fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Ana Pinto Coelho

Seremos todos co-dependentes?

Numa situação em que conhecemos cada vez mais pessoas com perturbações e sinais evidentes de…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Numa situação em que conhecemos cada vez mais pessoas com perturbações e sinais evidentes de cansaço extremo, stress, até mesmo depressão, tendemos a esquecer os seus mais próximos, o agregado familiar que  também faz parte do processo, vivendo e sofrendo com ele.

Chama-se, geralmente, a quem vive ao lado de alguém que está psicologicamente afectado, “co-dependente”. Este não é um artigo para explicar o que é a co-dependência, mas para alertar que esta realidade afecta muito mais pessoas do que esperamos. Mesmo porque são elas que tentam ainda encontrar desculpas, explicações, narrativas para desculpar o comportamento mais complicado do seu familiar ou amigo.

Tal como quem sofre na pele um estado depressivo, e que depois de entendido, admitido, medicado, sabemos que está acompanhado, temos também de olhar pelos que lhe estão ao lado, quem lhes seja mais próximo, e esses podem ser filhos, maridos, pais, sócios, colegas ou amigos.

Também estes sofrem danos a longo prazo porque percebem o sofrimento de quem gostam e são próximos e, quando finalmente chegam à conclusão que não são a resposta ou o possível tratamento, vão-se abaixo.

O co-dependente é fácil de se deixar perceber pelos mais atentos, pois também alteram o seu comportamento, a forma como lidam com as coisas da vida, por vezes até mimetizam o estado pouco saudável da pessoa que lhes é, nesse momento, o centro do universo.

Se pensarmos que, ao lado de uma pessoa em dessintonia, estará outra ou outras a acompanhá-la diariamente, seja a viver sob o mesmo tecto ou a trabalhar no mesmo escritório, começamos a compreender o real drama de todo esse agregado. E, garanto-vos, é um ambiente hostil, tóxico e desolador.

Geralmente acaba mal, pois o desentendimento ou a falta de conhecimento desta realidade encaminha os relacionamentos para um poço sem fundo, enquanto as pessoas envolvidas deveriam estar também sob vigilância atenta e a ser ajudadas porque, aos poucos, também vão ficando, a cada dia, mais ansiosas, tristes e desesperadas.

Mas numa sociedade que só agora acorda para a Saúde Mental, e que ela é afinal parte da vida, é ainda difícil tentar compreender tudo o que lhe está associado. O estigma vai demorar a passar.

A co-dependência é algo que continua a ser menosprezado em todo o processo de quem está a sofrer consequências de uma má saúde mental, e sim, é algo que “se pega” aos poucos e que urge compreender para depois tratar.

Se olharmos à volta, com vontade de perceber e ajudar, depressa descobrimos pequenas transformações nas pessoas que nos estão mais próximas e que pensamos que a sua vida íntima está mais ou menos equilibrada. Se calhar não está. 

E talvez até a nossa própria vida esteja complicada porque o marido está depressivo, porque a mulher não consegue dormir nem descansar, porque o filho está dependente dos videojogos, porque a irmã está a beber mais do que habitualmente, porque um amigo pergunta onde pode comprar “calmantes” sem receita.

Estejam atentos porque podem ajudar. Ou identificar.

*Texto escrito ao abrigo do antigo Acordo Ortográfico

-Sobre Ana Pinto Coelho-

É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora.  Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.

Texto de Ana Pinto Coelho
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

24 Dezembro 2025

Medo de assentar

10 Dezembro 2025

Dia 18 de janeiro não votamos no Presidente da República

3 Dezembro 2025

Estado daquilo que é violento

26 Novembro 2025

Uma filha aos 56: carta ao futuro

19 Novembro 2025

Desconversar sobre racismo é privilégio branco

5 Novembro 2025

Por trás da Burqa: o Feminacionalismo em ascensão

29 Outubro 2025

Catarina e a beleza de criar desconforto

22 Outubro 2025

O que tem a imigração de tão extraordinário?

15 Outubro 2025

Proximidade e política

7 Outubro 2025

Fronteira

Academia: Programa de pensamento crítico do Gerador

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Oficina Imaginação para entender o Futuro

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Autor Leitor: um livro escrito com quem lê 

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Curso Política e Cidadania para a Democracia

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Clube de Leitura Anti-Desinformação 

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Oficina Literacia Mediática

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

17 novembro 2025

A profissão com nome de liberdade

Durante o século XX, as linhas de água de Portugal contavam com o zelo próximo e permanente dos guarda-rios: figuras de autoridade que percorriam diariamente as margens, mediavam conflitos e garantiam a preservação daquele bem comum. A profissão foi extinta em 1995. Nos últimos anos, na tentativa de fazer face aos desafios cada vez mais urgentes pela preservação dos recursos hídricos, têm ressurgido pelo país novos guarda-rios.

27 outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

Perante as falhas do serviço público e os preços altos do privado, procuram-se alternativas. Com kits comprados pela Internet, a inseminação caseira é feita de forma improvisada e longe de qualquer vigilância médica. Redes sociais facilitam o encontro de dadores e tentantes, gerando um ambiente complexo, onde o risco convive com a boa vontade. Entidades de saúde alertam para o perigo de transmissão de doenças, lesões e até problemas legais de uma prática sem regulação.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0