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Zé Menos: “Foi a importância da palavra que me fez querer fazer rap”

Se o víssemos num concerto ou numa festa de hip hop até há uns tempos,…

Texto de Carolina Franco

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Se o víssemos num concerto ou numa festa de hip hop até há uns tempos, rapidamente pensaríamos “está ali o Kap”. Com O Chão do Parque, disco que lançou no fim de 2019, Kap rebatizou-se como Zé Menos e, em poucos meses, já o nome soa natural, assentando na perfeição nesta versão madura de José Poças.

O rapper de Gaia sonhou estrear o segundo disco da sua carreira no Cinema Trindade, e assim o fez. Talvez não tenha pensado em criar a banda sonora adequada ao momento de introspeção de qualquer um, mas também o conseguiu. O Chão do Parque tem tanto de reinvenção como de procura interior; tanto de “eu” como de “todos nós”. 

Quando combinámos encontrar-nos, O Chão do Parque já tinha sido distinguido por quem ouve, escreve e fala sobre rap como um dos discos do ano (ou até mesmo da década). Para Zé Menos, ou simplesmente Zé, o reconhecimento traz sempre emoção. Não se lembra de cada palavra que escreveram sobre si, mas recorda cada conversa que teve com a dedicação de quem agradece tudo o que de bom atravessa o seu caminho. 

Na conversa que começou antes de o gravador ser ligado e terminou depois de o áudio ter parado, falámos sobre a importância de criar com calma, a singularidade que podemos encontrar quando aprendemos a olhar à volta e a força que reside na palavra. 

Gerador (G.). – Sei que já falaste sobre isto várias vezes e é inevitável, porque até há bem pouco tempo conhecíamos-te enquanto Kap. Também já disseste noutras entrevistas que a certa altura deixaste de te identificar com esse nome. Este corte foi apenas na forma como te apresentas ou foi também uma reinvenção na forma como crias e na música que fazes?
Zé Menos (Z.M.) – Eu pensei muito nessa questão. A resposta correta é: eu não mudei de nome porque mudei de música. Na minha análise de mim mesmo, acho que vai além disso. A fase da vida em que comecei a fazer o disco – ou em que eu estive entre os dois discos – foi uma fase em que muita coisa apareceu em mim ou no meu pensamento. Foi quando comecei a ficar muito estimulado no pensamento artístico, acima de tudo. Andava na faculdade e tinha uma cadeira que era Análise de Fonogramas e Eventos, mas, no fundo, o que fazíamos, de uma forma muito simplista, era falar sobre música e arte, e havia sempre um momento no início das aulas em que uma ou duas pessoas mostrava uma música que tivesse descoberto recentemente ou que queria simplesmente mostrar muito aos outros. Essa cadeira, sobretudo no fim do curso, trouxe-me algumas referências como um livro de entrevistas ao [Marcel] Duchamp, que se chama The Afternoon Interviews e que me deu algumas luzes para o que eu estava à procura. Deu-me alguns sinais da reinvenção de que eu estava à procura… ou melhor, fez-me pensar que para me reinventar eu precisava de me ter inventado primeiro. As circunstâncias musicais em que apareci no início, inventaram-me. Mas foi uma evolução que nunca acabou. No fundo só continuei o meu processo de procura daquilo que é o mais próximo possível da minha linguagem artística. 

Eu não pensei em mudar de nome numa altura em que percebi que a música que estava a fazer era diferente, essa mudança aconteceu naturalmente. E tanto a mudança na música como no nome são uma consequência da fase por que eu estava a passar na altura. Até porque se eu não gosto deste nome [Kap], não tenho que ficar agarrado a ele como se a minha mãe mo tivesse dado; foi um nome que escolhi quando era miúdo com outros padrões e outra noção de gosto, e enquanto artista sou livre de me rebatizar. 

Escolhi algo com que me sentisse mais à vontade e que fizesse mais sentido para mim. Vinha da ideia de “menos um a mais”, que era um pequeno aka que eu tinha no “Do Nada Nasce Tudo” e pensei que já que tinha isso em todo o lado, e que sempre esteve lá. A luz final foi pôr o meu nome, Zé. 

