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Afromary: “É difícil fazeres conexões verdadeiras se não houver o esforço do encontro em pessoa”

A Academia Gerador realizou, em 2021, um estudo em que questionou os portugueses sobre quais…

Texto de Andreia Monteiro

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A Academia Gerador realizou, em 2021, um estudo em que questionou os portugueses sobre quais seriam as maiores dificuldades que os jovens enfrentam hoje em dia. Pedimos aos inquiridos que classificassem, numa escala de 1 a 10, em que 1 significa “nada difícil” e 10 significa “muito difícil”, as seguintes áreas: habitação; emprego; educação; família; tempo para vida social e para lazer; conexão social; saúde mental e bem-estar.

Ao observarmos os resultados, compreendemos que os portugueses consideram que, hoje em dia, as maiores dificuldades enfrentadas pelos jovens estão relacionadas com a habitação (comprar ou alugar casa), atribuindo-lhe, em média, 8,7 pontos. Em segundo lugar, surge o emprego (conseguir autonomia financeira, trabalho estável e/ou na área de formação). De seguida, avaliada com 7.4, surge a dificuldade de conseguir constituir família.

Só depois, com classificações menores do que 7, surgem os outros aspetos: a saúde mental, a educação, o tempo para o lazer e para a vida social, e, por último, com uma classificação abaixo de 6, a conexão social.

Depois de analisarmos estes dados, o Gerador decidiu lançar uma nova rubrica investigativa, composta por 7 entrevistas, realizadas a 7 jovens diferentes. Todas as semanas iremos abordar, junto de um entrevistado, um dos temas trazidos à discussão por este questionário. Na semana passada, falámos com Maria Francisca Macedo sobre educação, e hoje estamos aqui com a Mariama Injai, mais conhecida por Afromay, para falar sobre conexão social.

Perguntámos aos inquiridos como se sentiam relativamente às dificuldades de conexão social dos jovens, devido a uma grande utilização dos meios digitais. A média das respostas, em todas as faixas etárias, foi sempre de um valor abaixo de 6. Tipicamente, nestas escalas, respostas abaixo de 7 demonstram que quem respondeu não reconhece, de facto, extrema importância à dimensão avaliada. Assim, podemos concluir que a generalidade da população não considera que esta seja uma dificuldade relevante para os jovens, e observamos, também, que foi a dimensão com a pontuação mais baixa, entre todas as que foram questionadas.


Mariama Injai nasceu em Felgueiras e tem 34 anos. Ao longo da sua vida, foram várias as suas paragens, sendo-lhe difícil definir-se como sendo de determinado sítio. Cresceu em Mangualde, indo frequentemente ao Porto. Estudou Engenharia do Ambiente em Coimbra, onde tirou também um mestrado em Gestão Ambiental. Posteriormente, foi viver para o Porto durante cerca de seis anos, ainda sendo o seu sotaque nortenho bem notório. Passou por Valência, em Espanha, e, nos últimos anos, mudou-se para Lisboa. Na sua página, conta-nos que sempre foi atleta, primeiro nas modalidades de atletismo e basquete, e, mais recentemente, aposta em cárdio e musculação. É ainda mentora da HeForShe Portugal.

O projeto Afromary surgiu como resultado duma infância sem exemplos de personalidades negras no seu dia a dia, em Portugal, resultando numa vontade de dar a conhecer histórias de africanos e afrodescendentes com as quais gostaria de ter tido contacto durante o seu percurso. A sua partilha de conteúdos afrocentrados, que visam celebrar e empoderar a negritude, começou em 2018 através, nomeadamente, de entrevistas que podemos ver no seu canal do YouTube. Desde o caso de George Floyd e de todos os movimentos sociais que gerou, começou, cada vez mais, a apostar na criação de conteúdos informativos e educativos, com base nos seus conhecimentos e experiência — também na sua página de Instagram ou Facebook. Mais do que um espaço de divulgação, a plataforma revelou-se num espaço de cura e superação interna, fazendo frente aos silenciamentos a que foi exposta durante a sua vida e encontrando uma nova forma de falar sobre eles e de os acolher com as suas emoções. Para além do desenvolvimento pessoal, o projeto assente em meios digitais permitiu-lhe chegar e conhecer mais pessoas, agora ao alcance dum clique. Pessoas que se identificam com os conteúdos que cria, outras que vão à procura de conhecimento ou ainda quem mostra ter uma opinião diferente, gerando discussões saudáveis que dilatam os questionamentos.

