Pedro Segundo está a trabalhar no lançamento de um EP duplo, que chegará ao mercado em janeiro do próximo ano. Fruto do confinamento, “Cataplana Series” é um projeto dedicado ao instrumento handpan.
“Foi a forma de conseguir ultrapassar a solidão de não estar em tour com os artistas com quem costumo estar”, disse o baterista, percussionista e timpaneiro, que tem acompanhado a cantora britânica Judith Owen nos últimos anos. Sem calendário de espetáculos, o confinamento "obrigou-o" a explorar outras áreas onde estava "mais desconfortável", como o processo de uma gravação e edição de um projeto do início ao fim.
Este EP duplo é um trabalho composto por oito composições improvisadas em handpan, quatro em Los Angeles e quatro em Nova Iorque. "Este grupo de composições não foram premeditadas, não foram escritas em papel. Foi a necessidade espontânea de querer ter uma razão de fazer música, e visto que não tinha músicos à minha disposição para criar, ou realmente compor, tive de me deslocar ao parque e ter a natureza do Central Park como o outro grupo de músicos invisíveis, que é, neste caso, a natureza", conta o artista ao Gerador.
"Foram os pássaros no início do «Dulcineia and the Lake», foi a acústica do Bethesda Hall, foi as pessoas a passarem e um cão a ladrar, essa acabou por ser a inspiração, e houve um interplay entre o instrumento e o que ouvia em loco, em tempo real", acrescenta Segundo, que já tocou com Dennis Rollins, Kansas Smitty’s House Band e Academy of Saint Martin in the Fields (Murray Perahia, Joshua Bell, Sir Neville Marriner).
Nas palavras do próprio, "a «Cataplana Series» nada mais é que uma forma positiva de deixar um output criativo e inspirar outros artistas que estejam a sentir-se isolados e deprimidos, para não perderem a esperança e continuarem a alargar os horizontes e a pesquisa criativa."
"É isso que, enquanto artistas, precisamos. Não parar a busca de novos projetos, novos sons, novas aventuras”, acrescenta.
Habituado a tocar com um setup multipercussão, o percussionista partilha que fez todo o sentido explorar um só instrumento e tentar criar um discurso com variações acessórias, como as mãos, as vassouras e alguns sinos. "A limitação veio trazer-me muito mais música do que aquilo que talvez aconteceria se tivesse muitos mais instrumentos à minha disposição. Realmente não exploramos todo o potencial de cada instrumento. Tocar só um instrumento, o handpan neste caso – que se chama Dulcineia – , veio trazer ainda mais uma perspetiva a fundo deste instrumento de metal, que tem nove notas, se inverter tem um outro timbre e tem uma tónica linda – parece quase que tabla, algo assim muito especial."
O título do EP é um trocadilho de linguagem, originado quando o músico considerou que o instrumento musical handpan, que está a celebrar vinte anos de existência, se parecia com uma cataplana.
Pedro Segundo refere ainda que “não está fora de questão fazer uma tour com este instrumento”, a seguir ao lançamento do EP, mas que tudo dependerá da evolução da pandemia e da possibilidade de voltar a dar concertos.
“Sempre quis ser um cidadão do mundo”, afirma o artista, que por estes dias dá aulas musicais em casa, através da plataforma Zoom. “Viajar é o que dá razão à minha vida artística”.