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Mulheres no mundo da composição musical: um aumento lento que pede reflexão

O fim da ditadura, em Portugal, permitiu avanços significativos na representação feminina em diferentes esferas…

Texto de Redação

Tiny Female Characters Writing Notes on Huge Stave. Pianist Women on Concert Playing Musical Composition on Piano, Symphonic Orchestra or Opera Performance on Stage. Cartoon People Vector Illustration

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O fim da ditadura, em Portugal, permitiu avanços significativos na representação feminina em diferentes esferas profissionais. Porém, na área artística da composição parece continuar a existir um esquecimento do esforço do avanço feminino em algumas dimensões da presença deste género em tal profissão.

«A transição do século XX para o XXI possibilitou, graças a um movimento democrático de acesso à cultura e educação, mitigar a diferenciação numérica relativa ao género entre agentes de ação cultural», lê-se no site da Universidade de Aveiro no contexto de uma mesa-redonda acerca das mulheres portuguesas na música, em novembro de 2021. «Apesar deste esforço em constante construção, podemos observar práticas sociais, herdadas de um passado não tão recente, que em nada beneficiam a sociedade como um todo», é ainda dito nesta notícia.

O número de mulheres a compor em Portugal tem crescido nas últimas décadas. É uma sensação partilhada pelas três compositoras com quem o Gerador conversou e confirmada por duas plataformas enciclopédicas de música que contêm dados sobre a quantidade de compositores no país. Mas é um aumento que sabe a pouco.

Na listagem de compositores portugueses ou residentes em Portugal presente no site do Centro de Investigação e Informação da Música Portuguesa, é possível contar 137 artistas vivos, dos quais 17 são mulheres. Apesar de a representação do género feminino ter aumentado – já que, olhando para os compositores já falecidos, esta não atinge os 8 % – continua bastante longe da metade, ficando-se pelos 12 %.

No sítio digital enciclopédico Meloteca, observa-se um cenário idêntico. Dentro do conjunto das biografias atuais de compositores portugueses ou residentes em Portugal, pode enumerar-se 128 músicos, dos quais apenas 17 são mulheres, o que se traduz em cerca de 13 % de representação deste género.

Para as artistas entrevistadas, esta percentagem, não obstante surpreender ao ser ouvida, transparece a realidade. Apesar de ambas as plataformas não incluírem a totalidade dos artistas, como alertam as entrevistadas, a proporcionalidade acabará por ser realista já que, também na consideração destas compositoras, a subnotificação ocorre com ambos os géneros.

Qual é, então, a razão para uma disparidade ainda tão expressiva? É difícil apontar causas garantidas.

Para Ana Seara, compositora e professora, poderá haver «preconceitos enraizados» que fazem com que o cenário não se altere mais rápido, já que, estando inseridas culturalmente numa sociedade patriarcal, as pessoas perpetuam atitudes sem delas tomarem consciência, o que faz com que «a equidade de género não exista, de facto».

Já a compositora Ângela da Ponte afirma que esta percentagem é bastante notável nas salas de concerto e que isto poderá ter que ver com as relações interpessoais. Um músico que tenha amigos compositores mais facilmente os convida para um trabalho do que colegas mulheres que não conheça tão bem, exemplifica a professora de música.

Por isto mesmo, as iniciativas que promovem a composição pelo género feminino assumem-se tão relevantes na abertura de espaço para as mulheres criarem a sua arte. Como refere a compositora Ângela Lopes, há muitas atividades institucionais que desenvolvem um papel dinamizador da música feminina, o que é «bastante positivo» e uma forma de consciencializar para as questões feministas. «E isto também quer dizer que as mulheres existem», atenta, acrescentando mesmo que «há uma produção feminina significativa em Portugal». Casos como a associação Miso Music, o coletivo Performa e o grupo Sond’Ar-te já dinamizaram projetos com o género feminino em foco, refere a pianista.

Sendo assim, se existem tantas mulheres a compor música, importa questionar o facto de ainda haver temporadas inteiras de casas de espetáculos e de ópera em que não há presença feminina, como afirma Ana Seara. Ainda para mais tendo em conta que já foram realizadas pesquisas a confirmar que, antigamente, várias mulheres escreveram músicas, porém não se podiam apresentar como compositoras, pelo que se poderia, agora, recuperar estas obras, sugere a artista. No entanto, «às vezes, perpetua-se a misoginia».