Este ano, avançou com um segundo projeto que resulta de um sonho antigo — Nô bai. Trata-se do primeiro marketplace online dedicado à comercialização de produtos e serviços exclusivos de afroempreendedores. “Será uma grande montra e espaço online de encontro de uma grande variedade de marcas, de empreendedores negros que pretendem atingir um maior público e ganhar maior visibilidade”, explica Mariama na página do projeto. Para concretizar esta startup de impacto social, está a decorrer uma campanha de angariação de fundos, para a qual podes contribuir, aqui.

Quando pensámos em falar sobre a relação entre conexão social e meios digitais entre os jovens, o nome da Mariama foi um dos que nos surgiu de imediato. Não só por todo o trabalho que tem vindo a desenvolver como empreendedora social, ativista e criadora de conteúdos, mas também pela forma como encontrou nos meios digitais uma forma de desenvolvimento emocional próprio e de conexão com mais pessoas que, de alguma forma, se relacionassem com as histórias que vai partilhando. Encontramo-nos via Zoom no final de uma semana de trabalho para refletirmos sobre esta temática. Sempre com um sorriso contagiante desenhado no rosto, Mariama partilhou a sua experiência e reflexões acerca dos meios digitais, que tanto podemos “usar para o bem ou para o mal”, e formas de conexão social através dos mesmos.

Gerador (G.) — Como achas que a utilização dos meios digitais veio alterar o nosso dia a dia?

Mariama Injai (M. I.) — Sinto que nos tornámos muito mais dependentes do que aquilo que imaginamos. Acho que, no início, havia uma curiosidade pela Internet, mas nunca imaginaríamos que, agora, iríamos depender dela e do telemóvel para tudo. Sou da geração que passou por algumas transformações [tecnológicas], da cassete ao CD. Ou seja, estas alterações foram tão importantes que é muito interessante ver que agora é tudo digital. É estranho, assustador, às vezes, mas também tem o benefício de nos fazer conectar com toda a gente, de todas as localizações do mundo. Acho isso incrível, essa conexão.

G. — Não tinhas muita confiança em ti e tinhas medo de te expores, por isso, a tua aposta em meios digitais, com o projeto Afromary, foi um desafio. De que forma, fazeres esse trabalho, te permitiu desenvolver a nível pessoal?

M. I. — Antigamente, dentro do contexto em que estava, tinha pouca confiança por causa da minha história. O Afromary, na verdade, fez-me desbloquear várias questões relacionadas comigo. Sendo uma pessoa negra, em Portugal, há sempre muitos desafios que temos ao longo da vida e, por isso, havia o receio da exposição. De repente, vou falar de certos temas que vão incomodar muita gente. Mas, na verdade, ensinou-me a ter confiança, perceber que há muita gente que passa pelas mesmas situações. Aquele sentimento de alguma solidão deixa de existir quando percebes que outras pessoas passam por experiências iguais. Depois, acho que se criou ali um espaço de cura. Quando falamos dos temas, das experiências e temos a coragem de partilhar com outras pessoas, e essas pessoas conseguirem conectar-se, é uma experiência magnífica. É a melhor experiência, o maior objetivo de estarmos nas redes sociais e querermos passar a mensagem.

Quando comecei, não tinha o objetivo de ser muito conhecida e que toda a gente me ouvisse. Era mais um desbloqueio interno, uma vontade de usar a criatividade para partilhar tudo aquilo de que queria falar e que tinha acumulado e achava que alguém podia querer ouvir. Também queria fazer esse empoderamento da comunidade e ter algum conteúdo, que era o que eu gostava de ter tido quando era mais jovem. Não vi esse tipo de conteúdo em Portugal, ou, pelo menos, da forma de que eu gostava de fazer. Agora, há cada vez mais [projetos], e isso deixa-me muito feliz — criadores de conteúdos negros, que tenham essa confiança, que façam outras coisas, que tenham muito sucesso. Acho isso importante porque acabamos por ser a referência de outros que vêm a seguir.

Mariana Injai ©Aline Macedo

G. — Então, esta tua passagem para o digital trouxe-te algum desenvolvimento emocional, também.

M. I. — Exato. Maturidade emocional, cura, libertação de várias coisas e também é um processo de aprendizagem. Se vires o perfil Afromary desde o início, houve uma evolução de mim como pessoa, como persona, e acho que isso é bonito de se ver, também porque, se calhar, influenciei outras pessoas a fazerem essa desconstrução e construção mental e emocional. É esse o objetivo, pelo menos.

