Esta semana partilhamos contigo a conversa que tivemos com a Rute Correia, cofundadora, diretora e jornalista do Interruptor. Esta entrevista, conduzida no dia 16 de abril de 2021, foi uma das que fizemos aquando da investigação que deu corpo à última edição da Revista Gerador (maio) para explorar a problemática do jornalismo lento.
Para a Rute Correia, a rádio tem sido central no seu percurso profissional. Com especialização em jornalismo musical, já passou por estações como a Oxigénio e já foi reconhecida com o “Silver Innovation Award” nos Community Radio Awards, em 2016. É mestre em Produção e Gestão de Rádio, e doutoranda com uma tese cujo foco é o open source enquanto modelo de sustentabilidade para rádios comunitárias. Para além da Rute, o Interruptor é ainda composto por Ricardo Correia, na fotografia e sonoplastia, e Ciaran Edwards, na programação e web design.
O Interruptor, é uma revista multimédia independente que trata temas relacionados com a cultura. Para tal, apostam no jornalismo de dados para alavancar as suas investigações. É um projeto que visa contribuir para a democratização do acesso à cultura, acreditando que a informação deve ser de livre acesso. No seu site, podemos já ter acesso a variadas investigações, como são exemplo: “3 gráficos para compreender o colonialismo português”, “O rap é misógino?”, “Até onde chega a cultura?”, “Consegue um algoritmo distinguir os heterónimos de Fernando Pessoa?” ou “Para que serve o Plano Nacional de Leitura?” Para além do site, o Interruptor apresenta ainda um podcast e uma newsletter semanal a que chamam Circuitos em que constam sugestões culturais para ler, ouvir, ver, jogar e para ir.
Esta é a quinta entrevista da nova rubrica Entrevistas com Jornalistas, que o Gerador irá continuar a lançar ao longo das próximas semanas e que se irá debruçar sobre os grandes desafios que a profissão continua a enfrentar.
Gerador (G.) – Como definirias jornalismo lento?
Rute Correia (R. C.) – Para mim, o jornalismo lento prende-se com fugir ao imediatismo da notícia. Na medida em que, por exemplo, se pensarmos no telejornal ou num jornal diário, esses jornalistas têm de reportar o que acontece diariamente, o jornalismo lento tenta, não ir contra isso, mas não ser permanentemente sugado por esse vórtex de última hora. Portanto, é uma maneira de criar jornalismo, conhecimento, também, mas de uma forma um bocadinho menos ditada por essas imposições temporais, que são necessárias, não é? Nós precisamos de saber o que acontece diariamente. As restrições da covid[-19] são um exemplo muito básico, muito prático, mas precisamos de saber imediatamente o que é que muda, o que é que fica na mesma, o que é que podemos fazer, etc. Mas também há muitas histórias e narrativas que acabam por passar um bocado despercebidas, porque são coisas que, se calhar, não têm um impacto imediato ou é um impacto um bocado a longo ou médio prazo.
A falta de urgência, neste caso, acaba por fazer com que passem despercebidas ou por ser menos noticiadas. E, nesse sentido, a maneira como nós encaramos – e como eu encaro o jornalismo lento – tem precisamente que ver com quebrar essa tirania da atualidade das notícias. Até porque, felizmente, já há quem trate desse universo. Temos as estações de televisão, estações de rádio, jornais diários, que tomam conta dessa parte, mas fica muita coisa por fazer e por tratar e o jornalismo lento vai um bocado nessa direção que é, se calhar, olhar para as coisas com mais tempo, levar um bocadinho mais de tempo a escrever um texto. Portanto, é investigar as coisas com mais calma, tentar perceber quais foram os intervenientes que acabaram perdidos no meio de um determinado assunto. Acho que é mais ou menos por aí.
G. – Qual é o papel que tu achas que este jornalismo lento ocupa, tanto inserido no mundo do jornalismo como na sociedade?
R. C. – Eu acho que, neste momento, está a atravessar uma fase muito interessante, na medida em que este tipo de jornalismo já era feito antes. Se pensarmos, por exemplo, é isso que as revistas semanais ou mensais ou bimestrais fazem. Portanto, qualquer produção jornalística que não fosse diária acabava já por privilegiar, de certa forma, algum jornalismo lento. Mas, neste momento, o que vemos é que parece que está a haver uma espécie de viragem.