Um destes estudos é da autoria da Universidade de Aveiro e dá a conhecer a criação e interpretação musical protagonizadas por mulheres em Portugal nos séculos XX e XXI, visando cooperar para uma maior visibilidade do contributo de compositoras ligadas à música erudita.

Numa notícia do site da universidade, lê-se que a coordenadora deste projeto, de 2018, assinalava: «as diferenças de género no meio musical ainda são visíveis hoje em dia». Helena Marinho referiu o exemplo da Casa da Música, «que programa apenas quatro obras de mulheres durante o ano de 2017», o que é «prova de que o trabalho das mulheres na música em Portugal é pouco conhecido».

De nome “Euterpe revelada”, a investigação identificou mais de 40 compositoras, contra os oito casos referidos na Enciclopédia da Música em Portugal do século XX.

Um dos investigadores que colaborou neste estudo é Francisco Monteiro, com quem o Gerador conversou. O compositor afirma que, se para um homem é fácil conciliar as atividades de ensino e de composição – para um público e um número de concertos pequenos –, para uma mulher já não o será. Ainda «tem a parte de cuidar dos filhos e outras múltiplas atividades e, só depois, e se calhar, a criação», o que «será um problema para as compositoras», admite. O autor diz mesmo que é evidente que os homens têm mais possibilidades de dedicarem tempo à composição porque, e não generalizando, mas falando sim na maioria, «não assumem os afazeres de casa». Além de tudo isto, o músico considera que a situação de trabalhar e saber que não se vai ganhar dinheiro é «problemática» para as mulheres, que, nesta sociedade, «não têm tanto direito a ideais como os homens».

Quem terá capacidade para alterar esta realidade que penaliza a carreira do género feminino?

Não esquecer a existência nem duvidar da capacidade

Apesar de desgostar da ideia da discriminação positiva, Francisco Monteiro defende que deveria haver «um olhar» intencional para as mulheres no sentido de incluí-las numa proporção mais equitativa quando se está a pensar uma lista de compositores para determinado projeto ou cargo. É que, na verdade, «não existem razões absolutas em termos de qualidade» na composição musical, diz o professor na Escola Superior de Educação do Politécnico do Porto, pelo que, num rol de cinco pessoas para um posto de docente, por exemplo, alegar que não há mulheres com qualidade terá mais que ver com «circunstância» do que com efetiva aptidão, considera.

Francisco Monteiro, 62 anos. Fotografia cedida por Francisco Monteiro

O investigador não sente qualquer complexo de género na sua geração nem nas mais novas, o que falta, diz, «são mesmo oportunidades para as mulheres criarem, apresentarem e ganharem dinheiro com as suas obras, possibilidades que iriam ter efeito de contágio e fazer surgir muitas outras compositoras». «As pessoas iriam ficar surpreendidas com a quantidade de mulheres que iriam aparecer com qualidade e novas maneiras de pensar», já que, na realidade, tanto alunos como alunas querem seguir composição e são igualmente talentosos, assegura o pianista.

Tendo isto em mente, o artista doutorado em música contemporânea atenta que seria importante, na organização de concertos e repertório para instrumentistas, abarcar pelo menos um terço de compositoras nos programas, porque, mesmo no século XX, «não é difícil encontrar mulheres». «Acho que os diretores de orquestra e maestros mais jovens não têm qualquer problema em dirigir a peça de uma mulher ou, mesmo, alguma preferência pelo género masculino.» O que é preciso, induz, é gerar oportunidades para as mulheres fazerem mais peças para orquestra «e não serem sempre os mesmos».

Aqui, há que direcionar as atenções para os diretores artísticos de grupos de música contemporânea ou de festivais e para os agentes que se envolvem em fundações, quem maioritariamente tem o poder de melhorar as oportunidades femininas, explica Francisco Monteiro.

Ângela Lopes questiona se instituições como a Casa da Música fazem algum esforço na inclusão de mulheres nos programas de concertos de música contemporânea ocidental, onde há «pouquíssimas» compositoras. A artista defende que as grandes orquestras portuguesas, como a Gulbenkian e a Casa da Música, devessem dar mais atenção a esta situação.

