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Eugénio de Andrade: a “arte dos versos” e a tarefa do poeta

Os 100 anos do nascimento de Eugénio de Andrade celebram-se hoje, dia 19 de janeiro. Para comemorar este centenário, uma comissão organizada pelo professor Federico Bertolazzi, juntamente com os municípios do Porto e Lisboa, programou inúmeras atividades que irão decorrer ao longo de todo o ano, incluindo um colóquio internacional. Também o município do Fundão, terra natal de Eugénio de Andrade, irá realizar vários eventos, tais como exposições, concertos e projetos de criação artística.

Eugénio de Andrade. Fotografia via website oficial do centenário

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José Fontinhas nasceu no dia 19 de janeiro de 1923, em Póvoa de Atalaia, uma pequena aldeia no Fundão. Atualmente, conhecemo-lo pelo pseudónimo artístico que adotou: Eugénio de Andrade.

De acordo com o artigo “Eugénio de Andrade”, publicado pelo professor Carlos Mendes de Sousa, Eugénio de Andrade mudou-se para Castelo Branco com oito anos. Mais tarde, em 1932, instalou-se em Lisboa, “onde terminou os estudos primários que iniciara na sua aldeia natal”, e, em 1938, terá enviado uma carta ao poeta António Botto, com alguns poemas, “manifestando o desejo de o conhecer”. Este, segundo as palavras de Carlos Mendes de Sousa, “terá sido um momento particularmente importante, pois é nesse encontro com Botto que um amigo deste revelou a Eugénio de Andrade a poesia de Fernando Pessoa, origem de um fascínio ilimitado”.

Carlos Mendes de Sousa é professor de Literatura Brasileira na Universidade do Minho e autor de várias obras de referência que se dedicaram a Eugénio de Andrade, tais como O Nascimento da Música, A Metáfora em Eugénio de Andrade ou Eugénio de Andrade, Um Retrato. Publicou também alguns ensaios sobre Cesário Verde, Jorge de Sousa Braga ou Eduardo Lourenço e chegou a conquistar o Grande Prémio de Ensaio da Associação Portuguesa de Escritores (APE) com a obra Figuras da Escrita (2000).

Segundo o artigo do professor, Eugénio de Andrade procurou adotar um estilo literário mais individual, incidindo especialmente sobre a “exaltação do sensualismo” e da “afirmação da corporalidade”, distinguindo-se assim da poética pessoana que, ao contrário de Eugénio, se distanciava desses vetores. Outra influência marcante, nesses anos de formação, terá sido a poesia de Camilo Pessanha. “Este autor encarnou o papel de mestre, sintetizando algumas das linhas idealisticamente perseguidas na poética eugeniana, como a musicalidade e a aguda consciência de que a poesia é ofício de artesão”.

Em entrevista ao Gerador, Federico Bertolazzi, professor de Literatura Portuguesa na Universidade de Roma Tor Vergata, revela-nos que foi a “extraordinária qualidade da escrita e dos poemas de Eugénio de Andrade” que o levou a estudar a sua obra. “Sempre me fascinou. Estudar Eugénio tornou-se um percurso pessoal, onde tentei perceber de que forma funcionava esse mesmo fascínio pela sua linguagem e pela sua poesia”, explica.

Segundo Bertolazzi, o facto de o poeta ter nascido numa aldeia rural, “num ambiente extremamente primordial do ponto de vista urbano”, terá sido também uma forte influência para a sua escrita. “Uma sociedade antes da industrialização é uma sociedade que se liga a uma tradição cultural milenar. Eugénio nasce no final desta fase evolutiva da humanidade e consegue fazer desta cultura a fonte da sua linguagem. Ele mora em ambiente urbano durante a sua vida, mas a sua linguagem deriva de uma decantação deste mundo rural.”

Em 1939, ainda com o seu nome civil José Fontinhas, o poeta publicou uma plaqueta intitulada Narciso, o seu primeiro poema. Quatro anos depois, instalou-se na cidade de Coimbra e, de acordo com o artigo de Carlos Mendes de Sousa, tornou-se amigo de autores como Afonso Duarte, Carlos de Oliveira, Eduardo Lourenço e Miguel Torga. Em 1946, publicou uma antologia poética do autor espanhol García Lorca e, no final desse mesmo ano, regressou a Lisboa e ingressou no funcionalismo público. “Publicou, em 1948, aquele que viria a ser o seu livro de consagração e o mais reeditado dos seus textos: As Mãos e os Frutos”.

