Na contemporaneidade o mundo enfrenta ondas gigantes de riscos e incertezas. Temos vivido tempos que, com grande profundidade, colocam-nos desafios sobre como enfrentarmos a crise climática ao mesmo tempo que combatemos as múltiplas desigualdades sociais ou a tomada do poder por parte de forças extremistas. As sociedades encontram-se mais dramatizadas, encerradas nos seus problemas internos e, muitas vezes, menos comprometidas com o que acontece lá fora e com diálogos e consensos. Consequentemente, cada um de nós, enquanto agente social e cidadão, desenvolve relações mais deslassadas, onde o empenho, a responsabilidade e a solidariedade dão lugar ao egocentrismo e à menor empatia.
Como forma de contrariar estas tendências mais gerais existem algumas ferramentas que podemos desenvolver. Uma delas, de grande relevância, é a arte. A arte é não só um modo de engajamento com a realidade, mas também uma reflexão, uma crítica e uma transformação da mesma. Com as produções artísticas o ser humano consegue trazer vida aos lugares suspensos e unir corações onde antes se agia com indiferença.
Neste sentido, venho abordar um estilo específico de arte: a poesia. O poder da palavra permite que nos entendamos e consigamos construir argumentos capazes de defender racionalmente uma dada posição. Mas são os versos que tornam esse racional belo, ritmado, matizado na sua arquitetura, encontrando na rima a cadência dos conjuntos e na sua ausência a potência da individualidade.
Correndo algum risco da autopromoção, mas servindo este texto igualmente enquanto partilha de um resultado poético que me orgulha, gostaria de vos falar do meu terceiro livro de poesia que saiu em fevereiro. Sou já um autor de duas obras deste cariz, todavia, o meu trajeto encaminhou-me para mais um trabalho, o maior deles todos e aquele em que sinto o meu mais íntimo self na qualidade de artista e pessoa. Cidades Híbridas é o título deste livro que promete cruzamentos entre particularidades, regularidades e visões do mundo!
Por que razão escolhi este nome? Ora, ao elaborar uma revisão pelos poemas que selecionei para esta obra identifiquei várias vezes a palavra “cidade” escrita. Ao que parece, aprecio muito a metáfora da urbe para os sentimentos humanos. A verdade é que numa cidade existem paisagens, serviços e poderes que a tornam dinâmica, servindo estes mesmos elementos como separação e, igualmente, como conexão com outras cidades que também possuem tais características. Ora, todos nós podemos também considerar-nos um pequeno espaço urbano, em que as nossas identidades, plurais e diversas, convocam-nos para deambulações tanto nos locais públicos como nos sítios mentais. Tal como as cidades que, isoladas, empobrecem e desaparecem da centralidade dos mapas, o desenvolvimento dos seres humanos seria impossível se estes não fomentassem a comunicação e a partilha entre indivíduos da sua espécie.
Cidades Híbridas vem, precisamente, chamar a atenção para os hibridismos das urbanidades: ao construirmos pontes, estradas e outros caminhos, tais como jardins e recintos recreativos e de lazer, estamos a complexificar e a enriquecer os nossos modos de ser e de estar. E a poesia é o elo entre esta postura mais sociológica do território e as emoções mais internas, que percorrem o amor e a tristeza, passando pela angústia e a amizade e atravessando o medo e a esperança.
Em suma, libertem as vossas cidades interiores! Este é o livro que vos aconselha a ativarem, em alta e viva voz, as dimensões mais significativas que vos caracterizam enquanto testemunhos e herdeiros da humanidade. Através de cada poema é desejado que incorporem as mensagens que eles transmitem e se tornem vocês mesmos artistas com expressões para (re)criar e revelar.
Agradeço desde já a todos os leitores da obra, que são quem realmente faz da poesia arte com sentimento e sentido.
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