fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Marta Guerreiro

A sério, bege?

Conversa entre duas pessoas com cargos políticos de um país que poderá ser ou não…

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Conversa entre duas pessoas com cargos políticos de um país que poderá ser ou não fictício. 

Estão os dois juntos num gabinete, numa cidade capital que pertence a um continente que tem uma união económica e política constituída por um conjunto de países. E estão reunidos porque têm de tomar uma posição sobre um assunto que há muito está a ser debatido, e pelo qual têm de tomar uma posição. 

A meio da conversa...

- Somos beges!

- A sério? Bege!? Mas bege é uma cor ou um tom?

- É mais ou menos uma cor que nem é branca nem é amarela. 

- Mas não é uma coisa nem outra?

- Sim, é bege. É o que é e não é!

- Então afinal o que somos?

- Somos beges! Somos neutros! 

A cor é muita coisa. É coração, desejo, vontade e ao mesmo tempo pode ser tristeza e solidão. Uma cor pode ser um distintivo de um grupo, de um partido, de um Estado ou até de uma família. Imagina o que é ter de conseguir responder a todas estas cores e até ter de tomar partido. 

Existem muitas cores. Não dá para conviver com esta diversidade toda, ou pelo menos não por perto, sem que existam imensos constrangimentos e discussões. Porque há quem acredite que nem todas as cores combinam umas com as outras. Então isto gera só pensamento e trabalho. E depois gerir isso tudo…

BEGE! Neutralidade. Simples! Assim somos neutros e não temos de estar sempre a mediar situações com estas fusões e conjugações de cores. 

Estamos bem mais tranquilos. 

E não é o que o povo gosta? Estar bem, calmo, não ter de ser confrontado com mudanças de padrões e nem ter que assumi-los, depois,  na sua própria vida. Para quê? 

Que o castanho e o vermelho se juntem, e que até o verde escuro fique com um verde mais escuro ainda, não há problema. Do mesmo modo que o contrário também não inquieta.

Simples. Neutralidade. BEGE!

Nos tempos de hoje vemos muitas cores, conseguimos perceber que elas se relacionam umas com as outras. É respeitar, mas não temos de falar sobre isso! Nem tomar posição e muito menos fazer parte dessa discussão. Se for assim uma situação de muita fusão de cor e que dê um arco-íris, ainda menos. Muita cor junta traz diversidade e alternativa, mas também esforço, tempo e gestão. Os tempos que vivemos já são tão complicados, não temos de ser nós a torná-los mais complexos.

Temos de estar relaxados. 

As situações sempre se resolvem, e na vida há sempre quem tenha mais iniciativa. Não temos de ser nós. 

BEGE.

- É verdade, muita coisa! Muita cor! 

Somos bege!

Cá fora o povo, que em nada está tranquilo, grita:

- Amarelo!

- Azul!

- Vermelho!

- Verde!

- Bege, para nós é não ter cor. Uma pessoa sem cor não tem esperança nem receio. Fica sempre à espera que sejam os outros a tomarem a iniciativa e numa conversa mais acesa acaba por se apagar, porque não toma partido assumindo a sua posição. O que é extremamente confortável… Bege!

Estar constantemente à espera que aconteça não leva a lado algum. 

O que é estranho é ter um cargo ou uma posição de poder e ser-se bege. Há que assumir a sua cor, que se vive com várias cores, que juntas se podem transformar em diferentes padrões, ainda que nem todos nos pareçam agradáveis à primeira vista. Viver com elas, falar sobre elas, regular leis que as coloquem ao mesmos níveis, debatermo-nos sobre elas: parece-nos fundamental!

Bege, a sério?

Cada um de nós traz em si todo um pantone.

Há dias que acordamos mais claros, assumimos assim um azul e um amarelo, outros dias em que somos mais escuros, o preto e o cinzento fazem parte de nós! E são muitos os dias em que as nossas cores são vivas, garridas e que se reflectem em tudo o que fazemos e com quem estamos.

Nos dias em que juntamos todas as cores somos mais vida. Temos mais coragem. Somos diversidade.

Somos cor!

*Texto escrito com o antigo acordo ortográfico

-Sobre Marta Guerreiro-

Nasceu em Setúbal de pais com naturalidade nos concelhos de Almodôvar e Castro Verde e cresce numa aldeia perto de Palmela. Aos 19 anos muda-se para o Alentejo, território que não imaginava que um dia poderia ser a sua casa, e agora já não sabe como será viver fora desta imensa planície. Licenciou-se em Animação Sociocultural, vertente de Património Imaterial, onde desenvolveu competências sobre investigação e salvaguarda de tradições culturais e neste percurso descobre as danças tradicionais e a PédeXumbo, dando assim continuidade à sua formação na dança. Ao recomeçar a dançar não consegue parar de o fazer e hoje acredita que esta é, para si, uma das formas mais sinceras e completas de comunicar. A dança tradicional liga-a ao trabalho desenvolvido pela PédeXumbo, onde desenvolve o seu projeto de final de curso com o tema “Bailes Cantados” e a partir desse momento o envolvimento nos projetos da associação intensifica-se. Atualmente coordena a PédeXumbo onde desenvolve projetos ligados à dança e música tradicional.

Texto de Marta Guerreiro
Fotografia de Catarina Silva

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

10 Dezembro 2025

Dia 18 de janeiro não votamos no Presidente da República

3 Dezembro 2025

Estado daquilo que é violento

26 Novembro 2025

Uma filha aos 56: carta ao futuro

19 Novembro 2025

Desconversar sobre racismo é privilégio branco

5 Novembro 2025

Por trás da Burqa: o Feminacionalismo em ascensão

29 Outubro 2025

Catarina e a beleza de criar desconforto

22 Outubro 2025

O que tem a imigração de tão extraordinário?

15 Outubro 2025

Proximidade e política

7 Outubro 2025

Fronteira

24 Setembro 2025

Partir

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Financiamento de Estruturas e Projetos Culturais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Criação e Manutenção de Associações Culturais

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

17 novembro 2025

A profissão com nome de liberdade

Durante o século XX, as linhas de água de Portugal contavam com o zelo próximo e permanente dos guarda-rios: figuras de autoridade que percorriam diariamente as margens, mediavam conflitos e garantiam a preservação daquele bem comum. A profissão foi extinta em 1995. Nos últimos anos, na tentativa de fazer face aos desafios cada vez mais urgentes pela preservação dos recursos hídricos, têm ressurgido pelo país novos guarda-rios.

27 outubro 2025

Inseminação caseira: engravidar fora do sistema

Perante as falhas do serviço público e os preços altos do privado, procuram-se alternativas. Com kits comprados pela Internet, a inseminação caseira é feita de forma improvisada e longe de qualquer vigilância médica. Redes sociais facilitam o encontro de dadores e tentantes, gerando um ambiente complexo, onde o risco convive com a boa vontade. Entidades de saúde alertam para o perigo de transmissão de doenças, lesões e até problemas legais de uma prática sem regulação.

Carrinho de compras0
There are no products in the cart!
Continuar na loja
0