G. — Encontras alguns traços que revelem dificuldades de conexão social nos jovens, em Portugal?

M. I. — Não sei. Acho que as conexões mudaram. Antes estávamos todos muito mais presentes e não vivíamos tanto esta parte da tecnologia. Ou seja, vivíamos mesmo as pessoas, convivíamos no presente, estávamos mais no presente. Acho que, se calhar, agora é muito fácil esconderes-te atrás de um telemóvel, da tecnologia e, realmente, conseguires-te desconectar. De alguma forma, também te sentes acompanhada pelo que estás a ver [no telemóvel, por exemplo], mas, ao mesmo tempo, estás sozinha. Há aqui uma coisa quase perversa — por um lado, sentes-te acompanhada e encontras pessoas que pensam como tu, mas, ao mesmo tempo, será que essa conexão é mesmo real? Ou tu é que queres ver certas coisas e certos momentos das pessoas para te sentires bem contigo própria? É supercomplexo. Se calhar, a forma de conexão que existe na geração Z é feita através da tecnologia. Como sou duma geração diferente, não consigo experienciar, na totalidade, o que é nascer com tecnologia. Só tive computador com Internet quando tinha 17 anos, assim como telemóvel. Hoje em dia, isso é impensável. Por isso, não consigo comparar com a geração que vem agora, mas acho que vai ser muito mais inteligente, muito mais informada e que vai impactar muito.

G. — Se, por um lado, podemos chegar mais facilmente a qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, como referias há pouco, por outro, há quem sinta que estas relações digitais são mais vazias ou mais facilmente descartáveis. O que achas sobre estas duas dimensões?

M. I. — Sim, acho que são mais facilmente descartáveis, definitivamente. Mas também não posso dizer que todas elas são vazias, porque, através de redes digitais e da minha plataforma, conheci muita gente ao vivo, depois de muitas conversas [nas redes sociais], porque houve essa proximidade, mas também esse esforço para haver esse encontro. Com outras pessoas, até falas regularmente, mas vês que é alguém desconhecido, um username com quem estás a falar. Nesse aspeto, é um pouco vazio, porque não sabes a outra parte da pessoa que vem dum convívio presencial. Acho que as redes sociais, o que têm de bom, também têm de mau. E também há muita gente má ali. Acho que as pessoas se magoam muito mais facilmente, por também ser descartável — agora já não dá com esta pessoa, vou para a próxima. Acho que é difícil fazeres conexões verdadeiras se não houver o esforço do encontro em pessoa.

G. — Em Portugal, e em todo o mundo, há pessoas que não têm um smartphone ou acesso à Internet, por exemplo. Será, então, esta noção de que os meios digitais nos permitem chegar a toda a gente uma falsa ideia que, no limite, acaba por excluir as pessoas que, à partida, já estariam excluídas por questões socioeconómicas, por exemplo?

M. I. — Exato, porque assumimos que toda agente tem de ter Internet em casa. Mesmo com esta questão da covid e de irmos para casa, as empresas assumiram que tens Internet em casa. Não sou obrigada a tê-la, mas é uma assunção quase imediata. De facto, há muitos sítios do mundo em que não há Internet, quanto mais um telemóvel ou computador. A essas pessoas, não chegas. Mas vivemos neste mundo capitalista que nos diz que precisamos mesmo desta tecnologia, se não, não vamos conseguir integrar-nos, viver e conectar. Precisamos de estar, a toda a hora, com o telemóvel na mão, por isso é que agora as crianças já têm telemóvel desde a primária. Na minha altura, era só aos 17 e estava tudo bem, mas agora é na primária. Acho que é um resultado deste mundo capitalista que nos faz acreditar que toda a gente tem o mesmo acesso. Mas, de qualquer forma, temos muito mais acesso do que tínhamos há um tempo.

G. — Achas que hoje em dia qualquer pessoa que tenha um projeto, como o teu, por exemplo, se vê coagida a ter redes sociais para conseguir alavancar o mesmo? Ou seja, sentes que quem opta por não ter estes meios é levado a pensar que sairá prejudicado?

