"Olá. Sejam bem-vindos ao Varicela, o podcast sobre criatividade contagiosa. Convosco, a vossa host, sou a Teresa Arega - artista e especialista em ler deitada.” É assim que Teresa Arega se apresenta no primeiro episódio do podcast que lançou a 21 de setembro de 2019, em diferentes plataformas de streaming. Com uma temporada fechada e a segunda ainda no começo, Varicela conta estórias reais sobre criatividade e desconstrói ideias feitas sobre o que é, afinal, ser criativo.
A ideia surgiu quando Teresa terminou os estudos na Faculdade de Belas Artes e se apercebeu que já não teria conversas com amigos sobre a condição de ser artista e os mitos em torno da criatividade - pelo menos com a mesma frequência. Para conseguir esclarecer possíveis ouvintes, teria de o fazer na primeira pessoa.
"Queria que as conversas chegassem a quem não lida com estes obstáculos e que normalize a criatividade. Por vezes, quem está de fora tem tendência a ver o trabalho criativo como “ter um dom”, “ter jeito”, ou “ser genial” e isso não faz bem nem a quem o diz, nem à comunidade artística. A criatividade não é uma qualidade exclusiva”, conta Teresa ao Gerador.
Os convidados do podcast "mostram as horas de trabalho, decisões e esforço que estão por detrás do “ter jeito”.” Das artes visuais à música, a lista de conversas do Varicela contou até agora com Sara Brandão, zé menos, Amargo, Clara Não, Pupo e Ricardo Borges. Têm em comum o facto de serem todos amigos de Teresa Arega.
“Queria uma plataforma para mostrar os meus amigos, para falarem do processo, dos obstáculos e do trabalho deles, dos hábitos e das rotinas que tinham. O meu critério de selecção é que me sejam próximos e que eu admire o trabalho que têm. Perguntam-me muito “E quando esgotares os amigos?”, e na verdade eu não sei responder a essa pergunta.
Falar com amigos é fácil e a informalidade das conversas vem do conforto que já tenho com os convidados. Por enquanto, é o que faz sentido”, explica.
Combater mitos através da voz de quem neles habita
As conversas podem ser feitas entre amigos, mas o podcast foi imaginado “para toda a gente”. Teresa nota que existe “uma romantização do que a comunidade artística faz, que normalmente resulta em não ser respeitada” e é por “esses padrões estarem enraizados na sociedade, como muitos outros”, que vale a pena começar a tentar fazer a diferença pela palavra. "Eu acredito que uma plataforma que conceda espaço para conversar é um bom começo”, sublinha numa nota positiva.
Varicela pode ser indicado para os artistas que se sentem sozinhos ou incompreendidos, para os familiares que não compreendem, ou para quem simplesmente não consiga pôr-se na pele de quem cria. “Às vezes acabamos por nos sentir perdidos e sem saber o que fazer nesta área profissional. Isto pode ser facilmente parado se conversarmos entre nós, artistas, sobre questões como orçamentos, trabalhar em freelance, gerir um pequeno negócio. Ouvir pessoas criativas com experiência, percursos alternativos, processos especiais, valida a realidade de quem nos ouve. É essencial entender que não há uma receita certa ou uma fórmula para criar”, explica.
"Eu quis mostrar à minha família, que não lida com trabalho criativo, que este emprego é normal, a minha vida é normal e não estou sozinha. Tem resultado e vejo que há muito mais abertura para discutir e falar abertamente”, remata a artista.
Apesar de Teresa trabalhar com artes visuais, o formato escolhido para estas conversas acabou por ser o áudio. “A acessibilidade é uma preocupação minha”, conta, “o áudio chega a muitas pessoas, é fácil de acompanhar.” “Há poucas barreiras entre mim e quem está a ouvir.”
"Tocamos com frequência em estigmas e mitos da comunidade artística que por si já carregam conotações fortes, mas numa conversa informal onde há partilha, verdade, honestidade, onde se fala de forma clara, há pouco espaço para esses estigmas sobreviverem. É especial ouvirmos a voz de alguém, principalmente quando descrevem o seu processo e o que viveram para chegar onde estão”, conta.
A criatividade como “o mais próximo que existe de um super-poder"
Teresa Arega é natural da Madeira, mas mudou-se para o Porto para estudar na Faculdade de Belas Artes. A urgência de criar espelha-se em tudo o que faz - das telas em nome próprio a parcerias como a concepção gráfica do disco O Chão do Parque de zé menos. Com “Varicela” partilha a pertinência de tocar com o dedo na ferida e a mais-valia da partilha.
Numa altura história como a que vivemos, a criatividade pode ter um papel de destaque. Teresa Arega explica: "Há várias razões para se associar o acto de criar a algo terapêutico e uma delas é que estamos completamente presentes no momento quando criamos e deixa de haver tanto espaço para ansiedade e outras coisas más."
"Acho que esta é uma boa altura para nos apercebermos, colectivamente, de que estamos todos a dar o nosso melhor, da melhor forma que sabemos. Há várias coisas que partilhamos todos uns com os outros, no dia-a-dia, e uma delas é definitivamente a criatividade.”
A artista lembra que “o que difere entre nós, pessoas, é a nossa realidade que muda de acordo com as nossas experiências". Ainda assim, “a vontade de partilhar as nossas histórias, de comunicar, de falar é o que nos une. Ninguém nos pode tirar isso, criar é o que existe mais próximo de um super-poder”, conclui.
O podcast Varicela pode ser ouvido no Spotify, no Apple Podcasts, no YouTube no Soundcloud. Podes conhecer melhor o trabalho da Teresa, aqui.