Temos alguns meios de comunicação que se começam a especializar ou que continuam a sua especialização. Por exemplo, existe a The Atlantic, nos Estados Unidos, que sempre teve esta abordagem; em Portugal, os meios alternativos, que têm surgido nos últimos anos, acabam por cumprir esse papel e por ser também uma marca diferenciadora, mas tal não quer dizer que não exista [jornalismo lento em redações tradicionais]. Por exemplo, há jornalismo lento no Público e no Expresso, mas, se calhar, não é o seu maior foco. Não são as prioridades daquelas publicações até porque, se calhar, não podem ser, porque o jornalismo lento acaba por, na lógica de uma redação mais normal ou com mais pessoas, ser um bocadinho mais caro de produzir, porque as pessoas ficam ali alocadas a uma determinada peça durante bastante tempo e nem todas as publicações o podem fazer. Por outro lado, temos publicações como o Gerador, que acaba por, também, repensar em determinados assuntos, com outras perspetivas, com outras abordagens e fazem também esse jornalismo mais lento que acaba por servir, também, como diferenciador das próprias publicações. Vou chamar-lhes [publicações] alternativas ou independentes, o que tem várias implicações que eu não vou estar aqui [a desenvolver]. Mas que, realmente, acabam por tocar em assuntos que, se calhar, não têm espaço noutros locais.
Agora, assim muito de repente, estou a pensar no Shifter, que tem feito muito trabalho até de política internacional ou de sociedade, mas de foco internacional, com a cobertura da crise na Polónia, mais recentemente com a questão dos NFT e, portanto, que são temas que, até podem ter sido abordados noutros locais, mas normalmente não tão a fundo ou não por profissionais tão especializados naqueles temas. Acho que o jornalismo lento acaba por completar as narrativas do dia a dia, por assim dizer. Eu acho que é bom, acho que estamos a atravessar uma fase bastante interessante porque, na verdade, uns acabam por puxar pelos outros.
G. – Há pouco referias que as redações lidam com esta questão da atualidade, que acaba por afastar estas peças de jornalismo lento. Pedia-te para me dizeres que características é que tu vês, hoje em dia, nessas reações e que achas que podem ter levado, também, à necessidade de destacar este tipo jornalismo – porque idealmente todo o jornalismo seria lento, mas vemos que surge na forma destes projetos alternativos e quase como um subgénero do jornalismo. Achas que se trata uma consequência desta aceleração do dia a dia?
R. C. – É uma conjugação de várias coisas. Por um lado, as redações dos meios mais tradicionais ou dos meios já instalados, dos grandes grupos de comunicação, não quer dizer que não o façam [jornalismo lento], mas passaram a dar-lhe menos destaque. [A isto junta-se] a agravante de redações delapidadas por despedimentos coletivos, que foram sistemáticos na comunicação em Portugal e sobretudo desde a crise de 2008-2012. Portanto, nós temos grandes projetos de comunicação, no sentido em que fazem parte de empresas grandes e que têm recursos financeiros que uma pessoa esperaria que seriam suficientes para manter uma operação daquele tipo a funcionar – que obviamente é dispendiosa –, e acho que esse empobrecimento das redações mais mainstream acabou por ter, naturalmente, um impacto na produção jornalística, sobretudo nesta, que é menos urgente. O mais urgente é o que está a acontecer agora, não é o grande plano. Muitas vezes é só o pormenor, e é isso que tem de ser priorizado.
Não quer dizer que esse jornalismo não seja necessário. Claro que as lógicas comerciais da maior parte das estações de televisão e rádio, e também dos jornais que nós conhecemos, de cobertura nacional, têm lógicas comerciais e, portanto, acabam por ter de funcionar numa lógica de retorno de investimento mais imediata e até funcionarem mais como uma empresa capitalista, cujo objetivo é dar lucro e, assim, têm de ser o mais eficientes possível na conquista desse propósito. Acho que isso criou necessariamente debilidades que estes meios mais pequenos tentam colmatar de alguma forma. Por exemplo, na área da cultura é muito óbvio isso. Durante muito tempo havia uma cobertura cultural bastante abrangente, ou mais ou menos abrangente – claro que Lisboa é sempre um ponto centralizador e é por aí que também se criam outros desequilíbrios – mas a cultura era uma coisa que era tratada de forma profissionalizada nos meios de comunicação tradicionais, e isso acabou por ser perdido de alguma forma.
Claro que ainda há publicações que tratam a cultura de forma sistemática, mas são muito poucas as pessoas a escrever sobre cultura em Portugal, e, claramente, os meios tradicionais, e talvez por estarem, também, mais nessa lógica de última hora, acabam por desvalorizar um pouco esta parte. Existiam revistas especializadas [em cultura e áreas culturais], por exemplo, e isso deixou de existir e, portanto, esse espaço, essa plataforma, deixou de existir.