O Chão do Parque foi lançado pela Biruta Records em novembro de 2019

G. – Houve um processo de maturação também na criação do disco, que estiveste a preparar durante três anos. Estás, de alguma forma, a contrariar a pressão de lançar um certo número de singles ou EP num curto espaço de tempo? Que lugar é que o tempo ocupa na forma como crias e vês o rap?
Z.M. – Eu não me sinto a contrariar porque ainda não senti a pressão. Mas de facto essa pressão existe para algumas pessoas, ou então é auto-imposta e advém de outros fatores, como querer tirar uma rentabilidade e viver da música. Eu tento que a minha criação seja o mais livre de pressões possível, enquanto conseguir que assim seja. E a pressão do tempo tem muito a ver com a pressão com dinheiro. São independentes, mas unem-se muitas vezes. Se eu conseguir levantar a pressão da sobrevivência da minha arte, a minha arte é mais livre. Sabe-se sempre à partida que nunca somos completamente livres no momento de criação, somos sempre limitados por todo o nosso background cultural, tudo o que nos rodeia mesmo que não gostemos. A liberdade pode não existir, em termos práticos, mas eu posso trabalhar no sentido dessa utopia e tentar livrar-me do máximo de pressões possível. Isso é uma coisa que me pesa muito. Mesmo hoje em dia se tiver algum sonho ou expectativa de viver da música, não lhe digo que não, mas já me disse a mim mesmo que se um dia isso acontecer vou ter de arriscar consciente de que me vou limitar em algumas coisas. 

Quanto à forma como vejo o rap, eu não gosto de soar amargurado com o rap, porque não estou. Acho que isso acontece porque o olho de fora, não de dentro. Mas sabes, acho que era bom que houvesse mais gente a ter educação artística, e quando digo isto não me refiro a uma educação formal. Simplesmente um estímulo artístico. Hoje fica-se muito à superfície das coisas (falo no geral, claro). E acho que se calhar muitos jovens rappers ganham ambições do que ouvem outros rappers dizer nas músicas. Acho que o rap é dos estilos musicais com mais potencial de sobrevivência e de relevância ao longo dos tempos, porque aquilo que define o que é rap é muito curto: é alguém a dizer um texto relativamente extenso, ou mais extenso do que uma canção habitual, numa forma métrica acentuada. Ainda há dias no Twitter estava a ter esta discussão porque o xtinto fez um tweet a dizer algo sobre os rappers falarem sobre rappers a fazer rap, e eu até também já sinto isso há muito tempo. Acho que é um desperdício um género com tanto potencial de texto, de momento para se dizer, ficar à superfície. Eu não sou apologista da responsabilidade social e de teres que dizer coisas importantes; é tudo válido. Só acho que falares sobre aquilo que fazes constantemente é aborrecido; rap sobre rap é aborrecido. [risos] Não tem que ser interventivo, mas há tanta coisa para falar. É só olhar à volta. 

G. – E todo esse processo do tempo, de que falas, acaba por se relacionar também com o processo das árvores de folha caduca todos os Invernos – esta referência que te é cara. As folhas caem, mas voltam a nascer outras novas. Essa renovação das folhas pode ser quase um paralelismo para o que tu és, e todas as referências que, como os ramos, ficam lá.
Z.M. - Eu passei os últimos anos completamente mergulhado nas árvores de folha caduca e na verdade nunca tinha pensado de forma literal na questão do tempo, mas já falei nele através de outros assuntos no disco. Na “Mártir” digo algo como “as coisas crescem se alguém lhes der tempo e olhar para elas” e eu aí faço uma ligação com a educação, que é um grande tema do disco, apesar de nunca ter pensado muito em falar sobre ele. Foi outra das reflexões que tive, quando me apercebi que estava completamente dentro disto, até pela circunstância em que eu estava. Os meus pais permitiram e apoiaram a minha decisão de parar e queimar alguns anos só a pensar nisto – que é uma posição de completo privilégio. De facto, o tempo é fundamental no processo criativo, no pensamento. 