As Mãos e os Frutos mereceu críticas elogiosas de autores como Vitorino Nemésio, Jorge de Sena e Eduardo Lourenço. Dois anos mais tarde, Eugénio publicou Os Amantes sem Dinheiro, “um livro notável e central na sua obra poética”. Nas palavras de Gastão Cruz, no seu prefácio, “a poesia de Eugénio de Andrade criou, para dele falar, uma linguagem que é, simultaneamente, simples e espessa, eufórica e trágica, direta e metafórica. A sábia dosagem destes elementos afastou-a completamente dos perigos de uma aproximação excessiva do real prosaico e vulgar que tem inquinado tanta pretensa poesia, dita do quotidiano e “da experiência”, e avessa à metáfora”.

De acordo com as informações encontradas no Centro de Documentação de Autores Portugueses da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas, Eugénio de Andrade passou a residir no Porto em 1950, “cidade que adotou desde então para viver e da qual é cidadão honorário”. Exerceu, durante 35 anos, funções enquanto inspetor dos Serviços Médico-Sociais, o que fez até 1983, ano em que se terá reformado.

Federico Bertolazzi caracteriza o poeta como “um mestre” que ficou conhecido pela sua clareza e luminosidade. Porém, para o professor, Eugénio de Andrade “esconde por debaixo dessa luminosidade, uma profundidade proporcional. Quanto mais luminoso, mais profundo, mais misterioso”, descreve Bertolazzi. “A lição de Eugénio é uma lição de rigor, de exatidão, de precisão, que é feita através da sua poesia. Tem uma grande capacidade de renovação”, que acabou por inspirar outros autores, como Vasco Graça Moura, António Lobo Antunes, José Cardoso Pires, José Tolentino Mendonça. “São autores que reconhecem o património que é o trabalho de Eugénio de Andrade.”

Após a publicação de Ostinato Rigore em 1964, o poeta interrompeu a sua produção poética durante alguns anos. Federico Bertolazzi conta-nos que, durante esse tempo, Eugénio de Andrade se dedicou à tradução e à organização de antologias, um outro trabalho que Bertolazzi considera “exímio”. “O Eugénio tinha uma capacidade arquitetónica de estruturar os seus livros e as antologias de outros autores, como Pessoa e Camões”, clarifica o professor.

De acordo com Carlos Mendes de Sousa, esta interrupção foi importante “do ponto de vista da linha evolutiva da obra de Eugénio de Andrade. Tratou-se de um momento fulcral no sentido de uma viragem que resultou na amplificação da regularidade, que vai de As Mãos e os Frutos até Ostinato Rigore, em concreto ao nível das gamas lexicais e semânticas”. A partir daqui, Eugénio terá retomado “o ritmo regular que vinha imprimindo à sua obra”.

Nos anos 70, a sua poética projetou um “intencional caminho para o concreto, para o real”. Eugénio chegou mesmo a reabilitar, em 1977, alguns dos poemas dos seus primeiros livros, antes renegados por si. Tornou-se mais atento a essa produção “com o propósito claro de fundamentar a ‘tese’ de que o real sempre esteve presente, de que a fundação da poesia assenta no real”.

Tal como nos conta Federico Bertolazzi, Eugénio de Andrade descreveu o final da sua vida, e as suas últimas publicações, como “a poesia a caminho da prosa”. Exemplos de livros que apresentam algumas destas “marcas diferenciadoras, dentro da continuidade estilística”, são Memória doutro Rio (1978) e Vertentes do Olhar (1987), onde ocorre uma certa “matriz de narrativização dos poemas em prosa”.

Carlos Mendes de Sousa escreveu: “existe uma tendência manifesta para se identificar Eugénio de Andrade com alguns poemas antológicos, retirados na sua maioria dos primeiros livros”, como, por exemplo, “Os amantes sem dinheiro”, “Poema à mãe” ou “Urgentemente”.Posto isto, a partir da década de 90, assistiu-se, da parte do poeta, “a um curioso esforço de correção dessa tendência”. As últimas antologias organizadas por si concederam, assim, um maior espaço aos poemas da última fase da sua produção. É o caso da Antologia 30 Poemas (1993). “A necessidade de recolher todas as prosas ocasionais que ele foi publicando é um sinal desta necessidade de depuração do mundo à sua volta e do seu próprio mundo estético”, declara Federico Bertolazzi.