G. – E o surgimento de projetos de jornalismo lento também tem que ver com isso.
R. C. – Sim, sim, exatamente. Estes meios mais pequenos detetaram algumas falhas naquilo que existe. Claramente havia uma falha de cobertura nalguns temas e eles [projetos de jornalismo alternativo] acabam por ocupar esse espaço. Claro que não tem o mesmo alcance que os meios tradicionais e seria bastante irreal comparar – e acho que é muito importante termos isso bem presente. Não faz sentido comparar um Interruptor com o Público, por exemplo, são lógicas muito distintas de produção, são estruturas completamente díspares em termos de dimensão, de política editorial, de tudo mais, mas sejam o Interruptor, o Shifter, o Gerador, o Jornal Mapa, felizmente há cada vez mais exemplos. Acabam por identificar uma lacuna nas coberturas mediáticas nacionais, de jornalismo lento ou mais de investigação sobre determinados temas, e ocuparam espaços ou tentam ocupar esses espaços. Às vezes tentam mais do que realmente ocupam, mas claramente acaba por ser muito óbvio que eles tentam preencher uma lacuna do mercado de jornalismo em Portugal.
G. – E o que é que te levou a fundar um projeto como o Interruptor?
R. C. – O Interruptor surge mais ou menos nesta lógica de ocupar um espaço que eu achei que não estava ocupado. Acho que é um espaço um bocado misto. Acho que o Interruptor, por exemplo, complementa o Gerador muito bem. O tipo de abordagem que eu procurava era um bocadinho diferente, porque eu acho, por exemplo, que o Gerador fala muito de artistas para artistas e fala muito para os profissionais da cultura, o que é necessário, mas, às vezes, parece falar mais para os profissionais da cultura do que propriamente para o público. E eu gostava de fazer um bocadinho mais essa ponte de democratização do acesso à cultura e de repensar narrativas à volta da cultura. Também achava que – e agora estou a falar em nome pessoal, mas o Interruptor é um projeto coletivo –havia pouca abertura.
Acho que a cultura em Portugal, e sobretudo nos meios de comunicação tradicionais, está muito entrincheirada. Eu já tinha feito rádio durante muitos anos, portanto vinha do jornalismo musical, em que, para mim, sempre foi muito estranho o entrincheiramento de um espaço que não devia ser entrincheirado, e queria repensar essas lógicas todas, queria quantificar algumas coisas, que às vezes também é difícil. Parece quase que – isto agora vai ser muito injusto para certos jornalistas – há muito o hábito de criar narrativas e como são tão poucos a escrever sobre o assunto criam-se determinadas narrativas e determinados mitos que depois são muito difíceis de desmontar, mas que nem sempre correspondem à verdade ou é uma verdade incompleta.
Por exemplo, acho que, no artigo que nós escrevemos sobre a misoginia no rap, isso é muito óbvio, porque toda a narrativa da história do rap nos media nacionais está construída à volta do homem, mas nós sabemos que as mulheres estão lá desde o início e isso, depois, também tem influência nas próprias letras e por aí adiante. E, nesse sentido, o nosso objetivo era um bocado democratizar o acesso à cultura, repensar a cultura de forma, se calhar, menos institucional – apesar de eu achar que, muitas vezes, acabamos por ser um bocadinho mais institucionais do que eu gostaria –, mas tentar pegar em novas lógicas à volta da cultura nacional e também cobrir coisas que, se calhar, ficam um bocado escondidas do grande público. Sobretudo porque quem gosta muito de cultura de certeza conhece o Gerador e de certeza que lê o Ípsilon, e outros suplementos culturais. Mas, por exemplo, os meios tradicionais escrevem sobre a cultura de um ponto de vista muito culto e adulto. Nós tentamos fazer de uma forma, se calhar, um bocado mais leve, apesar de nem sempre ser assim muito leve, porque também são textos grandes, levam um bocado a ler. Surgiu um bocado com esse objetivo, mas acabou por ser também um fruto do meu próprio percurso profissional e do meu desencantamento com algumas coisas que fui encontrando.
G. – Fazendo parte de um projeto deste tipo, que dificuldades financeiras enfrentam?
R. C. – Todas [risos]. O Interruptor, neste momento, só é possível com poupanças pessoais da equipa, que é uma equipa muito pequena. Somos três. Temos alguns subscritores a quem estamos eternamente gratos e cujos donativos já têm algum peso no nosso trabalho, mas nós ainda não somos financeiramente sustentáveis, longe disso. Neste momento, não posso dizer que há um retorno de investimento, mas também já não perdemos dinheiro, o que já não é mau. É bastante desafiante nesse sentido, até porque nós, não sendo necessariamente contra patrocínios e publicidade, temos bastante decoro e muitas reservas em relação à maneira como o faremos, um dia, se isso se proporcionar. Nós somos muito contra a publicidade invasiva, rastreadores de cookies, e, portanto, o nosso site será dos poucos em Portugal em que nós sabemos muito pouco daquilo que os nossos utilizadores fazem e ainda bem que assim o é. Conseguimos saber quantas visualizações temos, quantos visitantes temos, e sabemos o país de onde vêm, mas basicamente é isso. Uma das nossas maiores preocupações é efetivamente a privacidade dos nossos utilizadores. O que é bastante desafiante no ambiente digital e temos noção que remamos contra a maré. Tentamos também candidatar-nos a bolsas e, neste momento, acaba por ser esse misto de candidaturas a bolsas, donativos dos nossos leitores e ouvintes – temos um podcast também – e o que vai sobrando de poupanças pessoais, mas claro que a longo prazo isso não é sustentável, portanto teremos de criar aqui lógicas mais sustentáveis, mas que nunca comprometam os nossos princípios.