G. – Para do nada também poder nascer tudo. 
Z.M. – Sim, só que nunca é um segundo [risos]. E nunca é um minuto. Houve uma fase em que caíram umas árvores no parque depois de uma tempestade e quando voltei a casa fui ver o que tinha acontecido. Tinham caído três ou quatro pinheiros e aquilo mexeu muito comigo. Lembro-me de estar lá no dia seguinte à tarde e estar muita gente a apanhar o que tinha caído das árvores com a tempestade, e eu pensei “agora? só vêm apanhar as coisas que caíram?”. Houve uma fase em que a imersão foi tal que eu fiquei intimamente ligado àquele universo. E neste caso foi por ver árvores, que nem sequer eram caducas, caídas, e eu depois ter noção que as sombras nunca mais iam ser iguais ali. E agora fico triste porque já nem me consigo lembrar de como era antes. 

Zé Menos vê o disco como um todo: das faixas à capa, da estreia aos concertos

G. – Quase como quando perdes uma pessoa e acabas por te esquecer de como era a voz dela. 
Z.M. – É mesmo isso. Claro que não sinto isso com tanta intensidade, mas há uma ligação muito direta com os temas em que eu estava a pensar. Isto para dizer que se eu não tivesse tido o tempo e a disponibilidade emocional para mergulhar naquilo, nunca teria chegado ao ponto de ficar sentido com árvores que caíram no meu parque. E depois até escrevi na “Descalço”, “fiz o luto e nem eram das minhas”. Apesar de serem árvores mais vulgares, mexeu comigo.

G. – Já que pegas na vulgaridade, gostava de te perguntar se sentes que de alguma forma é importante olhar para dentro e não nos deixarmos levar por o que “está a bater”? É difícil fazermo-nos ouvir num universo onde predomina esta segunda ideia?
Z.M. – Eu acho que é difícil, claro. Não sei se é necessariamente por causa disso; acho que não ajuda a ser fácil de ser ouvido, mas na verdade as condições em que quero ser ouvido são as minhas. Quero ser ouvido com aquilo que tenho para dizer, não com aquilo que não me interessa. Um amigo meu do Porto, o Lucas, disse-me uma coisa muito bonita logo quando o álbum saiu, nas primeiras semanas, e que me fez pensar sobre o que eu tinha feito e a importância de certas posições a ter-se no ângulo em que relatamos as coisas. Ele disse que achou muito bonito eu conseguir pôr-me de fora, montar um ângulo e criar um imaginário estando numa posição relativamente distanciada. Eu não estou necessariamente a falar de mim ou a contar a minha história. Chamo à atenção para a vida de outros objetos inanimados, e o facto de me tirar do centro das atenções traz um certo alívio. O mundo também está a precisar de estar mais desperto em relação ao que está a acontecer à volta, e não só ao que achamos que temos para dizer. 

G. – No livro “Cartas a um Jovem Poeta” o Rilke dizia algo como “entre em si mesmo, procure as coisas que o levam a escrever”. Consegues rever-te nesta ideia? Mesmo olhando de fora, há sempre alguma coisa que te tem de ligar a essas coisas?
Z.M. – Claro, mexe sempre comigo, mas se fosse outra pessoa escreveria uma história completamente diferente da minha. O tema tocou-me porque eu senti que tinha coisas a dizer sobre aquilo. Há sempre “eu” nesse processo, obviamente. O que aconteceu foi que me identifiquei com quase tudo aquilo que percebi que acontecia com as folhas e as árvores, e achei que havia assuntos que estavam mais escondidos do que outros, então aproveitei o lance daquilo para servir as minhas necessidade de expressão. Na “Ninho” eu digo “vem ter ao chão comigo, vais voar no caminho, vem cair no carinho de quem te quer ter”. Nessa música eu ponho-me na posição de uma folha caduca que já caiu e está a olhar para uma folha verde, de quem eu gosto, e tento convidá-la para voar comigo. Voar e cair, sempre a mesma relação que eu tenho no álbum. 