Os últimos livros do poeta Eugénio de Andrade (Ofício de Paciência, 1994; O Sal da Língua, 1995; Pequeno Formato, 1997; Os Lugares do Lume, 1998; Os Sulcos da Sede, 2001) vieram “confirmar a busca incessante de uma linguagem transparente face à pulsação do real quotidiano”, revela o artigo de Carlos Mendes de Sousa.

O poeta também publicou três livros em prosa. Rosto Precário, publicado em 1979, “incorpora um conjunto de entrevistas apuradamente reescritas numa direção que, como afirma Vasco Graça Moura, permite “organizar uma matriz para os traços possíveis de um retrato do escritor, espécie de Narciso espelhando-se complacentemente na pose da sua própria arte poética e na sua oficina”. Em Os Afluentes do Silêncio (1968) e À Sombra da Memória (1993), podem encontrar-se “textos sobre poetas, prosadores, pintores, escultores, arquitetos, fotógrafos, músicos, sobre as cidades e regiões que conheceu bem. Todas as observações e leituras surgem impregnadas da vivência autobiográfica, e em praticamente todos esses textos encontramos traços que espelham a própria poética autoral”.

À vida literária de Eugénio de Andrade, acrescentam-se ainda diversos ensaios e prefácios, tendo também colaborado em numerosas publicações, como “Cadernos de Poesia”, “Árvore” ou “Cadernos de Literatura”. Escreveu também dois livros infantis (A Égua Branca e Aquela Nuvem e Outras) e traduziu várias obras de autores internacionais, tais como Cartas Portuguesas atribuídas a Mariana Alcoforado, Poemas e Fragmentos de Safo, e editou um livro intitulado Trocar de Rosa, que reúne traduções de vários poetas contemporâneos.

“Nada é deixado ao acaso com o Eugénio. É um poeta que ultrapassa os limites nacionais”, diz-nos o professor Federico Bertolazzi. Por sua vez, Carlos Mendes de Sousa defende que o “encanto” da poesia de Eugénio de Andrade “provém em grande medida da extraordinária harmonia encontrada no corpo do poema. Torna real o símile da corporalidade, tornando a língua mais maleável”.

A obra de Eugénio de Andrade tornou-se reconhecida através da atribuição de vários prémios e condecorações. Em 1986, o poeta recebeu o prémio da Associação Internacional de Críticos Literários e, em 1987, o Prémio D. Dinis da Fundação Casa de Mateus, com a obra Vertentes do Olhar. Em 1989, o município do Porto distinguiu o poeta, atribuindo-lhe a Medalha de Mérito e a Medalha de Honra da Cidade. No estrangeiro, recebeu a Medalha da cidade de Bordéus, em 1990, e a Medalha da Universidade Michel de Montagne da mesma cidade, em 2001. Também em 1989 recebeu o Prémio Jean Malrieu para o melhor livro de poesia estrangeira editado em França com a tradução de Branco no Branco.

No ano 2000, foi galardoado com o Prémio Extremadura de criação literária, com o Prémio Celso Emílio Ferreiro e com o Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. Finalmente, em 2001, Eugénio de Andrade viu a sua vida literária de mais de 60 anos reconhecida com o Prémio Camões, o mais importante prémio atribuído a autores de língua portuguesa. Em 2002, recebeu o Prémio de Poesia do Pen Clube Português.

Eugénio de Andrade deixou, em 1994, a sua morada na Rua Duque de Palmela, onde viveu durante décadas, e passou a viver numa casa apoiada pela Câmara Municipal do Porto. “Foi nesta casa, no Passeio Alegre, na Foz do Douro, que faleceu a 13 de junho de 2005.” A mesma albergou, durante vários anos, a Fundação Eugénio de Andrade, extinta em 2011.

Hoje, dia 19 de janeiro de 2023, Eugénio de Andrade faria 100 anos. O centenário do seu nascimento será celebrado com diversas atividades organizadas pela Comissão Organizadora do Centenário do Nascimento de Eugénio de Andrade, que conta com o apoio do Centro de Investigação Transdisciplinar “Cultura, Espaço e Memória” (CITCEM) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e das Câmaras Municipais do Porto e Lisboa.