A (in)existência de mulheres nos cargos de direção

Nesta tentativa de encontrar razões para a baixa representatividade de mulheres, Ana Seara atenta para um outro «problema de fundo», bem conhecido e comum a vários setores profissionais, que é «a tendência para as remunerações não serem iguais», bem como «os acessos aos cargos de topo». A professora afirma mesmo que, em projetos artísticos desenvolvidos por mulheres, ainda hoje não há os mesmos níveis de abertura nem de orçamentocomo para projetos idealizados por homens, o que poderá ter que ver com a diminuta ocupação feminina dos locais de decisão, considera. «Continua a haver falta de variedade» e forte perpetuação de hábitos antigos. E, de facto, analisando os dados, explanados nos parágrafos seguintes, há falta de representatividade.

A Fundação Calouste Gulbenkian tem como secretário-geral e secretário do conselho de administração um homem, bem como outro homem enquanto diretor do gabinete de presidente e legal counsel (assessor de questões jurídicas) da Fundação. É igualmente uma pessoa do género masculino que dirige o serviço de música da Fundação, cuja Orquestra é coordenada por outro homem. No site, é ainda possível analisar que a produção do agrupamento orquestral se encontra a cargo de três homens e duas mulheres.

A Casa da Música apresenta uma disposição semelhante. O conselho de administração da Fundação é presidido por três homens, sendo ainda composto por uma administradora-delegada e por duas pessoas do género feminino e uma do masculino como vogais. Dois dos membros deste grupo – ao qual cabe a gestão da fundação da sala de concertos do Porto – são designados pelo Estado, um pelo município e pela Grande Área Metropolitana do Porto, e os restantes quatro são escolhidos pelas pessoas ou entidades privadas que compõem o conselho de fundadores, também este presidido por três homens. A este último conselho compete o enquadramento estratégico da atividade da Fundação, tal como é explicitado no site da Casa.

Numa entrevista à Meloteca, em 2017, Ângela Lopes considerou que, em muitas esferas da música, já se podia falar numa «paridade absoluta de género». Não é o caso do mundo profissional de compositores, maestros e diretores artísticos, ocupações tradicionalmente masculinas, dizia.

Ainda em 2022, a situação mantém-se. Na entrevista com o Gerador, Ângela Lopes explica que, precisamente quando estamos a falar em «liderança», se nota mais a diferença entre géneros e salienta que ainda é preciso trabalhar muito para atingir o objetivo da igualdade. As mulheres ainda «têm de provar que são capazes», desabafa a presidente da Academia de Música de Santa Maria da Feira, admitindo já ter sentido «aquele pé atrás inicial» por ser mulher. Desta forma, mostra-se a favor de leis paritárias: «se não vamos lá de uma forma natural, temos de, alguma forma, ‘forçar’».

Não crendo que qualquer instituição pondere o género como critério aquando de encomendas de compositores para projetos, Ângela Lopes admite, porém, a existência de um «subconsciente» de maior confiança nos homens, principalmente para trabalhos para grande orquestra, onde, lá está, «estamos a falar do tal topo». Por outro lado, a pianista felicita a sensação de crescente confiança dos músicos e intérpretes nas compositoras.

Ângela Lopes, 50 anos. Fotografia de Antena 2

Já Ângela da Ponte afirma que, individualmente, nunca sentiu preconceitos de género no mercado de trabalho «de uma forma óbvia», mas tem testemunhos de colegas que se sentiam desconfortáveis no meio ambiente onde se inseriam, «pelo facto de serem mulheres», marcado por assédio e episódios desagradáveis, algo que é habitual noutras áreas. «Haver mais mulheres ajudaria a criar segurança», considera a artista, que já foi Jovem Compositora Residente na Casa da Música.

Quem também já ocupou este lugar no Porto é Ana Seara. Mãe de dois rapazes, sente desigualdades de tratamento na vida profissional a partir do momento em que «a questão da maternidade não está acautelada». A pianista sugere que as organizações criem apoios para uma recém-mãe conseguir trabalhar – por exemplo, pensar em intervalos para amamentação –, porque esta condição «não é impedimento de nada», mas sim uma questão de «reorganização da vida».

