeitinho, principalmente, para a minha infância e quando nasceram os meus filhos. Quando os meus filhos nasceram, inventava-lhes histórias, compunha músicas à cabeceira deles, e iam sempre surgindo histórias para lhes contar. 

Ritta Tristany

G. – Particularizando agora num dos temas que mais me despertou a atenção até pelos tempos de pandemia que estamos a viver, nomeadamente, a “Solidão”. Ao longo desta ouvimos o seguinte: “a solidão é um caminho sofrido; sem saber que pedras vai encontrar; uma vida um muro vestido; ao ombro de um escurecido ficar”. Isto acaba por ir um bocadinho ao encontro do que estamos a passar em que cada dia é uma incerteza… São este tipo de episódios diários que te dão inspiração para escrever?

R. T. – São, sem dúvida! E é curioso o que estás a dizer porque a “Solidão” escrevi-a antes da pandemia, mas a verdade é que andamos sempre em círculo. De maneira que as coisas que aconteceram há uns anos voltam a acontecer. No fundo, estamos todos neste barco, neste caminho sofrido e a tentá-lo viver da melhor forma. 

A solidão é um caminho que temos de percorrer para darmos valor com quem não estamos. E, ao mesmo tempo, sobre este encontro connosco próprios. Ainda não é muito valorizado... Temos de estar um bocadinho sozinhos para darmos valor a quando temos as pessoas connosco e vice-versa. Acho que há sempre um certo ponto no nosso percurso que nos sentimos sozinhas!

Ritta Tristany - Solidão

G. – Refletindo agora sobre o tema “a estória do gato pardo”. Que importância é que este gato representa para este teu álbum?

R. T. – Este gato é engraçado... Não foi feito nada de propósito, mas alguém me disse que era engraçado transformar o gato pardo da Ritta Tristany, histórias da amizade, e a Ritta Tristany sénior. [risos]

Ritta Tristany- Gato Pardo

G. – Neste caso, este novo projeto é composto por dez canções. Há algumas delas que te puxe particularmente para esse lado de criança que manténs dentro de ti?

R. T. – No fundo, eu sou criança. Posso falar no Voa Tempo, porque digamos que é a minha história. Até o próprio videoclipe é feito tendo por base fotos minhas desde que sou criança, na escola primária, os meus amigos... Mas de uma certa forma até acho que são todos. 

Ritta Tristany- Voa Tempo

G. – E, caso as pessoas tenham curiosidade de te ouvir, por onde te podem encontrar?

R. T. – Está no Spotify, no YouTube, e podem comprar o disco. 

G. – E ao vivo? 

R. T. – Por enquanto, não. Nós tivemos o lançamento no dia 26 de novembro, já no ano passado, mas para já ando à procura. Gostava mesmo muito. Convidem-me!

G. – Já dissemos inicialmente que tens um carinho especial sobre o desenho, a pintura, a escrita e o canto. Se só te dessem à escolha uma destas áreas para espantar os males, qual escolherias?

R. T. – Sem dúvida nenhuma, o canto, embora eu goste muito das outras. 

G. – Porquê?

R. T. – Eu adoro cantar. É uma coisa que gosto cada vez mais de aperfeiçoar e que tomei o gosto. Se eu canto bem ou mal, é uma das tais coisas relativas, mas sou eu... Também ficar sem as outras era complicado. Eu sou daquelas pessoas que anda sempre a rabiscar… Gosto muito de desenhar, pintar e de me inspirar na música para pintar ou estar a pintar e estar a criar uma música. Escrever, eu gosto, mas eu tenho de ter inspiração, porque há momentos em que escrevo e escrevo, e há outras alturas que não me sai nada. 

G. – Mas essas alturas em que a inspiração não existe também se pode encaixar na “Solidão” que falávamos há bocadinho...

R. T. – Pois é! [risos] Mas, às vezes, na solidão quando acontece algo menos bom, há uma necessidade em tentar transformar as coisas menos boas em boas. Eu lembro-me de ter escrito uma data de coisas há uns tempos por causa de uma situação menos boa que aconteceu na minha vida. E eu inspirei-me imenso e escrevi, escrevi. Inclusive, o Voa Tempo veio daí. Portanto, é tudo uma transformação. Transformar coisas más em boas. 

G. – Alguma coisa que gostasses de acrescentar?

R. T. – Só que gosto muito deste álbum e que é o álbum da minha vida. Provavelmente, vou fazer outro, espero que sim, até porque já não sou uma menina e o tempo voa. Eu acho que os segundos agora são mais rápidos do que há uns tempos. Pelo menos, quando era miúda o tempo não passava assim. 

O tempo voa, mas eu também quero acreditar que, apesar de não ser conhecida, ainda vou a tempo, pelo menos para ser feliz no que gosto. Cantar, pintar, escrever, compor umas coisinhas, etc.

Texto de Isabel Marques
Fotografia da cortesia de Ritta Tristany 

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