Em 27 de julho os escoceses (e amantes de whisky escocês) comemoram o dia do propriamente dito Whisky da Escócia.
Como esta “marca” é protegida por lei, diretrizes específicas devem ser seguidas para que qualquer “espírito” semelhante possa ser rotulado como escocês.
Em primeiro lugar, e talvez obviamente, deve ser feito na Escócia. Outro requisito inclui o grão usado no processo de fermentação. Para ser whisky escocês apenas pode ser utilizada cevada e malte. Estes whiskies também devem ser envelhecidos em barris de carvalho por pelo menos três anos.
Existe registo histórico deste whisky desde 1494, e (imaginem a coisa) esse antigo registo chega-nos através de uma nota de um fiscal das finanças escocesas, que tinha na altura já aplicado imposto ao produto em causa (invejosos).
Embora tudo deva ser consumido com conta, peso e medida, não custa acreditar que – para alguns membros da humanidade – este Dia do Whisky Escocês possa ser considerado igualmente o Dia da Felicidade. E até estar de alguma forma associado ao Dia do Pai…
Já lá chegaremos.
Começamos por fazer uma reflexão séria (acho eu) sobre estas duas vertentes: Ser pai e ser feliz!
Quando é que um pai é feliz? Será feliz nas mesmas circunstâncias em que um avô, uma mãe, uma tia, um vizinho mais chegado, o são igualmente. É-se feliz quando estamos bem connosco e com os outros.
Evidentemente que a noção de felicidade tem evoluído com a passagem dos anos. Normalmente passa das coisas mais mundanas e ligadas à terra (os chamados “prazeres da carne”) para certos devaneios mais espirituais.
Como, por exemplo, o bacalhau espiritual e animais esvoaçantes que se libertam da tirania terrena, como a perdiz e a galinhola.
E a discussão leva-nos inevitavelmente para Santo António e seu Sermão aos Peixes, mais tarde revisitado por António Vieira. Se Santo António e o Padre António Vieira se dirigiam aos peixes, quem sou eu para me afastar dos mesmos (espiritualmente falando)?
Não amigos. Nunca o poderia fazer. Venham a mim as pescadas do alto, as garoupas e uma ou outra cabeça de cherne, sem esquecer os pregados e salmonetes. bruxas e percebes.
Nada terreno, tudo é filho das brumas e da maresia.
Mas voltando ao ponto como comecei esta charla (que depois se perdeu com moralidades), nos meus 20 anos era feliz por todo o lado. Na cama, no assoalho, na mesa da cozinha, na banheira, em cima de uns fardos de palha a tresandar a cavalo, lá na Quinta da Marinha.
Agora, quase a bater nos 70, tendo cada vez mais em atenção a hérnia discal bem como a ciática, é mister ter juízo e bem mais cuidado para escolher as superfícies.
Felicidade o que és tu hoje?
Ter ainda uma ocupação! Uma cumplicidade pelo sofá de estimação. Um bom filme à frente dos "progressivos". Som e vídeo de qualidade em casa. Um belo almoço entre amigos, de quando em vez. Um colchão que nos acolha sem sobressaltos e que – vá lá, vá lá, em caso de necessidade remota – ainda tenha molas à altura das circunstâncias.
Saúde e algum dinheiro para trocos...
Falta ainda a esta noção de “felicidade” na idade média do homem um copito de Lagavullin numa mão, acariciando um gato com a outra (citação de Vinícius de Morais). E é aqui, nesta referência ao grande malte escocês da ilha de Islay, que se dá o cruzamento de todas as retas desta crónica: o whisky escocês, ser pai e ser feliz, evidentemente que em laia de recado para os descendentes fazerem uma cooperativa e comprarem a citada garrafita a tempo do aniversário do cota.
E pronto. Teoricamente ser pai e ser feliz não custaria assim tanto (cerca de 120 euros numa garrafeira perto de si).
- Sobre Manuel Luar -
Manuel Luar é o pseudónimo de alguém que nasceu em Lisboa, a 31 de agosto de 1955, tendo concluído a Licenciatura em Organização e Gestão de Empresas, no ISCTE, em 1976. Foi Professor Auxiliar Convidado do ISCTE em Métodos Quantitativos de Gestão, entre 1977 e 2006. Colaborou em Mestrados, Pós-Graduações e Programas de Doutoramento no ISCTE e no IST. É diretor de Edições (livros) e de Emissões (selos) dos CTT, desde 1991, administrador executivo da Fundação Portuguesa das Comunicações em representação do Instituidor CTT e foi Chairman da Associação Mundial para o Desenvolvimento da Filatelia (ONU) desde 2006 e até 2012. A gastronomia e cozinha tradicional portuguesa são um dos seus interesses. Editou centenas de selos postais sobre a Gastronomia de Portugal e ainda 11 livros bilingues escritos pelos maiores especialistas nesses assuntos. São mais de 2000 páginas e de 57 000 volumes vendidos, onde se divulgou por todo o mundo a arte da Gastronomia Portuguesa. Publica crónicas de crítica gastronómica e comentários relativos a estes temas no Gerador. Fez parte do corpo de júri da AHRESP – Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal – para selecionar os Prémios do Ano e colabora ativamente com a Federação das Confrarias Gastronómicas de Portugal para a organização do Dia Nacional da Gastronomia Portuguesa, desde a sua criação. É Comendador da Ordem de Mérito da República Italiana.