O problema é que não se prevê que as coisas melhorem significativamente nos próximos anos. Com a chegada ao poder de partidos que não promovem a igualdade de género e com o perigo de recuo de medidas democráticas, como assinala Ângela Lopes, a proporção de mulheres pode tardar em se fazer sentir.

Incentivar através da educação e de casos bem-sucedidos

É urgente desmistificar as ideias de género que temos sem fundamento objetivo, optando sim pelo conhecimento científico. Ângela da Ponte considera que as pessoas têm preconceitos – revestidos de camadas culturais e históricas – como o de achar que as mulheres são inferiores aos homens ao nível intelectual, sem se aperceberem. Desta forma, a mestre em Ensino da Música defende que todos temos o dever de, em variados momentos, demonstrar «massa crítica» e deixar bem claro: «qualidade acima de tudo, independentemente de ser homem ou mulher».

Tendo em conta o impacto da educação nos comportamentos futuros, vale olhar para a organização das docências das instituições de ensino superior portuguesas e contestar a quase inexistência de representatividade feminina.

A Escola Superior de Música e Artes do Espetáculo (ESMAE), no Porto, tem como presidente e vice-presidentes quatro homens, além de todos os outros órgãos de gestão, como o conselho pedagógico, o conselho técnico-científico, a unidade de investigação e o departamento de música, serem presididos por pessoas do género masculino. Cenário idêntico afigura-se na licenciatura em Música – Variante de Composição desta instituição, cujos coordenador e todos os docentes são homens.

Também a Escola Superior de Música de Lisboa (ESML) tem como diretor e subdiretores três homens, além dos outros órgãos de governação − o conselho técnico-científico e o conselho pedagógico – serem igualmente dirigidos por homens. O ramo de Composição da licenciatura em Música desta escola é também coordenado por um homem e não tem qualquer mulher no seu corpo docente, apenas oito homens.

A disposição aparece mais variada na Universidade de Aveiro, o terceiro e último sítio que oferece formação superior ao nível da composição em Portugal. A licenciatura em Música é dirigida por um homem e o corpo docente ligado ao percurso da composição é composto por oito homens e quatro mulheres. Já a administração desta fundação pública tem um homem enquanto reitor, outro como regente da área de ensino e formação e uma mulher no cargo de inovação curricular e internacionalização da formação do primeiro e segundo ciclos.

«Poderia ser interessante perceber porque ainda – e durante tantos anos – não há um corpo docente que seja equilibrado», reflete Ângela da Ponte, pois seria útil que este incluísse o género feminino, «de forma a haver uma representação mais presente para as alunas». É que também existe a questão do repertório composicional ensinado nas escolas, cuja grande parte é de autores, alerta a professora, o que deveria ser revertido, de maneira que as jovens tivessem modelos a seguir, já que, como foi mencionado, é uma motivação extra ver outras mulheres serem bem-sucedidas.

Isto ganha mais relevo quando se tem em conta que, na experiência de Ana Seara, que ocupa o cargo de diretora pedagógica da Academia de Música de Lisboa (ensino pré-superior), tem havido um aumento de raparigas a estudar composição e, destas, cada vez mais a querer seguir esta área na formação superior. «O número está a crescer, mas leva tempo.»

Quais poderão ser, afinal, as linhas da prosperidade de compositoras nos próximos anos?

O crescimento de alunas no ensino superior «ainda é lento», afirma Ângela da Ponte, que colabora na ESMAE. «Lembro-me de que, há dez anos, éramos quatro no curso, neste momento o número não subiu assim tanto», acrescentando que, nos últimos tempos, por ano, existem aproximadamente cinco estudantes de composição, enquanto o resto das turmas tem «sempre» mais homens.

Ângela da Ponte, 37 anos. Fotografia de Rui Neto

À questão “crê que daqui a uma década a percentagem [de compositoras sobre compositores] será substancialmente diferente?”, as reações são de hesitação. Ângela da Ponte tem dúvidas, tendo em conta que «o mundo está a mudar, não para melhor», mas «seria esperançoso podermos caminhar para uma proporção mais igualitária». A esperança reside em boa parte na educação, que é o que desobstrui às mulheres a possibilidade de vir a seguir este setor musical, e a professora nota que o ensino de composição em Portugal tem sido de «bastante qualidade».

