fbpx

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

Opinião de Leonardo Camargo Ferreira

Licenciado em Sociologia - Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Mestre em Ciências da Educação - Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto. Colaborador editorial da Uniarea e com textos publicados nas plataformas do Público, Observador e Gerador.

Carta do Leitor: A esquizofrenia do Orçamento

A Carta do Leitor de hoje chega-nos pelas mãos de Leonardo Camargo Ferreira, que reflete acerca das questões que rodeiam o Orçamento de Estado.

Apoia o Gerador na construção de uma sociedade mais criativa, crítica e participativa. Descobre aqui como.

“Há mais vida além do Orçamento”. Quem o dissera foi Jorge Sampaio, no início do século, em 2003, alertando-nos que a economia – e, consequentemente, o bem-estar da população – implica mais do que pensar em receitas e despesas num sentido estrito. Contudo, parece que, na atualidade, a cada mês de setembro e outubro não vemos mais nada à frente senão este papel com números.

Mais uma vez, seja porque o Governo tem uma maioria relativa, seja porque os protagonistas políticos querem afirmar-se nas suas convicções (muitas vezes mais estratégicas do que “convictas”), a tensão instalou-se. Vemos Luís Montenegro e Pedro Nuno Santos, chefe do Executivo nacional e líder da Oposição, num impasse nas negociações que colocam o país num sufoco. A não aprovação do Orçamento pode conduzir-nos a um cenário de governação por duodécimos (péssimo para o desenvolvimento social do país) ou a novas eleições legislativas daqui a alguns meses (péssimas para a estabilidade política da nação). Destarte, só existe uma escolha que é realmente favorável neste momento: preservar alguma previsibilidade aos portugueses e aceitar cedências de parte a parte.

Todavia, não produzo este texto com o intuito de discutir quem deve fazer o quê para que o malfadado documento seja aceite. Não, a minha reflexão pretende ser muito mais abrangente do que isso. O ponto nevrálgico encontra-se, precisamente, na importância atribuída ao Orçamento e à completa histeria que envolve estas semanas todos os anos. Parece que se cria uma esquizofrenia tal que torna a política refém desta discussão, sem capacidade de olhar de forma mais multidimensional e estrutural para o estado de Portugal. Sabemos que a cada movimento de translação da Terra este assunto emerge das profundezas do tabu e o povo fica em estado de alerta, suspenso na sua vida quotidiana até à decisão final dos partidos. Mas esta é uma lógica que não tem sentido algum para um país que se quer saudável em termos económicos, sociais e políticos.

Como podemos pensar em medidas macroestruturais e de longo prazo se, periodicamente, todos ficamos aflitos com a aprovação do Orçamento? E que hipocrisia é esta de os protagonistas políticos tentarem retirar lucros que são irrisórios e, simultaneamente, incoerentes com a missão de tornar Portugal um local melhor para todas as pessoas? Por que raio – perdoe-me, caro leitor, a linguagem mais corriqueira – estas personalidades não se anteciparam e iniciaram mais cedo conversações em prol de um bem maior? Os dividendos de prestígio imediatos não se coadunam com os sacrifícios e as tomadas de posição necessárias para inverter o empobrecimento nacional. As figuras políticas não são crianças, imponderadas nos seus comportamentos e aleatórias nas suas escolhas; nem as instituições partidárias podem ser os seus brinquedos através dos quais proliferam e intensificam o jogo político, excluindo quem realmente importa desse jogo: o comum cidadão.

O cansaço dos portugueses apresenta-se num estado muito elevado, próprio de uma acumulação de anos e, até, de décadas. É francamente esgotante ter de conviver com este vício do suspense na entrada do outono, como se os protagonistas políticos fossem mais importantes do que a vida da população. Por isso, a bem da estabilidade (creio que posso falar por uma larga maioria), exigimos bom senso de todos os partidos, mas sobretudo dos dois que mais votos receberam dos eleitores, e que parem de lançar ansiedade para cima de vidas que, elas sim, já têm de enfrentar dificuldades diárias de alimentação, saúde, habitação, entre outras. Está na altura deste delírio com o Orçamento terminar, se queremos, de facto, encontrar toda a restante vida que ele oculta.

Lamento a exposição de alguma irritabilidade. É, no entanto, verdadeira e justificável perante um debate que é consecutivamente o mesmo e, por conseguinte, que só se torna mais e mais infértil. Porém, esta frustração não está direcionada para um mensageiro, e sim para alvos primários que podem fazer a diferença se decidirem agir como adultos na sala.

Se quiseres ver um texto teu publicado no nosso site, basta enviares-nos o teu texto, com um máximo de 4000 caracteres incluindo espaços, para o geral@gerador.eu, juntamente com o nome com que o queres assinar. Sabe mais, aqui.

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

Se este artigo te interessou vale a pena espreitares estes também

11 Julho 2025

Tempos Livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

9 Julho 2025

Humor de condenação

4 Julho 2025

Tempos Livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

2 Julho 2025

Não há liberdade pelo consumo e pelas redes sociais

2 Julho 2025

Candidaturas abertas para o Workshop de Curadores da 13.ª Bienal de Berlim

30 Junho 2025

Desejar: como os desejos de uma cidade se transformaram em festival

27 Junho 2025

Tempos Livres. Iniciativas culturais pelo país que vale a pena espreitar

25 Junho 2025

Gaza Perante a História

25 Junho 2025

A Budapest Pride está marcada para 28 de junho, mas o governo húngaro procura impedi-la

23 Junho 2025

O encanto do jornalismo pelo Chega

Academia: cursos originais com especialistas de referência

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Artes Performativas: Estratégias de venda e comunicação de um projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo e Crítica Musical [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Comunicação Cultural [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Patrimónios Contestados [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Desarrumar a escrita: oficina prática [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Escrita para intérpretes e criadores [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Iniciação ao vídeo – filma, corta e edita [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Introdução à Produção Musical para Audiovisuais [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Gestão de livrarias independentes e produção de eventos literários [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Fundos Europeus para as Artes e Cultura I – da Ideia ao Projeto [online]

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Viver, trabalhar e investir no interior

Duração: 15h

Formato: Online

30 JANEIRO A 15 FEVEREIRO 2024

Jornalismo Literário: Do poder dos factos à beleza narrativa [online]

Duração: 15h

Formato: Online

Investigações: conhece as nossas principais reportagens, feitas de jornalismo lento

02 JUNHO 2025

15 anos de casamento igualitário

Em 2010, em Portugal, o casamento perdeu a conotação heteronormativa. A Assembleia da República votou positivamente a proposta de lei que reconheceu as uniões LGBTQI+ como legítimas. O casamento entre pessoas do mesmo género tornou-se legal. A legitimidade trazida pela união civil contribuiu para desmistificar preconceitos e combater a homofobia. Para muitos casais, ainda é uma afirmação política necessária. A luta não está concluída, dizem, já que a discriminação ainda não desapareceu.

12 MAIO 2025

Ativismo climático sob julgamento: repressão legal desafia protestos na Europa e em Portugal

Nos últimos anos, observa-se na Europa uma tendência crescente de criminalização do ativismo climático, com autoridades a recorrerem a novas leis e processos judiciais para travar protestos ambientais​. Portugal não está imune a este fenómeno: de ações simbólicas nas ruas de Lisboa a bloqueios de infraestruturas, vários ativistas climáticos portugueses enfrentaram detenções e acusações formais – incluindo multas pesadas – por exercerem o direito à manifestação.

Shopping cart0
There are no products in the cart!
Continue shopping
0