O método de atribuição do nome às ruas, praças ou avenidas, pavilhões, jardins ou becos é tradicionalmente uma homenagem, distinção ou prémio por serviços prestados à comunidade ou ainda uma lembrança de ocasiões específicas.
Não são muitos os nomes consensuais numa sociedade em que as opiniões se extremam cada vez mais. Se para alguns um determinado nome é indiscutível, para outros é impensável.
Tudo isto foi bem visível, mais uma vez, na proposta de atribuição de nome à ponte pedonal sobre o Rio Trancão. Independentemente da opinião de cada um, que este artigo não pretende avaliar ou julgar, é uma ponte que vai servir um percurso pedestre ao longo de um espaço de lazer de contacto com a natureza.
Que melhor então do que atribuir-lhe um nome que possa representar-nos a todos e que possa servir de lembrete para a importância do mundo natural?
Porque não passar a fazê-lo para todas as novas infraestruturas? Designações como Ponte do Sopro do Vento, Rua dos Estorninhos, Beco das Madressilvas em Flor ou Jardim dos Ouriços, serviriam de incentivo à participação de todos os que frequentam esses locais na sua transformação em verdadeiros oásis para as plantas e para os animais.
No presente contexto, a naturalização das cidades é uma necessidade absoluta e deve ser espelhada em todas as etapas da expansão urbana. A inclusão da infraestrutura verde como base de todos os projetos urbanos será cada vez mais uma realidade, pela sua indispensabilidade no controlo da temperatura, na absorção das chuvas, no aumento da biodiversidade e, consequentemente, na melhoria da qualidade de vida dos habitantes.
Seja em novas construções ou na reabilitação de estruturas já existentes, a infraestrutura verde tem de ser parte integrante de todas as soluções encontradas, quer seja numa varanda, em terraços, pátios ou simplesmente em paredes.
Os jardins devem deixar de ser unidades isoladas para passar a fazer parte de verdadeiros corredores ecológicos que unam e estruturem toda a urbe, permitindo a sua total pedonalidade e a continuidade de habitats e de espaços seguros para a biodiversidade.
A obsessão pelo automóvel explica-se pela ausência de alternativas. O uso sistemático e prolongado do automóvel individual na nossa sociedade obriga-nos a muitas horas de isolamento que podiam ser de convívio, de usufruto e de relaxamento.
O automóvel é importante, mas não pode ser o meio de deslocação exclusivo, porque - como se não bastassem todos os impactos, implicações e custos - nos isola dos outros, nos condiciona os movimentos, nos reduz as interações.
Alguém já se perguntou porque é tão frequente a fúria do condutor?
Neste caso particular, mudar os nomes das infraestruturas pode ser um caminho para nos relembrar da natureza sempre que saímos à rua. Afinal, a Natureza merece, mais do que ninguém, homenagem, distinção e prémio por serviços prestados à comunidade!
-Sobre Ana Serrão-
Ana Serrão é licenciada em Tradução pelo ISLA. Frequentou o curso de Engenharia Agronómica da Escola Agrária de Santarém. Como associada da "ZERO – Associação Sistema Terrestre Sustentável”, tem trabalhado em iniciativas de ligação da associação à sociedade, com foco na mudança de mentalidades, hábitos de consumo e gestão do arvoredo urbano.