G. – Essa tua visão do mundo acaba por estar em várias camadas do disco. Não só nas faixas, mas também na forma como o apresentas – tens a Teresa Arega a fazer a capa, apresentaste o disco no Cinema Trindade. De alguma forma isto também mostra uma certa amplitude com que olhas para o rap. Achas que também é importante invadir outros espaços que nem sempre são os mais óbvios?
Z.M. – Para mim isso vai sempre acontecer. A estreia no Trindade dava-me ânimo ao longo do processo; de alguma forma encontrava uma luz quando pensava que queria fazer acontecer a estreia lá. Foi uma coisa que me pesou muito emocionalmente, conseguir cumprir isso, porque se calhar foi a primeira ideia ambiciosa que eu tive e cheguei a apresentá-la em trabalhos da faculdade ou a amigos. Entretanto eles acabaram a faculdade, eu acabei um bocadinho mais tarde, e hoje alguns deles sentem essa conquista quase com tanto peso quanto eu. Eu não acho que seja importante o rap sair dos sítios onde está e que frequenta, mas é importante haver mais singularidade, e no meu caso inclui estrear no Trindade. Temos o exemplo de outros artistas que tentam assumir uma certa singularidade, como por exemplo neste último disco o Prof Jam, também com a questão do cinema. Há claramente uma tentativa de ir para outros sítios. E eu não acho que a música tenha de ser multidisciplinar ou que tenha de se submeter a essas coisas, atenção. Por vezes até me custa pensar nos vídeos das músicas como algo que eu tenho mesmo que fazer. Estamos a falar em arte, e por isso eu tenho de sentir que isso faz sentido e vai acrescentar alguma coisa. O rap ultimamente tem ido a muitos lugares a que não costumava ir, mas para os artistas é importante procurarem a sua singularidade, mesmo que isso seja estar próximo das massas. Só me incomoda as pessoas não irem à procura. Acho importante que os artistas se submetam a uma pequena procura. 

A estreia d' O Chão do Parque foi no Cinema Trindade, no Porto

G. – É verdade que o rap tem ocupado mais espaço, a presença em festivais até tem sido um dos temas mais falados dentro desse tema. Mas achas que, ainda assim, há um certo preconceito de o deixar ocupar outros espaços que à partida não são pensados como sendo para si?
Z.M. – Eu respeito as pessoas que vêem isso como uma conquista, mas não acho que o seja porque os números começaram a ser escandalosamente grandes no YouTube e nas plataformas de streaming, então as editoras e os promotores também começaram a abrir a pestana. Não quer dizer que eles não gostem – a minha questão não é essa -, mas o que tem muito público, vai ter sempre espaço. E nos últimos anos descobriu-se que o rap tinha muito público, e também se descobriu que se puseres os rappers nos festivais, aquilo vai encher. Acho que foi uma descoberta mais no ângulo comercial. Mas muitos que vieram antes também foram valorizados nessa lógica, é o ritmo normal das coisas. Eu não olho para isso como uma conquista e acho que às vezes até é um bocado ingrato para quem fazia isto antes de rebentar, porque nem todos estão a receber nada com esses grandes públicos e grandes palcos. 

"Menos um a mais" serviu de ponto de partida a Zé Menos

G. – Que importância é que achas que a palavra, usando o rap como meio, pode ter?
Z.M. – A importância? Enorme. Acho mesmo que o rap é o género com mais potencial poético, acima de tudo por aquilo que define o que é rap, que está mais assente na palavra do que em bases estéticas. Foi a importância da palavra que me fez querer fazer rap em miúdo. Claro que as roupas e o ambiente me pareciam brutais, mas o que me fez querer fazer rap foi ouvir música que estava a falar para mim. Há pessoas que não têm muito para dizer, mas acho que isso acontece em todas as áreas. Na altura em que eu comecei ouvir rap também havia um moralista um bocado fácil, ou pessoas a tentar dar lições de vida com demasiada facilidade. Eu, mesmo falando sobre a vida, tento distanciar-me um bocado disso. Escrevo como penso e como falo. O que me fez apaixonar pelo rap foi perceber que é poesia para jovens. E houve letras que tiveram uma grande escala na altura, tanto no trabalho dos Dealema como no Sam the Kid e outros dessa geração. Mas o nome mais decisivo nas minhas referências é o Virtus, acima de tudo por legitimar um rap com uma escrita poética e de um pensamento mais livre. Tu ouves o Uni Versos e não há uma pressão para concluir coisas muito objetivas. Ele está a falar da morte que está no alcatrão das ruas e uma pessoa nem sempre percebe muito bem o que ele está a dizer, mas isso é poesia. E eu, enquanto artista que gosta de rap e o cria, gosto de pensar nas coisas dessa forma. Como dizias há pouco, a questão da capa e da estreia no Trindade… tudo isso acontece porque não me quero descuidar em nada. Se não me estou a descuidar de todo na música, também não me quero descuidar em mais nada. Tem de ser um produto coerente, mesmo que nem sempre tenha uma grande justificação para tudo. Enquanto alguém que pensa muito e escreve muito, não tenho nenhum interesse em simplificar ou banalizar. Acho que uma das grandes forças da minha expressão é aquilo que tenho para dizer. Se banalizarmos o que temos para dizer num estilo que vive sobre aquilo que se diz, acho que estamos só a empobrecê-lo. E acredito que até existam pessoas que tenham muito para dizer, mas que pensem “não vou estar agora a falar sobre isto”. 

