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Opinião de Francisco Cipriano

A cultura na construção dos valores fundamentais da cidadania europeia

Do Programa Europa para os Cidadãos ao Programa Direitos e Valores O Programa Europa para…

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Do Programa Europa para os Cidadãos ao Programa Direitos e Valores

O Programa Europa para os Cidadãos vigorou no período 2014-2020 com o objetivo global de aproximar a União Europeia dos cidadãos. Contribuir para a compreensão pelos cidadãos da União Europeia, da sua história e diversidade e promover a cidadania europeia e aprofundamento das condições da participação cívica e democrática por parte dos cidadãos foram os seus objetivos mais importantes. Ao financiar projetos, o programa Europa para os Cidadãos contribuiu para incentivar a participação dos cidadãos europeus em todos os aspetos da sua comunidade, permitindo-lhes participar na construção de uma Europa mais próxima e mais democrática.

Agora, mais do que nunca, é importante que os cidadãos se façam ouvir e que participem na conceção das políticas da União. Os projetos apoiados no programa Europa para os Cidadãos reuniam forçosamente algumas características. Desde logo, a igualdade de acesso. O programa foi desenhado para ser um instrumento acessível a todos os cidadãos europeus, sem qualquer forma de discriminação: sexo, origem étnica, religião ou crença, deficiência, idade e orientação sexual. Deviam igualmente promover a transnacionalidade, mas com dimensão local, uma característica que pode ser alcançada através da combinação de diferentes fatores: do tema, procurando debater uma questão europeia numa perspetiva local ou da natureza dos promotores do projeto, ao desenvolvê-lo e implementá-lo através da cooperação de várias organizações parceiras provenientes de diferentes países participantes. Também o diálogo intercultural e linguístico foi igualmente um dos pontos mais relevantes, procurando promover a aproximação dos cidadãos europeus de nacionalidades e de línguas diferentes, contribuindo, assim, para o desenvolvimento de uma identidade europeia de respeito, dinâmica e multifacetada. Este não era um programa europeu desenhado diretamente para acolher projetos “culturais”, no entanto, na implementação dos seus objetivos, a cultura foi um dos veículos privilegiados.

Os projetos culturais baseados em iniciativas da sociedade, ao explorarem metodologias originais, inovadoras e acessíveis, provam ser eficazes para reforçar um sentido de pertença e partilha da história e dos valores comuns da União. O programa Europa para os Cidadãos permitia também o acesso a um vasto leque de beneficiários, designadamente organizações sem fins lucrativos, incluindo organizações da sociedade civil, instituições educativas, culturais ou de investigação o que viabilizou a inclusão do setor cultural e criativo. Portugal conseguiu, com sucesso, aprovar e liderar alguns dos projetos que melhor expressam esta relação virtuosa. Dois exemplos: O Projeto Europeu coordenado pelo instituto de Comunicação da NOVA FCSH – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, que visou criar um arquivo online de histórias de cidadãos europeus com experiências e memórias de relação com países e culturas africanas. A recolha, edição, partilha de histórias pessoais e coletivas sobre a ligação de cidadãos europeus com o continente e culturas africanos, com raiz em memórias de diáspora, origem étnica, experiências quotidianas e ligações culturais foi o objetivo do projeto Afro-European Narratives. O projeto foi ao encontro das novas gerações afrodescendentes, para quem a ligação a África é, sobretudo, da ordem de uma pós-memória, transmitida pelas comunidades e gerações mais velhas, mas também pelas imagens e discursos predominantes nos media.

O envolvimento num processo enunciativo e narrativo pretendeu favorecer o encontro com uma voz própria e valorizar a dimensão intercultural destas experiências de cidadania europeia. O consórcio foi coordenado pelo CIC.DIGITAL NOVA e teve como parceiros a AFROLIS – Cultural Association / Audioblog (Lisboa) e a RAMag – Associación Cultural Radio Africa / Radio Africa Magazine (Catalunha). O legado da música experimental produzida no Bloco de Leste até à queda do Muro de Berlim foi o foco do projeto Unearthing the Music: Creative Sound and Experimentation under European Totalitarianism. Ao longo de mais de um ano, esta iniciativa procurou música feita atrás da Cortina de Ferro entre 1957 e 1989, ano em que caiu o Muro de Berlim. Foi desenvolvido pela OUT.RA, a associação que organiza o Festival de Música Exploratória do Barreiro, com parceria da revista avant-garde britânica The Wire. O resultado pôde ser visto numa conferência no Goethe Institut, em Lisboa, estando agora disponível num arquivo online. Além disso, promoveu a publicação de um livro de textos e entrevistas dos nomes abordados no projeto e uma compilação discográfica com temas inéditos de artistas alemães, polacos, ex-jugoslavos e húngaros.

E o futuro? O que nos reserva? O Programa Europa para os Cidadãos vai ter continuidade no Programa Direitos e Valores que já mereceu o acordo do Parlamento Europeu e dos Estados-Membros da União Europeia. Este programa, com uma dotação de mais de 1500 milhões de euros para o período de 2021-2027, incluirá as áreas cobertas pelo Programa Europa para os Cidadãos, e será o maior programa de sempre da União para a proteção dos seus valores, da democracia, do Estado de direito e dos direitos fundamentais. O objetivo geral do Programa Direitos e Valores é defender e promover os direitos e valores consagrados nos tratados da UE, nomeadamente através do apoio a organizações da sociedade civil, apoiando sociedades abertas, democráticas e inclusivas. Cidadania e cultura europeias estarão de novo interligados, pois ambos contam com uma história comum sobre diversidade cultural, memória e valores. Assim, tal como no anterior programa, o setor cultural e criativo pode e deve participar ativamente envolvendo os cidadãos com a sua história, com os direitos e valores comuns, consciencializando ou desenvolvendo formas criativas de superar desigualdades e de lutar contra todas as formas de intolerância e discriminação, afinal a construção Europeia é uma obrigação de todos nós.

-Sobre Francisco Cipriano-

Nasceu a 20 de maio de 1969, possui grau de mestre em Geografia e Planeamento Regional e Local. A sua vida profissional está ligada à gestão dos fundos comunitários em Portugal e de projetos de cooperação internacional, na Administração Pública Portuguesa, na Comissão Europeia e atualmente na Fundação Calouste Gulbenkian. É ainda o impulsionador do projeto Laboratório de Candidaturas, Fundos Europeus para a Arte, Cultura e Criatividade, um espaço de confluência de ideias e pessoas em torno  das principais iniciativas de financiamento europeu para o setor cultural. Para além disso é homem para muitas atividades: publicidade, escrita, fotografia, viagens. Apaixonado pelo surf vê̂ nas ondas uma forma de libertação e um momento único de harmonia entre o homem e a natureza. É co-autor do primeiro guia nacional de surf, Portugal Surf Guide e host no documentário Movement, a journey into Creative Lives. O Francisco Cipriano é responsável pelo curso Fundos Europeus para as Artes e Cultura – Da ideia ao projeto que pretende proporcionar motivação, conhecimento e capacidade de detetar oportunidades de financiamento para projetos artísticos e culturais facilitando o acesso à informação e o conhecimento sobre os potenciais instrumentos de financiamento.

Texto de Francisco Cipriano
Fotografia da cortesia de Francisco Cipriano

As posições expressas pelas pessoas que escrevem as colunas de opinião são apenas da sua própria responsabilidade.

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