Por exemplo, nós somos muito rígidos em relação a ter todo o nosso conteúdo aberto para o público, porque a maneira como vemos a nossa missão é mesmo essa de democratizar o acesso e nós achamos que uma paywall não democratiza o acesso, é mais um muro na escalada social. Se nós pensarmos, por exemplo, no salário mínimo de alguém, o salário mínimo nacional, quer dizer... [pagar a subscrição de um meio de comunicação] é um investimento muito grande, e claro que as pessoas devem andar informadas, mas a verdade é que não é comportável, por exemplo, para alguém que ganha salário mínimo nacional, assinar dois jornais. Claro que temos noção de que temos contas para pagar e que, a longo prazo, temos de encontrar aqui algumas estratégias que nos permitam continuar o nosso trabalho, mas mais importante do que isso é mantermo-nos fiéis àquilo em que acreditamos – que é ter o nosso conteúdo aberto, disponível para toda a gente – sendo que o digital, só por si, já traz alguma exclusão.
Dentro do universo digital, o nosso site está aberto, a nossa newsletter é aberta, nós não temos nenhum conteúdo pago, e está tudo construído sobre estruturas tecnológicas que privilegiam a privacidade dos nossos utilizadores. Até agora, os resultados têm sido melhores do que nós estávamos à espera, portanto, pode ser que a estratégia compense. Idealmente, os donativos dos nossos leitores cobririam tudo, mas isso vai levar o seu tempo. Nós também somos muito novos e, portanto, ainda estamos a descobrir o nosso público e a nossa própria estrutura editorial. Ainda estamos muito a apalpar terreno, a ver o que é que resulta e o que o que é não resulta assim tão bem. Vai-se fazendo.
G. – Como é que é a tua relação com o tempo de produção das peças que vais escrevendo?
R. C. – É difícil, muito difícil. É muito complicado, para mim, às vezes, definir prazos editoriais. Nós temos prazos de publicação, naturalmente, até porque temos obrigatoriedade de publicação, que é quinzenal, no nosso caso. Portanto, também acabamos por ter de arranjar estratégias que nos permitam ter mais tempo para produzir peças que, naturalmente, demoram mais tempo. É um bocado também nesse seguimento que surge, por exemplo, a nossa newsletter, que é semanal, e que enviamos às quintas-feiras, e que, depois, à sexta vai para o nosso site. Assim, garantimos que estamos a cumprir com as nossas obrigatoriedades legais. Temos um conteúdo, que é recorrente e que achamos que pode ser interessante para os nossos leitores, mas essa newsletter, esse Circuito, acaba por surgir também um pouco como resposta à dificuldade que nós estávamos a encontrar em ter tempo suficiente para produzir estas peças, que são mais longas. E nós fazemos sobretudo jornalismo de dados, portanto há todo um trabalho de recolha de dados, de tratamento de dados, de criação de gráficos. Isto para além de tudo o resto que o trabalho jornalístico normalmente implica, como encontrar fontes, fazer entrevistas, escrever o texto. Portanto, nós chegámos à conclusão de que, se calhar, fomos demasiado otimistas no prazo inicial que definimos para publicar este tipo de trabalhos e tivemos de encontrar uma estratégia que nos desse esse tempo que nós sentimos que não estávamos a ter.
Mas é sem dúvida um desafio, porque estas estes trabalhos são trabalhos que envolvem muita investigação, trabalho de arquivo, por exemplo, de pesquisar... Nós, no Interruptor, tentamos, muitas vezes, dar enquadramentos mais ou menos históricos para determinadas coisas. Isso envolve trabalho de arquivo, envolve ir confirmar documentos, confirmar datas, e todo esse trabalho requer o seu tempo. Se estivermos a trabalhar temas um pouco mais complexos, ou em que não nos sintamos tão à vontade, envolve ler livros, ler outros artigos, pesquisar bibliografia etc. Realmente essa gestão de tempo, para nós, tem sido muito desafiante, sem dúvida, mas acho que começamos a perceber o que é que conseguimos fazer.
Nesse sentido, o ancorar coisas em séries, acaba por ajudar, porque uma coisa leva à outra e acabamos por conseguir extrair muito sumo da mesma laranja, por assim dizer. Mas o tempo é sempre o nosso – ou pelo menos desde que nós começamos a publicar, em setembro.
G. – O jornalismo de dados não é muito explorado em Portugal, inclusive nas universidades, até porque exige a existência de programadores. Que passos é que tu tiveste de dar até conseguires fazer esse lado de programação?