M. I. — Comecei o meu projeto duma forma muito despretensiosa. Ou seja, não sabia muito bem qual seria a intenção. Apenas sabia que queria partilhar conteúdo e permitir-me falhar e experimentar coisas. Estar sem medo, no fundo, era ter a verdadeira liberdade. As coisas foram evoluindo e, a certa altura, comecei a achar que estava a criar uma dependência gigante daquilo — o ter conteúdo a toda a hora, estar preocupada. Isso traz um stress acrescido, porque as pessoas que consomem o nosso produto, vêm o post ali e não veem as horas de trabalho por detrás daquilo. Não vais ter uma rentabilidade imediata com aquilo. A ideia que estas plataformas passam é a de que estamos sempre numa corrida, em que temos de fazer sempre mais. E, se não o fizeres, não vais ter seguidores. Parece que há aqui uma chantagem emocional — não vais ter isto e isto, se não fizeres aquilo. Sinceramente, houve uma altura em que andava preocupada, mas nestes últimos tempos permiti-me estar um mês ou dois sem publicar quase nada. E não aconteceu nada de especial. A minha vida continua igual. Também é um pensamento perverso de nos fazer acreditar numa coisa que, na realidade, fazemos porque queremos. Não o temos de fazer.

G. — Por teres um número considerável de seguidores, sentes uma maior pressão de resposta por parte de quem entra em contacto contigo através dos meios digitais?

M. I. — Por acaso, os meus seguidores são muito respeitadores. Respondo no tempo em que tenho de responder, mas respondo sempre. Mesmo nos emails que me enviam, respondo quando tenho de responder, não tem de ser imediato. Percebo que o queiram, mas tenho uma vida para além da plataforma e as pessoas, às vezes, só veem a persona que está ali e assumem uma variedade de coisas sobre a tua vida, que não correspondem [à realidade]. A verdade é que tenho um trabalho de 40 horas, tenho outros projetos, também tenho a minha vida ocupada. Mas o aumento de seguidores cria uma ligeira pressão, por isso é que nunca liguei a esse número. Não tenho a obsessão de chegar aos 10 mil seguires, porque acho que quanto maior o patamar, mais vais ser obrigada a criar conteúdo e a alimentar aquilo de uma forma mais [intensa]. Muitas pessoas adoram criar conteúdo e encontram um equilíbrio, mas, se calhar, outras há que não se sentem tão confortáveis. Passo por períodos em que não me sinto tão confortável e está tudo bem. Sou só humana, não é? [risos]

G. — As redes sociais criam, muitas vezes, a ilusão de que sabemos mais sobre o outro ou de que somos mais vistos. Achas que, de facto, os meios digitais vieram trazer uma visibilidade mais diversificada de pessoas levando mais histórias e perspetivas para o nosso dia a dia, ou a maioria das pessoas continua fechada na sua bolha e os algoritmos continuam a invisibilizar muitos?

M. I. — É uma pergunta quase retórica [risos]. É isso. Se as pessoas se mantêm nas mesmas bolhas, no seu feed apenas vão aparecer aquele tipo de conteúdos e ficam alienadas do resto do mundo. Se nunca tiveste interesse em pesquisar sobre feminismo ou masculinidade tóxica, não vais ter essa informação. Por acaso, a algumas pessoas o algoritmo favorece o aparecimento de coisas novas e, com isso, aprendem, mas também são pessoas que estão investidas em aprender. Se não, também ignoras. O scroll é uma coisa de segundos, que torna [tudo] descartável. A não ser que estejas muito interessada no tema, acho que te manténs muito na tua bolha. Mas, se quiseres, consegues encontrar, na Internet, muitas pessoas diversificadas.

G. — Para o teu projeto já conseguiste arranjar alguma estratégia que te permita chegar a essas pessoas que estão fora da tua bolha e que, à partida, não iriam ter acesso à tua página?

M. I. — Não tenho essa ilusão ou ambição de querer chegar a toda a gente. Prefiro que as pessoas cheguem a mim organicamente, porque isso quer dizer que, à partida, já têm interesse no conteúdo que faço. Não tenho de estar a vender — “gostem de mim”. É diferente — eu faço isto, se estiverem interessados, bem-vindos, se não estiverem ou tiverem uma opinião divergente, vamos falar, mas é só isso. Comecei isto por mim, não pelo que os outros esperam de mim.

G. — Os meios digitais são uma ferramenta de trabalho que usas, inclusivamente, para apresentar conteúdos didáticos que visam desconstruir preconceitos. Sentes que este meio tem contribuído para a concretização dos teus objetivos?

M. I. — Sim. O Instagram, principalmente, é uma plataforma que hoje em dia toda a gente usa e é a forma mais fácil de te conectares e chegares a pessoas. Por exemplo, esta entrevista, se calhar, só aconteceu porque chegaste até mim através das minhas plataformas. A plataforma tem esse benefício da visibilidade.