G. – Aceitar que o que têm para dizer é válido.
Z.M. – “A minha cor só é diferente” [risos]. Eu escrevi o álbum todo sobre essas coisas. Acaba por ser tudo um bocado à volta disso. 

O disco seria apresentado no Crew Hassan, em Lisboa, e no Hard Club, no Porto, este mês

G. – Sei que falar de expectativas é complicado, mas onde é que gostavas que “O Chão do Parque” chegasse?
Z.M. – Por acaso ainda ontem estava a falar sobre isso. Dei uma entrevista para a Antena 3 em dezembro, em Gaia, com o António Jorge, e na altura eu estava na ressaca da saída do álbum e ele perguntou-me uma coisa que me deixou desconcertado, depois de fazer uma análise elogiosa do que eu tinha feito: “ onde é que achas que essa avidez toda te vai levar?” Eu ri-me de nervoso e de felicidade, porque sei que são perguntas que não se fazem só porque sim. Há cerca de um mês eu até estava a falar com a minha mãe e ela perguntou-me porque é que nessa entrevista eu tinha dito algo como “não quero muito saber do que as pessoas pensam de mim”, porque as pessoas podiam levar a mal eu estar a dizer aquilo (a minha mãe tem este lado muito bonito de ver as coisas). A pergunta foi completamente legítima e eu só lhe consegui responder mais tarde, e disse-lhe que se não tivesse aprendido a tirar as expectativas relacionadas com terceiros do meu pensamento, já não fazia nada. Nem eu nem os artistas que, como eu, têm de se esforçar mais para se fazerem ouvir. Claro que há coisas que eu gostava que acontecessem, mas tenho que estar sempre a comandar-me e a garantir que a minhas ambições estão em cima de coisas que eu controlo e que posso fazer. A minha prioridade é sentir que estou a fazer algo interessante nos mesmos parâmetros que eu tenho para com a arte que eu consumo. Isso resultou neste disco e estou orgulhoso como não estive no anterior. Mas tenho uma relação muito forte com o primeiro disco porque tinha de acontecer e serviu para eu perceber que tinha de olhar para outros sítios. Também houve uma coisa que me deixou muito emocionado quando li, escrita pelo Gonçalo Oliveira do Rimas e Batidas no top dos discos do ano, e que dizia “a nossa missão será garantir que Zé Menos tem uma carreira digna”. Era mesmo isso que eu gostava de ter. Tento fugir ao pesadelo que às vezes tenho acordado – nunca a dormir -, que é um dia estar a fazer aquilo que considero ser a melhor obra da minha vida, a melhor performance da minha vida, num palco onde não está ninguém a ouvir. Esse é o lugar onde eu não quero estar, porque quebra o círculo da comunicação da arte. 

Zé Menos lançou recentemente o vídeo de "a queda, exposição"

Despedimo-nos na expectativa de possivelmente nos voltarmos a encontrar no concerto que ia dar no Crew Hassan, em Lisboa, no fim-de-semana seguinte. Como todos os eventos culturais pelo país fora, os concertos d’ O Chão do Parque foram cancelados, mas por casa o disco continua em loop (com os fones num nível ligeiramente mais alto do aconselhável). 

Podes ouvi-lo a partir de tua casa no Spotify, no YouTube e Apple Music

Texto de Carolina Franco
Fotografias de David Cachopo

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