R. C. – Tem sido uma grande aventura e acho que a minha experiência não foi muito diferente da tua na universidade. Eu tive uma cadeira de multimédia que nem HTML nós fizemos. Mas eu tive alguma sorte, acasos que acontecem, não é? Quando comecei a fazer rádio, comecei na Rádio Zero, que ainda existe, e é a rádio da Associação de Estudantes do Instituto Superior Técnico. Foi uma coisa que mudou muito a minha vida e que mudou muito também a minha maneira de olhar para a tecnologia. Eles tinham toda esta filosofia de ter código aberto, conteúdo aberto, que para mim fazia todo o sentido. Acho que aí foi a altura em que eu comecei a pensar a tecnologia como uma parte fundamental do processo jornalístico. Na altura, se calhar, não estava tão focada na parte jornalística, estava só na produção de conteúdos em geral, chamemos-lhe assim, e a pensar também nas implicações que isso tem ou que pode ter.
A verdade é que ao longo dos anos eu continuei muito à volta desse universo, enquanto ativista ou enquanto entusiasta, e até enquanto produtora de conteúdos. Eu tive um podcast que era dedicado à música disponibilizada em Creative Commons durante muitos anos. E, portanto, mantive-me sempre nesse universo, que está muito ligado à tecnologia e ao ativismo ligado à tecnologia, direitos digitais, software livre e de código aberto etc. Acabou por ser um passo mais ou menos natural eu ir aprender a programar. Também trabalhei em empresas tecnológicas, e essas coisas todas acabaram por alimentar essa parte da programação. Se bem que, eu nunca quis ser programadora e, portanto, a maneira como eu olho para a programação é muito numa lógica de – é uma competência técnica que eu tenho e que, no meu caso, até é bastante básica e é sempre um desafio imenso. Às vezes é muito, muito difícil conseguir programar porque, lá está, programar exige que eu que eu própria reprograme a minha maneira de pensar nas coisas. Torná-las muito mais lineares, muito mais compartimentalizadas em microtarefas e coisas assim. Para mim, [programar] é uma competência como editar imagens, como escrever um texto, e acaba por enriquecer o trabalho jornalístico.
Em Portugal, não se faz muito [jornalismo de dados]. Existem alguns meios que vão fazendo. O Público tem um jornalista de dados, que é o Rui Barros que tem trabalhos absolutamente incríveis. Mas obviamente não posso comparar o trabalho de dados que o Interruptor faz com o trabalho de dados que existe no Público.
Acho que algumas redações começam a investir um pouco nesse tipo de profissionais, imagino que em Portugal sejam muito raros, porque toda a formação jornalística está ancorada noutro tipo de competências. Mas creio que também dependerá das escolas. Acho que, inevitavelmente, é uma competência que alguns jornalistas vão ter de ter, mesmo que a maior parte não os tenha, porque é fundamental, sobretudo se estivermos a pensar, se calhar, até numa lógica mais de escrutínio político e social, de políticas públicas. Portugal ainda tem um longo caminho a fazer em relação a dados abertos e a disponibilização de dados porque, mesmo quando os dados estão disponíveis, muitas vezes estão em formatos que não são [os mais indicados para serem trabalhados]. Para a parte da cultura é um desafio acrescido, porque há muito poucas quantificações em Portugal sobre a cultura.
G. – Nas composições das redações nós vemos, na sua maioria, que elas continuam a ser muito pouco diversas em vários aspetos. Se calhar, temos mais mulheres nas redações, mas as chefias continuam a ser predominantemente constituídas por homens, de classe média, pessoas caucasianas, pessoas de Lisboa ou que tiveram de ir morar para Lisboa. Como é que tu achas que isso afeta também a qualidade das notícias que são produzidas e os ângulos escolhidos para falar sobre determinados temas?
R. C. – Eu acho que tem um impacto enorme, sobretudo se estivermos a falar de redações maiores, em que, de repente, se tens ali um grupo muito homogéneo de pessoas, naturalmente vão ter visões muito homogéneas sobre os assuntos – ou mais ou menos homogéneas –, não vou dizer que pensam todos da mesma forma sobre todos os assuntos, não é isso, mas que acabam por ter ângulos semelhantes sobre os temas. A nossa equipa é muito pequenina e é relativamente homogénea nesse sentido, mas depois temos algumas particularidades: em três pessoas há uma mulher, mas a mulher é quem dirige o projeto, que sou eu. Temos um imigrante, portanto temos um cidadão estrangeiro que mora em Portugal, e somos todos mais ou menos da mesma idade, embora o Ricardo seja um pouco mais novo. Mas não somos uma redação muito diversificada, mas tentamos, por exemplo, em termos de política editorial, ter uma abordagem que nos permita diversificar a visão cultural mais vigente, mais homogénea em Portugal.