G. — As redes sociais apresentam muitas polarizações e há caixas de comentários realmente assustadoras pela violência que as compõem. Como achas que as redes sociais podem ajudar ou prejudicar no processo de nos voltarmos a conseguir entender, ter uma conversa produtiva, principalmente numa altura em que temos visto aparecer partidos políticos de extrema direita?

M. I. — Acho que as redes sociais são uma ferramenta que dá para usar para o bem e para o mal. Infelizmente, não conseguimos controlar e esse é o problema. Não se controla o que se diz, qualquer pessoa pode ir comentar. E as pessoas juntam-se muito à ideia do politicamente correto, mas também à de “liberdade de expressão”, mas fazem-no quando querem dizer uma coisa que sabem que não devem dizer. Como não há uma punição... e, sinceramente, o objetivo é mesmo esse, estarmos todos a falar uns contra os outros, porque vende mais quando a história é polémica, então há um clickbait constante de criar estas polarizações. Mesmo nas notícias, por vezes, a forma como é construído o título, vai ser impactante porque há pessoas que só leem o título. A partir daí, fazem logo o julgamento e comentário, sem ter lido a notícia. Como há tanta oferta, tanta informação, não sei até que ponto conseguimos assimilar toda a informação que aparece, por isso é que ninguém se dá ao trabalho de abrir a notícia, lê-la, pesquisar para perceber se é fidedigna. Por isso, é tão fácil fazer fake news e nós acreditamos. Eu gostava que não houvesse caixa de comentários em algumas notícias.

G. — No teu caso, acontece teres caixas de comentários muito tóxicas?

M. I. — Por acaso, não. Nunca tive comentários ou mensagens agressivas, de puro ódio. Lá está, respondo a todas as pessoas e não me importo que a pessoa tenha uma opinião diferente da minha. Quanto mais diferente for, melhor para mim — vou aprender de alguma forma ou, pelo menos, refletir sobre aquela perspetiva. Para a minha sanidade mental, prefiro ser assim. Respeito toda a gente e acho que os seguidores me devolvem esse respeito.

G. — Queres falar-me um pouco do teu projeto, explicando de que forma é que ele te tem permitido relacionar com mais pessoas?

M. I. — O Afromary tem sido muito bom para mim, por ser também esse processo de maturidade, libertação e cura. No ano passado, com todos os acontecimentos que houve com o George Floyd, senti mais necessidade de começar a falar de uma perspetiva mais informativa, educativa. Acho que, às vezes, nesta temática, existem muitas dúvidas que as pessoas têm medo de colocar e o objetivo era mesmo aprendermos todos juntos. Não é assumir que sei tudo sobre desigualdades sociais. Mas, o que sei, partilho e quero saber a opinião das pessoas, fazer-lhes uma provocação e para elas perceberem também as experiências.

Com a visibilidade dá para conhecer mais pessoas, porque também vão chegando a mim e vamos fazendo parcerias e trabalhos em conjunto, o que é ótimo. Agora com o Afromary, e como possibilitou conhecer a comunidade duma forma mais profunda, digamos, também estou a criar um projeto que é o Nô bai, que vai ser uma plataforma de compra e venda de produtos de empreendedores negros e acho que isso vai ser uma forma de criar união dentro da comunidade e fortalecer por dentro. Queria, já há muito tempo, fazer um projeto para a comunidade. Aliás, o Afromary também é para a comunidade, mas é também para todos os que queiram estar lá inseridos, aprender e conhecer mais. Então, agora estamos a fazer uma campanha de angariação de fundos. Se as pessoas quiserem, está no meu link [na bio da página de Instagram Afromary]. Também tenho já a conta Nô bai, se as pessoas quiserem seguir e apoiar este projeto.

Ficha Técnica
O universo do estudo é constituído por indivíduos com idade igual ou superior a 15 anos, residentes em Portugal continental e ilhas. A amostra, com 1200 entrevistas validadas, foi estratificada por região, sexo e escalão etário, em Portugal continental, e por ilhas, e distribuída em cada estrato de acordo com a repartição da população-alvo em cada estrato. As entrevistas foram realizadas de 22 de março a 27 de abril de 2021, através de um questionário feito online utilizando o método CAWI (Computer Assisted Web Interview). Os resultados são apresentados com um nível de confiança de 95 %. A margem de erro para a média na escala 1 a 10 é de 0,13 pontos e a margem de erro para a proporção é de 2,12 pontos percentuais.
Texto de Andreia Monteiro
Fotografia de capa de Mariama Injai

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