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Emojis: quem pode falar de si na língua mais falada do mundo?

Na era digital, comunicamos por texto, mas também, e cada vez mais, por imagens. Criados…

Texto de Flavia Brito

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Na era digital, comunicamos por texto, mas também, e cada vez mais, por imagens. Criados muito perto do virar do milénio, por uma empresa de telecomunicações japonesa, os emojis espalharam-se pelo mundo e são hoje utilizados por 2,9 mil milhões de pessoas, em 212 países. Mais de sete mil milhões de emojis são enviados todos os dias. Com eles, podemos amar, odiar, ficar pensativos ou zangados, representar animais, objetos, atividades e até mesmo nós próprios – mas não sempre. O padrão emoji conta atualmente com mais de três mil pictogramas, mas será isso suficiente?

Se os emojis fossem considerados uma língua, este seria o idioma mais usado no mundo, com 92% dos utilizadores da Internet a fazer uso destes símbolos. Muitos chamam-lhe a linguagem corporal da era digital, capaz de replicar o que vemos e fazemos na comunicação cara a cara.

Para Patrícia Dias, professora auxiliar da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, esta utilização dos símbolos por parte das pessoas existe praticamente desde que usamos as tecnologias digitais, apenas não neste “formato” que agora conhecemos. A académica acredita que “houve essa necessidade de complementar a palavra escrita com as emoções e as expressões que temos” presencialmente.

“Na minha adolescência, já juntávamos os caracteres possíveis para criar os smiles e comunicar dessa maneira. Desde o início, foi sempre a criatividade humana a tentar dar resposta ao facto desta comunicação escrita, através destas tecnologias, ser limitada. Perdemos tudo aquilo que é a comunicação não-verbal, as expressões, o contacto visual”, explica.

Mas este não é um idioma que – como todos os outros que conhecemos – evoluiu da relação entre os seres humanos. Usada por todos nós, a língua emoji é calculosamente desenhada e definida por uma série de empresas.

Uma língua falada por muitos, mas definida por poucos

Ao contrário de outros idiomas – como o português, o inglês ou o árabe –, para os emojis não há um dicionário, uma referência, nem um grupo de especialistas para esta “língua” que se vem afirmando como, cada vez mais, universal. Há, no entanto, um comité que decide quais os ícones que usamos em todo o mundo e, consequentemente, aquilo que podemos, ou não, expressar através deles.

Na prática, o consórcio Unicode controla os nossos teclados emoji. Composto por linguistas, designers, programadores de software e engenheiros, é o Comité Emoji que delibera que símbolos podem ser utilizados em quase todas as plataformas telefónicas e informáticas, bem como os cerca de 60 ícones que são acrescentados todos os anos aos nossos teclados.

Os membros do Comité Emoji são representantes das grandes empresas tecnológicas como Apple, Google, Hawei, Facebook e Microsoft. Companhias normalmente concorrentes reúnem-se à volta de uma mesa para discutir o padrão Unicode e assegurar que todos os dispositivos possam comunicar uns com os outros em códigos comummente acordados. 

Este grupo, de cerca de vinte pessoas – maioritariamente homens e maioritariamente caucasianos –, tem vindo a trabalhar para uma representação mais equilibrada e variada da sociedade. Nos últimos anos, foram acrescentados aos teclados vários emojis que hoje nos permitem representar mais profissões femininas, mais tons de pele, casais homossexuais, mães e pais solteiros, um jihab ou uma bandeira do arco-íris.

O Unicode garante assim a universalidade dos emojis, mas quão representativa é ainda esta realidade? Em todo o mundo as pessoas usam exatamente os mesmos pictogramas, entre os quais não é ainda possível ver uma bandeira tibetana, um cabelo afro, uma bandeira trans ou um símbolo que represente a menstruação.

Universalidade versus representatividade

Para Myriam Taylor, ativista de direitos humanos e anti-racismo, também nesta matéria, a falta de representatividade começa pela não-participação nos processos de decisão. “Nós olhamos à nossa volta desde sempre e não nos revemos em nada daquilo que é feito ou produzido. Porquê? Porque não participamos. Desde a conceção existe uma falta de representatividade nas equipas e isso leva a que haja menos discussão, a que as coisas sejam feitas muito de acordo com os olhos de quem as vê. Obviamente que os primeiros emojis só deviam ser de pessoas brancas, porque os designers, os programadores, quem ocupa esses espaços, retratam-se, e, como nós somos normalmente invisibilizados, invisibilizam-nos aí também, até porque as equipas não são diversas. Se houvesse equipas diversas, isto não seria uma questão”, acredita.

Tal como acontece noutros setores, a ativista acredita defende que esta falta de representatividade vai muito além das interações que temos uns com os outros nos nossos aparelhos eletrónicos, levantando outras questões mais profundas na sociedade: “Isto impacta o imaginário coletivo, dando a entender que só um determinado grupo é que existe, é que pode ser representado, porque é o socialmente aceite.”

Segundo Myryam, o caso específico dos emojis acaba por reproduzir a questão do padrão de beleza convencional: “Tem havido ultimamente um redesenho, um reposicionamento, mas sempre de acordo com o olhar externo. Seria tão simples perguntarem-nos como é que nós queremos ser representados e terem essa sensibilidade para essa pluralidade.” 

Muitas pessoas lutam pelo reconhecimento no mundo dos emojis, e existem lóbis por todo o mundo que querem ver incluídos determinados símbolos neste teclado. A bandeira trans é um deles, uma proposta que tem sido repetidamente recusada pelo consórcio.

Para Mi, pertencente à comunidade transexual em Portugal, não existir uma bandeira trans é anular esta realidade no mundo digital: “Empurra-nos para a invisibilidade, para a não-existência, que é o magma onde em que nós vivemos a maior parte do tempo. É a confirmação da nossa não-existência, é a confirmação da nossa não-visibilidade.” 

“Mesmo existindo a bandeira LGBT, é uma realidade que é muito diferente”, reitera. Segundo ele, a possibilidade de ter uma representação é uma questão de afirmação, mas também de identificação e de criação de um sentido de pertença, por exemplo, em momentos em que lutam contra a discriminação e em que também o fazem através das redes sociais. “Precisamos de não sentir vergonha e de sentir que não estamos sozinhos, e o facto de haver uma bandeira em que várias pessoas se enquadram tem um bocado esse significado de que nós não estamos sozinhos na nossa especificidade.”

Texto por Flávia Brito
Fotografia via Pixabay

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