25 de abril_sempre, é o nome do projeto que fez florir cravos a partir de um modelo de machine learning para lembrar a fragilidade da nossa liberdade de expressão. "Hoje em dia, as máquinas representam um papel fundamental na gestão da liberdade e estes cravos recreados são uma metáfora visual sobre os tempos que vivemos", conta Catarina Rodrigues, autora do projeto, ao Gerador.
Comecemos por entender o machine learning como uma área de pesquisa dentro do ramo da inteligência artificial. O modelo que se cria, através do machine learning, é o resultado do treino de um algoritmo com um conjunto de dados (dataset). Um algoritmo de machine learning encontra padrões nos dados inseridos pela mão humana e desenvolve as suas próprias regras para representar, ou modelar, esses padrões, fazendo-os realizar uma tarefe específica. Essas regras não são projetadas por ser humanos, são aprendidas com os dados nos quais o modelo foi treinado. Os modelos podem ser construídos com diferentes linguagens de programação, estruturas e propósitos, para reconhecer e-mails de spam, classificar objetos, criar ruas, imagens, vozes humanas que não existem ou até mesmo para serem utilizados na área de medicina.
Catarina Rodrigues, fotografa e artista visual, começou há dois anos, o seu mestrado em artes computacionais e, numa aula de machine learning, decidiu utilizar o modelo para a recriação de cravos. Através do programa Python, conseguiu reunir um data set com imagens de cravos suficientes para criar o projeto 25 de abril_sempre, uma metáfora sobre a liberdade de expressão, que pode ser vista no seu Instagram e website.
Para além dos cravos, Catarina misturou o passado com o presente e juntou aos cravos várias fotografias de cidades portuguesas para analisar a forma como o computador vê estes elementos. Daí nasceu uma dança lenta entre as cores e formas que caracterizam a cidade de Lisboa, e o vermelho típico dos cravos que parece estar em continuo florescimento.
Ao Gerador, Catarina contou que, quando decidiu reunir ideias para o seu projeto, queria perceber como o machine learning é usado na liberdade de expressão, fazendo uma ligação direta com o 25 de Abril e o quão presente continuam a ser os temas que esta data levantou - "Quando olho para o projeto, vejo o quão frágil é o elemento do cravo, e acaba por ser uma metáfora sobre a fragilidade da nossa liberdade de expressão".
A artista reforça a importância de utilizar as técnicas de tecnologia para passar uma mensagem , em oposição ao controlo que, atualmente, a inteligência artificial tem na forma como o ser humano acede à informação, e partilha os seus dados pessoais, sendo o seu projeto uma forma de reverter a função de uma ferramenta que, muitas vezes, "é usada contra a liberdade e privacidade", acrescenta Catarina.
Questionada sobre a ligação entre a inteligência artificial e o 25 de Abril, Catarina diz querer reforçar a ideia de que os valores apresentados na revolução continuam atuais. "Pensamos que nada nos controla, mas a inteligência artificial está em todo o lado, no telemóvel que usamos ou no relógio, então quero reforçar que, apesar da revolução ter acontecido há 47 anos, isso não significa que nos dia de hoje não tenhamos situações que nos oprimem".