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Opinião de Ana Pinto Coelho

Os efeitos devastadores do ruído

Nas Gargantas Soltas de hoje, Ana Pinto Coelho fala-nos como os sons influenciam a saúde mental.

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O constante e inevitável crescimento das grandes urbes não traz só mais pessoas para habitá-las, como também "mais de tudo". As vantagens de viver numa cidade são grandes, com um sem número de serviços à disposição, a proximidade (cada vez mais relativa) de escolas, hospitais, diversos apoios sociais, a felicidade da opção, a facilidade de escolha, e tudo o mais. Sim, viver numa cidade, por muito confusa que seja, tem esta enorme vantagem que, em princípio, facilita o nosso atribulado dia-a-dia.

Mas todas estas situações são acompanhadas por factores menos positivos, como e por exemplo, a poluição visual acrescida, o aumento de trânsito e por conseguinte de atrasos, uma correria sem fim para se conseguir fazer o que se fazia com mais calma há uma década.

Toda esta azáfama e resposta imediata às necessidades, alterou por completo a "banda sonora original" da cidade, outrora bem mais calma e silenciosa, hoje corrompida por barulho de toda a ordem. Quem não se sente desesperado, muito cansado, ao ouvir um martelo pneumático desde as oito da manhã, ou o avião que lhe rasa a casa, ou o inenarrável barulho de festas em discotecas e restaurantes até meio da madrugada? Como conseguimos sobreviver ao ruído de uma metrópole?

Os efeitos do ruído passam traiçoeiramente despercebidos por não terem efeitos imediatos e não deixarem rastro visível

Mesmo que a presença de buzinas de carros, camiões de higiene urbana, autocarros, motas, aviões ou sirenes seja alternada, a sua constância pode impactar os ouvidos num nível até subtil, mas com consequências a longo prazo.

O ruído passou de um sinal de alarme, um aviso de que o perigo existia para fazer parte do nosso quotidiano, alterando-nos profundamente os sentidos

Para evitar que o cérebro entre em colapso com tantos alertas, a Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu como padrão a média de 50 dB (decibéis). A partir daí, o organismo começa a sofrer impactos como, entre outros, irritabilidade, distúrbios endocrinológicos e até a perda irreversível da capacidade auditiva. Para se ter uma ideia, o trânsito no centro de grandes cidades atinge facilmente os 80 dB.

Portanto, a exposição ao ruído pode ter um impacto significativo na saúde mental causando stress, ansiedade, depressão e insónia.

O stress é uma das consequências mais comuns da exposição ao ruído. O barulho pode causar uma resposta de luta ou fuga no corpo, que pode levar a sintomas como o aumento da frequência cardíaca, pressão arterial e respiração.

Por outro lado, o barulho pode também causar um sentimento de medo ou ansiedade, que pode dificultar a concentração, o sono e o relaxamento.

O ruído pode causar estados depressivos resultantes de um sentimento de tristeza, desesperança em mudar a situação ou falta de interesse nas actividades que nos eram habituais e saudáveis. 

A insónia é um dos problemas mais comuns associados à poluição sonora. O ruído pode atrapalhar a capacidade de relaxar e dormir, o que leva à fadiga, irritabilidade e problemas de concentração. Em crianças, a falta de sono afecta o desenvolvimento cognitivo e o desempenho escolar.

O ruído torna o sono mais leve, causando profundos danos fisiológicos, psicológicos e intelectuais

Para além dos inevitáveis ruídos da vida de uma cidade, temos assistido nos últimos anos a um aumento significativo de fontes do mesmo. Um país votado ao mais básico turismo, cuja fama de ser BBB (bom, bonito e barato) atrai as camadas mais jovens de outras geografias, abriu as portas para inúmeros estabelecimentos de diversão, principalmente nocturnos, alargando horários de funcionamento de restaurantes e esplanadas.

O ruído tornou-se sistemático, avassalador, constante e caótico. Com leis que protegem mais o comércio que os habitantes, a lei do faroeste impera. E nem a "lei do ruído" resolve situações ilegais e criminosas, porque a polícia não intervém e quando o faz, é só por um par de horas.  

Se vive numa destas "zonas de guerra" e está preocupado com o impacto do ruído na sua saúde mental, é importante procurar ajuda de um profissional. Um terapeuta pode ajudá-lo a desenvolver mecanismos para lidar com o ruído e melhorar a sua saúde mental geral.

Até lá, se conseguir, eis alguns passos para atenuar o barulho: escolha um espaço dentro de casa o mais afastado da fonte do ruído, instale janelas com isolamento acústico, use protectores auriculares (existem muitos alternativas), aprenda e pratique técnicas de relaxamento, como meditação ou ioga. 

Não acaba com o inferno, mas ajuda a suportá-lo.

-Sobre Ana Pinto Coelho-

É a directora e curadora do Festival Mental – Cinema, Artes e Informação, também conselheira e terapeuta em dependências químicas e comportamentais com diploma da Universidade de Oxford nessa área. Anteriormente, a sua vida foi dedicada à comunicação, assessoria de imprensa, e criação de vários projectos na área cultural e empresarial. Começou a trabalhar muito cedo enquanto estudava ao mesmo tempo, licenciou-se em Marketing e Publicidade no IADE após deixar o curso de Direito que frequentou durante dois anos. Foi autora e coordenadora de uma série infanto-juvenil para televisão. É editora de livros e pesquisadora.  Aposta em ajudar os seus pacientes e famílias num consultório em Lisboa, local a que chama Safe Place.

Texto de Ana Pinto Coelho
As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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