Tiago Cação nasceu em Montemor-o-Velho em 1983 e a maior parte de nós conhece-o pela sua sólida carreira ligada à música e aos espetáculos. Atualmente, colabora na Universal Music Portugal e já foi programador cultural, guia de viagens nas ilhas Lofoten, na Noruega, produtor executivo na indústria musical e tour manager do António Zambujo. É formado em Turismo, com frequência no curso de Marketing no Instituto Superior de Contabilidade e Administração (ISCA), pela Universidade de Aveiro.
Por paixão, é fotógrafo e escritor de viagens, com publicações no Observador, TSF, Visão Viagens, National Geographic, no jornal O Globo e na Folha de S. Paulo. É ainda atleta ultramaratonista em ciclismo. Disputou o campeonato do mundo Biking Man em 2019, terminado em 29.º lugar. Em 2020, percorreu o país, ao longo de dois mil quilómetros e angariou duas toneladas de alimentos para a União Audiovisual. Nesse mesmo ano, fez a Nacional 2 e angariou 8 mil euros para a mesma associação.
Atualmente, em 2021, é tempo de novas aventuras solidárias e de pedalar rumo aos Açores. O desafio ocorreu entre 2 e 10 de agosto e consistiu em percorrer 900 quilómetros, nas nove ilhas, em nove dias consecutivos. A ideia passou por angariar fundos para apoiar a World Bicycle Relief, uma original organização que promove o desenvolvimento e a igualdade através da doação de bicicletas a países em vias de desenvolvimento.
O Gerador esteve à conversa com Tiago Cação acerca deste novo desafio. Ao longo da conversa, o “ciclista” procurou refletir acerca da paixão pela bicicleta e pela solidariedade.
Gerador (G.) – Tiago nasceste em Montemor-o-Velho e, nos dias de hoje, a maioria reconhece-te pela tua sólida carreira ligada à música e aos espetáculos. À parte do percurso pela cultura és, também, atleta ultramaratonista em ciclismo. Tomemos o exemplo do ano de 2020 em que percorreste o país, ao longo de 2 mil quilómetros e angariaste duas toneladas de alimentos para a União Audiovisual. Gostava que me começasses por explicar o que significa a bicicleta para ti?
Tiago Cação (T. C.)– Eu comecei por ser atleta de futebol profissional, mas tive grandes lesões, fui operado oito vezes, e acabei por me chatear com o desporto.
Há cerca de três anos decidi apostar no ciclismo e percorrer, pela primeira vez, a Nacional 2, de bicicleta, durante 7 dias. A verdade é que fiquei viciado… Fiquei viciado nas longas distâncias… Depois comprei uma bicicleta mais profissional e desde aí tenho participado em provas longas.
Eu utilizo a bicicleta para ouvir música, já que apesar de trabalhar em música nem sempre tenho tempo para a ouvir, e para fugir ao quotidiano.
G. – Como é que começou esta necessidade de aliar a paixão da bicicleta a causas maiores?
T. C. –Sempre tive uma convicção de ajudar o mais próximo. De momento, alio ambas as vertentes através dos longos trilhos que percorro.
G. – De momento, estás a angariar fundos para apoiar a World Bicycle Relief, uma original organização que promove o desenvolvimento e a igualdade através da doação de bicicletas a países em vias de desenvolvimento. Como é que surgiu este desafio de te juntares à World Bicycle Relief? Podes explicar sucintamente em que consiste?
T. C. –É engraçado! Depois de ter feito a volta pela União Audiovisual, tive a ideia de criar uma ONG deste género. Então, fiz uma pesquisa e encontrei esta ONG, da qual me orgulho pelo trabalho extraordinário que tem feito. Desde a sua fundação, já entregaram mais de 500 mil bicicletas a crianças que vivem em países em subdesenvolvimento e que não possuem infraestruturas de transportes. Isso faz toda a diferença. O estares a 40 quilómetros da escola e os teres de fazer a pé ou os teres de fazer de bicicleta. De facto, isso muda a vida daquelas crianças seja no acesso à saúde, à educação, etc. Achei mesmo o trabalho brutal.
Então, desta vez, como surgiu a oportunidade de fazer as nove ilhas dos Açores, achei que era uma boa oportunidade para chamar a atenção para esta realidade.
G. – Como agora me referias, para fazeres face ao desafio, de 2 a 10 de agosto, vais percorrer 900 quilómetro em nove ilhas, em nove bicicletas, em nove dias, nos Açores. Porquê a escolha desta ilha para cumprir este novo desafio? Existe algum critério de seleção dos caminhos que percorres?
T. C. –Como eu já as conheço, o critério desta vez vai ser o contornar as ilhas o máximo possível.
G. – Caso as pessoas queiram contribuir à parte para este projeto de que forma o podem fazer?
T. C. –Basta consultar o site. Podem-no fazer através do meu projeto ou de outro projeto. Nesse caso, funciona por devolução direta. Os custos de cada bicicleta são de 134 euros… Espero conseguirmos o máximo dinheiro possível.
G. – Neste seguimento, sentes que desde a chegada da covid-19 as pessoas estão mais solidárias com este tipo de causas?
T. C. –Eu acho que sim… Apesar que houve muita gente com quebra de rendimentos e, de momento, não conseguem ser tão solidários quanto gostariam de ser… Mas sem dúvida que há. A União Audiovisual é um exemplo perfeito disso.
G. – Dos milhares de quilómetros que já pedalaste há algum percurso que te tenha marcado de uma forma especial? Há alguma história em particular?
T. C. –Uma das coisas que marca sempre nestas viagens longas é a forma de como somos sempre bem recebidos pelas pessoas.
Neste momento, estou-me a recordar de uma passagem em que fiz três serras seguidas e, numa tarde dessas, parei num café para abastecer água, e para comer gomas, e o meu cartão de crédito não passava. Foi uma pessoa que estava a beber uma cerveja que me pagou a despesa. Gostava de encontrar essa pessoa para lhe devolver o dinheiro.
G. – Por curiosidade, se te fosse dada a oportunidade de escolheres agora um destino para realizares uma próxima volta de bicicleta qual seria o local?
T. C. –Eu já tenho dois projetos em mente. Um é fazer a tour que atravessa o Canadá, os Estados Unidos e vai para o México. O segundo projeto, que espero um dia estar preparado para o fazer, consiste em atravessar os Estados Unidos, 4000 quilómetros, em menos de 12 dias. Não sei se algum dia estarei preparado para a fazer…