O professor Federico Bertolazzi é também o fundador da Comissão Organizadora do Centenário do Nascimento de Eugénio de Andrade. Ao Gerador, conta que se uniu aos professores Joana Matos Frias, José Tolentino Mendonça, Arnaldo Saraiva e Carlos Mendes de Sousa para criar este núcleo de investigação há mais de um ano. No final de 2022, Arnaldo Saraiva demitiu-se da comissão com a intenção de organizar um evento independente.

Na altura da nossa entrevista, a comissão encontrava-se em “fase de definição dos pormenores finais”. Já tinham apresentado o programa ao Ministério da Cultura, à Câmara Municipal do Porto e de Lisboa, e à Fundação Calouste Gulbenkian onde irão realizar um colóquio internacional. “Para nós, o maior foco será o congresso internacional com cerca de 27 convidados dos Estados Unidos da América, Brasil, Espanha, Itália, Bulgária, Alemanha, Inglaterra”, explica Bertolazzi. O evento irá decorrer em outubro deste ano e serão três dias de comunicações, de carácter crítico literário, entre estudiosos da obra de Eugénio de Andrade.

Hoje, dia 19, irá decorrer um concerto comemorativo na Casa da Música do Porto, com a leitura de poemas por Marta Bernardes, e música interpretada por Ângela Alves (soprano) acompanhada por Luís Duarte (piano) e direção musical de Raquel Couto. Já na Cooperativa Árvore, também no Porto, será exibida uma exposição de arte visual, uma vez que “Eugénio teve uma ligação muito forte com essa cooperativa”. Por último, a Biblioteca Municipal Almeida Garrett, terá também uma exposição bibliográfica, organizada pela Câmara Municipal do Porto, “Eugénio de Andrade, A Arte dos Versos”. Este conjunto de atividades marcará o início das comemorações no Porto.

De forma a obter mais informações relativas a esta comemoração, o Gerador contactou o departamento de comunicação da Câmara Municipal do Porto que nos enviou uma nota de imprensa.

De acordo com a mesma, a exposição Eugénio de Andrade, A Arte dos Versos, patente na Biblioteca Municipal Almeida Garrett, terá “por ponto de partida o espólio editorial, audiovisual e fotográfico cedido em 2020 ao município do Porto”. Será de entrada gratuita e estará aberta ao público de segunda a sábado, entre as 10h00 e as 18h00, até ao dia 29 de abril.

“Esta mostra revela as várias fases da vida do artista, numa exposição que é composta por postais, cartazes e objetos que nos revelam estórias, viagens e encontros com os seus pares; manuscritos, datilografados e objetos pessoais – tendo como corolário a sua máquina de escrever – que desocultam materialidades e mecânicas de depuração da sua escrita; filmes em que o poeta participou, ou onde constam depoimentos dos seus amigos, também poderão ser vistos”.

Foi também criado um ciclo de Leitores de Eugénio que irá convidar “artistas, políticos, jornalistas, investigadores a lerem os poemas da sua predileção”. As sessões irão acontecer quinzenalmente, às quintas-feiras, a partir de um ponto de leitura disponível na exposição. “O início deste conjunto de afetuosas leituras sucede na tarde inaugural e tem como intérprete Pedro Abrunhosa”, pode ler-se na mesma nota de imprensa.

Contactámos o CITCEM para perceber de que forma surgiu a sua parceria com a comissão de Federico Bertolazzi. Estefânia Lopes, assessora de imprensa, respondeu às nossas questões via email.

“Existe uma tradição dos estudos literários na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, da qual o CITCEM é também herdeira”, começa por explicar. “Por essa razão, um dos Grupos de Investigação do CITCEM, “Representações Locais e Globais”, tem como um dos seus objetivos fazer investigação no âmbito dos estudos literários, estando aqui incluída a obra de Eugénio de Andrade”. Desta forma, “a parceria entre o CITCEM e a Comissão promotora das comemorações do Centenário do Nascimento de Eugénio de Andrade, traduz-se, acima de tudo na organização conjunta de eventos comemorativos”.