Por exemplo, temos regras – que não são coisas muito rígidas – mas, nas fontes que procuramos, tentamos privilegiar coisas fora dos centros das áreas metropolitanas sendo que entre Porto e Lisboa privilegiaremos o Porto, porque está menos tratado nos meios nacionais do que Lisboa. Trabalhamos ativamente para esbater esse viés sempre que possível.
Tentamos sempre acomodar a maior diversidade possível e as nossas preocupações maiores, nesse sentido, são da localização geográfica. No sentido em que tentamos quebrar ali o buraco negro que é Lisboa, que suga tudo à sua volta e suga toda a atenção mediática para a cultura. Para mim, é muito triste, e acho que se tem tornado cada vez mais óbvio, que, praticamente, só os palcos de Lisboa é que aparecem nos meios nacionais. E os meios nacionais refletem a realidade de Lisboa e não refletem a realidade do resto do país. Há muito esta ideia de que o resto do país é um deserto cultural e isso não podia estar mais longe da verdade.
Claro que, se calhar, uma cidade como Portalegre, não tem a mesma oferta cultural de Lisboa, obviamente que não, mas isso não quer dizer que não aconteçam coisas interessantes lá, e que essas coisas não mereçam também o seu espaço numa lógica de diversificação de públicos e de fazer com que a cultura chegue de outros sítios que não Lisboa. Acho que essa acaba por ser a nossa maior preocupação.
Nós queremos também democratizar esse universo de validação cultural e de perceção. De perceção, também, porque é muito diferente aquilo que existe realmente e a perceção que as pessoas têm daquilo que existe, o que também é fabricado, em parte, pelos media, não só, mas em grande parte.
G. – E como é que tu vês a relação do jornalismo com as redes sociais? No que é que pode ser um desafio e no que é que pode ser uma mais-valia?
R. C. – Para nós, é um desafio porque nos tira muito tempo a fazer imagens, tempo que não tenho, que devia estar a programar e que não estou, porque estou fazer imagens. No geral, é bom porque as redes sociais são mais um canal de distribuição. Claro que existem todas aquelas questões de desinformação, notícias falsas e por aí adiante, que as redes sociais acabam por ter um papel na disseminação mais rápida, mas isso também acontece em parte – isto é a minha opinião – pelas próprias lógicas nos meios de comunicação social, que não dão resposta a determinados assuntos, que não acomodam determinadas perspetivas e, lá está, a existência da paywall. Eu já tive grandes discussões no Twitter com jornalistas sobre a paywall. Que eu acho que é um mecanismo profundamente elitista e muito problemático nesta lógica de disseminação de informação, porque, logicamente, se um artigo estiver aberto, é muito mais fácil uma pessoa normal, uma pessoa comum, conseguir validar a informação, ou não.
Claro que as pessoas consomem muita coisa de forma passiva, mas há muitas pessoas que não o fazem de forma passiva. Não gosto da lógica de infantilização dos leitores, mas é importante ter noção que nem todos temos o mesmo leque de conhecimento, nem temos as mesmas experiências de vida, etc. E, nesse sentido, as redes sociais acabam por ajudar a validar informação que, muitas vezes, está errada, mas que é a informação que está acessível. O mercado português é um mercado que tem muita população no limiar da pobreza, portanto, estes mecanismos de mercantilização da informação geram exclusão social e geram exclusão de informação e de acesso à informação que devia ser pública e, nesse sentido, por exemplo, aquilo que o Público fez, de disponibilizar as informações sobre a pandemia de forma aberta é, obviamente, de louvar. E eu percebo que eles têm de pagar ordenados e que são uma redação grande e que, obviamente, as assinaturas representam uma fonte [financeira] importante.
Eu acho que as redes sociais podem ser grandes aliados na disseminação de informação e de conhecimento. Pese embora estas limitações que têm que ver também com pessoas que propagam ativamente desinformação e o sensacionalismo, que também agrava a questão. Mas eu acho que as redes sociais têm um potencial muito muito grande na disseminação da informação, e acho que parte do problema ou parte da tensão entre o universo jornalístico e as redes sociais, prende-se, sobretudo, pela maneira como essas estruturas não se souberam posicionar, não souberam entender os meios e da inércia digital. Para um meio como o Interruptor, sem redes sociais, muito dificilmente criaríamos audiência ou conseguiríamos chegar a algum lado.
G.– Achas que esta desinformação e a relação com fake news tem uma relação com a forma como o jornalismo é feito? E caberá ao jornalismo combater isso? Ou não é uma responsabilidade do jornalismo?
R. C. – Eu acho que também cabe, e, nesse sentido, acho que é muito importante, por exemplo, evitar o sensacionalismo. Claro que a lógica capitalista de olhar para a informação como mercadoria, e como algo que tem de ser rentável, é problemática, porque depois entramos imediatamente na questão dos cliques. O que é que é mais importante: o número de pessoas que clicam na notícia, ou quantas pessoas a leram até ao fim? E, portanto, eu acho que o jornalismo tem de assumir o seu papel ativo no combate à desinformação, sobretudo pelo rigor, pelo desmontar de narrativas falsas.
