Médica endocrinologista e ativista política, Isabel do Carmo esteve envolvida na resistência armada à ditadura fascista em Portugal. Foi co-fundadora das Brigadas Revolucionárias, organização responsável por várias intervenções bombistas levadas a cabo nesse período. “Encarei muito seriamente a questão de se fazerem ações armadas contra a ditadura”, assume.
“Era qualquer coisa que surpreendia o regime, que, de facto, abalava os seus meios e que dava, perante a população, uma ideia de que as pessoas não estavam calmamente a ver decorrer os acontecimentos”, acrescenta.
A ativista diz que o ano e meio do Processo Revolucionário Em Curso (PREC) foi “o melhor das nossas vidas”, pois foi aquele em que Portugal “foi o país mais livre da Europa”, onde todas as pessoas, independentemente da sua classe social, podiam fazer ouvir a sua voz. “Havia uma esperança de igualdade”, relata a médica.
Neste episódio da Entrevista Central - gravada no final de setembro -, Isabel do Carmo lamenta a "derrota" que foi para si o 25 de novembro de 1975, e o término desses tempos de possibilidades em aberto.
Já em democracia, no rescaldo desse ano “quente”, esteve presa 4 anos, nomeadamente em contexto de isolamento, mas diz que nada disso enfraqueceu as suas convicções. Garante que, mesmo tendo sentido medo, não se arrepende de nada do que fez e que a ação pela força era “indispensável” para mudar o paradigma político do país.
Hoje, mostra-se desiludida com o rumo que a democracia tomou e critica o que diz ser uma “normalização do neoliberalismo e de todas as dificuldades sociais”.
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