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Opinião de António Morais | Youth Cluster

Tornamo-nos adultos sem perceber o mundo financeiro

Taxas de juro. Acções. Obrigações. Seguros. Crédito. PPRs… Todos estes são conceitos abstractos para a…

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Taxas de juro. Acções. Obrigações. Seguros. Crédito. PPRs… Todos estes são conceitos abstractos para a maior parte dos jovens que estão a crescer em Portugal. Como é suposto recém licenciados prosperarem se lhe faltam conceitos básicos de literacia financeira?

A literacia financeira influencia directamente o sucesso na gestão das finanças pessoais, o que a curto e longo prazo tem um impacto enorme na criação de riqueza. A literacia pode garantir estabilidade e a sua ausência aumenta a vulnerabilidade a desastres financeiros. No entanto, este  é um tópico altamente ignorado pelo sistema de educação tradicional e pelo sistema bancário tradicional. Além disso, as pessoas não falam sobre o assunto. Não estamos habituados a falar de dinheiro e, se falarmos, é focado por exemplo em tópicos como quanto custa um apartamento, não sobre o fundo de emergência que temos ou planos de investimento para a reforma. Se começarmos a considerar o problema da literacia financeira mais a sério, agiremos de forma muito diferente.

O conselho que recebemos dos nossos pais e avós é de que devemos sempre “poupar o máximo possível” mas, nos dias de hoje, não é suficiente, pois as taxas de juro estão a níveis historicamente baixos e a inflação já se nota em vários aspectos da economia. Mas será que os portugueses estão a investir? De toda a população portuguesa, 64% nunca investiu. Um dos argumentos para a baixa propensão a investir em Portugal relaciona-se directamente com o baixo nível de salário médio, no entanto, ⅓ dos investidores recebe menos de 1000 euros mensais (CMVM, 2021). De facto, o problema aparenta ser um de falta de literacia financeira e a consequente incapacidade de gestão das finanças pessoais.

Não surpreendentemente, Portugal tem dos piores resultados de literacia financeira na União Europeia. Por outro lado, na Finlândia, o ensino de tópicos relacionados com literacia financeira é obrigatório nas escolas e incluído nos currículos de disciplinas como matemática e economia pessoal. Isto contrasta abismalmente com o panorama actual em Portugal, onde estes tópicos não fazem parte do currículo de nenhuma disciplina. Na verdade, as iniciativas na Finlândia são ainda mais ambiciosas – a agência FFI (Finance Finland) junta toda a indústria financeira com o principal objectivo de promover educação financeira no país. Com o apoio dos bancos, seguradoras e do governo, aproximadamente 25 mil finlandeses beneficiam todos os anos dos programas da FFI. Este tipo de colaborações multi-stakeholders é crucial para aumentar o nível de literacia financeira.

Com boas práticas na Europa como no exemplo anterior, aferimos que é uma imperativa para começar a resolver este problema. No longo prazo, as soluções deverão vir de dois lados. Primeiro através de uma adaptação dos currículos nas escolas para incluir módulos de educação financeira. Em segundo lugar através de uma adaptação, maior transparência e comunicação de conceitos-chave por parte de entidades financeiras - como os bancos -, uma vez que estes oferecem os seus serviços aos mais novos, sem qualquer preparação.

Em pleno 2021, tanto as crianças como as pessoas jovens e jovens adultas muitas vezes ainda não geram o seu próprio dinheiro e nem têm noções referentes à gestão de um orçamento pessoal. Estas recorrem frequentemente aos pais para financiar compras ad-hoc em vez de serem ensinadas desde cedo a gerirem o seu próprio dinheiro de bolso. 

Um primeiro passo para as pessoas jovens no mundo financeiro é o acesso a serviços financeiros, como uma conta à ordem e um cartão de débito, no entanto uma pessoa não aprenderá quais as melhores práticas de gestão de finanças pessoais, pois mesmo tendo conteúdo bruto de literacia financeira para oferecer, um banco dificilmente saberá como o ensinar. Desta forma, é necessário que haja colaboração dos vários stakeholders, como neobanks e outras fintechs, a banca tradicional e entidades governamentais para iniciar o diálogo e começar a inverter a tendência. O mesmo poderá ser dito das escolas - que, nas poucas instâncias em que ensinam conteúdos e tópicos de cidadania, ainda precisam de alargar os tópicos para satisfazer as necessidades do mundo actual.

Para o curto-prazo, cada vez mais se encontra informação sobre este tema em diferentes formatos. No meu caso, durante a pandemia comecei a ouvir o podcast da especialista em finanças pessoais Bárbara Barroso, o MoneyBar. Acredito que podcasts e blogs são instrumentos muito úteis e alternativos para obter conhecimento em temas diversos, de forma rápida e eficiente quando o sistema actual não dá uma resposta a essas necessidades. Existem outros meios com conteúdo mais extensivo, onde se pode ler sobre diferentes temas e aplicar o conhecimento, como a plataforma MeuCapital

Por último, deixo uma sugestão de uma plataforma portuguesa, o Doutor Finanças, onde se encontram artigos, simuladores e vídeos sobre educação financeira - desde explicação de conceitos básicos a guias detalhados para tomar decisões significativas como fazer hipotecas.

-Sobre o António Morais-

Licenciou-se em gestão e as suas diferentes experiências profissionais levaram-no até Estocolmo onde está a trabalhar numa startup focada na melhoria da literacia financeira junto das crianças. Tópico esse que espoletou o seu interesse ao compreender a sua importância nas diferentes esferas da vida e a insuficiência de informação e capacidade da população geral navegar o sistema financeiro. 
O seu maior interesse foca-se em explorar novas culturas e, com um pé na Suécia e outro em Portugal, é um membro fundador da Associação Youth Cluster através da qual tem explorado vários tópicos e apoiado no desenvolvimento de projectos que têm como objectivo colmatar as insuficiências e fragilidades que sente no sistema actual.

Texto de António Morais
Fotografia de Diogo Ribeiro
A opinião expressa pelos cronistas é apenas da sua própria responsabilidade.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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