Eu não gosto muito da questão do fact checking, na medida em que esse já é o papel do jornalista, portanto, estar a dizer que vou fazer fact checking de não sei o quê... é literalmente o trabalho do jornalista, não é? Mas é importante que esse tipo de iniciativas exista, de desmontar narrativas falsas, de provar que determinada coisa é falsa. Há pouco falávamos das redes sociais e da questão de se era bom ou mau para o jornalismo. Tem um revés muito grande, que é: hoje as redes sociais têm um potencial de polarização de discursos, que não é bom.
Eu evito passar muito tempo nas redes sociais, mas confesso que passo muito tempo no Twitter, e acho muito interessante, às vezes, até coisas simples como distinguir um texto de opinião de um texto noticioso. Um texto de opinião é muito diferente de um texto jornalístico ou de um texto noticioso, e, às vezes, parece que as pessoas não percebem. Mas aí, também, se calhar interessa mais investir na literacia mediática, que é uma coisa que se faz muito pouco em Portugal.
G. – Queria exatamente falar-te disso. Há muita falta de literacia mediática. Desde logo no que me estavas a dizer, as pessoas, por vezes, não sabem a diferença – quando identificam, hoje em dia, nas redes sociais – entre uma crónica e uma notícia, mas há também uma questão de literacia digital. Não é toda a gente que nasce com um computador nas mãos ou que tem essa facilidade e, hoje em dia, a maior parte dos meios, ou da oferta informativa que existe, é online, porque cada vez mais são os que não conseguem ter o suporte em papel. O que pode ser feito em termos de literacia mediática, mas também digital?
R. C. – Olha, eu não gosto nada, por exemplo, da ideia do nativo digital. Há pessoas que crescem rodeadas de tecnologia e que não sabem distinguir as coisas. Há programadores que não percebem nada de jornalismo, mas percebem da estrutura da Internet mais do que um jornalista, não é? Agora se calhar é uma visão muito pessoal, ligeiramente enviesada, já estou a fazer aqui as ressalvas todas, mas acredito genuinamente que a falta de conhecimento em ciências sociais é problemática. Porque houve um investimento muito grande em canalizar as pessoas para áreas científicas e tecnológicas, que também são importantes, mas há muito pouca multidisciplinaridade em Portugal, a todos os níveis.
Acho que a multidisciplinaridade só chega demasiado tarde à vida das pessoas, e o demasiado tarde significa que a maior parte das pessoas não vai ter uma visão transversal. Não temos de ser especialistas em tudo e acho que isso é muito importante porque, dá-se, por exemplo, em Portugal muito espaço para tudólogos, toda a gente percebe tudo, não é? Eu não percebo metade das coisas, eu posso ter algumas ideias, posso conseguir criar alguns julgamentos, à partida, em assuntos que domino melhor ou pior, mas quer dizer, isto de ter o mesmo comentador a comentar tudo o que acontece todos os dias, não faz sentido nenhum! E muitas vezes propagam-se narrativas muito erradas também à conta disso, que são pessoas que assumem figuras de autoridade em temas que não dominam. Mesmo quando se tem conhecimento especializado em determinada área há potencial para haver lacunas.
E o jornalista, que é um profissional semiespecializado – alguns são mais especializados que outros –, tem esse papel de contraditório, de “mas afinal, se calhar, o que o senhor está a dizer não é bem assim, é mais assado”, ou “o que é que acha disto nesta perspetiva e não tanto nessa que está a partilhar”.
[Importa] ter noção do processo jornalístico, também. Há muito a questão de culpabilizar os jornalistas por determinadas coisas, quando o jornalista numa grande redação tem uma agência muito limitada. Claro que são eles que escrevem, são eles que assinam, mas não são eles que ditam qual é o ângulo da peça, por exemplo. Isto são coisas que a maior parte das pessoas não tem noção. São profissionais especializados altamente mal pagos.
G. – Muitas vezes, as coisas que escrevem são editadas – títulos alterados, citações...
R. C. – Exatamente. Há uma culpabilização do jornalista quando, na verdade, é um soldado na guerra. Se calhar, a falta de agência não é tão grande, mas também estão a cumprir ordens e também têm vínculos precários e contas para pagar no fim do mês e há despedimentos coletivos de x em x anos. Se calhar, também importa conhecer essas lógicas. A literacia mediática, acho que também se combate, por exemplo com – isto se calhar é um bocado mais rebuscado, mas é uma coisa que se fala muito pouco em Portugal – mais meios locais, mais meios comunitários, mais oportunidades para pessoas que estão fora do sistema e da lógica jornalística.