«Se for uma questão profunda social, uma década não é suficiente para mudar mentalidades, hábitos e formas de estar», lamenta por sua vez Ângela Lopes. Para a professora, a solução terá de passar pelo «alargamento da base» de pessoas do género feminino da pirâmide de todos os compositores, para que depois se consiga chegar ao topo «com os mesmos níveis e números», o que também remete o ónus para a educação.

É interessante notar que tanto Ângela Lopes como Ana Seara comentam que as alunas, referindo-se ao ensino pré-universitário, são, na sua maioria, mais focadas, disciplinadas e perseverantes do que os rapazes.

Ana Seara, 36 anos. Fotografia de Márcia Lessa

A diretora pedagógica diz que a tal estatística dos 12 % de mulheres compositoras em Portugal ou residentes neste país, mencionada no início da reportagem, não a incomoda, o que lhe importa é que aquelas que decidam ser compositoras «estejam em igualdade de circunstâncias em relação os homens».

«Se nada for feito», a realidade de género vai mudar, mas lentamente, acha, por sua vez, Francisco Monteiro, e «talvez» daqui a 20 anos possa haver alguma equidade.

As compositoras existem, não num número desejável, mas existem

Para trazer a reflexão sobre as condições de se ser mulher, chamar a atenção para este tema e tomar as rédeas de um futuro igualitário, importará dedicar alguma da criatividade à consciencialização, mesmo através da composição musical.

Ângela Lopes cedeu ao Gerador a nota de uma obra sua, de 2017, que se impôs como «um tributo a todas as mulheres que, no mundo ocidental, contribuíram de forma real ou simbólica para uma sociedade moderna e atual, onde prevalece a igualdade de género», lê-se na nota. De nome “E(H)LLE(M)” – anagrama, por defeito, da palavra mulher –, a produção revisita sete «mulheres emancipadas» em áreas como artes, ciência e política. A peça é construída por simbolismos destas feministas, com os seus nomes a serem convertidos em notas musicais e com datas a serem convertidas em ritmos, métricas ou intervalos, explica a compositora no texto da nota. Podes ouvi-la, aqui.

No início da entrevista com o Gerador, Ângela Lopes contou também que tinha recebido uma newsletter da Miso Music, ligada ao Centro de Investigação e Informação da Música Portuguesa (MIC), e que deu consigo a pensar: “Então, mas eu estou a ver só homens, onde é que estão as meninas?” O email — enviado no início de todos os meses, que dá conta dos acontecimentos no campo da música erudita contemporânea – não mencionava qualquer atividade que envolvesse uma compositora. De facto, a pianista reencaminhou a newsletter ao Gerador e confirmámos que, no campo da atividade de compositoras e compositores editados pelo MIC, apareciam oito homens e nenhuma mulher. «Elas existem, felizmente, não num número desejável, mas existem», comenta a artista. E é, efetivamente, difícil ser-se otimista quando nem no mês do Dia Internacional das Mulheres se tem atenção em não as esquecer.

No final de tantos dados, opiniões e explicações, creio que é consensual a sensação de que ainda ficam a faltar explanações para entender o cenário de género neste mundo musical.

É como diz Ângela da Ponte: «precisamos de fazer uma pesquisa abrangente para perceber onde estão as compositoras a trabalhar e qual a sua atividade principal, já que muitas, decerto, têm de fazer outras atividades paralelas à composição», tal como poderá acontecer com os compositores. O acompanhamento do percurso das alunas, após o curso de composição, sugere a autora, para averiguar nomeadamente se seguiram a área, também traria indicadores interessantes. A baixa proporção de mulheres será «uma questão natural, de vocação, ou ainda existem barreiras?» «Será uma profissão apelativa para elas?» Só com um estudo poderíamos chegar a uma conclusão definitiva e não especulativa, afirma a professora.

Com esta investigação teríamos a possibilidade de compreender o facto de, mesmo existindo bastantes compositoras, como acreditam os entrevistados, continuar a haver pouca presença feminina nos programas de concertos, escassas docentes universitárias e quase nenhuma mulher nas administrações das casas de espetáculos.

Texto de Francisca Valentim
Imagem de destaque via iStock, da autoria de @invincible_bulldog

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