O CITCEM estabeleceu a ponte entre as diversas instituições envolvidas, tendo sido “o agente de ligação entre a comissão promotora e as entidades governativas locais e centrais”. Por outro lado, deu também um “contributo relevante ao nível da componente científica”, já que conta “com uma vasta equipa de investigadores dedicados diretamente ao estudo deste poeta (obra e vida)”. Estes investigadores irão participar nos diversos eventos propostos, de forma a contribuírem para a disseminação do conhecimento científico sobre o poeta. Entre esses eventos, destacam-se o colóquio internacional, o concerto na Casa da Música e a exposição na Cooperativa Árvore, referidos acima.

“Eugénio de Andrade é um dos nomes de maior relevo na literatura contemporânea portuguesa”, declara Estefânia Lopes. “Deixou-nos uma obra vasta, com diversas tipologias de escrita, que retratam o seu tempo de uma forma sublime, e que vale a pena ser estudada e celebrada”.

Contactámos ainda o chefe do Gabinete de Apoio à Presidência do Município do Fundão, Miguel Cardoso, que também nos enviou uma nota de imprensa, tendo acrescentado ainda, via email, que “este é um centenário que se pretende eclético e equilibrado […]. Pretendemos envolver a comunidade e fazer dele um acontecimento inclusivo (apelando à participação de todos, dos académicos e personalidades mais ou menos conhecidas do meio literário e artístico, mas sobretudo das escolas, das crianças e jovens do concelho e da comunidade migrante aqui residente). Pretendemos celebrar a obra de Eugénio de Andrade e, a partir dela, a poesia e a arte no seu todo”.

De acordo com as informações descritas na nota de imprensa disponibilizada por Miguel Cardoso, está prevista a exibição da exposição Branco no Branco – Dicionário de 100 Imagens para 100 Palavras de Eugénio de Andrade na Biblioteca Municipal Eugénio de Andrade. Esta ficará patente até ao mês de fevereiro, e é “uma exposição-poema com vista para o corpo de Eugénio de Andrade, com imagens d’Os Espacialistas e cem palavras de Gonçalo M. Tavares, resultante da apanha poética das suas intensidades nalguns dos espaços reais e imaginários onde habitou”.

No mesmo local, será ainda realizado o projeto artístico Com Palavras Amo, que contará com a participação da comunidade do Fundão. “Pretende transformar as palavras escritas por Eugénio de Andrade em som. […] as palavras gravadas serão, posteriormente, transformadas em ‘paisagens de ouvir’ que ressoarão na Moagem a partir de maio.” Terá início hoje, estendendo-se por fevereiro, março e abril, e culminará com uma apresentação a 19 de maio.

Por parte da Câmara Municipal do Fundão, as celebrações do centenário do nascimento de Eugénio de Andrade também irão decorrer ao longo de todo o ano. Entre elas encontram-se a apresentação de um documentário de 2022, realizado por Arnaldo Saraiva, José Luís Carvalhosa e Diogo Colares Pereira; um concurso artístico de poesia visual dedicado ao poeta; e um festival literário, a decorrer em junho no Casino Fundanense, onde se destacará o concerto É Urgente o Amor, de Luís Cipriano.

Dos poetas portugueses do século XX, Eugénio de Andrade foi, talvez, aquele que mais se aproximou das raízes da cultura portuguesa, “servindo-se dela e servindo-a, como diz Óscar Lopes [crítico literário, 1917–2013], através da “evidência de um paraíso puramente terrestre, emanação do desejo e percetível à simples transparência dos ritmos frásicos orais, das conotações de um léxico severamente escolhido e sobre o qual opera um permanente movimento de metáfora para um mesmo conjunto de elementos míticos fundamentais”. Para Federico Bertolazzi, Eugénio de Andrade “encontrou uma voz única e deu uso da língua de uma forma extremamente aprimorada”.

Eugénio de Andrade encontra-se sepultado no Cemitério do Prado do Repouso, no Porto, tendo a sua campa sido desenhada pelo arquiteto e seu amigo Álvaro Siza. Nela pode ler-se a inscrição dos versos do seu livro As Mãos e os Frutos.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão.

O seu corpo perfeito, linha a linha,

derramava-se no meu, e eu sentia

nele o pulsar do próprio coração.

Moreno, era a forma das pedras e das luas.

Dentro de mim alguma coisa ardia:

a brancura das palavras maduras

ou o medo de perder quem me perdia.

Hoje deitei-me ao lado da minha solidão

e longamente bebi os horizontes.

E longamente fiquei até sentir

o meu sangue jorrar nas próprias fontes.

Eugénio de Andrade, “As Mãos e os Frutos”, 1948

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