Não é difícil escrever uma notícia. Eu não preciso de estar três anos na faculdade para aprender a escrever uma notícia. No sétimo ou no oitavo ano há miúdos que escrevem notícias, não é? Mas, se calhar, perceber numa lógica de redação, como é que é o processo jornalístico, como é que se chega às fontes, implicações éticas do trabalho jornalístico, essas coisas, são coisas que se aprendem muito mais no terreno do que na faculdade, por exemplo – pelo menos, falo por mim. Mas são coisas que deviam estar mais acessíveis à população em geral.
A comunicação não pode ser só o que acontece em Lisboa, o que acontece no Parlamento ou o que acontece nos centros de decisão. Há todo um mundo e todo um país a acontecer longe disso. E, às vezes, nem é assim tão longe, não é? Eu moro na periferia, no concelho de Sintra. Sintra tem, acho que dois jornais locais, se calhar tem mais...Tem uma rádio local, mas é um concelho que tem 400 mil pessoas que moram aqui. Se eu quiser encontrar notícias sobre aquilo que existe à minha volta, ou vou à página da junta de freguesia ou sobra muito pouco, porque está tudo capturado pelo que é grande e pelo que é central, e é problemático. Acredito genuinamente que diminuir as barreiras de entrada é uma maneira muito prática de aumentar literacia e de utilizar também a comunicação como um meio de desenvolvimento e integração social e comunitária das comunidades. Mas não há muitos interesses em Portugal que pensem assim.
Acho que tem de haver um esforço maior, se calhar, impulsionado pelo Estado. Tem de ser um esforço também colaborativo, entre os vários agentes, se calhar entre os vários grupos de comunicação.
G. – Tens alguns projetos de jornalismo ou meios, nacionais e internacionais, que te inspirem, pelas mais diversas razões que fomos falando?
R. C. – Em termos internacionais, a minha maior inspiração é um site chamado The Pudding, em que eles fazem ensaios visuais sobre cultura e que tem artigos absolutamente incríveis sobre, por exemplo, as barreiras geracionais na música. Se estiveres num casamento – que é o público mais heterogéneo que podes ter, porque vais ter novos, velhos, pessoas de todo o lado – que música é que une toda a gente? Então eles fizeram um trabalho muito interessante sobre essas divisões geracionais e como é que certas músicas são superemblemáticas, super populares para certas gerações, mas que depois ficam encapsuladas nessas gerações. Depois, há outras que ultrapassam essas barreiras. O The Pudding é assim a minha inspiração máxima, sabendo que o Interruptor não tem nada que ver com o Pudding.
Há um site que se chama The Markup, acho eu, que faz jornalismo à volta de tecnologia que é muito interessante e que tem, também, uma lógica menos vista nos meios mainstream. Eles trabalham muito à volta de grandes tecnológicas e fazem investigação nessa área.
Nacionais, sem dúvida o Gerador, o Shifter e o Jornal Mapa. Também o Fumaça, embora menos, porque eles publicam menos, mas eles conseguiram conquistar uma massa crítica muito grande em relativamente pouco tempo e acho que o facto de eles terem o sucesso que têm acaba por abrir espaço para outros. Isso é superimportante.
O Gerador, porque acaba por ancorar a cultura portuguesa, e, sobretudo, numa altura em que eu acho que esta fragmentação do espaço mediático acabou por fazer com que deixasse de haver, talvez, um espaço para pensar a cultura. E nisso sou grande fã do Gerador, porque param para pensar a cultura. Também tem um bocado a loucura de o que está a acontecer agora e, às vezes, publica tanta coisa que eu, nem sei, mas, pelo menos nas revistas dá para parar e para respirar e para ler as coisas com atenção. Com o Shifter, já publicámos um artigo na revista deles e provavelmente vamos fazê-lo no futuro também. Portanto, trabalhamos em cooperação de vez em quando, mas eles realmente trabalham a tecnologia de forma aprofundada e pensam nos assuntos, investigam. Também acabam por dar atenção a questões internacionais, que, também, passam um bocadinho despercebidas noutros meios. A melhor informação sobre tecnologia em Portugal está no Shifter. O Fumaça é uma inspiração, porque fazem jornalismo áudio e porque focam o seu produto no áudio. Eu, que venho da rádio, naturalmente cabo por ter um fraquinho por isso. E o Jornal Mapa porque tem informação supercrítica, que é uma coisa que se encontra pouco em Portugal e são todos assim independentes, alternativos, não pertencem a grandes grupos de comunicação. E acho que são assim as minhas maiores inspirações.
Gosto do trabalho do Rui Barros, e o trabalho de dados que tem sido feito no Público é muito bom. E o Público, acho que, em termos de comunicação mainstream é talvez o meio que eu admiro mais, porque acho que conseguem arranjar espaço para jornalismo lento, sobre questões que acabam por passar um bocado debaixo do tapete e que não há muita gente que pegue. Isso é bom. Por exemplo, o caso dos especiais de racismo da Joana Gorjão Henriques, que são dossiês enormes. Criaram livros.