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“Porque é que nunca reconhecem o encoberto?” Como Fernando Pessoa salvou Portugal

Recuando aos anos 20, mais especificamente ao ano de 1927, vemos o poeta Fernando Pessoa…

Texto de Andreia Monteiro

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Recuando aos anos 20, mais especificamente ao ano de 1927, vemos o poeta Fernando Pessoa sentado numa mesa de madeira, quando um dos seus empregadores lhe pede que crie um slogan publicitário para a bebida Coca-Louca. A famosa bebida dos Estados Unidos é apresentada como uma alternativa ao pecado do álcool, uma vez que pode produzir os mesmos efeitos, mas sem pecado. É então, que Pessoa e o seu empregador discutem a importância da publicidade e o seu casamento com a poesia, que o poeta descreve como não podendo ser um casamento católico. E assim, temos a trama montada para o mini-filme de Eugène Green – “Como Fernando Pessoa salvou Portugal” – onde o humor é um dos ingredientes principais.

Fernando Pessoa sentado numa mesa de madeira, quando um dos seus empregadores lhe pede que crie um slogan publicitário para a bebida Coca-Louca

Eugène Green, nascido na América do Norte, mas com nacionalidade francesa é um realizador que traz Portugal no coração já desde o tempo em que escreveu o livro “L’ami du chevalier de Pas”, em que homenageia Fernando Pessoa. Foi esse mesmo livro que o levou, agora, a querer apostar num mini-filme, de 26 minutos, sobre o poeta e que assentasse na temática dos paradoxos do poeta. Para o elenco escolheu Carloto Cotta (no papel de Fernando Pessoa e Álvaro de Campos), Manuel Mozos (no papel de Sr. Moitinho de Almeida), Diogo Dória (enquanto Ministro da Saúde), Alexandre Pieroni Calado (Mourinho), Ricardo Gross (Padre Marinheiro Bicha da Horta), Mia Tomé (modelo) e o próprio Eugène Green (pintor).

Refletindo acerca da temática do sucesso, Eugène destaca o caso do poeta português como sendo alguém cujos vários negócios nunca tiveram sucesso. “No caso de Pessoa, que ganhava a vida a tratar da correspondência com o estrangeiro para várias empresas da Baixa, em Lisboa, ocupação que o aborrecia mas lhe deixava tempo para a criação literária, todas as tentativas de suceder em projectos práticos tiveram um fim rápido e patético, seja a tipografia Ibis, na qual investiu e perdeu, com 19 anos, a sua pequena herança, a editora Olissipo, que se afundou num escândalo literário, ou a Revista de Comércio e Contabilidade que lançou com o cunhado, e que não durou mais de um ano. Mas o mais divertido, e talvez o mais profundo desses fiascos, terá provavelmente sido a sua carreira enquanto publicitário, a pedido de um dos patrões, que queria importar para Portugal, onde ainda era desconhecida, a bebida açucarada e gaseificada, à base de xarope de cocaína, emblemática da ‘cultura’ dos Estados Unidos”, escreve o realizador na nota de intenções da curta.

Fernando Pessoa a trabalhar no slogan publicitário 

Foi em 1927 que a Coca-Cola se preparava para entrar em Portugal, ficando Fernando Pessoa encarregue de criar um slogan para promover a nova bebida. Assim, nasce a famosa frase do poeta português: “Primeiro estranha-se, depois entranha-se”. Após a criação deste slogan a bebida foi proibida pela Justiça Portuguesa e pelo Estado Novo. Apenas 50 anos mais tarde a Coca-Cola entrou em Portugal.

Apresentando uma crítica à massificação cultural, estes são os factos históricos em que se apoia a narrativa que, depois, recorre ao humor para ilustrar a relação de Fernando Pessoa com o heterónimo Álvaro de Campos, pois foi ele o autor do slogan. Em diálogo com o seu heterónimo, é o próprio Campos que diz a Pessoa que o sucesso não faz parte do seu destino. Desta forma, evoca-se o Encoberto associado à figura messiânica do rei D. Sebastião que desapareceu na batalha de Alcácer Quibir, em 1578, e cujo regresso se espera até hoje.

Padre Marinheiro Bicha da Horta a exorcizar os maus espíritos da Coca-Louca 

O humor destaca-se também nos diálogos entre o Ministro da Saúde e o Padre Marinheiro Bicha da Horta, o exorcista que viu na bebida americana uma questão de maus espíritos. Perante mais um negócio fracassado, é Pessoa quem conclui que, afinal, a poesia e a publicidade são inimigos irreconciliáveis. O Encoberto parece permanecer à espera do reconhecimento e Pessoa salvou Portugal. Mas como? É algo que apenas se pode saber ao assistir à curta “Como Fernando Pessoa salvou Portugal”.

Após a estreia de “Como Fernando Pessoa salvou Portugal”, juntamente com a longa-metragem “9 Dedos” do cineasta F.J. Ossang, no passado dia 11 de outubro, no Cinema Ideal, é ainda possível ver estas obras durante a semana, pelas 21h30.

Texto de Andreia Monteiro
Stills da curta Como Fernando Pessoa salvou Portugal

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